quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lei seca ao volante: tem que abranger a todos

Na semana passada o presidente Lula sancionou uma lei – a qual está sendo conhecida como Lei seca ao volante - que proíbe a ingestão de qualquer quantidade de bebida alcoólica pelos motoristas antes de dirigirem; anteriormente era permitida a dose equivalente a três tulipas de chope. Além dessa alteração a nova lei determina multa de R$ 955,00 ao condutor que for flagrado dirigindo após ter consumido álcool; a suspensão da carteira por até um ano; a proibição da venda de bebidas alcoólicas nas áreas rurais de estradas federais e a liberalização nos trechos urbanos.
Se dependesse de leis, o Brasil seria o país mais justo para se viver, pois a nossa legislação abrange vários setores e prevê punição àqueles que a transgridem. Em contrapartida falta fiscalização, cumprimento, e o mais importante de tudo, punição aos infratores, indistintamente de quem sejam eles. No que diz respeito ao trânsito há várias leis - além da que rege o consumo de álcool - que se fossem cumpridas reduziriam consideravelmente o número de acidentes e mortes.
Se a lei seca ao volante que passa a vigorar agora supõe que o motorista tem a noção dos prejuízos que o álcool causam na sua concentração e percepção, é justo então puni-lo, porém é mais justo ainda punir também todos os envolvidos nesse delito como aquele que fabrica o produto. Quando em fevereiro deste ano a MP (Medida Provisória) proibiu a venda de bebidas nos trechos rurais e urbanos das rodovias federais, o governo sofreu muita forte pressão da indústria de bebidas, o que forçou os parlamentares a afrouxarem a decisão, fazendo-a vigorar apenas nas áreas rurais das estradas, ou seja, a favor do lucro o condutor tem uma oportunidade a mais de embriagar-se e logo após dirigir o seu veículo, colocando em risco a sua vida e principalmente a de outras pessoas.
De acordo com essa constatação quem está na outra ponta do novelo, ou seja, os fabricantes e distribuidores de bebidas, têm também a noção que estão colocando à venda no mercado uma droga, que assim como as outras, causam alterações e dependência naquelas que a consomem. Partindo então desse raciocínio a punição deveria também cair sobre eles e penalizar dessa forma todos os envolvidos nesse processo.
Marcelo Augusto da Silva - 27/06/08

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Os Jogos Olímpicos ontem e hoje

O popular Jogos Olímpicos, que terá mais uma edição esse ano a ser realizada na China, tem sua a sua origem na Grécia Antiga, a qual realizava as disputas em homenagem aos deuses.
As Olimpíadas recebe esse nome pelo fato dos deuses gregos mitologicamente habitarem o Monte Olimpo. Naquela época os jogos eram disputados somente por homens – o que demonstra o caráter machista da sociedade grega – nos quais se destacavam principalmente os esportes atléticos e as lutas. O evento representava também um período de paz na Grécia, pois quando se iniciavam os jogos era declarada um trégua entre as cidades-Estados gregas que estavam em guerra.
Com a expansão do Império Romano a Grécia acaba sendo dominada e no ano de 392 d.C. o imperador Teodósio I, que havia se convertido ao cristianismo, proíbe os jogos, considerado por ele uma festa pagã e inaceitável pelo fato de ser um evento politeísta.
Somente no final do século XIX as Olimpíadas voltam a serem realizadas, embora de uma forma bem diferente da antiguidade, tornando-se um evento em que se preza principalmente a disputa pela melhor colocação dos atletas e países, se distanciando do sentido festivo e confraternizador do passado.
Hoje os jogos servem como uma disputa geopolítica e ideológica, em que os países que dela participam tentam se mostrarem superiores ou então é utilizada como um mecanismo de autopromoção para o país que vai sediar o evento - uma fez que eles são transmitidos ao vivo e mundo inteiro de concentra nas partidas – para que dessa forma ele posso se mostrar como um local de desenvolvimento e progresso, atraindo investimentos estrangeiros. Sem contar no patrocínio e no investimento milionário de empreses e corporações que exploram ao máximo o esporte para divulgarem seus produtos. Neste ano Coca-Cola, Lenovo, McDonald’s e Samsung, ou seja, alguns dos patrocinadores dos jogos na China irão dispensar a quantia de US$ 100 milhões no evento, sem contar outras transnacionais e multinacionais que fecharam contratos milionários de patrocínio.
Além dessas diferenças vale ainda lembrar que na atualidade as Olimpíadas não tem a força para interromper as guerras assim como era na Grécia, muito pelo contrário, em três anos, 1916, 1940, e 1944 os jogos foram cancelados por causa das duas guerras mundiais e nos anos em que se seguiram o evento sempre foi marcado por um desentendimento entre alguns países.
Essas são algumas das diferenças e das contradições de duas fases de um mesmo evento que tinha acima de tudo uma essência religiosa e pacifista, que em vão Pierre de Fredy, o barão de Coubertien, tentou resgatar em 1896 quando sua iniciativa trouxe de volta a realização das Olimpíadas.
Marcelo Augusto da Silva - 20/06/08

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Pesquisas com células-tronco: uma chance para vida

Depois de muita polêmica, debates e, principalmente, de oposições de setores que continuam a insistir em interferir em áreas que não lhe dizem respeito, como é o caso da comunidade religiosa, foi aprovada pela Câmara dos Deputados no dia 28 de maio a pesquisa com células-tronco embrionárias. Com a aprovação, o texto segue para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A pesquisa com células-tronco foi aprovada por 366 votos favoráveis, 59 contrários e três abstenções.
A pesquisa será permitida somente com células-tronco embrionárias, desde que obtidas em fertilização in vitro e congeladas há mais de três anos, exatamente como fez o Senado no final do ano passado. Mas, para que o estudo seja feito, os pais devem autorizar a pesquisa expressamente. Atualmente, esses embriões, ao completarem quatro anos de congelamento, são descartados.
A votação fazia parte dos destaques apresentados ao texto básico da Lei de Biossegurança, que, entre outras coisas, permite a produção e a comercialização de produtos transgênicos, que são aqueles produtos acrescidos de um novo gene ou fragmento de DNA para que desenvolva uma característica em particular, como mudanças do valor nutricional ou resistência a pragas.
As células-tronco são células neutras que ainda não possuem características que as diferenciem como uma célula da pele ou do músculo, por exemplo. Essa capacidade em se diferenciar em outros tecidos tem chamado a atenção dos cientistas. Cada vez mais pesquisas mostram que as células-tronco podem recompor tecidos danificados e tratar um infindável número de problemas.
Mas por que a necessidade de ser células de um embrião? Basicamente, há dois tipos de células-tronco: as extraídas de tecidos maduros de adultos e crianças ou as de embriões. No caso das extraídas de tecidos maduros - como, por exemplo, o cordão umbilical ou a medula óssea - as células-tronco são mais especializadas e dão origem a apenas alguns tecidos do corpo. Já as células-tronco embrionárias cada vez se mostram mais eficazes para formar qualquer tecido do corpo. Esta é a razão pela qual os cientistas desejam tanto pesquisar estas células para possíveis tratamentos. O problema é que, para extrair a célula-tronco, o embrião é destruído.
Essas pesquisas representam uma esperança no tratamento de alguns tipos de câncer, o mal de Parkinson e o de Alzheimer, doenças degenerativas e cardíacas ou até mesmo fazer com que pessoas que sofreram lesão na coluna voltem a andar.Embora as pesquisas estejam no início, essa lei sinalizava uma esperança àqueles que sofrem com alguma doença ou lesão. Além disso, o país mostrou-se independente e consciente de que o mundo anda em constante e acelerada transformação, e que certos paradigmas têm que serem quebrados para bem comum, além de que pessoas não devem pagar com o seu sofrimento pelo pensamento retrógrado de alguns.
Marcelo Augusto da Silva - 06/06/08

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que restou da Mata Atlântica

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 encontraram uma vasta floresta tropical que cobria 15% do seu território, ocupando toda a costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e regiões interioranas. Trata-se da Mata Atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal e pelo decreto 750/93 e que no ano de 1999 um outro decreto presidencial instituiu o dia 27 de maio como Dia da Mata Atlântica, comemorado na semana passada.
Hoje do total dessa vegetação sobrou apenas 7% de sua cobertura original. A devastação começou já no início da colonização com a extração do pau-brasil e veio se mantendo ao longo desses 508 anos, apresentando uma intensificação no século XX com a ocupação desordenada e a urbanização. Atualmente a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e plantações. Porém, ainda restam pedaços da floresta na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, localizadas no sudeste do Brasil.
Dentre as regiões brasileiras que compõem o Bioma Mata Atlântica, o Nordeste é, sem dúvida, a área mais ameaçada de extinção. Ao longo da colonização, vários fatores influenciaram direta ou indiretamente na drástica redução da Mata Atlântica Nordestina: o relevo litorâneo pouco acidentado, a extração e a comercialização indiscriminada de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar, a especulação imobiliária e, especialmente, a falta de políticas públicas voltadas à conservação dos nossos recursos naturais, que convergiram na extinção quase que completa das nossas florestas costeiras.
Embora fragmentada, a Mata Atlântica assume um papel estratégico em nossas vidas, já que contribui de forma decisiva na regulação climática, interferindo diretamente nas variações de temperatura, umidade e regime de chuvas, na fertilidade e proteção dos solos, encostas e, especialmente, garantindo a perpetuação de mananciais que abastecem as populações humanas em sua área de abrangência.
Esse ecossistema apresenta a maior biodiversidade do mundo - maior que a encontrada na Amazônia pois é favorecida pela grande amplitude térmica que possui - abrigando em seu interior milhares de espécies de plantas, fungos e animais, que se constituem num banco genético de valor imensurável. Muitas destas espécies são endêmicas, ocorrendo exclusivamente em determinadas regiões.
Atualmente com a forte atuação de ONGs e a maior conscientização sobre a importância desses ecossistemas para a vida do planeta espera-se medidas governamentais mais decisivas e eficazes em respeito à preservação e ao combate à devastação, para que assim se possa manter o pouco que restou da Mata Atlântica.

