domingo, 28 de dezembro de 2008

As comemorações de ano-novo

A tão esperada e popular festa de final de ano, chamada também de Reveillon, é comemorada de várias formas pelo mundo, variando de acordo com a cultura e as tradições de povos e países. Apesar das diferenças a festa apresenta uma característica comum a todas, que é o espírito de renovação, e o momento de esperança, de promessas e sonhos que poderão se concretizar.
As variações da comemoração do ano-novo acontecem devido também à diversidade de calendários que existem no mundo. Para os islâmicos o ano-novo é celebrado em meados de maio, marcando um novo início. A contagem corresponde ao aniversário da Hégira (em árabe, emigração), cujo Ano Zero corresponde ao nosso ano de 622, pois nesta ocasião, o profeta Maomé, deixou a cidade de Meca estabelecendo-se em Medina. A comunidade judaica também tem um calendário próprio e sua festa de ano-novo ou Rosh Hashaná, - "A festa das trombetas" -, dura dois dias do mês Tishrê, que ocorre em meados de setembro ao início de outubro do calendário gregoriano (nosso calendário). Na China, a festa da passagem do ano começa em fins de janeiro ou princípio de fevereiro. Durante os festejos, os chineses realizam desfiles e shows pirotécnicos. No Japão, o ano-novo é comemorado do dia 1º de janeiro ao dia 3 de janeiro.
O nosso calendário é originário dos romanos com a contagem dos dias, meses e anos. Desde o começo do século XVI, o ano-novo era festejado em 25 de Março, data que marcava a chegada da primavera. As festas duravam uma semana e terminavam no dia 1º de Abril. O Papa Gregório XIII instituiu o 1º de Janeiro como o primeiro dia do ano, mas alguns franceses resistiram à mudança e quiseram manter a tradição. Só que as pessoas passaram a pregar peças e ridicularizar os conservadores, enviando presentes estranhos e convites para festas que não existiam. Assim, nasceu o Dia da Mentira, que é a falsa comemoração do Ano Novo.
Embora sendo comemorado em várias datas, os rituais realizados no Reveillon são os mesmos praticados em muitos países como a queima de fogos, utilizada no mundo inteiro, que recebe o ano-novo entre fogos de artifício, buzinadas, apitos e gritos de alegria. A tradição é muito antiga e, dizem, servir para espantar os maus espíritos. Em meio a essa agitação as pessoas reúnem-se para celebrar a festa com muitos abraços. Há também na cena da passagem de ano o vestuário, em que o fato de vestir uma peça de roupa que nunca tenha sido usada combina com o espírito de renovação do Ano Novo. O costume é universal e aparece em várias versões, como trocar os lençóis da cama e usar uma roupa de baixo nova. Já a cor da roupa é praticamente obrigatório o uso do branco, que simboliza a paz, a harmonia e a esperança que se deseja conquistar a partir desse dia.
Não importando a forma ou a data de sua comemoração, o Ano Novo representa o fim de um ciclo e o início de outro. Festejado de uma maneira sadia e sem excessos ele serve como uma inspiração para todos promoverem mudanças e planejarem melhor seus dias.
Marcelo Augusto da Silva - 02/01/09

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Uma sapatada contra a tirania


“A democracia fundada sobre a igualdade absoluta é a mais absoluta tirania”
Cesare Cantú

Desde que os EUA invadiram o Iraque em 2003 sob a justificativa mentirosa que a intervenção era necessária porque Saddam Hussein, o ditador que controlava o país, possuía armas de destruição em massa, o país e a sua população foram subjugados e colocados num nível de subserviência e total controle. Em outras palavras foi tirado um ditador e colocado outro em seu lugar, este travestido de bom moço, que camufladamente dá as cartas no país.
É bom lembrar que a presença estadunidense no Iraque acontece devido aos poços de petróleo iraquianos, importantíssimos para o país do Tio Sam, totalmente dependente dessa fonte de energia. Por conta disso os EUA passaram por cima da determinação da ONU, entraram no território estrangeiro e lá permanecem, impondo o seu modo de vida e barbarizando o país.
Hussein foi enforcado de acordo com a sentença de um tribunal especial no Iraque, acusado de crimes de guerra e genocídio contra os curdos, minoria étnica que habita o Iraque. Se um líder é condenado pela morte de várias pessoas, porque Bush não se enquadra então nessa mesma categoria e não é também julgado pelo Tribunal Penal Internacional, uma vez que só a invasão ao Iraque resultou até agora na morte de 90.000 civis iraquianos, além do fato dos soldados americanos promoverem uma carnificina contra a população cometendo assassinatos com os mais altos requintes de crueldade, torturas, estupros, violação e sodomização de adultos e crianças; sem contar nos órfãos e viúvas que padecem a cada dia, condenados assim como todos a minguarem numa situação de caos, miséria e insegurança.
A atitude do jornalista Al Zaidi no domingo dia 14 certamente entrou para a História - não aquela contada através de uma minoria como é o caso de certos figurões que sempre são lembrados e exaltados pelo quase nada que fizeram - mas sim pela maioria, não apenas de seus conterrâneos, mas por todo um conjunto de pessoas do mundo que penam com a dominação estadunidense. Domínio que penetra sorrateiro e disfarçado através das formas mais baixas e nojentas como a dependência econômica, a dominação cultural e a imposição de seu modo de vida fútil, insano, frustrado e frágil que se mostra agora refém de si próprio devido à crise que afeta o país.
Al Zaidi é o tipo de pessoa que honra a própria origem humana, que desafia as ordens impostas, que demonstra abertamente a sua posição e nela se fortalece; ergue sua própria bandeira e enfrenta destemidamente um grupo de pessoas que descende de uma espécie vil e rastejante acostumada a se julgar superior. Por menor que sua atitude possa parecer ela é digna de alguém com princípios morais que não se curva perante o autoritarismo e a exploração de um povo cujo líder não passa de um tirano arrogante, mesquinho e demente.
Pequena no gesto, mas grande no seu significado, a sapatada do jornalista contra Bush, que segundo a tradição local é a maior ofensa contra uma pessoa, mostra que nem todos se retraem diante dos estadunidenses. Ela acima de tudo simboliza o quanto insatisfeita e contrariada está boa parte da população mundial, e que com o tempo e de uma maneira decente e pacífica este estágio poderá se inverter. É a flor vencendo o canhão.
Marcelo Augusto da Silva - 26/12/08

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Neve no trópico

Mal havia acabado o mês de novembro e as ruas e lojas de muitas cidades já se cobriam de luzes e enfeites aguardando o dia do Natal. Nada melhor para o comércio do que essa data, já que há muito tempo o seu significado é quase puramente comercial. Esse é um fato que chama a atenção em meio à agitação do final de ano, isto é, pouco restou da tradição e do significado religioso do Natal.
Sendo dessa forma o Natal a festa do consumo, o modelo empregado a ele é sem dúvida dos estadunidenses, que fazem desse dia uma celebração às compras. Tratando-se de uma nação hegemônica (aquela que impõe sua cultura sobre as outras como forma de domínio) os Estados Unidos através de vários meios impõe a sua, e o Brasil com toda a subserviência esquece seus próprios modelos e adota com todo o orgulho o alheio.
Numa primavera que mais se parece com o verão que se inicia nas vésperas do Natal, as prefeituras esbanjam dinheiro tentando ao máximo deixar as ruas da cidade idênticas as do hemisfério norte. O calor do dia, o suor daqueles que transitam pelo asfalto quente, contrasta com a bota e a roupa de veludo do Papai Noel e de seus ajudantes duendes espalhados em cada esquina; o verde e a exuberância colorida das flores e árvores, característicos de nossa estação, são encobertos pela neve artificial.
Longe de tentar desmerecer o Natal, mesmo porque ele tem muitos aspectos positivos como a economia que se aquece no período, como os postos de trabalho que são abertos, como o reencontro e a reaproximação de pessoas, além do seu sentido inicial que é o religioso para aqueles que professam o cristianismo, por que não fazer do acontecimento uma festa que preserve tudo isso, mas que não fuja de nossas tradições e que respeite nossos costumes e nossa situação geográfica.
Pouco se lembra das festas tradicionais brasileiras, pouca importância tem o que é nosso. Infelizmente o brasileiro tem a cultura de absorver a cultura do outro, julgando-a “melhor” ou “superior” que a sua. Estranha-se e despreza-se o que é seu; sente-se vergonha de si mesmo. De tudo se faz para copiar o modelo norte-americano, nenhum esforça é poupado. Assim perdemos em dobro: com gastos e com a nossa cultura que cada dia vai sendo mais esquecida.
Marcelo Augusto da Silva - 12/12/08

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

As origens da comemoração do Natal

Novamente mais um ano vem se encerrando e junto com seu desfecho chega a festa natalina que nos causa aquela sensação de que a última foi há bem pouco tempo.
Muito das tradições do Natal vem se perdendo, e a cada ano ela se afirma mais como a festa do consumo, distanciando-se do seu sentido original - que é o religioso - influenciado principalmente pelo estrangeirismo que contaminou não só a religiosidade ocidental, mas impôs à nossa celebração natalina elementos que não nos pertence.
Mas a festa de Natal nem sempre foi comemorada no dia 25 de dezembro; na falta de qualquer documento que registrasse o dia do nascimento de Jesus Cristo os cristãos procuraram a princípio hipóteses fantásticas e contraditórias. Aliás, a data do nascimento de Cristo não teve importância para os primeiros cristãos que se preocupavam mais com a data de sua morte, bem como a de sua ressurreição, que na verdade é a sua vitória sobre a morte.
O cristianismo chegando ao Império Romano não foi aceito inicialmente e sim combatido pelos imperadores, principalmente durante os governos de Calígula, Cláudio e Nero (este muito conhecido por ter colocado fogo em Roma e acusar os cristão pela autoria do crime, justificando e intensificando assim a perseguição ao grupo). O motivo da hostilidade contra o cristianismo fica por conta de seus princípios igualitários irem na contramão da política e da organização romana que priorizava a hierarquia e a divisão de classes; além de que o monoteísmo colocava em questão o caráter divino do imperador, o que abalava ainda mais o império que já demonstrava sinais de fraqueza.
Com o tempo Roma percebeu que não era possível eliminar o cristianismo, e apesar das perseguições e da morte aos cristãos – comumente sendo executados nas arenas por animais selvagens – em 313 o imperador Constantino publica o Edito de Milão que concede liberdade de crença e culto aos cristãos. Em 391 o imperador Teodósio torna o cristianismo religião oficial romana.
A data do dia 25 de dezembro foi escolhida para ser comemorada como nascimento de Jesus por já ser uma data festiva em Roma, a qual se comemorava a festa do Sol, uma festa pagã. É justamente no século IV, ano da liberdade e da oficialização do cristianismo, que a celebração nessa data em vigor.
Na ocasião da institucionalização do cristianismo boa parte da população romana já se convertera a ele, no entanto a escolha de tal data talvez possa ter ocorrido como forma de manter uma tradição romana ou então como sendo uma maneira de agregar ainda mais fiéis em torno da religião, uma vez que a intenção dela é obter um maior número de adeptos possíveis em torno de sua crença. Há também uma idéia de que a escolha do 25 de dezembro seja uma espécie de “sincretismo” ou uma “associação de valores espirituais e religiosos”, já que são encontradas citações de que o menino Jesus foi uma “luz para iluminar os gentios” relacionando a presença de Cristo na Terra ao sentido da funcionalidade do astro que é o responsável pela emanação de luz e calor, elementos que possibilitam a vida na Terra.
O mais importante de tudo é que a festa representa um momento de harmonia e reflexão; serve para todos nós nos avaliarmos como seres humanos, assumirmos nossas falhas e pensarmos numa forma de viver numa sociedade mais justa, sem diferenças e discriminações.
Marcelo Augusto da Silva - 05/12/08

