quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Zé Rodrix no palco para ninguém

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”
Bailes da vida – Milton Nascimento

É muito comum ouvir o rio-pardense se queixar da falta de opções de lazer ou da carência de eventos culturais em nossa cidade, o que não é um fato isolado, já que muitos municípios da região também sentem essa falha. Ausência de um programa direcionado, falta de atenção dos órgãos competentes ou uma característica de nossa terra; todas essas hipóteses podem servir de explicação para essa questão, que aparentemente teria uma fácil solução.
No entanto algo questionável ocorreu na sexta-feira dia 21, pois São José teve uma atração cultural de grande vulto e pouquíssimos ficaram sabendo.
Promovido pelo futuro prefeito de São José - que declaradamente disse através do apresentador do evento que o show em si já era parte integrante do dinamismo que ele havia prometido - João Luís Cunha usou o espaço público do Epidauro e trouxe para cantar de graça o conceituado cantor e compositor Zé Rodrix, que dividiu o palco com seu companheiro de composição Tavinho, outro grande nome da música brasileira.
Zé Rodrix integrou em 1966 o conjunto Momento 4uatro, com que se apresentou no III Festival de Música Brasileira da TV Record em 1967. No início dos anos 70 foi integrante do Som Imaginário, e continuou atuando como compositor. "Casa no Campo", música que abriu o espetáculo no Epidauro, é uma composição sua e de Tavito, que ganhou o festival de Juiz de Fora em 1971 e foi gravada com grande sucesso por Elis Regina. Atuou também ao lado de Sá e Guarabyra, trio que lançou o segmento rock rural, onde teve um CD gravado ao vivo recentemente. Integrou também o grupo pré-punk Joelho de Porco.
Mas fatalmente o descaso com o público ou má organização deixou a apresentação de um artista com um histórico musical desse nível passar em branco. As pouquíssimas pessoas presentes no local não sabiam quem iriam assistir, comprovando que o evento não teve a mínima divulgação. Dentre aqueles que ali estavam ouvia-se a pergunta sobre quem iria se apresentar passar de um para outro; logo voltou a resposta que seria Zé Rodrix . A notícia transmitida boa a boca dizia que o show estava marcado para as 20h00min., porém ela chegou quase 21h00min., ou seja, uma hora depois, e nada indicava que ele iria se iniciar. Lá pelas 21h30min. os poucos que ainda aguardavam se cansaram e foram deixando a arquibancada, fazendo com que ela ficasse ainda mais vazia. Às 21h40min. começa a chover e nada do espetáculo começar. Quase 22h00min. enfim o músico entra no palco e ele e seus acompanhantes tocam para praticamente ninguém.
Poucas são as vezes que as pessoas têm o privilégio de assistir um grande show como esse numa praça pública. Numa cidade onde há pouco a se freqüentar, quando algo acontece não é prestigiado É lamentável ver uma oportunidade dessa ser perdida por muitos. Creio que todos gostariam que isso não ocorresse novamente e que continue havendo outros eventos, melhor ainda se forem sem propósito político, para toda a população poder participar.
Marcelo Augusto da Silva - 28/11/08

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Zumbi dos Palmares e a Consciência Negra

“Salvei minha pátria. Vinguei a América... Nunca mais um colono ou um europeu porá os pés nesse território com o título de amo ou proprietário.”
Jean-Jaques Dessalines

O ano de 2008 apresentou um aumento de 164% no número de cidades que comemoraram o feriado da Consciência Negra no dia vinte desse mês. Isso pode representar uma maior preocupação com essa parcela da sociedade, ou então significar que muitos municípios pegaram carona nessa onda e também decretaram feriado, esquecendo-se, portanto da conscientização que se deveria haver sobre o relacionamento entre as etnias.
Muitos foram os movimentos aqui no Brasil ou em outro local das Américas que enfrentaram a escravidão instaurada pelo europeu. Como exemplo temos o autor da frase que ilustra o início desse texto, que expulsou os franceses e proclamou a independência de seu país, o Haiti.
O Dia da Consciência Negra é celebrado nessa data por ter a ver com Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, símbolo da oposição e defesa dos escravos no Brasil diante da dominação branca no período em que éramos uma colônia.
Zumbi no Brasil representa o expoente na luta de um povo que foi escravizado, massacrado, dizimado e que hoje ainda pugna para conquistar o seu reconhecimento. Sua atuação no Quilombo de Palmares serve como inspiração aos negros na conquista de seus direitos.
Os quilombos eram comunidades formadas por escravos fugidos e até por pessoas livres que não aceitavam o modelo colonial. Neles, os quilombolas, nome dado aos habitantes dos quilombos, procuravam resgatar parte de suas tradições e buscavam manter um nível de vida igualitário. O mais famoso deles, o Quilombo de Palmares, se localizava no atual estado de Alagoas, que na verdade era uma união de mais de dez quilombos que resistiram e sobreviveram aos ataques do governo e dos donos de escravos durante quase todo o século XVII. Palmares chegou a ter entre vinte e trinta mil habitantes, um número altíssimo comparado à população total do Brasil na época.
Foi em Palmares que surgiu a liderança de Zumbi, que à frente do quilombo foi a força motriz na resistência aos ataques inimigos e reuniu os quilombolas em torno do sonho de se verem livre da escravidão.
Palmares foi atacado durante toda a sua longa existência; o governo por sua vez desencadeou uma verdadeira guerra contra a comunidade, que além de concentrar um grande número de escravos fugidos, servia de exemplo para a formação de outros pela região. Muitos dos ataques do governo foram derrotados pelos quilombolas, o que fazia as lideranças governistas e os senhores de escravos a aumentarem ainda mais o ódio e as ofensivas aos negros e a Palmares.
Zumbi em Palmares passa a se o elemento principal contra a opressão dos brancos. Apesar de todo o investimento contra o quilombo a sua liderança garantia a sobrevivência da comunidade e as vitórias a cada batalha.
Sobre a sua morte não há, no entanto, uma documentação que comprove a sua causa, ou seja, não se sabe se ele foi morto ou suicidou-se. O que se tem é a confirmação de que ela ocorreu no dia 20 de novembro de 1695, dois anos após a destruição completa de Palmares.
Por esse fato é que nessa data se comemora o Dia da Consciência Negra, e essa escolha serve para mostrar ao Brasil e ao mundo que assim como Zumbi incorporou uma causa, hoje todos os negros continuam envolvidos em torno desse mesmo ideal, até que o mundo os encare com dignidade e deixem de levar em consideração questões tolas e insignificantes como diferenças de cor.
Marcelo Augusto da silva - 21/11/08