Marcelo Augusto da Silva - 06/06/08

Dia 23 de maio – um ensaio para o 9 de julho

Um dia após o Corpus Christi, uma importante data, ao menos para os paulistas, passou com quase nenhuma citação pela imprensa. O dia de tão significativo que é, dá nome a uma das principais ruas do centro de São Paulo, justamente por ter ocorrido lá o episódio que irá marcar o início da Revolução Constitucionalista de 1932.
De 1894 a 1930 o Brasil viveu um período republicano chamado café-com-leite, onde os presidentes eram eleitos em alternância entre os governadores dos estados de São Paulo e Minas Gerais, os dois considerados os responsáveis pela economia nacional, um desenvolvendo a cultura cafeeira e outro a pecuária, respectivamente. Todo esse esquema de revezamento era sustentado pelo coronelismo, que através da fraude eleitoral, garantia o acordo e a vitória nas urnas dos mesmos.
Enquanto essa prática desleal e abusiva acontecia descaradamente vários movimentos sociais rurais e urbanos explodiam pelo país, e as elites de outros estados, que sentiam-se lesadas pela escolha de apenas esses dois estados, começam a se articular.
A intolerância chega ao seu limite em 1930, ano que Getúlio Vargas e o movimento tenentista nascido no Rio Grande do Sul, resolvem invadir a capital do Brasil e pôr fim a um sistema não condizente com a moral nem com o contexto social e político da época. Vargas que fora candidato à presidente naquele mesmo ano, mas não conseguiu a vitória devido às fraudes, não aceita o resultado das urnas que elegem Júlio Prestes (um paulista que quebra o rodízio entre os dois estados) e invade o Rio de Janeiro para depor pelas armas o presidente Washington Luís ainda no exercício do poder, que diante da ameaça não oferece resistência e renuncia ao cargo. Vargas instaura um governo provisório, cujo representante é ele mesmo, acabando com o Congresso, as Assembléias Legislativas e depondo os governadores de estados, substituindo-os por interventores federais que governariam até a promulgação de uma nova Constituição. No entanto essa Constituição não vinha nunca, dando ao governo provisório um caráter permanente.
A insatisfação paulista era grande, uma por ter um interventor de outro estado no comando, irritando a elite cafeeira que perderia privilégios, outra pela demora na aprovação da Constituição.
No dia 23 de maio de 1932 quatro estudantes, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo morreram em um confronto com as tropas getulistas ao tentar invadir o prédio da Liga Revolucionária - organização favorável ao regime - nas esquinas da Praça da República com a Barão de Itapetininga. Eles viraram mártires e suas iniciais batizaram o MMDC, entidade civil que se tornou símbolo da revolução e que alistava voluntários civis para a luta contra Vargas, e a data de suas mortes batizou a rua.
Pouco depois desse acontecimento, mais precisamente no dia 9 de julho de 1932, explode a Revolução Constitucionalista de 1932, onde paulistas enfrentam as forças federais de Getúlio Vargas.
Marcelo Augusto da Silva - 30/05/08

Para não mais esquecer do dia 13 de maio

“se você soubesse o valor que o preto tem tu tomava um banho de piche, branco e ficava preto também...
ile ayê - Paulinho Camafeu

No dia 13 de maio desse mês, poucas pessoas sabiam, mas comemorava-se 120 anos da assinatura da Lei Áurea, que deu a condição de liberdade aos escravos.
O fato ocorreu em 1888, um ano antes da Proclamação da República, mas a promulgação da lei não foi um ato tão democrático e tão humano com parece demonstrar ou como o ensino formal transmitiu durante muito tempo.
Anos antes à assinatura da lei já havia no Brasil um atuante movimento abolicionista, que inspirado nos franceses e ingleses, defendia as liberdades individuais e contava com a participação de jornalistas, políticos, poetas escritores e artistas. Junto a esse movimento uma série de leis, que aos poucos vão limitando a escravidão, começam a ser aprovadas, como a Lei Eusébio de Queirós de 1850 que proibia o tráfico negreiro; a Lei do Ventre Livre de 1871, que concedia a liberdade às crianças filhas de escravas nascidas daquela data em diante e a Lei dos Sexagenários de 1885 que declarava livres os negros acima de 60 anos, lei que beneficiou principalmente os donos de escravos pois estes se livravam dos custos de manter um cativo idoso e enfraquecido pela exaustão, favorecidos ainda pela expectativa de vida de um escravo chegava aos 40 anos de idade em média.
Mas porque de um momento para outro o país começa a pensar em leis que, gradativamente, vão contribuindo para a abolição? A grande questão na aprovação dessas leis, bem como a própria Lei Áurea, está na interferência maciça da Inglaterra que havia realizado a sua Revolução Industrial e, pensando unicamente em seus lucros, precisava cada vez mais de consumidores para seus produtos, e como escravo não recebe salário, era urgente transformá-los em assalariados. Além do mais fazia parte da mentalidade européia e de boa parte dos proprietários de terras no Brasil que a mão-de-obra assalariada é muito mais rentável que a escrava, uma vez que não se investe capital na aquisição de um empregado, nem se compromete em alimentá-lo, vesti-lo ou garantir sua saúde e moradia.
Analisando esse aspecto constata-se que a Lei Áurea foi mais um mecanismo de proteção à camada privilegiada do Brasil e também do estrangeiro. No momento de sua promulgação não se pensou numa política de inclusão dos negros recém-libertos, muito menos em dar garantia ao trabalho, à renda e aos direitos de cidadão; isso é bem claro na aprovação da Lei de Terras de 1850, que proibia a aquisição de lotes de terras no país sem qualquer aviso prévio ou mesmo pagamento à Coroa, e como a abolição era iminente, era mais do que necessário limitar o acesso dos negros à principal fonte de renda do país naquele momento, condenando-os assim a viverem nos subúrbios das vilas e cidades brasileiras sem as mínimas condições dignas de existência.
Anos de espoliação, preconceito e humilhação não conseguem ser apagados com um documento, tal como foi a Lei áurea, onde sua assinatura serviu mais como um subterfúgio que inocentava e perdoava o Estado português e o brasileiro pelo massacre cometido aos negros. Mais de um século após a sua assinatura não representou a liberdade do negro, tampouco o seu reconhecimento e o seu valor.
Mais do que lembrar dessa data é preciso mudar o pensamento da humanidade e entender que, antes e acima de tudo, o negro é muito mais que uma força de trabalho que se entregou na construção do país; é muito mais do que uma etnia que formou o povo brasileiro. É na verdade, além disso, tudo um povo digno, possuidor de uma riqueza cultural infinita, dono uma sagacidade inigualável de se manter vivo - no sentido mais amplo da palavra - diante das atrocidades cometidas contra ele e que iniciou o século 21 mostrando ao mundo que diferenças entre pessoas estão somente nas mentes pequenas de quem acredita que elas existem.

Marcelo Augusto da Silva - 23/05/08

Hollywood está ressuscitando defuntos

Já faz algum tempo em que heróis estão sendo resgatados pelo cinema americano. Junto deles se vê também filmes que fizeram sucesso em outros tempos voltarem às telas com uma nova roupagem. Tivemos Batmam, Homem-Aranha, Incrível Hulk, Quarteto fantástico para exemplificar alguns heróis e também Poseidon, Os Infiltrados, Cidade dos Anjos, Halloween, Um Beijo a Mais, Alfie, O Sedutor, como exemplo de filmes refilmados.
Não é novidade para ninguém que o cinema estadunidense não passa de uma indústria do entretenimento com a finalidade de lucrar vendendo diversão. Mesmo sabendo dessa mentalidade é perfeitamente normal todo o tipo de pessoa assistir a essas produções como o intuito de se divertir apenas.
Hollywood sempre apresentou novidades no mercado cinematográfico, criando ídolos e modismos. Mas quem prestar atenção nos filmes em cartaz no momento e nos que ainda vão estrear vai ver uma grande quantidade de heróis a serem exibidos na tela grande, todos eles com aquelas grandes campanhas de divulgação, lançamento e tudo mais. No entanto nenhum deles são criações novas, todos são sucessos do passado que voltam a dar suas caras nos cinemas. Dentre aqueles que vão estrear temos Homem de ferro, Agente 86, Speed Racer, Indiana Jones.
Para quem viveu sua adolescência em outras décadas esses personagens são o que há de melhor no gênero. Sem dúvida que eles fizeram parte de uma geração e possuíam toda justificativa de existência dentro do contexto daquele período como, por exemplo, o Super-Homem, que na condição de defensor da América não escapou aos apelos do patriotismo onde na Segunda Guerra Mundial o super-herói formou junto com os soldados as fileiras contra o império nazista, a pedido do então presidente Roosevelt, as histórias deste período mostravam um Super-Homem no campo de batalha contra o inimigo nº1 - Hitler.
Mas por que será que não são criados novos personagens e heróis ultimamente? Os criadores perderam a inspiração ou é mais fácil pegar algo pronto no fundo da gaveta?
Toda essa onda nostálgica também pode ter sido impulsionada pelo sucesso de um filme como foi, por exemplo, o Homem-Aranha que bateu recordes de bilheteria e que possivelmente pode ter incentivado os estúdios a pegarem carona em personagens já existentes.
Se outrora havia uma ideologia a ser defendida ou divulgada, mesmo que fosse a exaustiva peleja entre o capitalismo (divulgada como o bem pelos estadunidenses) e o socialismo (associado por eles como uma personificação do mal), hoje também há algo a ser defendido pelos estúdios de Hollywood como a luta entre o ocidente e o terrorismo do oriente médio. Nesse ponto pode estar a explicação da não criação de heróis que vencem a luta contra os muçulmanos, já que a Cruzada organizada por Bush no Iraque tem causado tanta impopularidade a ele e a seu país que nem o cinema com todos os seus efeitos, recursos e atrativos vai conseguir mudar a opinião pública. Tendo essa teoria como princípio pode-se compreender então que é melhor o cinema recriar mitos do que tentar criar um que não vai convencer nem mesmo as crianças.
Marcelo Augusto da Silva - 16/05/08

Os biocombustíveis e o preço dos alimentos

O forte investimento em biocombústíveis vem causando uma grande polêmica a respeito do assunto. A produção do etanol é uma alternativa ao uso de combustíveis fósseis, é renovável e também diminui consideravelmente os problemas do aquecimento global, além de ser uma opção econômica para os países pobres da África e da América Central.
De acordo com essa afirmação a investida no setor teria todas as justificativas necessárias. Porém a elevação nos preços dos alimentos nos últimos meses vem resultando em várias críticas no cultivo de matérias-primas para a produção do etanol, e o Brasil foi um dos países a sofrer acusações, pois a produção de cana-de-açúcar brasileira vem a cada ano batendo recordes de produção onde o álcool, e também o açúcar, é exportado em grandes quantidades.
Organismos internacionais afirmam que a produção do etanol é a principal responsável pela o aumento nos preços dos alimentos e conseqüentemente pela fome mundial, que atinge 100 milhões de pessoas nos países mais pobres do mundo. A relação entre etanol e a alta dos preços é que a plantação de alimentos é substituída pela cana-de-açúcar para a produção do biocombustível.
No dia 02 de maio o novo relator das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, pediu a suspensão imediata dos investimentos em biocombustíveis, que segundo ele é a única responsável pelo aumento nos preços, afirmando que as metas para a produção do etanol pelos EUA e União Européia são ambiciosas.
É claro que não se pode atribuir somente uma causa para o problema, se bem que a plantação da cana gera o plantio de um só produto e um desestímulo a outras culturas, pois muitos produtores arrendam suas terras para usineiros. Porém há também outros fatores que contribuem para esse cenário de elevação de preços.
Algo importante que vem acontecendo é que muitos países vêm reduzindo o número de pessoas pobres que até pouco tempo não tinham acesso a uma alimentação de qualidade; essa camada agora pode adquirir uma maior quantidade alimentos, e a produção mundial não acompanhou o aumento desses consumidores. Esse grupo de pessoas que por muito tempo não se alimentavam adequadamente vem consumindo cada vez mais a carne vermelha - que gasta uma enorme quantidade de cereais na sua produção - além de outros produtos como o arroz e o trigo. Há também o problema das alterações climáticas que interferem no plantio gerando muitas perdas, diminuindo assim a oferta de produtos e causando um aumento nos preços.
Se por um lado a produção de cana no Brasil pode gerar lucro para o país, ela pode gerar também sérios problemas como esse do aumento dos preços, além de outros como a monocultura, as queimadas, o trabalho exaustivo dos bóias-frias, e o fim das pequenas propriedades.
Pelo que se pode perceber o debate vai se estender por muito tempo e as acusações com certeza não vão parar de vir. Muitas delas são justas, outras são meras retaliações, pois o Brasil começa a se destacar como um grande “salvador” na questão energética mundial, o que causa certo incômodo aos países ricos. E como disse o comentarista econômico Vicente Golfeto “não se chuta cachorro morto”.