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Zé Rodrix no palco para ninguém

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”
Bailes da vida – Milton Nascimento

É muito comum ouvir o rio-pardense se queixar da falta de opções de lazer ou da carência de eventos culturais em nossa cidade, o que não é um fato isolado, já que muitos municípios da região também sentem essa falha. Ausência de um programa direcionado, falta de atenção dos órgãos competentes ou uma característica de nossa terra; todas essas hipóteses podem servir de explicação para essa questão, que aparentemente teria uma fácil solução.
No entanto algo questionável ocorreu na sexta-feira dia 21, pois São José teve uma atração cultural de grande vulto e pouquíssimos ficaram sabendo.
Promovido pelo futuro prefeito de São José - que declaradamente disse através do apresentador do evento que o show em si já era parte integrante do dinamismo que ele havia prometido - João Luís Cunha usou o espaço público do Epidauro e trouxe para cantar de graça o conceituado cantor e compositor Zé Rodrix, que dividiu o palco com seu companheiro de composição Tavinho, outro grande nome da música brasileira.
Zé Rodrix integrou em 1966 o conjunto Momento 4uatro, com que se apresentou no III Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967. No início dos anos 70 foi integrante do Som Imaginário, e continuou atuando como compositor. "Casa no Campo", música que abriu o espetáculo no Epidauro, é uma composição sua e de Tavito, que ganhou o festival de Juiz de Fora em 1971 e foi gravada com grande sucesso por Elis Regina. Atuou também ao lado de Sá e Guarabyra, trio que lançou o segmento rock rural, onde teve um CD gravado ao vivo recentemente. Integrou também o grupo pré-punk Joelho de Porco.
Mas fatalmente o descaso com o público ou má organização deixou a apresentação de um artista com um histórico musical desse nível passar em branco. As pouquíssimas pessoas presentes no local não sabiam quem iriam assistir, comprovando que o evento não teve a mínima divulgação. Dentre aqueles que ali estavam ouvia-se a pergunta sobre quem iria se apresentar passar de um para outro; logo voltou a resposta que seria Zé Rodrix . A notícia transmitida boa a boca dizia que o show estava marcado para as 20h00min., porém ela chegou quase 21h00min., ou seja, uma hora depois, e nada indicava que ele iria se iniciar. Lá pelas 21h30min. os poucos que ainda aguardavam se cansaram e foram deixando a arquibancada, fazendo com que ela ficasse ainda mais vazia. Às 21h40min. começa a chover e nada do espetáculo começar. Quase 22h00min. enfim o músico entra no palco e ele e seus acompanhantes tocam para praticamente ninguém.
Poucas são as vezes que as pessoas têm o privilégio de assistir um grande show como esse numa praça pública. Numa cidade onde há pouco a se freqüentar, quando algo acontece não é prestigiado É lamentável ver uma oportunidade dessa ser perdida por muitos. Creio que todos gostariam que isso não ocorresse novamente e que continue havendo outros eventos, melhor ainda se forem sem propósito político, para toda a população poder participar.
Marcelo Augusto da Silva - 28/11/08

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Zumbi dos Palmares e a Consciência Negra

“Salvei minha pátria. Vinguei a América... Nunca mais um colono ou um europeu porá os pés nesse território com o título de amo ou proprietário.”
Jean-Jaques Dessalines

O ano de 2008 apresentou um aumento de 164% no número de cidades que comemoraram o feriado da Consciência Negra no dia vinte desse mês. Isso pode representar uma maior preocupação com essa parcela da sociedade, ou então significar que muitos municípios pegaram carona nessa onda e também decretaram feriado, esquecendo-se, portanto da conscientização que se deveria haver sobre o relacionamento entre as etnias.
Muitos foram os movimentos aqui no Brasil ou em outro local das Américas que enfrentaram a escravidão instaurada pelo europeu. Como exemplo temos o autor da frase que ilustra o início desse texto, que expulsou os franceses e proclamou a independência de seu país, o Haiti.
O Dia da Consciência Negra é celebrado nessa data por ter a ver com Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo da oposição e defesa dos escravos no Brasil diante da dominação branca no período em que éramos uma colônia.
Zumbi no Brasil representa o expoente na luta de um povo que foi escravizado, massacrado, dizimado e que hoje ainda pugna para conquistar o seu reconhecimento. Sua atuação no Quilombo de Palmares serve como inspiração aos negros na conquista de seus direitos.
Os quilombos eram comunidades formadas por escravos fugidos e até por pessoas livres que não aceitavam o modelo colonial. Neles, os quilombolas, nome dado aos habitantes dos quilombos, procuravam resgatar parte de suas tradições e buscavam manter um nível de vida igualitário. O mais famoso deles, o Quilombo de Palmares, se localizava no atual estado de Alagoas, que na verdade era uma união de mais de dez quilombos que resistiram e sobreviveram aos ataques do governo e dos donos de escravos durante quase todo o século XVII. Palmares chegou a ter entre vinte e trinta mil habitantes, um número altíssimo comparado à população total do Brasil na época.
Foi em Palmares que surgiu a liderança de Zumbi, que à frente do quilombo foi a força motriz na resistência aos ataques inimigos e reuniu os quilombolas em torno do sonho de se verem livre da escravidão.
Palmares foi atacado durante toda a sua longa existência; o governo por sua vez desencadeou uma verdadeira guerra contra a comunidade, que além de concentrar um grande número de escravos fugidos, servia de exemplo para a formação de outros pela região. Muitos dos ataques do governo foram derrotados pelos quilombolas, o que fazia as lideranças governistas e os senhores de escravos a aumentarem ainda mais o ódio e as ofensivas aos negros e a Palmares.
Zumbi em Palmares passa a se o elemento principal contra a opressão dos brancos. Apesar de todo o investimento contra o quilombo a sua liderança garantia a sobrevivência da comunidade e as vitórias a cada batalha.
Sobre a sua morte não há, no entanto, uma documentação que comprove a sua causa, ou seja, não se sabe se ele foi morto ou suicidou-se. O que se tem é a confirmação de que ela ocorreu no dia 20 de novembro de 1695, dois anos após a destruição completa de Palmares.
Por esse fato é que nessa data se comemora o Dia da Consciência Negra, e essa escolha serve para mostrar ao Brasil e ao mundo que assim como Zumbi incorporou uma causa, hoje todos os negros continuam envolvidos em torno desse mesmo ideal, até que o mundo os encare com dignidade e deixem de levar em consideração questões tolas e insignificantes como diferenças de cor.
Marcelo Augusto da silva - 21/11/08

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A República dos bananas

Nessa semana em que comemoramos o aniversário da Proclamação da República no Brasil, lembrei de algo que costuma me chamar a atenção. Sempre que estou dando aulas de História do Brasil na 8º série do Ensino Fundamental, cujo conteúdo compreende o período do começo do século passado até a atualidade, sou indagado por muitos alunos sobre quem foi o melhor presidente que o Brasil já teve.
Difícil responder uma pergunta dessas sem deixar a parcialidade de lado, mas tento encontrá-la através do olhar crítico, e como se eu estivesse em outro contexto. Difícil também é achar alguém ou algo perfeito em toda a sua plenitude, uma vez que a perfeição é uma utopia, embora seja perseguida por muitos.
Mas numa rápida olhada no processo republicano no Brasil percebo a confusão que é nossa vida política, a começar pela própria Proclamação da República, que só foi realizada para manter privilégios de alguns grupos e, o que é pior, sem a participação popular, onde o brasileiro acordou no dia 15 de novembro de 1889 sem saber que vivia a partir daquele momento num país republicano. Sem falar que os primeiros presidentes que tivemos eram todos militares, o que torna a nossa república ainda mais incoerente, já que ela deveria ser representada por civis eleitos pelo sufrágio universal.
Depois desse tropeço inicial tivemos a república coronelista que revezava o poder federal entre os governadores de São Paulo e Minas Gerais eleitos através das fraudes eleitorais, que só terminou, vejam só, com o golpe de Getúlio Vargas, que se manteve como presidente durante quinze anos através de mais outros dois golpes, e que por ironia do destino só deixou o governo graças a um outro golpe.
Após o fim da Era Vargas outros fiascos aconteceram no nosso cenário político, como Jânio Quadros que depois de se eleger sob a promessa de varrer a corrupção do Brasil renunciou ao cargo poucos meses após ser empossado, e Jango seu vice que assumiu o controle do país, foi derrubado por outro golpe, dessa vez um militar, que durou mais de vinte anos e dispensa comentários.
Aliás, depois de todo esse período ditatorial, quase que o país se vê refém de uma continuidade do militarismo, pois no dia de sua posse, Tancredo Neves o primeiro presidente civil após duas décadas, é vitimado por uma doença que o leva à morte meses depois.
Nesse momento o Brasil começa a viver novamente em uma democracia, mas no fim da década de oitenta a Rede Globo lança seu candidato e fazendo a cabeça dos eleitores o elege, embora nenhum brasileiro soubesse de onde vinha nem quem era o esculacho chamado Collor. No entanto como este não atende os privilégios das classes dominantes e se envolve nos mais estapafúrdios casos de corrupção, a mesma Rede Globo urdiu todo um mecanismo até conseguir arrancá-lo do poder.
Permeando esses presidentes tivemos outros que devem ser lembrados pelas suas bizarrices como JK que abriu o país para o investimento externo, FHC que privatizou o país e Lula, o mais recente deles, que sendo uma referência na esquerda brasileira se une à direita e ao assumir a presidência dá um continuísmo ao governo anterior, o qual ele tanto criticava.Tudo isso faz com que a resposta sobre quem foi o melhor presidente do Brasil se torne quase impossível de responder. É claro que há exceções nesses casos citados não existindo somente erros em seus governos; certos presidentes merecem o reconhecimento pelo que fizeram, se bem que, há por outro lado algo que os desabone. Minha resposta então é afirmar que o Brasil não teve em nenhuma ocasião um presidente admirável na sua totalidade, mas procuro dizer que dentre aqueles que nos comandaram alguns fizeram algo de bom para o país e isso deve ser lembrado, e esses seus acertos servem para mostrar que não se deve desacreditar nem abandonar a política, para que assim um dia, quem sabe, teremos um excelente presidente.
Marcelo Augusto da Silva - 14/11/08

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Direitos Humanos: sessenta anos de que?

O ano de 2008 comemorou muitas datas importantes. Dentre elas podemos destacar os duzentos anos da vinda da família real para o Brasil, os cento e vinte anos da “abolição” da escravidão e os quarenta anos do ano de 1968 que foi marcado por protestos e manifestações contra a ordem mundial vigente na época. Porém um aniversário pouco foi lembrado, talvez por poucos saberem da sua existência ou então pelo fato de não darem o valor a ele merecido. Trata-se dos sessenta anos da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Inspirado na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, criado durante a Revolução Francesa, a ONU (Organização das Nações Unidas) adota o documento como forma de garantir a todos os seres humanos direitos inerentes à sua própria existência, que até então não haviam sido respeitados como a liberdade e o direito à vida. Por conta de arbitrariedades estatais e governos despóticos não havia restrições ou mesmo limites para o uso da violência, da tortura, da intolerância religiosa e de prisões e condenações arbitrárias.
O ano do decreto dos Direitos Humanos, 1948, coincide com o pós-guerra e a ONU como sendo um organismo mundial o abraça para colocar um basta em todas as formas de desrespeito contra a humanidade e também para evitar que não ocorra novamente o acontecido durante a Segunda Guerra Mundial em que o mundo assistiu a crueldade e o assassinato de mais de seis milhões de judeus em campos de extermínio e concentração comandados pela Alemanha nazista.
Passado seis décadas após a sua decretação vemos que hoje ele faz parte de mais um montante de belas leis, precisas e bem elaboradas, que não passam do plano escrito.
Se no nível internacional vemos o seu fracasso tal como é o caso do massacre promovido a milhares de civis pelas tropas estadunidenses e inglesas no Iraque, e do uso da tortura, evidenciada em casos de denúncias em Abu Graib, onde fotos reveladas à imprensa mostram os americanos aplicando seus mais novos métodos dessa prática abominável, nos estados e municípios brasileiros ocorre também o desrespeito às leis básicas, com casos de torturas, extorsões, agressões, humilhações, amontoamento de prisioneiros, diferença no tratamento e julgamento de acusados.
Embora muitos questionem os Direitos Humanos, eles prezam primeiramente pela vida, independente de quem for e procura não devolver o desprezo e a violência àqueles que não respeitaram o seu semelhante.
A Declaração dos Direitos Humanos deveria ser acima de tudo um acordo de convivência harmoniosa entre a comunidade internacional, que independesse de uma escritura ou de uma legislação; deveria ser um consenso natural, espontâneo e ser simplesmente seguido e respeitado.
Marcelo Augusto da Silva - 07/11/08



quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O lucro dos bancos

Qualquer pessoa que observa o resultado do balanço referente ao último trimestre divulgado pelos bancos privados Itaú e Bradesco, se admira ao ver o quanto essas instituições financeiras obtêm de ganho. O Itaú informou um lucro de R$ 1,8 bilhões nos três meses passados com um acúmulo de 5,9 bilhões de janeiro a setembro; e o Bradesco apresentou a cifra de R$ 1,9 bilhões totalizando um saldo de 6 bilhões no ano. De fato um lucro astronômico para essas instituições que fazem parte do setor financeiro, onde não sendo o único no país, não deveria concentrar tanto acúmulo dessa maneira, podendo existir então uma certa “distribuição de lucros, contando que haja outras atividades econômicas como indústria, comércio e agricultura.
Mas como um banco consegue lucrar tanto assim? Vale antes lembrar que o Brasil privilegia as empresas privadas, principalmente os bancos, desde os tempos da administração de FHC, que inclusive criou um programa de recuperação dos bancos que se encontravam em situação crítica, o PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), o qual o governo dava toda a ajuda necessária a eles com a justificativa que a preservação de seu funcionamento era necessário à estabilidade econômica do país. Interessante é ver o Estado dar ajuda somente a um setor da economia colocando-o como responsável pela saúde econômica do país. E os outros setores não representam nada então para o país? Não teriam eles o mesmo direito de receber ajuda do governo?
Na mesma época de FHC muitos bancos foram privatizados sob a alegação de estarem sendo um prejuízo aos cofres públicos e por isso o Estado deveria se livrar deles, além de que as vendas de empresas estatais é parte dos programas de governo das administrações tucanas. O interessante é que esses mesmos bancos que tanto oneravam o Estado, após serem entregues a preço de banana ao capital estrangeiro começaram a apresentar uma alta lucratividade, demonstrando que, ou não havia uma boa administração deles pelo governo ou seus prejuízos eram uma farsa, usada como estratégia para justificar a suas vendas.
Já lucros obtidos por eles vêm da cobrança de taxas aos correntistas das mais variadas possíveis como manutenção de contas, transferências, talões de cheques, emissão de extratos, renovação de contratos, etc. aproveitando-se principalmente daqueles que estão usando os “benefícios” oferecidos pelos bancos como empréstimos ou limites de cheque especial. Aliás, é nessas negociações que os bancos ganham muito dinheiro, pois aqueles que utilizam os créditos ou dos empréstimos oferecidos pelos bancos, vão pagar altas taxas de juros, como o limite do cheque especial que chega a ser de 8 a 15% ao mês, enquanto a taxa paga por eles a uma aplicação como a caderneta de poupança é bem inferior, ficando na casa dos 0,6% mensais.
Fica fácil entender então por que cada vez mais a rede bancária, principalmente a privada, no Brasil se expande e aumenta seus lucros. Ela tem todas as condições que lhe garanta bons resultados.
Marcelo Augusto da Silva - 31/10/08

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Novamente a comoção geral

O caso do seqüestro das adolescentes que terminou com a morte de uma delas na última semana leva à constatação que de tempos em tempos os mesmos atos se repetem em nosso país, mudando apenas os personagens e o cenário.
A grande mídia mais uma vez usufruiu do ocorrido e usou de todos os seus artifícios para tirar proveito do assunto ao máximo e com ele aumentar o IBOPE. Não que as vítimas não mereçam a atenção dispensada, mas o fato é que há o exagero, a superexploração de imagens, de comentários e do acompanhamento maçante desses casos de violência, causando a conhecida emersão de opiniões a respeito de assuntos relevantes como, por exemplo, a pena de morte.
A partir dessas reportagens aqueles apresentadores que defendem posições arcaicas e irresponsáveis como a pena capital e redução da maioridade criminal, abusam da liberdade expressão que possuem para esbravejar suas palavras de ordem à população, que alucinadas pelo que vêem , acabam se inclinando a favor desses pensamentos.
Não faz muito tempo o Brasil todo se fixou no caso da menina Isabela que fora atirada da janela de um apartamento. O episódio assim como tantos outros depois de todo o alarde criado pela mídia esfriou. Após um período foi por ela mesma substituído por outro, mais lucrativo, o que fez o povo se esquecer do passado.
Qual seria então o papel do meio de comunicação televisivo? Seria alvoroçar o lado sensível das pessoas durante um momento ou de informá-las sobre os problemas que enfrentamos e a partir disso abrir um debate para questões como violência, punição ou impunidade?
O que ela tem feito repetidas vezes é tão somente aflorar os ânimos do telespectador, viciá-los em acompanhar casos de brutalidades que só alienam e provocam uma discussão pífia, improdutiva e efêmera.
É necessário ir além das locuções exaltadas dos apresentadores de programas de quinta categoria e estimular o povo a mudar a sua relação perante a violência e a não ficar somente comovido e passivo diante de mais casos violentos, tal como foi o que aconteceu nessa semana.
Será que a mídia, principalmente a monopolizadora, se acostumou a tratar a vida como se fosse uma novela. Estamos lidando com seres humanos, com questões sociais não com ficção. Esses acontecimentos não podem ser vistos somente pelo sentimentalismo, eles, apesar de toda a dor causada, têm que servir de mote para que a população reivindique mudanças eficazes na estrutura do país.
Seria interessante que os meios de comunicação colaborassem para que as pessoas não se esqueçam do que acontece, mas sim a lembrá-las sempre para que exista motivação para estar sempre trilhando um caminho para melhorias.
Marcelo Augusto da Silva - 24/10/08

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crise dos EUA, crise do capitalismo.

A crise econômica que ataca a maior potência econômica mundial pode, no entanto, amedrontar o mundo, mas não surpreender.
Com suas origens no setor imobiliário, como uma crise no pagamento de hipotecas, as quebras e os problemas enfrentados por bancos até então considerados importantes e sólidos geraram o que se chama de "crise de confiança". Num mundo de incertezas, o dinheiro pára de circular, quem possui recursos sobrando não empresta, quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Isso fez cair e encarecer o crédito disponível e limita o desenvolvimento de outros setores da economia, que dependentes de crédito, têm suas atividades estagnadas e, consequentemente a de toda economia.
Como o capitalismo é um sistema que necessita de uma rede de setores, grupos ou pessoas dependentes entre si, onde uma maioria deve ser desprovida de capital para assim sustentar os que estão na situação oposta; no caso de um desses elementos se retrair, irá ocorrer uma crise geral no qual um leva todos os outros para o mesmo caminho, como numa espécie de efeito dominó, onde uma única peça que cai, tem o poder levar milhares à queda.
Hoje com a economia globalizada em que acontece uma constante troca de mercadorias, serviços, capital e moeda em grande escala, se alguém entrar em colapso, outros mesmo que geograficamente ou até mesmo economicamente distantes, também sofrerão suas conseqüências, como é o caso que vivenciamos atualmente.
Desde a formação do capitalismo após o fim do feudalismo na Europa, e principalmente com a Revolução Industrial na Inglaterra em quem ele afirmou-se, esse sistema econômico passou por diversas crises, na maioria delas não por motivo de escassez de capitais ou de mercadorias, mas sim pelo excesso de produtividade, tal como foi a Crise de 29, cujas exportações dos EUA reduziram-se drasticamente, pois a Europa já não era mais sua principal consumidora, o que ocasionou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
Que todos sentem e sofrem com uma crise dessas proporções é totalmente indiscutível. Por outro lado sabe-se que se chega a determinados períodos em que ela torna-se praticamente inevitável devido ao inchaço econômico atingido. Uma crise porém é momentânea e o mundo, apesar dos seus efeitos, tem condições de superá-la. Através dela toda a economia, agora global, pode se reorganizar e se reestruturar.
Ela pode representar um momento em que alguns possam ter a oportunidade de ocuparem um espaço antes inatingível e de outros curvarem-se e aceitarem-se como falíveis e passageiros. Quem sabe não seja esse os EUA que veremos em breve.
Marcelo Augusto da Silva - 17/10/08