Marcelo Augusto da Silva - 09/05/08

As comemorações do 1º de maio

No dia 1° de maio comemora-se o Dia Mundial do Trabalho. O feriado tem o significado de relembrar e homenagear a classe trabalhadora e a sua luta diária. A data é celebrada em diversas partes do mundo, algumas com protestos e manifestações contra as más condições de trabalho; outras com festas e shows, assim como é no Brasil, em que os sindicatos organizam esse tipo de evento fazendo com que o trabalhador de divirta nesse dia e não reflita nem questione sua situação. Mas quando surgiu o Dia do Trabalho?
Depois de mais de 100 anos da Revolução Industrial (processo em que houve o emprego de máquinas na produção de mercadorias) o proletariado, ou seja, a classe trabalhadora ainda estava desorganizada, fato que contribuía com os patrões para explorarem ainda mais os seus empregados, pagando-lhes salários irrisórios com longas jornadas de trabalho e sem as mínimas condições de saúde ou segurança. No entanto, com o passar do tempo, a classe operária começa a se articular e a exigir seus direitos, o que conduz os países europeus como a Inglaterra (a precursora da Revolução Industrial), França e Alemanha a reconhecerem vários direitos trabalhistas, processo que não ocorria nos Estados Unidos.
A intransigência dos industriais estadunidense leva o proletariado a promover vários protestos e greves pelo país com o intuito de conquistarem seus direitos. No dia 1º de maio de 1886 acontece em Chicago - o principal centro industrial dos EUA naquela época - uma greve geral em que houve um confronto entre manifestantes e a polícia resultando na explosão de uma bomba que deixou quatro manifestantes e três policiais mortos. Oito líderes do movimento foram presos, sete condenados à morte e um à prisão perpétua. Em 1889 um Congresso Socialista em Paris escolheu a data em homenagem a estes trabalhadores, institucionalizando assim o Dia Mundial do Trabalho.
Hoje passado mais de 250 anos da Revolução Industrial e mais de 120 anos desse episódio nos EUA a relação entre patrão e empregado teve uma significativa melhoria. No entanto a baixa oferta de empregos da atualidade faz que muitos trabalhadores abram mão de seus direitos para preservarem-se no trabalho, condição que é ainda mais desfavorável em países como Filipinas, Vietnã, Indonésia, Tailândia, que se industrializaram como o capital estrangeiro, uma vez que grandes empresas multinacionais e transnacionais se instalaram nessas regiões, pois são considerados como áreas “economicamente viáveis”, já que o desemprego é para elas a condição favorável para se conseguir maior lucratividade, livrando-se do pagamento de direitos ou indenizações trabalhistas. Em alguns desses países o salário mínimo não chega a 1,80 dólar por dia; as jornadas de trabalho são de 15 a 16 horas por dia; mulheres são separadas de suas famílias e obrigadas a viverem em alojamentos tornado-se escravas virtuais, proibidas de deixarem as instalações das fábricas sem um passe especial; adolescentes trabalham sem nenhuma garantia ou amparo da lei; e os sindicatos sequer existem nesses países.
Do século XIX até os nossos dias muita coisa melhorou em relação às condições de trabalho, mas não a ponto de se comemorar uma grande vitória, ainda há muito a ser feito a favor da classe proletária.

Marcelo Augusto da Silva - 02/05/08

Onde estão nossos verdadeiros heróis?

No dia 21 passado o Brasil comemorou o Dia de Tiradentes. Nada melhor para o povo que um feriado, ainda assim como esse na segunda-feira. É dia de descanso, passeio, viagem, enfim, uma oportunidade de quebrar a rotina do trabalho.
Porém muitas pessoas, inclusive os estudantes, não sabem, e nem tem interesse em saber porque nesse dia é feriado, apenas desejam desfrutar a data.
Elevado à categoria de herói da nação, Tiradentes foi um dos integrantes dos inconfidentes mineiros, grupo que no final do século XVIII, impulsionados pela cobrança exagerada de impostos e pelas restrições que Portugal impunha à colônia, organizaram um movimento de independência. A malograda revolta resultou na prisão e no exílio dos envolvidos, cabendo à Tiradentes a pena capital, que serviu como exemplo a outros possíveis movimentos emancipacionistas.
Contudo só depois de muito tempo, já na República, é que o alferes foi consagrado a tal categoria. Sem dúvida a Inconfidência Mineira e sua participação foram notáveis, embora seus integrantes mesmo aspirando os ideais da Revolução Francesa e a independência, defendiam interesses próprios. O título de herói da República também lhe cai bem, uma vez que ao tentar se libertar de Portugal certamente o Brasil passaria a adotar um sistema republicano.
Mas será que Tiradentes foi o único brasileiro a lutar pelo país ou a tentar promover alguma modificação nas estruturas econômicas, sociais e políticas do país? E os tantos outros que perderam suas vidas também buscando um ideal coletivo.
Todos precisam de um herói, seja ele real ou fictício. É na figura heróica que o ser humano busca apoio, inspiração, motivação. Heróis nascem, não são criados; eles surgem a partir do imaginário popular e vão tomando dimensão até se transformarem em mito, em figura lendária. Se Tiradentes foi criado como herói e o país passou a reservar um dia à sua memória por outro lado essa iniciativa parece hoje ter perdido ainda mais o seu sentido. Por outro lado atualmente ninguém tem como herói alguém que lutou corajosamente para conquistar a liberdade do seu país. Hoje os heróis, as figuras que povoam a mente dos brasileiros, são meras pessoas comuns e vulgares que conquistam a notoriedade por causa da mídia. São pilotos de corrida, jogadores de futebol, atores e atrizes, emergentes que se envolvem em causas sociais para ganhar destaque e toda a corja egoísta e individualista que ganha vulto graças à televisão. Se Tiradentes tinha um ideal a buscar o que buscam os “heróis” de hoje?
Se é para lembrar de heróis, que nenhum fique esquecido. Salve Lamarca, Chico Mendes, Antonio Conselheiro, João Maria, Marighela, Vladimir Herzog, e todos aqueles que morreram no anonimato em prol do bem da nação, os nossos verdadeiros heróis.

Marcelo Augusto da Silva - 26/04/08

Da diversão à dependência

A sociedade mundial passa por diversas transformações, muito rápidas e muito significativas, em um curto espaço de tempo. Na mesma rapidez que o tempo parece passar a tecnologia cria inovações a cada momento e o comportamento humano inevitavelmente, ou por que não dizer lamentavelmente, acompanha essa transformação.
É comum vermos muitas pessoas dependentes de várias substâncias, ou de várias coisas; não é raro também ver muitas pessoas angustiadas e aflitas, parecendo não se encontrar em qualquer lugar ou situação. O mais preocupante é que uma parcela jovem da sociedade compõe esse grupo.
É obvio que a tecnologia trás muitos benefícios e conforto ao indivíduo e à sociedade, mas também ela tem seu lado maléfico e muitas vezes destrutivo. Um exemplo desse malefício já pode ser constatado em alguns países como Alemanha, Coréia do Sul, Holanda e EUA em que está em pleno funcionamento clínicas especializadas no tratamento da dependência de jogos eletrônicos.
Se num passado não muito distante as crianças e os adolescentes mal tinham a preocupação em saber o horário do dia, e o quintal ou a rua era a parte principal de seu mundo, hoje eles estão cada vez mais aprisionados diante da televisão ou do computador, seja assistindo algum programa, ou entretido em algum jogo muitas vezes violento.
Se podemos apontar como algum exemplo de benefícios da tecnologia a invenção de aparelhos médicos que salvam muitas vidas ou na integração entre as pessoas que a comunicação atual possibilita, o vício das crianças e dos jovens pelo computador e pelo vídeo game é um dos seus grandes malefícios.
Atrás dele vem muitos outros problemas relacionados como a falta de estudo, o isolamento, o mau uso da língua, a violência etc. Cada vez mais as crianças estão se fechando dentro de seus quartos e mergulhando no mundo da fantasia proporcionado pela indústria eletrônica, deixando assim de se relacionar, viver outras emoções, descobrir o mundo ao seu redor. Uma situação em que um divertimento vira um vício e um transtorno para a pessoa e para a família deve ser encarado como algo muito sério.
No Brasil essas tais clínicas ainda são novidades e como o país não investe em pesquisas, não se sabe o número exato de crianças e jovens que estão apresentando um quadro de dependência dos jogos eletrônicos, mas observando o comportamento das pessoas dessa faixa etária é suficiente para concluir que por aqui a situação também é séria.