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tucano: uma espécie ameaçada de extinção

De tanto ver imperar a incompetência e o descompromisso dos governos do PSDB, o brasileiro reafirmou sua consciência e assim como nas eleições de 2004, deu um outro basta às suas administrações. Os resultados da última eleição municipal provaram novamente que o eleitor não é tão cativo quanto a extrema direita brasileira o julgava ser, já que como mostraram as urnas a maioria das prefeituras vão ser administradas por outros partidos.
A política neoliberal, o estado mínimo, o desrespeito com o cidadão e a soberba daqueles tucanos que ocupam os cargos públicos, pelo que vimos, já estava sufocando os que dependem dos serviços públicos e os pertencentes às chamadas classes média e baixa. Na conjuntura da situação em que chegamos não dava mais pra se suportar os representantes desse partido.
São José do Rio Pardo felizmente não foi uma exceção. Embora não tenha elegido um partido de ideologia social como o PT, apesar do número de votos expressivos que o candidato petista alcançou mesmo com todas as dificuldades enfrentadas em sua campanha, principalmente numa cidade como a nossa em que muitos ainda mantém um pensamento preconceituoso, a vida pública de São José já não é mais de exclusividade de alguns. Sendo assim o futuro rio-pardense foi salvo uma vez que o eleitorado provou que os tucanos não têm cadeira permanente na prefeitura, que a cidade não lhes pertence, e que dinheiro não se compra a opinião nem o pensamento de ninguém.
Após anos de governo peessedebista e todo o atraso a qual foi submetida a nossa cidade, podemos agora sonhar com uma possibilidade de mudança. Espera-se com essa eleição a renovação em todos os seus sentidos, a aproximação entre o executivo e a população e medidas que coloque São José, uma cidade com grande potencial, no caminho do desenvolvimento.
A vitória esmagadora do candidato eleito demonstrou que há possibilidade de mudança, embora essa não represente, de fato, uma ruptura devido às coligações formadas – ao contrário do petista que com a sua determinação optou por disputar o pleito com a pureza de seu partido e de sua ideologia. Ela representa sim o fim de todo domínio de um grupo ao qual São José do Rio Pardo estava sujeito há décadas, tendo em vista que quando certos figurões não estavam efetivamente no cargo, estavam comandando nos bastidores com todo aquele jogo que bem conhecemos.
A partir de agora viveremos, enfim, um momento de prosperidade, de novos ares a serem respirados, e de uma sensação de alívio ao nos vermos livres do coronelismo. Também será um tempo de exigirmos aquilo que foi prometido para que de novo não caiamos na armadilha a qual durante muito tempo estivemos presos.
Marcelo Augusto da Silva - 10/10/08

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Morte à memória rio-pardense

Nessa semana foi anunciada a demolição do antigo casarão do Artese, uma construção que compunha junto com o prédio do Mercado uma referência histórica do nosso município. A notícia foi lamentada por muitos, inclusive por aqueles que não são muito ligados a assuntos como preservação, história ou urbanismo. Sendo assim o velho prédio da família Artese tem seus dias contados.
Depois de muita polêmica e muita discussão acerca de seu destino e sobre a sua resistência, foi decidido enfim a solução final - embora ele será substituído por outro prédio que preservará suas dimensões e sua fachada original. Uma construção que causava fascínio a inúmeros rio-pardenses e visitantes terá o mesmo destino de outras tantas na nossa cidade, ou seja, a demolição.
É inegável o valor histórico do casarão do Artese. Os mais leigos no assunto de longe notam o valor que a obra tem para a memória da cidade, fato que dispensa qualquer avaliação ou certificação técnica.
Por outro lado, tendo em vista os tantos outros prédios e casas que foram transformados em entulho, não é de se estranhar que nada foi feito durante todos esses anos de abandono do casarão para que suas estruturas não sofressem avarias ou para que ele tivesse sido preservado. Quando os órgãos competentes foram criados ou quando eles agiram já havia algo comprometido na obra. O mesmo aconteceu com várias obras que em nome do progresso e da especulação foram desaparecendo da nossa cidade, dando lugar a prédios de linhas retas e fachadas transparentes como o único propósito de expandir a atividade econômica.
É possível adequar-se aos tempos sem soterrar o passado. É possível unir desenvolvimento e história. Porém é impossível aceitar que não se discuta soluções que não priorize somente alguns grupos. O espaço deixado pelo casarão do Artese jamais será preenchido.
É inaceitável não se pensar em deixar o passado vivo para os que aqui viverão e construirão as suas vidas; passado que presenciou momentos marcantes como a Proclamação da República antecipada, o nascimento de Os Sertões, a Revolução de 1932, além do período glorioso da produção cafeeira que fez nossa cidade germinar e que por mais que alguns lutem para manter esse passado presente, outros tantos conseguem que ele se perca.
Ambigüidade é o termo correto para classificar a postura de nossa cidade já que ao mesmo tempo em que se tenta transformá-la em um pólo turístico, não se preserva a sua memória.
Quem sabe a partir desse ocorrido se ponha um fim na onda de devastação que nossa arquitetura vem sofrendo há décadas, embora seja tarde demais, pois o que sobrou foi uma construção ou outra. Ou quem sabe então isso aos poucos vá mudando o pensamento de boa parte dos rio-pardenses e que eles passem a valorizar aquilo que vai muito além do material.
Se assim for as obras hoje construídas possam ser mantidas num futuro e aqueles que lá viverem terão a oportunidade de saber como eram os nossos dias.
Marcelo Augusto da Silva - 02/10/08

sábado, 27 de setembro de 2008

O cinismo do Estado

“O Estado é a negação da humanidade!”
Mikhail Bakunin, principal expoente do anarquismo


A política neoliberal implantada no começo da década de 1990 nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento - onde se inclui o Brasil - como parte de um “acordo” entre os países ricos do chamado 1º mundo e de organizações financeiras internacionais, desmantelou toda a estrutura e o funcionamento dos serviços sociais que até então existiam ou funcionavam de alguma forma.
Desobrigou-se então o Estado, com o consentimento dos governos de direita que se elegeram desse período, de dar a devida atenção a setores que eram de sua responsabilidade como saúde, educação, segurança, etc. Em outros termos a nova ordem é a de que se o cidadão deseja ter alguns desses serviços ele deve arcar com a sua despesa, pagando o seu devido preço a uma empresa privada que o preste.
Se então o Estado não garante mais nenhum serviço de qualidade, até quando fingir que ele tem o compromisso com eles? Como na educação que há muito tempo empurram os alunos de série em série; como na saúde com os hospitais e suas filas intermináveis e com o descaso de muitos profissionais da saúde, principalmente dos grandes centros, onde a única certeza que o usuário tem é a de que não vai ser atendido de uma forma rápida, eficiente e digna; como na segurança onde a falta de investimento deixa a polícia despreparada e sem equipamento, abrindo espaço para as empresas de segurança particular; sem falar da burocracia estagnada, truncada e moribunda dos serviços públicos, como é o exemplo da justiça, que transforma o contribuinte que dela necessite num refém de sua intransigência.
Com todo esse descaso acontecendo o governo sempre tenta passar a mensagem de que tudo está regularmente funcionando, com toda a qualidade merecida, sempre se utilizando de números forjados e propagandas enganosas. Mesmo com muita gente vendo que o serviço público não funciona, que não há investimento nele e que de comum acordo ou não, as empresas privadas se aproveitam para entrarem em cena, o Estado com todo o cinismo insiste em dizer que acontece justamente o contrário.
Já passou da hora do Estado assumir sua posição de ineficiência e escancarar de vez a verdade. Deixar de lado a hipocrisia e mostrar os fatos tais como são na realidade. Chega de jogar a sujeira debaixo do tapete e pensar no povo como um ser ignorante, desprovido de visão crítica onde é fácil manipulá-lo e ludibriá-lo com mentiras travestidas de verdades. Há tempos o Estado deixou de ser mãe; hoje ele não é nem de longe uma madrasta megera.
Se a população já não mais engole muita coisa assim como foi no passado e se hoje o consenso preza tanto a sinceridade quanto a lealdade, um bom exemplo deveria vir do Estado e ele se mostrar ao povo quem é de fato. Já que todas as decisões governamentais têm um rumo vertical, ou seja, são de cima para baixo apesar dos mecanismos democráticos que possuímos, a verdade deveria acompanhar todas as artimanhas que o Estado tem se utilizado para tirar cada vez mais o corpo fora e deixar que o setor privado se sinta a vontade para lucrar em cima do cidadão.
Se isso acontecesse de fato a chaga deixada pelo Estado talvez não aumentasse mais, e aqueles que ainda não enxergaram o estorvo que ele é abrissem mão de vez dele, e quem sabe um dia ele até deixasse de existir, assim possivelmente as coisas funcionariam melhor, já que a sua única função é arrecadar cada vez mais impostos do contribuinte e não reverte-lo em seu benefício.
Marcelo Augusto da Silva - 27/09/08

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

As distâncias ainda existem


Já no início da formação das primeiras civilizações havia um distanciamento de um povo em relação a outro devido ao seu desenvolvimento, o que gerava certo preconceito nas relações de um com o outro. Um povo que estivesse num nível de organização dito “mais avançado” desprezaria e subjugaria aquele que ainda não o tivesse atingido, ou então aquele que já dominasse algumas técnicas, recursos ou mesmo estratégias também se comportaria dessa forma.
O Brasil na época da chegada dos portugueses iniciou a sua vivência nessa situação e desde já de um modo bem agressivo, pois os nativos estavam no caso num nível de organização social diferente comparado ao dos portugueses, além de que eles possuíam uma cultura também muito diferente.
Devido a essa diferença entre os dois povos, o português se julgou superior aos primeiros habitantes de nossa terra e serviu-se desse pensamento para promover uma matança contra o elemento indígena. Esse caso figurou como um dos mais cruéis preconceitos, pois além de não se respeitar, nem muito menos valorizar a cultura do índio, não se respeitou o seu próprio direito à vida.
Se o índio não conhecia certos aparatos ou não detinha o conhecimento já adquirido pelo branco não significava que ele fosse incapaz, mas sim que seu estágio evolutivo não lhe proporcionava as condições necessárias para que ele concebesse algo ligado a certo conhecimento; ou então indo mais longe, o índio não havia a necessidade de criar e utilizar todas as quinquilharias do europeu porque o seu modo de vida não exigia de nada além do que ele tinha, não significando também que ele era intelectualmente inferior.
Ainda sobre o caso específico dos índios cabe aqui dizer que dentro da sua simplicidade ele se mostrou, e ainda se mostra, totalmente superior (agora com toda a justiça do termo), pois ele não possui os valores nocivos e destrutivos e nem comete as atrocidades injustificáveis típicas da sociedade branca.
Assim como no passado hoje essas diferenças e intolerâncias entre comunidades e etnias ainda permanecem, chegando em alguns casos acontecer dentro de um mesmo grupo, e apesar de tantos esforços e de tanta discussão em torno do assunto o preconceito, a não aceitação e a exploração do outro ainda é latente.
Enquanto determinados segmentos da sociedade se interagem com o mundo graças à tecnologia e dominam vários recursos técnicos que lhes trazem lucro e conforto, vemos comunidades que ainda não foram inseridas nem num sistema educacional que lhes ofereçam a oportunidade de uma alfabetização e que nem de longe têm algum contato com a tecnologia e os seus benefícios, colocando-as numa distância muito grande em relação à outros grupos, aprofundando ainda mais o abismo social.
Por viverem dessa forma, embora isso não caracterize nenhuma desvantagem ou prejuízo, essas pessoas vão ficando à margem da sociedade, chegando a tornarem-se massa de manobra da elite social e também sendo aproveitas de alguma forma por aqueles que estão na outra extremidade para se manterem ainda mais no domínio.
É o caso do Brasil onde já não há mais a morte de quem usa a flecha por aquele que usa a pólvora, mas quem não sabe ler nem escrever ou é morto lentamente ou então serve para enriquecer ainda mais aqueles que estão conectados dia e noite via satélite.
Marcelo Augusto da Silva - 18/09/08

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A caça ao voto através dos tempos


Para obter apoio popular, o candidato deve saber o nome dos próprios eleitores, elogiar seus méritos, bajular, mostrar-se generoso, fazer alarde e dar esperança de um emprego público [...]
Cícero – orador, estadista e escritor romano

O cenário das campanhas eleitorais que temos hoje, carregada de propagandas, comícios, apelos de votos e também do comparecimento de candidatos a qualquer lugar em que se encontre um grupo de eleitores, nos dá uma idéia de que isso é uma situação típica da contemporaneidade.
Porém a política e tudo o que a envolve acompanha a vida do ser humano há milênios, como é o caso de Atenas, importante cidade-Estado grega que lançou as bases da política e da democracia.
Roma a exemplo do caso ateniense e de outras cidades tinha uma vida política muito agitada e com características muito próximas à nossa. A efervescência e o corre-corre das campanhas eleitorais se assemelha muito com a dos nossos dias, bem como a postura e o comportamento daqueles que disputam os cargos políticos.
A propaganda em cartazes espalhados pela cidade era utilizada em grande escala pelos romanos, os quais divulgavam suas propostas e suas promessas. Os candidatos romanos tomavam o cuidado - segundo instruções de estudiosos do assunto na época - de manter um constante contato com os eleitores e com o povo mesmo não tendo nenhuma afinidade com as outras camadas da população.
A idéia de se transmitir aos eleitores uma imagem de pessoa íntegra, responsável e dedicada era de grande valia para os romanos. Hoje nossos candidatos mantêm esse costume e ainda contam com a sorte de serem favorecidos pela tecnologia, pois podem reforçar sua imagem – muitas vezes falsa – com uma foto de um sorriso forçado, ou com um vídeo dele visitando uma comunidade carente.
Fazer aliados, arregimentar cabos eleitorais, manter ligações, fazer contatos, forjar acusações aos adversários, mostrar os vícios, os erros e as fraquezas do oponente também era uma prática de praxe nas campanhas romanas.
Comparando as duas situações vemos que muito pouco, ou praticamente nada, evoluiu em séculos e séculos de História. Hoje o indivíduo apesar de ser instruído e de possuir um maior acesso à informação ainda se vê cativo da baixaria que paira sobre a política.
Infelizmente a vida pública continua sendo vista como um privilégio, como um lugar para poucos ou então como um meio de ascensão ou estabilidade, e muitos ainda não enxergaram as verdadeiras intenções dos que querem nos representar. Por que não herdar do passado apenas os bons exemplos? Por que não evoluir e eliminar tudo aquilo que é nocivo ao homem e à vida em sociedade?
Pelo que vemos chegamos à conclusão que ainda temos muito que aprender.
Marcelo Augusto da Silva - 12/09/08

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A evolução eleitoral brasileira

“Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a difamação. Vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos. Comemorar a água podre e todos os impostos queimadas, mentiras e seqüestros, nosso castelo de cartas marcadas, o trabalho escravo, nosso pequeno universo.”
Perfeição – Legião Urbana

No 07 de setembro comemoramos 186 de independência , data em que o Brasil deixou de ser uma colônia de Portugal e iniciou sua vida de país independente e soberano, ao menos no que diz respeito à questão política.
Como um Estado autônomo o Brasil deveria elaborar a sua Constituição e nela prever, dentre outras leis, as normas para eleger seus futuros representantes, apesar do país se tornar livre e continuar a adotando a monarquia como forma de governo, a escravidão como forma de mão-de-obra e a posse da terra ser de exclusividade de uma minoria.
Nessa conturbada Constituinte de 1923 D.Pedro I, o imperador do Brasil, querendo colocar em prática suas intenções absolutistas fechou a Assembléia Constituinte e no ano seguinte o monarca entrega aos brasileiros a sua primeira Constituição que estabelecia eleições indiretas e censitárias, onde os eleitores de primeiro grau, com renda mínima de 100 mil-réis, elegiam os eleitores de segundo grau, que deviam ter uma renda mínima de 200 mil-réis anuais, para elegerem deputados e senadores. Nela era estabelecido como eleitor os cidadãos maiores de 25 anos, lembrando que as mulheres estavam de fora das urnas e cidadão era considerado somente os homens livres.
Em 1881 a Câmara aprovou uma reforma eleitoral que proibiu o voto aos analfabetos e eliminou o eleitor de primeiro grau, o que transformou as eleições brasileiras em diretas, mas elevou a renda mínima para 200 mil-réis anuais.
Proclamada a República em 1889 é o momento de ser elaborar uma Constituição para um país agora republicano. Nela é baixada a idade mínima para 21 anos e determinado o fim da exigência de renda, porém é mantida a exigência de eleitores alfabetizados, embora o Estado não garantisse a todos o ensino público e gratuito.
No início do século XX o Brasil entra na fase da República Coronelista ou República do café-com-leite onde os coronéis, autoridades locais em geral grandes fazendeiros ou comerciantes, que usufruindo da sua condição financeira controlavam as políticas locais nomeando delegados e juízes (na maioria das vezes um parente ou apadrinhado seu) e elegendo prefeitos, governadores e até mesmo presidentes, favorecido pelo voto cabresto (aquele em que o eleitor é forçado a votar no candidato do coronel com risos de sofrer represálias), o voto fantasma (aquele cujos eleitores que já haviam comparecido às urnas votavam pela segunda vez com títulos de falecidos) e o clientelismo (mecanismo onde o coronel oferecia favores ao eleitor em troca de um voto no candidato de seu apoio ), tudo isso contando com a facilidade do voto ser aberto e do controle das eleições ser de responsabilidade do poder Executivo.
A situação eleitoral no Brasil só iria melhorar com a Constituição de 1934, que apesar das contradições de seu governo, foi aprovada por Getúlio Vargas. Nela é estipulado o voto secreto e obrigatório, direito ao voto de todos os brasileiros alfabetizados maiores de 18 anos, inclusive as mulheres, a criação da Justiça Eleitoral que irá organizar e fiscalizar as eleições, tendo a possibilidade de por um fim às fraudes.
Com o fim da ditadura militar em 1985 o Brasil novamente se organiza para repensar uma nova Constituição, essa de acordo com as mudanças necessárias do seu tempo. Promulgada em 1988 ela mantém a obrigatoriedade do voto aos maiores de 18 anos e torna-o facultativo para os menores de 16 anos, aos analfabetos e aos maiores de setenta anos.
De todas as nossas leis máximas, a atual é a mais liberal de todas e a que mais se aproxima de uma Constituição democrática, pois torna o voto ao alcance de todos, embora haja contestações de alguns que afirmam que os analfabetos ou os menores de 16 anos não tenham as condições necessárias para escolher o seu representante e que voto obrigatório não configure uma democracia.
Com todo esse demorado processo evolutivo que passou a nossa legislação eleitoral, enfim chegamos a um estágio em que podemos exercer nossa cidadania e nossa democracia eleitoral, mas mesmo assim lamenta-se o fato de haver pessoas que deixam essa oportunidade passar votando em branco ou anulando seu voto, ou então vendendo o seu direito de escolher alguém íntegro e digno de representá-lo no poder a troco de uma cerveja, uma ficha de bilhar um saco de cimento ou uma falso aperto de mão e uns tapinhas nas costas.
Marcelo Augusto da Silva - 05/09/08

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

A ameaça das queimadas

"As queimadas são um ato de ignorância, associada à preguiça e má fé”
Pronunciamento de José Bonifácio de Andrada e Silva, em 1820

Nesse período de estiagem que atravessamos, presenciamos o número de queimadas aumentar consideravelmente. Praticada como uma forma de preparo do solo e também sem nenhuma justificativa lógica por algumas pessoas que se aproveitam da sequidão da vegetação para atear fogo nos acostamentos das estradas e em terrenos baldios, o que aumenta ainda mais a sensação de seca e os problemas respiratórios característicos dessa época do ano.
Estudos indicam que as queimas são responsáveis por cerca de 70% da emissão de gás carbônico no Brasil, contribuindo dessa forma com o agravamento da poluição atmosférica e do efeito estufa.
A queimada é uma técnica rudimentar remanescente das comunidades quilombolas e indígenas, que derrubavam a mata nativa e queimavam a vegetação. Hoje ela é ainda praticada por pequenos agricultores como uma maneira de eliminar pragas e preparar o solo para pastagens ou para o plantio, o que na verdade resulta num benefício apenas imediato, já que nos primeiros anos após as chamas há uma maior produtividade, pois o fogo acaba concentrando alguns nutrientes para a plantação, como o fósforo, mas a longo prazo o processo acaba tornando o solo improdutivo, porque há uma perda importante desses nutrientes e também de minerais.
Mas não só o pequeno agricultor se utiliza da queimada; regiões como a Norte e Sudeste ela é intensamente aplicada nos canaviais, uma vez que facilita e reduz os custos da colheita, eliminando os espinhos da planta.
Como a expansão da monocultura canavieira no nosso país tende a crescer nos próximos anos devido à produção do etanol, as queimadas certamente irão aumentar, apesar dos esforços por parte do governo federal e especialmente de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, que de acordo com legislação própria tentam reduzir gradativamente as queimadas nos canaviais, substituindo-a pela colheita mecanizada, que embora não agrida o meio-ambiente cause o desemprego, onde uma colheitadeira tira o emprego de uma grande quantidade de bóias-frias.
Se nesse momento não há sinalizações que indiquem uma redução nas queimadas, uma vez que elas são um impasse entre governo, usineiros, sindicatos e ambientalistas, no mínimo espera-se coerência por parte daqueles que se aproveitam da falta de chuvas para praticar esse ato insano e vândalo aleatoriamente somente pelo simples prazer de ver a seca vegetação arder e a fumaça subir, coisa que só traz mais problemas e transtornos para a população.
Marcelo Augusto da Silva - 29/08/08