Marcelo Augusto da Silva - 19/04/08

Eternos sucessos, novos hits

As pessoas que apreciam um estilo musical diferenciado daquele difundido pelas rádios comerciais ou daqueles que estouram como um grande sucesso efêmero, sabem que o lugar indicado para encontrar suas músicas sendo executadas não é na televisão, pois a idéia das emissoras é conquistar o público para assim atrair os anunciantes, e obviamente, a grande massa não tem muita proximidade como uma MPB ou mesmo uma Bossa Nova.
Mas um fato curioso acontece com os temas de abertura das novelas da Rede Globo, pois muitos deles não são canções passageiras compostas e interpretadas por músicos ou bandas medíocres, criadas somente para o momento pela industria cultural para lucrar enquanto o sucesso dure, muito pelo contrario, grandiosos compositores brasileiros desfilam pelos horários em que as novelas são exibidas, trazendo uma luz nas trevas da imbecilidade.
Muitas dessas músicas não são obras recentes, mas sim composições que foram gravados a alguns anos e que voltam a serem executadas, o que leva muitos pensarem que trata-se de uma nova canção. Tais músicas rapidamente conquistam o gosto de várias pessoas, fazendo com que elas se propaguem com facilidade, tornando se um novo hit.
Na página
www.teledramaturgia.com.br encontra-se disponível todas as trilhas de todas as novelas da Rede Globo. Lá é possível conferir todo o repertório das novelas e pode-se observar que excelentes canções e interpretações fazem parte não só da abertura, mas também de temas de alguns de seus personagens.
Só para citar alguns exemplos já participaram – somente da abertura das novelas das oito – magníficas composições como Corcovado e Pela luz dos olhos teus de Tom Jobim, Encontros e Despedidas de Milton Nascimento, Wave de João Gilberto (que fez parte da trilha de duas novelas), Você é linda de Caetano Veloso, E vamos à luta de Gonzaguinha, Sábado em Copacabana de Milton Nascimento, entre outras.
Algo interessante que se nota é que alguns compositores e intérpretes se incluem em várias trilhas, podendo-se supor que suas gravadoras devem ter uma espécie de “acordo” com a Globo, tornando constante a sua participação nas trilhas sonoras. Isso é bem provável, pois quando um artista assina um contrato com determinada gravadora a sua obra deixa de ser sua e passa a ser de propriedade da gravadora, dando a ela a autoridade de vendê-la a novelas, filmes e exigir que o artista se apresente em determinados programas televisivos, mesmo que ele não concorde com isso ou mesmo que ele não aceite o local em que sua obra seja veiculada.
Incoerente é ouvir tão refinadas composições musicais em produções televisivas tocas e pobres assim como são as novelas, porém há um lado positivo, pois dessa forma trazem a muitas pessoas grandes obras musicais que possivelmente elas não teriam a oportunidade de ouvir.

Marcelo Augusto da Silva - 12/04/08

O trânsito problemático de nossa cidade

A partir da década de 90 as cidades do interior do país assistiram uma mudança muito grande em relação à sua organização e à sua expansão. O que era algo pertencente aos grandes centros urbanos passou a fazer parte também de pequenas cidades como a violência, desemprego em massa, tráfico de drogas, aumento nos níveis de poluição, trânsito caótico, prostituição, etc. A globalização e o progresso acelerado tomou conta de nivelar muitos municípios num mesmo patamar, mudando apenas os níveis de ocorrência desses fatores.
São José do Rio Pardo não foi uma exceção nesse rápido desenvolvimento urbano; a cidade pode ser não ter se tornado grande em número de habitantes nem em ofertas de oportunidades de lazer, entretenimento ou empregos, mas apresenta um grande problema quanto ao número de veículos e um complicado trânsito.
O comportamento social atual está estritamente ligado à posse e ao uso de um automóvel; pessoas que se deslocam para lugares próximos utilizam o veículo; em boa parte das residências o número de carros é praticamente o mesmo do número de moradores. A facilidade de crédito, a ânsia das indústrias em ganhar mercado e a ostentação da posse de um bem móvel, determinou um número muito grande de carros trafegando pelas ruas que, obviamente, são as mesmas e do mesmo tamanho. São José deixou há muito tempo de ter a característica de cidade do interior, ao menos na questão do trânsito, e passou a ter um típico de cidades grandes, com um número de carros absurdamente alto, lentidão, aborrecimento dos motoristas e lentidão na locomoção.
Diante desse quadro deveria se mobilizar ao máximo para criar soluções que possam amenizar o problema. Se o número de carros vêm aumentado consideravelmente nos últimos anos, o mínimo que deveria ser feito era adequar o trânsito (sinalizações, rotatórias, estacionamentos) ao números de carros correspondente, mas pelo que se vê as propostas de solução caminham tão lentas quantos os veículos nas ruas do centro num sábado de manhã.
A criação da zona azul como forma de aumentar as vagas não foi suficiente, agora o motorista continua rodando os quarteirões em busca de uma vaga e quando finalmente a encontra tem que pagar pelo seu uso; o local do ponto de circular atrás da Matriz pode ter sido uma boa escolha há 20 anos atrás, mas hoje é problemático para os motoristas de carros e circulares e também para os usuários, e quando de cogitou em transferi-lo para outro local logo a solução foi boicotada (possivelmente por alguém ou grupo com interesses próprios); a colocação de vários semáforos também mostrou-se ineficaz, pois nos dias de grande fluxo os mesmos se abrem, mas os carros continuam parados; a sinalização também deixa a desejar, só para citar alguns exemplos temos a entrada do Hospital, o encontro da Av. Euclides da Cunha com a Perimetral e a Dr. João Gabriel Ribeiro, a rotatória de entrada da cidade que continua com as obras paradas e numa situação pior que estava antes, a rotatória entre a Av, dos Lírios e a Perimetral, sem contar as bicicletas - que são considerados pelo Código de Brasileiro de Trânsito como meio de transporte não motorizado - que fazem das calçadas, exclusivas dos pedestres, a sua vias de tráfego colocando em risco a vida de quem delas utiliza, principalmente de crianças e idosos.
Apontar as falhas do sistema e cobrar as mudanças logicamente não bastam para amenizar a situação, além disso, é preciso que junto a elas os motoristas tenham mais respeito com o trânsito e com os pedestres, respeitando a sinalização, as faixas, dirigindo com atenção e dentro dos limites de velocidade.
Se não há como fugir do progresso ao menos deve-se fazer o possível para que ele não seja tão incômodo quanto tem sido.

Marcelo Augusto da Silva - 29/03/08

Aquilo que não é favorável às mulheres

Logo em seguida à comemoração do Dia Internacional da Mulher, foi divulgada ao mundo todo a notícia de que o governador de Nova York, Eliot Spitzer, conhecido pelo apelido de "Eliot Ness" por sua cruzada contra o crime, estava envolvido numa rede de prostituição; um episódio que vai na contramão do significado do dia 08 de março.
Mas afinal o que tem a ver esse fato como o Dia Internacional da Mulher? Pois bem, a institucionalização da data serve não só para lembrar que as mulheres existem, mas sim como um momento em que se deve parar e refletir sobre o seu papel e a sua importância como ser humano e como ser sociável; bem como comemorar as suas conquistas após anos de subjugação e mostrar que ainda há muito preconceito que deve ser rompido em relação às mulheres. Acontece que não é a primeira vez na história recente dos EUA que um homem público é apontado por estar envolvido em um escândalo sexual, e esse último, assim como os demais, levou a esposa ao seu pronunciamento de pedido de desculpas na televisão, ficando a cônjuge ao lado do marido acusado. Tal atitude transmitiu uma imagem passiva, conformista e submissa do sexo feminino, na qual a mulher deve aceitar essa condição com toda resignação, ou então que o papel dela é submeter-se aos “deslizes” masculinos ficando sempre com seu companheiro mesmo em situações extremas como essa. A cena mostrou uma posição incondizente da mulher atual. Esse certamente não é o modelo de comportamento que as mulheres do mundo esperam ver.
O envolvimento de políticos estadunidenses em escândalos sexuais já não é novidade. A esse último caso junta-se o do Senador republicano pelo Estado de Idaho, Larry Craig que renunciou ao cargo após ser acusado de ter assediado um policial à paisana no banheiro de um aeroporto dos Estados Unidos; o Senador republicano David Ritter, que confessou ter sido cliente de um serviço de acompanhantes na capital dos Estados Unidos; o Deputado republicano Mark Foley, que foi acusado de enviar e-mails de conteúdo sexual para menores de idade; o Deputado republicano pela Califórnia Randy “Duke” Cunningham, que foi encontrado acompanhado por prostitutas em um hotel de luxo no Havaí; e o mais popular que é o do Presidente democrata Bill Clinton, que chegou a passar por um processo de impeachment, depois de mentir sobre suas relações com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton perdoou o presidente, e atualmente é pré-candidata democrata à presidência do país.
Acobertando essa enxurrada de casos de má conduta estão os valores que formaram a nação dos EUA que sempre foi arraigado na doutrina religiosa do puritanismo, cuja essência é valorizar ao máximo o capital - expressa na teoria da predestinação absoluta - na propriedade privada e na família. Porém essa última é uma falsa moral divulgada pelo país, que é evidenciada constantemente em momentos como o da semana passada. Já não há mais como negar que essa característica nunca fez parte do povo norte-americano.
É justo que numa acusação se dê a oportunidade de retratação, tentativas de explicação ou até pedido de desculpas do envolvido, mas o que se viu com o governador de Nova York na verdade foi a velha tentativa de jogar a sujeira debaixo do tapete, usando a figura feminina para encobrir a falta de decência.
Não é de se estranhar todo esse machismo e conservadorismo estadunidense, pois o país sempre manteve uma posição contrária a movimentos sociais, principalmente aqueles promovidos pelas minorias excluídas. Foi assim com o movimento liderado por Martin Luther King que promoveu uma luta pelos direitos civis dos negros; foi contrária aos apelos de paz da juventude dos anos 60, e foi intolerante como Jonh Lennon, que protestou contra a intervenção norte-americana no Vietnã, que acabou culminando com uma tentativa de extradição do músico. Justamente num momento em que as mulheres, que não são uma minoria, estão conseguindo como muita luta e sofrimento conquistar a sua posição e o seu reconhecimento, essas cenas insistem em contradizer o ideal quase alcançado.
Em nome da preservação do poder e de valores arcaicos, questões muito mais relevantes estão sendo sufocadas para a manutenção da aparência de uma sociedade que desde a sua formação foi podre no seu interior.
Marcelo Augusto da Silva - 22/03/08

O passado e o presente de Cuba

Depois de 49 anos no poder, Fidel Castro renunciou ao governo de Cuba no qual Raúl Castro, seu irmão, foi nomeado como presidente interino.
Alguns anos após a Revolução Cubana de 1959 em que Fidel toma o poder e expulsa Fulgêncio Batista - um governante corrupto e violento aliado aos EUA e que juntos tornam o país num cassino e num bordel mantido para exploração e divertimento de pessoas e grupos capitalistas estadunidenses – é implantado pelo líder revolucionário o modelo econômico socialista no país, alinhado à extinta União Soviética, que no período era uma grande potência bélica e econômica.
O fato da implantação do socialismo resultou numa paranóia na vida dos países capitalistas americanos, e até de outras localizações, que viam em Cuba um modelo a ser seguido por outros países do mesmo continente. Os EUA começaram a agir logo em seguida, manipulando meios de sufocar a Revolução Cubana, decretando um embargo econômico ao país, que dura até hoje, e iniciando o apoio a golpes militares em vários países da América do Sul, inclusive o Brasil.
Passados vários anos, o antagonismo e a rivalidade entre capitalismo e socialismo se findam com a queda do Muro de Berlim, e a posterior abertura econômica soviética juntamente com sua transição para o capitalismo. Mesmo diante desse quadro de insegurança e incerteza Cuba continua adotando o socialismo e, que apesar das contradições e dos boicotes de seus opositores, mantém hoje o país com um extraordinário IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), pois apresenta um dos menores níveis de analfabetismo, mortalidade infantil e maiores índices de expectativa de vida, provando que a ilha é um exemplo de autonomia e qualidade de vida frente à dominação capitalista, mostrando também que o socialismo é uma sistema econômico que pode dar certo.
Mesmo com uma política de embargo econômico e várias dificuldades enfrentadas pelo país, inclusive a forte oposição, Fidel continuou com a sua Revolução, apesar de adotar critérios não muito convencionais, justos e aceitáveis como censura, expurgos e execuções.
Se “toda revolução leva a uma ditadura”, Cuba representa uma expressão viva desse pensamento, que se justifica na necessidade de haver um rigor interno para que a mesma se mantenha, e nem que haja interferências externas e oposicionistas que venham a minar o seu ideal.
Agora como o afastamento de Fidel a situação continua imprevisível no país, a começar pela substituição definitiva do governo, e a difícil execução desse cargo, já que há dúvidas se Raúl Castro terá a mesma eficiência que Fidel tinha no comando e também se não é uma oportunidade de outros grupos ou mesmo de outros países interferiem no processo e acabar com um dos poucos paises que adotam o sistema socialista no mundo.
Muitos viam na debilitação de Fidel um momento de vê-lo longe do governo; outros temiam por esse dia pois pode ser o fim da Revolução. Até agora, pelo que se sabe, tudo permanece incerto como sempre esteve. Somente o futuro é certo, ou seja, não se sabe o que ele reserva.
Marcelo Augusto da Silva - 15/03/08