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Brasil X Argentina além dos campos de futebol

O jogo entre a seleção brasileira e a seleção argentina ocorrido na última terça-feira nas Olimpíadas de Pequim despertou novamente a rivalidade entre os dois países. A derrota do Brasil acentuou ainda mais a rixa; muitos torcedores não quiseram aceitar o placar, outros com relutância o admitiram, alguns até que se conformariam com uma derrota desde que fosse para qualquer outra seleção, menos para a argentina.
Essa visível hostilidade no futebol entre os dois países remonta a décadas passadas, seja em Olimpíadas ou em Copas do Mundo; briga-se até para definir a quem pertence o melhor jogador do mundo.
De povos colonizados possuidores do mesmo “sangue latino” e que por isso atravessaram o mesmo processo de espoliação, tornaram-se inimigos de velhos tempos, já nos primórdios da colonização, em que os habitantes que aqui nasceram vieram a ser herdeiros da contenda entre o Império português e o Império espanhol na competição pela hegemonia nas terras do novo mundo.
No próprio período colonial a região fronteiriça entre as duas colônias – a região platina – era uma área de conflito entre as metrópoles portuguesa e espanhola. Após a independência do Brasil e da formação da Argentina as contestações continuaram em torno do rio da Prata, importante via de escoamento de mercadorias para os dois países. No pós-independência também acorrem disputas pelo controle de pequenos estados na bacia platina, que por muitas vezes alimentou a possibilidade de uma solução militar por parte da Argentina para resolver o atrito com o Brasil, mas que jamais chegou a tal ponto por saber que a capacidade estratégica argentina não era suficiente para enfrentar o Império brasileiro.
Findo os tempos das contendas, chegamos aos tempos atuais em que se verifica os resquícios das rivalidades territoriais, gerando um clima de desconfiança entre as duas nações e entre seus representantes, o que resulta em diversas crises diplomáticas.
Brasil e Argentina são hoje importantes países, detentores de um grande potencial desenvolvimentista na América do Sul; suas ambições são as mesmas, isso poderia talvez uni-los em torno de uma aliança comercial que os fortaleça, mas que também possa afastá-los devido à concorrência em chegar a condição de um país de primeiro mundo que venceu o prejuízo colonial e chegou a tal estágio.
Se ambos possuem ou possuíram motivos suficientes para entrarem nos campos de batalha, mas que por razões de bom senso nunca chegaram a se enfrentar, resta o duelo nos campos de futebol em que o maior dano que pode acontecer é o aumento da intolerância, o sentimento de revanche, o dissabor de ver um gol de seu adversário e o amargor de uma derrota.
Marcelo Augusto da Silva - 22/08/08

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vivemos enfim numa democracia?

Em períodos eleitorais é comum vermos comerciais televisivos ou outros meios de comunicação divulgarem a importância do voto como sendo um instrumento da democracia. Depois de mais de 20 anos de ditadura militar onde o brasileiro não tinha o direito ao voto, e após um penoso processo de redemocratização do país, é mais do que justificável insistir que somos uma democracia e que os brasileiros devem votar conscientemente.
Mas será que a democracia se restringe apenas ao ato de escolhermos nossos representantes de forma livre? Seria o Brasil então um país democrático?
Essa democracia tão comentada e tão desejada atualmente teve a sua origem na antiguidade, a partir dos gregos, que criaram um sistema político em que todos os cidadãos participassem das decisões políticas. Porém é importante destacar que apenas 10% da população grega participavam da vida pública, pois se excluía os estrangeiros, os escravos, e as mulheres.
Com o passar dos tempos e tendo aprendido muito com os erros de modelos políticos como as monarquias absolutistas, os regimes totalitários e as ditaduras das mais variadas formas, a sociedade global intensificou uma luta pela conquista e efetivação da democracia. Todavia somente a escolha de seus governantes não pode ser considerada a democracia na sua plenitude, basta verificar que boa parte do eleitorado somente escolhe o seu representante e depois não continua exercendo a democracia através do acompanhamento do trabalho de quem ele elegeu ou então cobrando atitudes daqueles que ocupam os cargos políticos. O que temos visto é que muitos sequer se lembram em quem votaram nas últimas eleições, que dirá acompanharem as suas atividades.
Além do mais o termo democracia tornou-se tão abrangente que ele vai muito além do plano político. Viver numa democracia hoje significa que o cidadão além de ter o direito ao voto, o Estado lhe assegure todas as condições necessárias para se ter uma vida digna como saúde, educação, emprego, moradia, lazer, segurança, ou seja, viver num país democrático é viver num lugar onde todos esses direitos sejam garantidos sem nenhuma distinção, seja ela de qualquer natureza.
Do ponto de vista político o Brasil não vive ainda numa democracia, mas caminha em direção a ela, pois pouquíssimas pessoas participam efetivamente de um processo político e ainda é comum presenciarmos os casos de compra de votos e troca de favores em vésperas de eleições. Quanto a democracia total falta muito para que o Brasil a conquiste na sua totalidade, já que não é mais novidade a falta de assistência médica, acesso ao ensino, empregos com condições e salários dignos e uma segurança eficaz para a população.
Talvez o primeiro passo para a atingirmos seja a democracia política, pois com uma boa escolha de nossos representantes e com a observância de seus mandatos é que teremos a possibilidade de viver num país totalmente democrático. Outubro é a oportunidade que temos de começarmos a adquirir essa conquista, basta sabermos em quem estamos votando e cobrarmos desempenho de quem for eleito.
Marcelo Augusto da Silva - 15/08/08

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O momento das prefeituras mostrarem serviço

“meu irmão se liga no que eu vou te dizer, hoje ele pede seu voto amanhã manda a polícia lhe bater.”
Candidato caô caô – Walter meninão / Pedro Butina

Em todo período eleitoral a velha história se repete, os atuais prefeitos que são candidatos à reeleição e também aqueles que não se candidataram mas possuem alguém do seu grupo disputando o pleito, apresentam as suas armas e colocam todo o tipo de serviço público em execução.
Mesmo muitos eleitores não caindo mais nesse truque ultrapassado e não sendo mais tão manipulados e ludibriados como foram no passado, os municípios nessa época se transformam em um verdadeiro canteiro de obras, com vários tipos de serviços, edificações, reparos, modificações e construções sendo realizadas, muitas delas absolutamente inúteis.
Muito do que poderia e deveria ser feito durante os quatro ou oito anos de gestão fica guardado a sete chaves esperando essa hora para ser realizado, justamente para transmitir a idéia de trabalho, responsabilidade e dedicação que as “atuais administrações possuem”. Aliás, ao se falar nessas “qualificações” dos governos vale aqui lembrar que elas são muito usadas somente durante as campanhas eleitorais, mesmo os candidatos não tendo a mínima noção do seu real significado, pois o que importa a eles impressionar o eleitor para conquistá-lo.
Para se ter a noção dessa prática é só andar pelas ruas do centro e dos bairros das cidades que logo se vê asfaltos recapeados, rotatórias sendo construídas, iluminação reparada, variadas construções em acelerado andamento, antigos consertos realizados, ou então aquele “embelezamento” como um canteiro aqui, outro acolá, uma arborização e até mesmo a falta de respeito e de compromisso com os bairros em que muitos deles estão com as ruas mal iluminadas, esburacadas ou sem asfalto, as calçadas intransitáveis e o entulho sendo jogado a céu aberto e única melhoria que foi feita neles é a pintura das sarjetas com faixas brancas, como se isso talvez encobrisse todos os problemas que eles possuem.
Das duas uma: ou o povo não está assim tão consciente como se pensa a ponto de não cair numa estratégia furada como essa ou os políticos são ingênuos o suficiente que não se deram conta que isso é um recurso apelativo demais.
Tomara que seja a segunda opção, pois com tantos casos de corrupção, descaso e falta de responsabilidade por parte dos governantes que já é passada a hora do eleitorado enxergar a compra de votos e o toma lá dá cá desse momento e usar o seu título eleitoral contra esse tipo de político, não a seu favor, para que assim aos poucos essa estirpe entre enfim em extinção.
Marcelo Augusto da Silva - 08/08/08

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Metrópoles, caminhões e transtornos.

Começou nessa segunda-feira dia 28 o rodízio de caminhões, inclusive para os de pequeno porte, em São Paulo. A lei municipal se soma a uma série de outras restrições aos caminhões iniciadas no mês passado na cidade.
Com essa medida a prefeitura paulistana prevê a redução de 20% dos cerca de 126 mil caminhões que trafegam a cada dia pelas vias que fazem parte do rodízio. Segundo dados da própria prefeitura, o nível de congestionamento no primeiro dia do rodízio representou uma queda de 49%.
Além do trânsito caótico que os carros e caminhões proporcionam em São Paulo, tem-se também a poluição que nesses dias de baixa umidade do ar chega a causar sérios problemas às pessoas e ao meio ambiente como complicações alérgicas e respiratórias, sangramento pelo nariz, ressecamento da pele, irritação dos olhos e aumento do potencial de incêndios em florestas e pastagens.
Um fato interessante sobre a origem das metrópoles e de seus conseqüentes problemas é que, não por coincidência, a urbanização desordenada e o inchaço das cidades acorreram devido ao investimento no transporte rodoviário no Brasil, que de uma forma não planejada ou não bem escolhida, convergiu-se todo nesse segmento. Atualmente as rodovias brasileiras atingem aproximadamente 1,7 milhões de quilômetros, transportando 96% dos passageiros e 63% da carga.
Toda essa concentração dos transportes em um único meio foi resultado de um processo que se iniciou em 1945 com final da Segunda Guerra Mundial. Após o desfecho do conflito os EUA tinham caminhões e motores sobrando, pois haviam investindo muito nesse transporte para abastecer suas tropas que lutavam contra os nazistas. Iniciou-se então uma intensa pressão dos estadunidenses para que outros mercados adotassem esse meio de transporte. Dentre esses mercados estava o brasileiro dono de uma extensa malha ferroviária, criada e expandida com a expansão cafeeira, mas que foi deixada de ser ampliada ou mesmo mantida para se investir na construção de rodovias, um sinônimo de progresso e desenvolvimento na época.
Paralelamente à adoção do transporte rodoviário brasileiro, acontecia a industrialização e a migração do homem do campo para cidade, e assim como é hoje, naquela época o preço das mercadorias eram altos devido ao elevado custo do transporte rodoviário. As indústrias numa forma de diminuírem gastos optaram então por se concentrarem em algumas poucas cidades dando origem às metrópoles de hoje.
A aceitação da imposição americana acarretou para o país um enorme prejuízo, não só na questão da quantidade veículos e caminhões que circulam nas cidades e nas estradas causando congestionamento e poluição, mas também pelo número de acidentes acorridos diariamente pelo território afora. Além de haver usuários em demasia, as rodovias brasileiras - salvo as privatizadas que cobram um preço absurdo pelos pedágios - estão em péssimas condições, o que lamentavelmente tira a vida de milhares de pessoas.Se o Brasil tivesse investido mais no transporte ferroviário, assim como fez a Europa e os EUA que transporta 47% e sua carga através de trilhos, certamente hoje teríamos menos acidentes, menos problemas e uma melhor qualidade de vida.
Marcelo Augusto da Silva - 01/08/08

quinta-feira, 24 de julho de 2008

A banalização da violência

“E as crianças brincam com a violência nesse cinema sem tela que passa na cidade. Que tempo mais vagabundo esse agora que escolheram pra gente viver?”
Cazuza / Frejat / Denise Barroso