Todos os prêmios ao Cinema Nacional

Todo o começo de ano existe uma expectativa muito grande na mídia e entre os apreciadores de cinema aguardando a notícia sobre a participação do Brasil no Oscar na categoria “melhor filme estrangeiro”.
A premiação americana foi criada somente para a participação de suas próprias produções e também como uma forma de divulgação de seus filmes, que há muito tempo deixaram de ser uma arte e se transformaram em produtos comerciais industrializados, com o objetivo de aumentarem seus lucros e dominar outras nações através da venda da sua imagem e da sua cultura.
Como os EUA exercem forte influência sobre outras nações, facilmente seus filmes são espalhados e vistos pelo mundo, encontrando pouquíssimas produções de outros países nas salas de cinema e nas locadoras.
O cinema do Brasil, que é escrachado por muitos, e teve sua imagem comprometida pelo período entre as décadas de 70 e 80 devido às pornochanchadas (produções cinematográficas feita às pressas e com poucos recursos, cujo foco principal era o erotismo ou a pornografia), se encontra numa posição muito inferior se comparado às produções americanas, pois os filmes lançados não tem espaço nas salas de exibição e as locações tem um número insignificante.
As produções cinematográficas brasileiras de uns anos para cá têm revelado grandes diretores e grandes obras com roteiros criativos, sensíveis, críticos e inteligentes - além de contar com ótimos atores - bem superiores à mesmice violenta e tola americana, onde de tão repetidas as tramas que basta assistir os minutos iniciais dos filmes que já se sabe o final.
Mesmo com todo esse avanço e talento do cinema nacional ele patina quando o assunto é abrangência de público. A influência americana é tão forte que o seu Oscar serve como julgamento ou parâmetro para nossos filmes. Certamente não é necessário um estrangeiro dar o aval para nossas produções e determinar se o filme é bom ou não devido ao fato dele ter sido escolhido para participar de sua premiação.
Por que não ter mais independência e nacionalismo e buscar valorizar filmes que são nossos e que possuem a mesma qualidade dos americanos? Por que não assistir nossos próprios roteiros que mostram uma temática cujo conteúdo tem um nível muito mais elevado do que os “enlatados de USA?” Por que ter vergonha ou preconceito do que é nosso?
Somente nos últimos anos o Brasil brilhou com várias produções como O ano em que meus pais saíram de férias, O amor maior do mundo, O magnata, Não por acaso, Saneamento básico, o filme, Árido movie, O homem que desafiou o diabo, Brasília 18%, Meu nome não é Johnny, entre tantos outros. Por que não trocar os filmes americanos e conferirmos o que temos de bom. Fica a dica a quem deseje comprovar.

Marcelo Augusto da Silva - 08/03/08

domingo, 8 de junho de 2008

Salvem o Cine Colombo

Mesmo antes da notícia ser divulgada oficialmente já era evidente que algo havia de errado com o Cine Colombo, pois a sua freqüência era cada vez menor. Mesmo em exibições de filmes com grande poder de atração do público em geral o número de expectadores era muito reduzido e sessões como matinês, por exemplo, chegaram a ser exibidas para públicos de oito, quatro e até mesmo duas pessoas.
Há alguns anos o prédio onde funciona o cinema, o qual pertence ao Centro Cultural Ítalo-Brasileiro, passou por uma enorme reforma, que igualou a sala à das grandes cidades, sob o preço de descaracterizar um patrimônio histórico e arquitetônico, assim como era a construção do início do século passado erguida pela comunidade italiana rio-pardense. Depois da sua reinauguração as pessoas voltaram a freqüentar o cinema, porém várias mudanças aconteceram nesses últimos anos e gradativamente o público foi se afastando do Cine Colombo.
As causas da falência do cinema são as mesmas enfrentadas por tantos outros, como o fato dos filmes que estréiam logo terem seu lançamento em DVD e a pirataria que tira cada vez mais o público das salas de exibição, pois assim que um filme estréia, horas depois já é possível baixar uma cópia pirata pela internet em qualquer parte do mundo ou então porque se compra muito barato um DVD pirata nos camelôs. Apesar desses problemas serem sérios e comprometerem a situação financeira do cinema, é lamentável a população assistir o Colombo fechar suas portas definitivamente. Lamentável por que muito se perde com o encerramento de suas atividades, perde-se uma fonte de cultura; a cidade perde uma opção de lazer; a movimentação das noites rio-pardenses perde um pouco do seu brilho – considerando que municípios com um número de habitantes como é São José do Rio Pardo sempre deixam a desejar na questão de opções de lazer e entretenimento. Se o DVD e os serviços de entrega de alimentos incentivam as pessoas a ficarem dentro de suas casas, a falta de um lugar para ir sem dúvida deixará nossas noites menos movimentadas.
Seria interessante a todos que algo fosse feito para salvar a existência do Cine Colombo. Muitos cinemas enfrentam situações semelhantes e tentam contornar a situação fazendo promoções, inclusive nos finais de semanas, ou então reduzindo o valor de seus ingressos. Se estas não forem viáveis para resolver o problema pode-se investir na idéia já proposta, como uma parceira com empresas privadas ou então o investimento por parte da Prefeitura Municipal.
Todos ganhariam como isso. A cidade mostraria que valoriza e incentiva a arte; manteria-se ativo um prédio que tem uma estrutura que proporciona a possibilidade de ser utilizado para várias formas apresentações artísticas e culturais e as pessoas continuariam com a garantia de poder contar com um espaço de lazer, encontro, emoção e divertimento.
Marcelo Augusto da Silva - 29/02/08

Quando o Estado torna-se violento

A escalada da violência que o mundo assiste há alguns anos tem despertado na sociedade inúmeras soluções para a resolução desse grande problema.
Fruto de uma sociedade de consumo, que privilegia um restritíssimo grupo em detrimento do restante da população, e que coloca o ter acima de tudo e de todos, a criminalidade torna-se a solução para a grande parcela da comunidade que vive na miséria ou então como uma maneira de se igualar ao padrão de vida daqueles que ostentam o luxo de uma vida de esbanjo e regalias. Evidentemente que esse fato não justifica em nenhuma hipótese a violência; apenas tenta encontrar as origens desse mal.
Especialmente no Brasil encontramos hoje em dia várias pessoas que defendem fervorosamente a implantação da pena de morte como uma maneira única de sanar esse problema.
Se qualquer ato violento - seja ele numas das suas mais variadas formas ou qualquer que seja a sua intensidade é condenável pela sociedade - como explicar então a institucionalização da barbárie como forma de livrarmos da violência. Devolveríamos a morte no momento que clamamos pelo seu fim? Como aplaudir uma cena que causa tanto mal estar e aflição, assim como é uma execução, somente pelo fato dela ser considerada um suposto remédio para uma doença. Se a comunidade não suporta mais ver pessoas morrendo, matar mais e mais indivíduos seria então a solução final?
Num país corrupto como o Brasil, onde sequer processos cíveis e simples se arrastam por anos nos tribunais, amontoar criminosos em mais celas a esperar pela condenação e uma provável execução seria tão eficaz assim? Não seria de se imaginar que alguns sairiam impunes de seus julgamentos enquanto outros poderiam ser condenados mesmo sendo inocentes pelo simples fato da cor de sua pele ser diferente ou por não ter o bastante para pagar um suborno?
Se a violência é algo que queremos ver extinto do nosso meio, se ela é algo que não queremos para nossos filhos, dando-a a outras pessoas e autorizando o Estado - uma instituição suscetível a vícios e a erros - a ser o responsável pela sua aplicação estaríamos resolvendo de uma forma simples assim uma questão tão grave e complexa?
Qualquer assunto que seja discutido em um momento de forte emoção tende a ter uma solução insuficiente ou inadequada. É preciso cautela nessas horas em que vemos mais e mais pessoas inocentes pagarem com a sua própria vida por uma responsabilidade que é de competência do Estado, uma vez que este é quem tem o dever de manter a ordem e a segurança.
O Estado deve ser justo, moralmente íntegro e protetor da sociedade, não um carrasco de seus filhos. Ao invés de se pensar em medidas punitivas, por que não se pensar em medidas preventivas como investimento em geração de empregos, infra-estrutura, educação de qualidade, saúde, moradia e igualdade, para que enfim todos tenham as mesmas oportunidades?
É preciso que haja uma conscientização nas pessoas para que se possa cobrar das autoridades competentes soluções eficazes no combate à violência, não medidas paliativas que possam somente agravar o problema.
Marcelo Augusto da Silva - 22/02/08

sábado, 7 de junho de 2008

As caras da violência

Quando se fala em violência a imagem que vem à mente em primeiro lugar é aquela associada à agressão física de uma pessoa à outra, independente do motivo. O problema da violência virou tema prioritário nos debates, nas reportagens da mídia em geral, nas salas de aula e nas conversas informais, somente para citar alguns exemplos. A violência pesa sobre a população.
Se discutir sobre o assunto se torna necessário, resolvê-lo torna-se urgente e indispensável. Não podemos afirmar em que situação se chegará com o aumento da violência nessas proporções.
Esse mal é ainda pior, pois infelizmente a violência não se restringe somente ao fato de um ser humano agredir a outro, independente desse ato ocasionar a morte ou não. Atualmente convivemos com a violência em vários lugares, em várias situações e em variadas formas e talvez por ser tão corriqueira não nos damos conta dela.
Podemos encontrá-la em várias formas como num governo que nega ao contribuinte aquilo que por lei é seu direito; num órgão público ou privado que obriga o indivíduo a esperar horas numa fila e ainda ser mal atendido por um profissional que não é qualificado para a função ou sequer se comove como o problema alheio; num programa televisivo de baixíssima qualidade que coloca um personagem em uma condição inferior e por esse fato o ridiculariza e transforma-o em uma piada que vai ser repetida e passada adiante, tomando conta do vocabulário de crianças e adultos na vida real; num pai ou numa mãe que nega um carinho ao próprio filho; num patrão que explora e humilha seu funcionário; num comercial que esnoba luxo e mercarias exuberantes enquanto a maioria das pessoas não sabem o que vão comer no dia seguinte; numa pessoa que espera durante um longo tempo uma outra terminar de consumir um líquido para pegar a latina e juntá-la a tantas outras para fazer um trocado.
Desde os primeiros anos de vida o ser humano já vive em meio à violência; é fácil perceber prestando atenção nos desenhos que são exibidos às crianças que fazem da violência o lema principal, e passada a infância são os filmes que primam a brutalidade, o domínio de um ser pelo outro e na dualidade entre explorador e explorado que vão acompanhar a vida do indivíduo. De tanto conviver com a violência, ela tornou-se comum.
Pequenos detalhes que muitas vezes tornam-se imperceptíveis aos nossos olhos avolumam o problema e o deixa mais complexo; faz com que a saída torna-se mais distante. Se é urgente encontrar soluções para acabar com a violência, é igualmente urgente acabar com ela em todas suas as formas, só assim poderemos pensar em uma sociedade justa e que viva em plena paz.
Marcelo Augusto da Silva - 15/02/08

Feliz Ano Novo, de novo.

O início de mais um ano deixa a impressão que o tempo passou depressa demais, que o ano que se encerrou parece ter passado mais rápido que os anteriores, ou então que foi outro dia que se realizaram as festas de final de ano e que chegou a hora de comemorá-las novamente.
Realmente essas sensações estão presentes em muitas pessoas, basta entrar no assunto que a opinião a favor dessa idéia é unânime. Houve um momento em que chegou a cogitar-se que esse fato era uma característica da vida adulta, pois quando criança a ansiedade para chegar a determinadas datas, como aniversário, férias ou o Natal fazia parecer que elas “não chegavam nunca”, transmitindo a impressão contrária à da maturidade. Porém essa tese caiu por terra, pois crianças e adolescentes hoje pensam como os adultos, ou seja, que o tempo está passando rápido demais.
Seria desnecessário dizer que a duração do tempo é a mesma, e seria risível acreditar que há uma explicação na física ou na astronomia para esse fato, assim como são levantadas hipóteses absurdas para explicar o assunto, como a de que os dias estão mais curtos devido ao tsunami que arrasou a costa asiática em dezembro de 2004, alterando dessa forma a rotação da Terra, causando uma aceleração no tempo.
Uma explicação mais plausível para o fato seria atribuí-lo à globalização. Há alguns anos as pessoas não precisavam trabalhar tantas horas ou até mesmo em dois empregos, pois não havia a necessidade de adquirir tantos produtos. Chegava-se mais cedo em casa e a preocupação como o horário se daria bem mais tarde, somente na manhã seguinte. Hoje, além de trabalhar até mais tarde, o indivíduo está sobrecarregado de tarefas como a ração do cachorro que está no fim e é urgente comprá-la, o dvd que deve ser entregue no horário senão acarretará multa, o conserto do portão eletrônico que tem que ser providenciado senão o carro novo passa a noite na rua sob o risco de ser roubado, o telefonema que já deveria ter sido recebido pelo celular, as infinitas contas a serem pagas como a natação e o inglês dos filhos – além da preocupação de pegá-los no final da aula a tempo – a conta da TV a cabo, do plano de saúde, do clube e etc. Enfim todos os compromissos que fomos obrigados a assumir tornam o dia curto pequeno demais a ponto de realizá-los no prazo, causando assim que impressão ele está mais curto.
O consumismo, e a sua decorrente ambição, mais a padronização dos costumes nos obrigou a mudar nosso comportamento, nos tirou valores preciosos, talhou nossa liberdade e o que vemos agora é mais um reflexo desse fenômeno, ou seja, o tempo que era um bem de cada ser humano está cada vez mais sendo tirado.
E assim passarão os dias daqui a diante, cada vez mais rápido, e o tempo cada vez mais curto.

Marcelo Augusto da Silva - 04/01/08

Neve no trópico

Mal havia acabado o mês de novembro as ruas e as lojas de muitas cidades já se cobriam de luzes e enfeites aguardando o dia do Natal. Nada melhor para o comércio do que essa data, já que há muito tempo o seu significado é quase completamente comercial.Esse é um fato que chama a atenção de muita gente em meio a agitação do final de ano. Pouco restou da tradição e do significado religioso do Natal.
Sendo dessa forma a festa do consumo, o modelo sem dúvida é dos norte-americanos, que fazem dela uma celebração ao consumo. Tratando-se de uma nação hegemônica ( aquela que impõe sua cultura sobre as outras como forma de domínio) os Estados Unidos através de vários meios impõe a sua , e o Brasil com toda a obediência esquece sua própria cultura e adota com todo o orgulho a alheia.
Numa primavera que mais se parece com o verão que se inicia nas vésperas do Natal, as prefeituras esbanjam dinheiro tentando ao máximo transformar as ruas da cidade idênticas as do hemisfério norte. O calor do dia, o suor daqueles que transitam pelo asfalto quente, contrasta com bota e a roupa de veludo do Papai Noel e de seus duendes ajudantes espalhados em cada esquina; o verde e a exuberância colorida das flores e árvores, característicos de nossa estação, são encobertos pela neve artificial.
Longe tentar afastar a festa, já que ela tem muito mérito como a economia que se aquece no período, como os postos de trabalho que são abertos, como o reencontro e a reaproximação de pessoas,e entre tantos outros benefícios que ela proporciona, além do seu sentido inicial que é o religioso para aquele que professam o cristianismo, por que não fazer do acontecimento uma festa que preserve tudo isso, mas não esqueça de honrar a cultura brasileira, respeitando nossa cultura e nossa situação geográfica.
Pouco se lembra das festas tradicionais brasileiras, pouco importância tem nossa cultura. Infelizmente o brasileiro tem a cultura de absorver a cultura do outro, julgando-a “melhor” ou “superior” que a sua. Estranha-se e despreza-se o que é seu; sente-se vergonha de si mesmo. De tudo se faz para copiar o modelo norte-americano, nenhum esforça é poupado. Assim perdemos em dobro: com gastos e com a nossa cultura que cada dia mais vai sendo esquecida
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Marcelo Augusto da Silva - 06/12/07

Hugo Chávez não errou

No mês de outubro passado - pouquíssimas pessoas tinham o conhecimento - mas vencia o contrato de concessão de transmissão da Rede Globo, que de modo escuso, foi concedido em 1965, não por coincidência no início da ditadura militar. Sendo uma concessão a emissora não tem o direito de usar uma freqüência à revelia, tampouco transmitir o que bem entende e expressar suas posições, ficando o Estado brasileiro, que deveria ser soberano, o responsável por tal licença e por que não pela fiscalização de seu conteúdo.
Atualmente a televisão é um aparelho de comunicação que está presente em quase a totalidade dos lares brasileiros, e a maioria deles está sintonizado no monopólio da família Marinho. O que impressiona é que a emissora, de uma forma sutil e hipócrita, consegue controlar o comportamento das pessoas, ditar modas, e inclusive manipular o eleitorado e a política brasileira, como fez tantas vezes em que assumiu posições mais extremistas possíveis em defesa de interesses próprios e de uma elite minoritária e dominante, como foi o caso da eleição de Collor, seu impeachment, o apoio a FHC, entre outros.
Como acontece no Brasil acontece também em outros países, como é o caso da vizinha Venezuela, em que uma emissora dos mesmos moldes da Globo, a RCTV, mantinha um mesmo estilo da brasileira, com uma grade de programação que veiculava produções estrangeiras na sua maioria, programas recheados de vulgaridades e baixarias, atores sem o menor talento que se transformavam em multimilionários do dia para a noite e que serviam de modelo de vida para a camada pobre, a qual vivia sonhando em um dia atingir tal nível. Enfim um canal idêntico ao brasileiro que só desinformava e alienava. O mais grave na Venezuela é que a RCTV, apoiada pela direita do país, e pensando em manter privilégios e o seu império televisivo, tentou articular um golpe para cassar o mandato de Hugo Chávez, que de acordo com um plebiscito, foi escolhido como presidente.
Assim como um presidente é soberano e uma emissora tem apenas uma concessão, e não um direito de transmissão, o venezuelano não renovou o contrato da RCTV, uma vez que, como foi escancaradamente mostrado, mas não foi notado, uma emissora de televisão tem for finalidade entreter e informar, não controlar a política de um país, se colocando acima do Estado e querendo escolher ao seu interesse quem deva administrá-lo. Com todos os seu poderes concedidos pelo povo e dentro da Constituição de seu país, Chávez nada mais fez do que sua função que no caso poderia ou não renovar o contrato. Decidiu pela segunda opção, não permitindo assim que uma emissora controle o país, o que o fez a ser tachado de ditador. Seria então arbitrariedade um chefe de Estado manter sua nação soberana e não submissa a uma empresa.
Infelizmente essa é a situação de muitos países em que empresas estão acima de tudo e, entre elas, encontram-se as empresas do entretenimento, que se aproveitam da inocência e desinformação das pessoas e as manipulam para o seu enriquecimento.
Fica sem resposta a pergunta sobre até quando iremos ver uma emissora controlando o Brasil. Até o momento não há perspectivas em relação a esse assunto. Soma-se a isso o fato da inocência da população que torna o debate sobre o poder da emissora e a má qualidade de sua programação cada vez mais extenso.
Sendo assim se torna essencial lutar pela construção de algo que controle o que é divulgado pela mídia, pois não são todos, que num domingo a tarde, desligam o aparelho e procuram algo que lhe dê bem estar a sua família e a si próprio.