Está circulando pela internet algumas fotos de um grave acidente ocorrido há pouco tempo numa das estradas próximas à São José do Rio Pardo. Chocantes e com um forte teor emocional as imagens mostram escancaradamente a tragédia. Muitos estão se interessando em ter acesso a tais fotos, cuja origem deve ser proveniente de alguém que se deslocava pela estrada no momento do acidente e que graças à tecnologia e à falta de bom senso pôde registrar as cenas com a câmera de um celular.
O que mais causa admiração nesse episódio não é a extrema curiosidade que as pessoas estão tendo em ver as fotos, mas sim o fato delas não causarem nenhuma sensação naqueles que a vêem, salvo raras exceções. Isso leva a supor que de certa forma nos acostumamos com a violência; de tanto vê-la, tornou-se banal.
O cinema e a televisão talvez sejam os maiores colaboradores dessa postura, uma vez que eles despejam todos os dias cenas da mais pura bestialidade, como se fosse algo natural, e nós assistimos passíveis a tudo.
Ao ver determinados filmes pode-se notar que a violência é colocada num nível de normalidade. Um exemplo fica por conta do filme Planeta Terror (Planet Terror, 2007, EUA, Direção
Robert Rodriguez ), disponível em todas as locadoras, que lava a tela com sangue e atira constantemente pedaços de corpos humanos na frente do telespectador. A explicação dada pelos realizadores do filme - que trata da carnificina com certo toque de humor negro e bizarrice e eleva a violência a níveis estratosféricos - é que ele é uma homenagem dos diretores Quentin Tarantino (produtor da obra) e Robert Rodriguez aos filmes de terror que assistiam nas matinês na infância.
Se essa produção então é uma crítica ou uma homenagem, que embora vestida com esse rótulo vá incutir naqueles que não tem essa visão toda a violência que ela carrega; o que dizer então de outros tantos filmes que fazem da brutalidade a sua atração principal, em que sequer pensar nas sérias conseqüências que isso pode causar nas pessoas, principalmente nas crianças e jovens. Talvez esteja aí também a explicação de tantos casos nos EUA - os idealizadores de difusores desse tipo de filmes – em que jovens idolatram armas e que de uma hora para a outra provocam uma matança em colégios e universidades, como se a vida se misturasse com a ficção.
O paralelo traçado entre o caso do interesse e da normalidade na visualização das fotos e a procura por mais filmes de caráter violento, talvez possa levar à conclusão que a violência tornou algo natural dos nossos tempos e do nosso meio e isso faz com que ninguém se abale mais com ela.
Marcelo Augusto da Silva - 25/07/08

quinta-feira, 17 de julho de 2008

São José do Rio Pardo merece uma mudança

“Sente-se o que a massa sente, a massa quer gritar: ‘A gente quer mu-dança, o dia da mu-dança, a hora da mu-dança, o gesto da mu-dança'"
O eterno Deus Mu Dança - Gilbeto Gil


A trajetória política de São José do Rio Pardo há décadas vem sendo marcada por uma sucessão de grupos dominantes que se alternam no poder. O período eleitoral mostra que novamente as ligações, articulações e formação de panelinhas se organizam de forma a perpetuarem essa estrutura. Assim de tempos em tempos velhos figurões ressurgem das entranhas e novamente começam a engendrar o mesmo esquema podre e o velho jogo sujo da compra de votos, da trapaça e da manipulação do pensamento dos mais ingênuos; tudo isso para se manterem no poder e fazer da política rio-pardense o trampolim para um salto na sua vida pessoal e para a sua estabilização econômica, transformando São José do Rio Pardo num curral eleitoral nos mesmos moldes do Brasil coronelista do começo século passado.
O reflexo dessa história sórdida é visto na estagnação em que vive o município, notória em casos como a falta de emprego, moradia, trânsito caótico, falta de infra-estrutura, lazer e outros tantos exemplos, condenando São José a um atraso desenvolvimentista, econômico, cultural e intelectual, que muito em breve o colocará numa posição abaixo dos municípios da região que possuem um potencial bem inferior ao nosso.
As eleições municipais deste ano apontam a saída desse modelo arraigado em que se tornou a política rio-pardense, pois contrapondo-se aos auto-intitulados “donos do poder” um novo grupo - formado por pessoas idôneas, de caráter e integridade moral imaculada - desponta com uma nova visão e uma nova proposta para tirar São José do marasmo ao qual está sentenciado. Com uma nova mentalidade e com propostas e idéias fundamentas em experiências que deram resultados positivos, um caminho poderá ser aberto e colocar novamente a cidade na trilha do desenvolvimento, dando assim à população uma qualidade de vida que ela tanto merece.
Ao eleitorado fica a mensagem de que esse é o momento de virar a mesa e dizer não àqueles cujo único compromisso é com si próprio e com a realização pessoal, que pensam unicamente no individual e não no coletivo. Chegou enfim o momento da mudança que São José do Rio Pardo tanto merece.
Marcelo Augusto da Silva - 18/07/08

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Celulares, computadores e lixo eletrônico

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) divulgou essa semana que prevê - de acordo com o novo Plano Geral de Atualização da Regulamentação das Telecomunicações no Brasil (PGR) - que até o ano de 2018 o número de celulares no Brasil será de um para cada habitante, elevando dessa forma a atual quantidade de telefones móveis de 125 milhões para 250 milhões.
Há apenas 15 anos atrás os celulares, além de serem grandes o suficiente para se tornarem um incômodo, eram também um artigo de luxo; hoje praticamente todos as pessoas possuem o aparelho. A concorrência fez com que os preços despencassem e que novos e sofisticados modelos fossem surgindo no mercado, além de que a facilidade de crédito deu também a oportunidade a muitas pessoas de adquirirem o produto.
Na mesma proporção do consumo de celulares, um outro aparelho eletrônico que vem sendo cada vez mais conquistado é o microcomputador. Cada vez mais potentes e com maior capacidade de armazenamento de dados o computador também já faz parte da vida de muitos brasileiros.
Se por um lado a criação de novas tecnologias e a concorrência dão a chance de muitos se inserirem no mundo digital e das comunicações, um fator agravante já preocupa muitas entidades e ambientalistas, pois tantos os celulares quantos os computadores são superados em um breve espaço de tempo, tendo assim uma “vida útil” muito curta, não por baixa qualidade, mas sim pelo fato de serem lançados a todo momento novos modelos melhores e superiores que colocam os antigos em desuso.
Por ano são jogados no lixo 40 milhões de toneladas de microcomputadores e outros equipamentos eletrônicos que causam sérias ameaças ao meio ambiente e à saúde devido à presença de metais pesados e outros componentes tóxicos. A ONU preocupada com o aumento do consumo desses produtos e o seu descarte criou um programa chamado de StEP, que foi concebido para dar conta do lixo eletrônico. Se antes a preocupação era com os resíduos industriais, papel, plástico, esgoto, poluição e outros elementos que ameaçam a vida do planeta, agora tem-se a preocupação das sucatas eletrônicas que se amontoam em pilhas nos depósitos de lixo não tendo um destino correto. Da mesma forma que muitos objetos foram desenvolvidos para facilitar a vida das pessoas e enriquecer a de outros, como a invenção do plástico e dos descartáveis, sem dar-se a devida atenção às conseqüências que eles podem provocar ao meio ambiente, os eletrônicos seguem esse mesmo caminho. O planeta por sua vez está sentindo agora a pressão desse novo inimigo, pois aumenta-se a quantidade de produtos no mercado, aumenta-se o consumo em proporções cada vez maiores e não são desenvolvidas propostas ou medidas preventivas que garantam a sustentação do planeta.
Marcelo Augusto da Silva - 11/07/08

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Perdemos a Revolução, ganhamos um feriado.

No dia 9 próximo teremos mais um feriado a ser comemorado, o penúltimo do ano que cairá em dia útil, depois dele só o dia 15 de agosto. É o feriado da Revolução Constitucionalista de 1932, em que é lembrado o episódio em que São Paulo pegou em armas para enfrentar as forças federalistas de governo Vargas; devido a isso o feriado é somente para o paulistas.
Em 1932 completava-se dois anos do governo provisório de Vargas, que pôs fim a república do café-com-leite (período da república brasileira em que os presidentes eram eleitos entre os ex-governadores dos estado de São Paulo e Minas Gerais) e que prometeu ao país eleições diretas e uma nova Constituição.
Como havia passado um certo tempo entre a promessa e o seu cumprimento, os paulistas, que já estavam insatisfeitos com a nomeação de um governador de outro estado para São Paulo, começam a demonstrar o seu descontentamento com uma série de manifestações contra o governo de Getúlio. Numa delas acontece a morte de quatro estudantes, cujas iniciais de seus nomes batizam uma entidade civil, o MMDC, que alistava civis para uma luta contra Vargas que cada vez estava mais próxima de acontecer.
O clima de revolta e insatisfação provocam a eclosão de um conflito armado entre os paulistas e as tropas federalistas iniciada no dia 9 de julho de 1932, que ficou conhecida como Revolução Constitucionalista de 1932 que exigia, principalmente, a promulgação de uma nova Constituição ao país.
A confiança e o idealismo paulista aos poucos foi se transformando até seus militantes e combatentes se darem com a amarga realidade de uma frente de batalha despreparada, sem munição e equipamento e que pouco a pouco ia se sucumbindo diante das tropas getulistas. As primeiras derrotas vieram logo após o 9 de julho, a partir daí as paulistas acumulavam sucessivos fracassos.
A cada batalha, ou até mesmo antes dela, os constitucionalistas iam recuando às pressas. A precariedade de São Paulo era tão tamanha que uma grande “arma” foi inventada de última hora com o intuito de salvar a causa, tratava-se de instrumento movido a manivela que ficou sendo apelidado de matraca, pois simulava o som de uma metralhadora, na ilusão de afugentar o inimigo.Assim São Paulo se rendeu em pouco tempo. Ficou o dissabor da derrota, que foi superado em 1934 quando Vargas promulga a terceira Constituição brasileira. O dia 2 de outubro - dia da rendição paulista - foi esquecido; o sentimento de humilhação foi substituído pelo discurso do “perdemos, mas vencemos” referindo-se à conquista da Constituição. E desse acontecimento o dia 9 de julho tornou-se feriado, tão aguardado e tão lembrado pelos paulistas; só não se lembram das vidas de 800 combatentes que foram perdidas por nada.
Marcelo Augusto da Silva - 04/07/08