Marcelo Augusto da Silva - 30/11/07

A opulência das Igrejas

No final do ano de 2006 foi inaugurado numa das principais avenidas de São João da Boa Vista um grandioso templo da Igreja Universal do Reino de Deus, fato que causou perplexidade e admiração nas pessoas, justamente pelo tamanho da obra, reduzido tempo em que foi construída e pelo óbvio gasto que ela dispensou.
Recentemente num dos horários televisivos em que a Igreja utiliza para sua pregação, começou a ser veiculado uma reportagem a respeito do investimento da Igreja em São João da Boa Vista que, segundo o apresentador, todo o gasto com a construção foi necessário para poder realizar a sublime tarefa de levar aos fiéis a palavra de Deus, entre outros benefícios que eles dizem oferecer.
O que surpreendeu nessa reportagem foi a divulgação do gasto total da obra que ficou na casa dos oito milhões de reais. Desde então a construção do templo voltou a fazer parte das discussões.
Há muito tempo não só a Universal, mas todas as Igrejas Pentecostais e as Neopentecostais têm sido apedrejadas em todo as localidades por causa do luxo de suas construções, pela forma de conquistar novos adeptos e, principalmente, pelo apelo em que seus pastores e missionários utilizam para arrecadar a contribuição de seus fiéis. Se a cobrança e o destino de dinheiro é algo mais interno, onde somente os integrantes das Igrejas têm conhecimento, um templo é visível a todos, e assim, o espanto causado por sua magnitude é inevitável.
Uma Igreja assim como qualquer outra instituição é passível de críticas, construtivas ou não. O caso das evangélicas é um desses exemplos. Porém o foco do debate deveria se abrir e analisar outras Igrejas, como a Católica, que através de sua longa existência sempre demonstrou ter uma preocupação com finanças, bem diferente do seu fundador, que pregava o desapego aos bens materiais e uma vida de igualdade entre as pessoas.
Fala-se em tom de crítica sobre a riqueza das Igrejas e de seus membros, bem como a sua sede em receber ofertas e contribuições. Assim sendo seria correto criticar também o catolicismo; pois se um templo está orçado em torno de oito milhões de reais, em quantos estará orçado então, por exemplo, a igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto que possui 430 quilos em ouro, e que, além de tudo, foram extraídos por seres humanos transformados em escravos com o seu consentimento? E a Basílica de São Pedro? E a Capela Sistina que contém inclusive obras de artistas da Renascença? Se for para falar em arrecadação, porque não lembrarmos do dízimo que foi criado pela própria Igreja Católica, o qual é cobrado até hoje, porém com o subterfúgio de ser uma colaboração voluntária para um justo propósito? E a venda indulgências e de relíquias santas?
O bom senso nos diz que religião não está em nenhuma ocasião relacionada às questões financeiras. Como organização, dona de patrimônio, como no caso dos templos, é justificável alguma forma de contribuição com o fim de pagar despesas como energia, água ou então impostos ou folha de pagamento. Mas como se tem notado, as ofertas vão muito além de serem destinadas a cobrir gastos.
Nessa história não há quem tenha mais culpa que a outra. Se for para apontar erros, deve haver justiça e se apontar o de todas.
Marcelo Augusto da Silva - 23/11/07

O dia 20 de novembro

Mais um feriado está fazendo parte do calendário de muitos municípios e, como de praxe, a atenção se restringe somente ao fato do dia ser de descanso e não para a importância da data. Trata-se do dia 20 de novembro, em que se celebra o Dia da Consciência Negra, cujo significado é encarar o negro como um elemento formador do país e de seu povo, dotado de cultura e inserido em nossa sociedade.
Após séculos de escravidão, o Brasil o tardou a abolir o sistema e, da forma em que foi realizada, a abolição objetivava questões econômicas e não valores humanitários, ou seja, pensou no financeiro e não no sofrimento de um povo.
Assim, depois de liberto o negro passou a vagar pelo país afora, sofrendo a mesma humilhação e com um sério agravante, pois não tinha onde trabalhar, uma vez que em seu lugar havia um assalariado, tornando sua vida ainda pior, já que estava desprovido até de condições de se alimentar.
A abolição marcou então uma nova fase na vida do negro, cuja trajetória sempre foi marcada pelo preconceito sofrido, desvalorização e desprezo, nunca sendo respeitado como ser humano. Somado ao pensamento racista, preconceituoso e discriminatório o negro, sem nenhuma outra possibilidade, começou a habitar as periferias da cidade, e a se sujeitar a fazer qualquer atividade para garantir seu sustento. Não é de estranhar que hoje os negros sintam dificuldades em se encaixarem no mercado de trabalho e que haja a necessidade de cotas de vagas nas universidades para negros. A sociedade brasileira os colocou nessa condição e não se preocupou em nenhuma ocasião em deixar a mentalidade colonial.
Mas, felizmente as coisas se transformam, e nem sempre para pior. O comportamento das sociedades, mesmo que timidamente, vêm se alterando e o negro, com toda a dificuldade, vem conquistando seu espaço e seu respeito. Porém não podemos pensá-lo somente em uma data, devemos fazer isso todos os dias, todos os momentos. Do contrário ele é lembrado em um dia e esquecido os 364 restantes.
Feriado é importante, mas não é o suficiente. É apenas o início de uma mudança que deve ser grandiosa. É necessário reconhecer o negro em todos os aspectos, principalmente como um ser humano. É necessário mudanças no pensamento das pessoas, onde essas não fiquem presas ao pensamento do passado, onde não se julgue pela aparência ou pelas diferenças físicas.
Marcelo Augusto da Silva - 20/11/07

A invasão da pirataria

A quantidade de pessoas que já assistiram ao filme Tropa de elite, cuja estréia nos cinemas ocorreu no dia 12 de outubro, acirrou o debate que envolve o comércio de produtos piratas. Antes mesmo de ser lançado oficialmente, o filme já foi visto por milhares de pessoas, que graças à pirataria, pode ser assistido inclusive na internet. Alguns defendem essa atitude alegando que, mesmo de forma ilegal, estão tendo acesso a uma produção nacional e tendo contato com uma realidade do Brasil atual, pois um filme brasileiro exibido somente nas salas de cinemas provavelmente não atingiria um público desses.
O comércio de produtos piratas já não é uma novidade, principalmente no segmento do entretenimento, em que CD’s e DVD’s são vendidos às pencas escancaradamente por camelôs e até em estabelecimentos comerciais.
Vale lembrar que a pirataria além de ser crime, sonega impostos, tira empregos e de certa forma é uma concorrência desleal. No entanto por outro lado a carga tributária excessiva e o lucro exorbitante de gravadoras de CD’s e distribuidoras de DVD’s elevam o preço final desses itens tornado-o acessível a uma pequena parcela da população, o que explica, mas não justifica, a venda dos produtos piratas em grande proporção.
A prática da pirataria se espalhou em todos os setores, atingindo até os fármacos e os medicinais, onde próteses também são falsificadas. Os CD’s e DVD’s são, equivocadamente, considerados como mercadorias. No entanto eles vão muito além dessa classificação, pois tratam-se de produções artísticas, intelectuais e culturais, que têm por finalidade não satisfazer os consumidores nos momentos de sua aquisição, mas sim descontrair, informar, proporcionar momentos de prazer , não podendo ser confundidos ou comparados com meras marcas registradas que visam unicamente o lucro. Sendo assim deveriam ser considerados como patrimônios culturais de acesso geral e não exclusivo, nem mesmo serem de propriedade de gravadoras ou de distribuidoras, pois quem produz uma obra, não produz exclusivamente para si, e sim para quem dela quiser ter contato. Artistas, autores, atores, produtores, lojistas e todos envolvidos numa produção artística obviamente te que ter seu ganho, ou seja, deveriam ter um preço que garantisse isso, não um valor exageradamente alto.
Se houvesse um entendimento entre governo e empresas responsáveis pela produção e comercialização desses artigos para que os preços dos produtos originais tivessem uma redução significativa, certamente a venda dos piratas iria reduzir muito, o país iria aumentar a sua arrecadação e postos de trabalho iriam abrir, pois certamente os consumidores iriam preferir pagar um pouco mais por um produto original, tendo a certeza adquiriram qualidade e garantia.
Marcelo Augusto da Silva - 19/10/07

Zona Azul: prós e contras

São José do Rio Pardo cresceu, e com ela sua frota de veículos e o número de estabelecimentos comerciais, num processo natural e irreversível, pois como disse Euclides da Cunha, “não há como conter o progresso”. Nesse contexto foi criada há alguns anos a Zona Azul – sistema de estacionamento tributado e rotativo - para resolver o problema da falta de vagas nas vias públicas do centro da cidade. Desde essa época ela vem sendo uma divisora de opiniões.
Se um município cresce devemos acompanhar sua expansão ou no mínimo nos adequarmos a ela, o que justifica assim a criação do estacionamento propriamente dito. Porém vale ressaltar que por envolver vias púbicas e o seu respectivo pagamento, sua instalação e manutenção devem ser realizadas com muita cautela, tentando assim satisfazer a maioria dos usuários.
Inicialmente o parqueamento solucionou o velho problema de motoristas e comerciantes onde os motoristas não precisam mais procurar vagas por diversas ruas, pois o sistema não permite que um automóvel permaneça horas estacionado num mesmo local, e no caso dos comerciantes, o benefício de fez possibilitando um maior fluxo de pessoas nos estabelecimentos, uma vez que, as vagas são desocupadas constantemente. Além do mais a Zona Azul permitiu a criação de várias oportunidades para os jovens ingressarem no mercado de trabalho, proporcionando a eles uma ocupação e uma remuneração.
Todavia, como tudo aquilo que envolve a “coisa pública” tem seus problemas, a começar pelo número excessivos de ruas que fazem parte da Zona Azul, ficando muito além daquelas centrais nas quais as edificações são praticamente todas ocupadas por comércios ou prestadoras de serviços.
Na ocasião de sua implantação, o projeto, aprovado em Assembléia Municipal, determinava que as ruas que fariam parte do sistema eram aquelas de maior concentração comercial, mas conforme os motoristas ou os empregados do comércio estacionavam seus carros nas vias que não estavam fazendo parte do estacionamento, a Zona Azul foi se ampliando, alcançando hoje ruas distantes das comerciais. Há ruas onde não existe comércio, mas a Zona Azul está presente, para que o motorista que não queira pagar a taxa seja impossibilitado de estacionar seu veículo e deslocar-se a pé até o seu destino. Um estacionamento pago deveria ser feito para resolver o problema do trânsito não para punir motoristas. Isso porque, embora seja feita para garantir a rotatividade das vagas, tal cobrança fere o direito fundamental de ir, vir e permanecer, garantido pelo artigo 5º, inciso XV da Constituição Federal.
Outro fator que causa desconforto aos usuários é o preço cobrado pelo serviço, que não oferece mais a tarifa de 30 minutos de permanência, obrigando o motorista a pagar por um serviço mesmo que não vá usá-lo.
À equipe responsável pela manutenção da Zona Azul, todo o respeito pela competência na realização do serviço, mas é preciso pensar detalhadamente em cada questão que envolva o seu funcionamento, para que assim se possa garantir a satisfação dos rio-pardenses - que vivem transtornados com o trânsito intenso que a cidade passou a ter - e também o desenvolvimento do município.
Marcelo Augusto da Silva - 06/10/07