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lei seca ao volante: tem que abranger a todos

Na semana passada o presidente Lula sancionou uma lei – a qual está sendo conhecida como Lei seca ao volante - que proíbe a ingestão de qualquer quantidade de bebida alcoólica pelos motoristas antes de dirigirem; anteriormente era permitida a dose equivalente a três tulipas de chope. Além dessa alteração a nova lei determina multa de R$ 955,00 ao condutor que for flagrado dirigindo após ter consumido álcool; a suspensão da carteira por até um ano; a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas áreas rurais de estradas federais e a liberalização nos trechos urbanos.
Se dependesse de leis, o Brasil seria o país mais justo para se viver, pois a nossa legislação abrange vários setores e prevê punição àqueles que a transgridem. Em contrapartida falta fiscalização, cumprimento, e o mais importante de tudo, punição aos infratores, indistintamente de quem sejam eles. No que diz respeito ao trânsito há várias leis - além da que rege o consumo de álcool - que se fossem cumpridas reduziriam consideravelmente o número de acidentes e mortes.
Se a lei seca ao volante que passa a vigorar agora supõe que o motorista tem a noção dos prejuízos que o álcool causam na sua concentração e percepção, é justo então puni-lo, porém é mais justo ainda punir também todos os envolvidos nesse delito como aquele que fabrica o produto. Quando em fevereiro deste ano a MP (Medida Provisória) proibiu a venda de bebidas nos trechos rurais e urbanos das rodovias federais, o governo sofreu muita forte pressão da indústria de bebidas, o que forçou os parlamentares a afrouxarem a decisão, fazendo-a vigorar apenas nas áreas rurais das estradas, ou seja, a favor do lucro o condutor tem uma oportunidade a mais de embriagar-se e logo após dirigir o seu veículo, colocando em risco a sua vida e principalmente a de outras pessoas.
De acordo com essa constatação quem está na outra ponta do novelo, ou seja, os fabricantes e distribuidores de bebidas, têm também a noção que estão colocando à venda no mercado uma droga, que assim como as outras, causam alterações e dependência naquelas que a consomem. Partindo então desse raciocínio a punição deveria também cair sobre eles e penalizar dessa forma todos os envolvidos nesse processo.
Marcelo Augusto da Silva - 27/06/08

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Os Jogos Olímpicos ontem e hoje

O popular Jogos Olímpicos, que terá mais uma edição esse ano a ser realizada na China, tem sua a sua origem na Grécia Antiga, a qual realizava as disputas em homenagem aos deuses.
As Olimpíadas recebe esse nome pelo fato dos deuses gregos mitologicamente habitarem o Monte Olimpo. Naquela época os jogos eram disputados somente por homens – o que demonstra o caráter machista da sociedade grega – nos quais se destacavam principalmente os esportes atléticos e as lutas. O evento representava também um período de paz na Grécia, pois quando se iniciavam os jogos era declarada um trégua entre as cidades-Estados gregas que estavam em guerra.
Com a expansão do Império Romano a Grécia acaba sendo dominada e no ano de 392 d.C. o imperador Teodósio I, que havia se convertido ao cristianismo, proíbe os jogos, considerado por ele uma festa pagã e inaceitável pelo fato de ser um evento politeísta.
Somente no final do século XIX as Olimpíadas voltam a serem realizadas, embora de uma forma bem diferente da antiguidade, tornando-se um evento em que se preza principalmente a disputa pela melhor colocação dos atletas e países, se distanciando do sentido festivo e confraternizador do passado.
Hoje os jogos servem como uma disputa geopolítica e ideológica, em que os países que dela participam tentam se mostrarem superiores ou então é utilizada como um mecanismo de autopromoção para o país que vai sediar o evento - uma fez que eles são transmitidos ao vivo e mundo inteiro de concentra nas partidas – para que dessa forma ele posso se mostrar como um local de desenvolvimento e progresso, atraindo investimentos estrangeiros. Sem contar no patrocínio e no investimento milionário de empreses e corporações que exploram ao máximo o esporte para divulgarem seus produtos. Neste ano Coca-Cola, Lenovo, McDonald’s e Samsung, ou seja, alguns dos patrocinadores dos jogos na China irão dispensar a quantia de US$ 100 milhões no evento, sem contar outras transnacionais e multinacionais que fecharam contratos milionários de patrocínio.
Além dessas diferenças vale ainda lembrar que na atualidade as Olimpíadas não tem a força para interromper as guerras assim como era na Grécia, muito pelo contrário, em três anos, 1916, 1940, e 1944 os jogos foram cancelados por causa das duas guerras mundiais e nos anos em que se seguiram o evento sempre foi marcado por um desentendimento entre alguns países.
Essas são algumas das diferenças e das contradições de duas fases de um mesmo evento que tinha acima de tudo uma essência religiosa e pacifista, que em vão Pierre de Fredy, o barão de Coubertien, tentou resgatar em 1896 quando sua iniciativa trouxe de volta a realização das Olimpíadas.
Marcelo Augusto da Silva - 20/06/08

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pesquisas com células-tronco: uma chance para vida

Depois de muita polêmica, debates e, principalmente, de oposições de setores que continuam a insistir em interferir em áreas que não lhe dizem respeito, como é o caso da comunidade religiosa, foi aprovada pela Câmara dos Deputados no dia 28 de maio a pesquisa com células-tronco embrionárias. Com a aprovação, o texto segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa com células-tronco foi aprovada por 366 votos favoráveis, 59 contrários e três abstenções.
A pesquisa será permitida somente com células-tronco embrionárias, desde que obtidas em fertilização in vitro e congeladas há mais de três anos, exatamente como fez o Senado no final do ano passado. Mas, para que o estudo seja feito, os pais devem autorizar a pesquisa expressamente. Atualmente, esses embriões, ao completarem quatro anos de congelamento, são descartados.
A votação fazia parte dos destaques apresentados ao texto básico da Lei de Biossegurança, que, entre outras coisas, permite a produção e a comercialização de produtos transgênicos, que são aqueles produtos acrescidos de um novo gene ou fragmento de DNA para que desenvolva uma característica em particular, como mudanças do valor nutricional ou resistência a pragas.
As células-tronco são células neutras que ainda não possuem características que as diferenciem como uma célula da pele ou do músculo, por exemplo. Essa capacidade em se diferenciar em outros tecidos tem chamado a atenção dos cientistas. Cada vez mais pesquisas mostram que as células-tronco podem recompor tecidos danificados e tratar um infindável número de problemas.
Mas por que a necessidade de ser células de um embrião? Basicamente, há dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as de embriões. No caso das extraídas de tecidos maduros - como, por exemplo, o cordão umbilical ou a medula óssea - as células-tronco são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo. Já as células-tronco embrionárias cada vez se mostram mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo. Esta é a razão pela qual os cientistas desejam tanto pesquisar estas células para possíveis tratamentos. O problema é que, para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído.
Essas pesquisas representam uma esperança no tratamento de alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson e o de Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou até mesmo fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar.Embora as pesquisas estejam no início, essa lei sinalizava uma esperança àqueles que sofrem com alguma doença ou lesão. Além disso, o país mostrou-se independente e consciente de que o mundo anda em constante e acelerada transformação, e que certos paradigmas têm que serem quebrados para bem comum, além de que pessoas não devem pagar com o seu sofrimento pelo pensamento retrógrado de alguns.
Marcelo Augusto da Silva - 06/06/08

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que restou da Mata Atlântica

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 encontraram uma vasta floresta tropical que cobria 15% do seu território, ocupando toda a costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e regiões interioranas. Trata-se da Mata Atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal e pelo decreto 750/93 e que no ano de 1999 um outro decreto presidencial instituiu o dia 27 de maio como Dia da Mata Atlântica, comemorado na semana passada.
Hoje do total dessa vegetação sobrou apenas 7% de sua cobertura original. A devastação começou já no início da colonização com a extração do pau-brasil e veio se mantendo ao longo desses 508 anos, apresentando uma intensificação no século XX com a ocupação desordenada e a urbanização. Atualmente a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e plantações. Porém, ainda restam pedaços da floresta na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, localizadas no sudeste do Brasil.
Dentre as regiões brasileiras que compõem o Bioma Mata Atlântica, o Nordeste é, sem dúvida, a área mais ameaçada de extinção. Ao longo da colonização, vários fatores influenciaram direta ou indiretamente na drástica redução da Mata Atlântica Nordestina: o relevo litorâneo pouco acidentado, a extração e a comercialização indiscriminada de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar, a especulação imobiliária e, especialmente, a falta de políticas públicas voltadas à conservação dos nossos recursos naturais, que convergiram na extinção quase que completa das nossas florestas costeiras.
Embora fragmentada, a Mata Atlântica assume um papel estratégico em nossas vidas, já que contribui de forma decisiva na regulação climática, interferindo diretamente nas variações de temperatura, umidade e regime de chuvas, na fertilidade e proteção dos solos, encostas e, especialmente, garantindo a perpetuação de mananciais que abastecem as populações humanas em sua área de abrangência.
Esse ecossistema apresenta a maior biodiversidade do mundo - maior que a encontrada na Amazônia pois é favorecida pela grande amplitude térmica que possui - abrigando em seu interior milhares de espécies de plantas, fungos e animais, que se constituem num banco genético de valor imensurável. Muitas destas espécies são endêmicas, ocorrendo exclusivamente em determinadas regiões.
Atualmente com a forte atuação de ONGs e a maior conscientização sobre a importância desses ecossistemas para a vida do planeta espera-se medidas governamentais mais decisivas e eficazes em respeito à preservação e ao combate à devastação, para que assim se possa manter o pouco que restou da Mata Atlântica.

Marcelo Augusto da Silva - 06/06/08