O senador e o lavrador

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa
O Brasil é conhecido por todos como o país do contraste, do paradoxo e da discrepância. Poucos ganham muito e muitos ganham pouco; uns comem com colher de prata, outros comem com a mão e uns outros tanto nem comem. Assim como o país é a sua capital, erguida no nada do planalto central, ostenta o luxo sobre uma nação que padece de pagar impostos, de ser humilhada, despojada e abandonada à própria sorte. Local onde pouco se trabalha e muito se ganha, e a sujeira que ali brota é sempre jogada debaixo do tapete.
O jogo de interesses, a falcatrua e o descaramento já fazem parte não só da capital em si, mas também da índole de muitos que de lá nos comandam. A riqueza da cidade mais parece ser um troféu erguido à exploração e à impunidade.
Um fato que exemplifica bem a situação é o recente caso do senador Renan Calheiros que, em meio a uma montanha de acusações pesadíssimas sobre seu governo e a sua conduta política, teve um julgamento às escusas, realizado a portas fechadas à imprensa e a qualquer outro tipo de pessoa que não fosse da casa, sem a mínima consideração com o povo e com os eleitores que confiaram no referido político, investindo-o de direitos para ser seu legítimo representante. No Brasil o sentido de democracia ou de transparência é outro, pois o fato só confirma que alguns são mais iguais que os outros ou então que a lei não é a mesma para todos. Enquanto o país acompanhava perplexo e do lado de fora o “julgamento” lá corria solta a maracutaia e a troca de favores. Ao término sai o dito “réu”, impune, ileso, como se zombasse do brasileiro com seu ar dissimulado, seu sorriso falso e suas palavras ensaiadas.
Para aumentar ainda mais o pesar dos fatos esdrúxulos de Brasília, na quinta-feira, dia 20, um lavrador que há quatro dias não comia, tentou, numa atitude impensada e desesperada, furar a segurança e ir pessoalmente apelar ao presidente. É claro que como sede do governo federal há a necessidade de se manter uma segurança mais rígida possível, mas o episódio é no mínimo revoltante devido ao tratamento que um trabalhador faminto teve em comparação a um político envolvido até o pescoço de denúncias gravíssimas.
A mesma segurança que dias antes usou a força para barrar deputados que queriam usar seus direitos e participarem do julgamento, usaram agora dos mesmos poderes para imobilizar e levar para bem longe um contribuinte que, mesmo com a miséria que recebe, colabora com o sustento da capital do país, seus habitantes e suas sanguessugas. Por que então um tratamento à altura não foi dado a um homem que até o momento não honrou seu cargo, e por que o trabalhador não foi ao menos tratado com o mínimo de dignidade, ao invés de ser humilhado, jogado ao chão e imobilizado como se faz a um contraventor? È necessária tanta rigidez com uma pessoa e tanto cortejo à outra?
No Brasil parece que em nenhuma situação a justiça é feita.

Marcelo Augusto da Silva - 29/09/07

Cultura para todos

“A gente não quer só bebida a gente quer bebida, diversão, balé, a gente não quer só comida a gente quer a vida como a vida quer”.
Comida, Titãs

Apesar de ser aplicado erroneamente com freqüência, o termo cultura - que de acordo com o Aurélio, significa o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas e intelectuais, típicos de uma sociedade - ele, mesmo inadequadamente usado, expressa de uma forma geral os eventos e manifestações artísticas.
Não importa qual seja a manifestação, ela sempre trás bem estar, contentamento, satisfação e muito mais, como reflexão, exemplo, aprendizado.
As cidades do interior parecem estar fadadas ao abandono cultural. Com raras exceções que cumprem fielmente seu papel e com toda a competência a população vive à margem dos eventos culturais. É necessário investir em cultura de todos os gêneros e para todos. É preciso urgentemente oferecer mais peças teatrais, apresentações musicais, danças, exposições, enfim tudo que desperte em cada um de nós as sensações descritas.
Quem tem esse hábito prazeroso de freqüentar tais eventos cada dia sente mais o desprezo com que eles são tratados, e conseqüentemente, sente mais sua falta. Além do fato de conviver sem essas manifestações culturais, as pessoas sem elas se fecham, se isolam cada uma dentro de si e dentro de suas casas, ficando assim condenadas a verem somente a mesmice televisiva e os seus dias se sucederam com a mais cruel rotina, não por simples acomodação, mas sim por falta de oportunidade.
Alguém que vai ao teatro quebra o monótono de seu cotidiano, quebra a alternância desgastante de casa e trabalho; volta revigorado. Uma família que prestigia uma apresentação musical de qualidade volta para sua casa mais alegre. Quem troca a poltrona de sua sala pela a de uma sala de cinema tem grandes chances de despertar renovado no dia seguinte.
Entretanto não basta só reclamar da falta de opções, é necessário que haja um esforço coletivo entre as administrações, no sentido de investirem mais no setor, e também por parte das pessoas em dar o primeiro passo e começar a mudar um pouco sua direção e ver que há, ainda que raras, outras formas de entretenimento que farão bem a ela e a quem estiver ao seu redor.

Marcelo Augusto da Silva - 22/09/07

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Somos um país independente?

Nós não vamos pagar nada / Nós não vamos pagar nada / É tudo free, ta na hora / Agora é free, vamo embora / Dar lugar pros gringo entrar / Esse imóvel ta pra alugar”.
Aluga-se, Raul Seixas
A trajetória do Brasil foi marcada pelos laços de dependência desde os seus primórdios. Colônia e metrópole, liberdade e Império, república e presidentes militares, consolidação da democracia e capital financeiro internacional, foram os períodos antagônicos da História do país que nortearam a política brasileira e juntamente a economia e a sociedade.
Após séculos de exploração e pilhagem o Brasil deixa de ser uma colônia portuguesa, mas mesmo assim o modelo desse sistema agro-exportador e dependente ainda persiste na existência do país como sendo uma enorme cratera a aumentar e sugar tudo ao seu redor.
O 7 de setembro - data que se comemora nossa independência e a qual muitos não sabem o motivo do feriado e muito menos o que ele significa - foi muito mais uma mudança de dominação do que uma independência propriamente dita.
Se outrora os europeus aqui desembarcaram e montaram suas estruturas políticas, administrativas e econômicas para surrupiar o que tínhamos de melhor, hoje nações hegemônicas perpetuam o mesmo modelo exploratório, portanto, com muito mais facilidade, bastando apenas instalar suas multinacionais e transnacionais, ou então impor sua cultura e nos obrigar a sustentá-los indiscretamente através do consumo daquilo que nos “enfiam goela abaixo”.
Onde está a autonomia de um povo que despreza sua própria cultura e glorifica a dos outros, apesar desta não representar nada ou sequer significar algo para nós? Cadê o país soberano que no momento de tomar decisões fica amarrado a grupos empresariais ou ao capital externo? Cadê a auto-suficiência de consumir aquilo que é produzido aqui mesmo e não ter que entregar aos estrangeiros a preço de banana? Onde está o patriotismo de uma nação que tem vergonha das cores de sua própria bandeira, mas que se reveste como colorido de outros países? Cadê a soberania de um país que permite a exploração de nossos serviços e de nossas riquezas minerais e naturais por empresas estrangeiras devidamente autorizadas ou então por meios ilícitos?
A pseudo-independência do 7 de setembro de 1822 tardou a chegar. Por enquanto a real independência, no seu sentido mais amplo, certamente tardará muito mais a chegar. Quem viver, verá. Quem sabe.

Marcelo Augusto da Silva - 15/09/07

Mudanças sempre vêm

Apesar de você amanhã há de ser outro dia, ainda pago para ver meu jardim florescer qual você não queria”.
Apesar de você, Chico Buarque


Uma simples observação em relação à opinião das pessoas, que se nota um total desconforto e insatisfação quanto a atitudes no que diz respeito às melhorias nas condições de vida da população. Parece que se acostumou com o descaso político, à opressão, à exploração e com a insignificância em relação ao ser humano.
Porém parece que nem tudo é lama; há posturas que vêm trazendo significativas mudanças de uns tempos para cá. Há exemplos que demonstram uma preocupação com o indivíduo e com a coletividade, como é o caso do acesso para deficientes a estabelecimentos públicos e privados, o qual há algum tempo esse grupo ficava praticamente restrito; na garantia de vagas nas escolas públicas, onde num passado não tão distante as mães acampavam nas calçadas dos prédios escolares para matricularem seus filhos; na criação de cotas para negros e para jovens oriundos de escolas públicas, que apesar de seus problemas e contradições esse assunto sequer era mencionado; na política que por incrível que possa parecer em meio a uma total depravação, raramente se encontra uma ditadura legítima e até mesmo na questão ambiental vemos uma grande preocupação de governos, entidades e até mesmo das pessoas que mudaram totalmente seu comportamento, visto que nas gerações passadas um estilingue era item obrigatório de qualquer garoto.
No entanto esses exemplos não acompanham os anseios e as necessidades das pessoas e do mundo, mas mesmo que com timidez e caminhando à passos de tartaruga eles estão acontecendo e estão fazendo alguma diferença.
A penúria de um povo não deve levar à descrença. Por mais que as atrocidades existam e que multidões vivam à mercê de poucos, a insatisfação deve ser convertida em determinação e em espírito de mudança. É preciso encontrar esperança, conseguir enxergar o que há de melhor e lutar pela sua expansão.

Marcelo Augusto da Silva - 31/08/07

Brasil: da bandalheira ao caos

Nos últimos anos a mídia brasileira divulgou uma enxurrada de denúncias envolvendo políticos em escândalos e corrupções dos mais variados tipos, e como se não bastasse, não pararam por aí. Basta ligar a TV ou o rádio, abrir o jornal ou acessar a internet que teremos a má notícia que já não nos surpreende mais.
Essa situação leva a crer que a falcatrua vem aumentando de tempos pra cá e que a falta de vergonha na cara dos políticos já deixou de ser exceção. Realmente o país está mergulhado na imoralidade, vivemos o caos político, social e moral, mas o caso não se explica somente pelo aumento da bandidagem e sim pelo fato das denúncias terem aumentado, ou seja, a imprensa, os partidos de oposição, as organizações em geral e até o povo não se silenciam mais diante da barbárie.
Longe de justificar a picaretagem, a bandalheira sempre esteve presente na História do país. Um breve olhar no nosso passado já deixa isso claro, a começar pela colonização onde os europeus inauguraram a rapinagem tomando as terras dos nativos; depois povoaram o território com a elite ou com degredados e escravos, o que perpetuou a exploração, o antagonismo e a falta de caráter e, ao tentar instalar mecanismos de governo e controle das terras tupiniquins se esqueceram do pequeno detalhe da distância entre a colônia e a metrópole deixando o país à própria sorte e facilitando a baderna. Estes, porém são apenas alguns entre vários casos da nossa avacalhação política, administrativa e social.
O que acontece agora são as conseqüências do nosso trágico passado; é o acúmulo de mais de quinhentos anos de exploração, de impunidade e de distribuição de privilégios a poucos. Num país onde a justiça praticamente não existe e a subtração é a cultura de alguns, o desenvolvimento e a igualdade certamente ficarão cada vez mais para trás. Não há como conciliar desenvolvimento com pilhagem ou justiça social com saque, pois o que se arrecada vaza para as contas de nossos representantes descaradamente.
De 1500 para cá o Brasil evoluiu: da bandalheira ao caos. Enquanto esse mal fizer parte da nossa sociedade, a miséria, a injustiça e a desigualdade vão continuar no nosso meio. A solução é simples e ao mesmo tempo cruel: ou a corrupção ou o nosso sangue.

Marcelo Augusto da Silva - 24/08/07