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A República dos bananas

Nessa semana em que comemoramos o aniversário da Proclamação da República no Brasil, lembrei de algo que costuma me chamar a atenção. Sempre que estou dando aulas de História do Brasil na 8º série do Ensino Fundamental, cujo conteúdo compreende o período do começo do século passado até a atualidade, sou indagado por muitos alunos sobre quem foi o melhor presidente que o Brasil já teve.
Difícil responder uma pergunta dessas sem deixar a parcialidade de lado, mas tento encontrá-la através do olhar crítico, e como se eu estivesse em outro contexto. Difícil também é achar alguém ou algo perfeito em toda a sua plenitude, uma vez que a perfeição é uma utopia, embora seja perseguida por muitos.
Mas numa rápida olhada no processo republicano no Brasil percebo a confusão que é nossa vida política, a começar pela própria Proclamação da República, que só foi realizada para manter privilégios de alguns grupos e, o que é pior, sem a participação popular, onde o brasileiro acordou no dia 15 de novembro de 1889 sem saber que vivia a partir daquele momento num país republicano. Sem falar que os primeiros presidentes que tivemos eram todos militares, o que torna a nossa república ainda mais incoerente, já que ela deveria ser representada por civis eleitos pelo sufrágio universal.
Depois desse tropeço inicial tivemos a república coronelista que revezava o poder federal entre os governadores de São Paulo e Minas Gerais eleitos através das fraudes eleitorais, que só terminou, vejam só, com o golpe de Getúlio Vargas, que se manteve como presidente durante quinze anos através de mais outros dois golpes, e que por ironia do destino só deixou o governo graças a um outro golpe.
Após o fim da Era Vargas outros fiascos aconteceram no nosso cenário político, como Jânio Quadros que depois de se eleger sob a promessa de varrer a corrupção do Brasil renunciou ao cargo poucos meses após ser empossado, e Jango seu vice que assumiu o controle do país, foi derrubado por outro golpe, dessa vez um militar, que durou mais de vinte anos e dispensa comentários.
Aliás, depois de todo esse período ditatorial, quase que o país se vê refém de uma continuidade do militarismo, pois no dia de sua posse, Tancredo Neves o primeiro presidente civil após duas décadas, é vitimado por uma doença que o leva à morte meses depois.
Nesse momento o Brasil começa a viver novamente em uma democracia, mas no fim da década de oitenta a Rede Globo lança seu candidato e fazendo a cabeça dos eleitores o elege, embora nenhum brasileiro soubesse de onde vinha nem quem era o esculacho chamado Collor. No entanto como este não atende os privilégios das classes dominantes e se envolve nos mais estapafúrdios casos de corrupção, a mesma Rede Globo urdiu todo um mecanismo até conseguir arrancá-lo do poder.
Permeando esses presidentes tivemos outros que devem ser lembrados pelas suas bizarrices como JK que abriu o país para o investimento externo, FHC que privatizou o país e Lula, o mais recente deles, que sendo uma referência na esquerda brasileira se une à direita e ao assumir a presidência dá um continuísmo ao governo anterior, o qual ele tanto criticava.Tudo isso faz com que a resposta sobre quem foi o melhor presidente do Brasil se torne quase impossível de responder. É claro que há exceções nesses casos citados não existindo somente erros em seus governos; certos presidentes merecem o reconhecimento pelo que fizeram, se bem que, há por outro lado algo que os desabone. Minha resposta então é afirmar que o Brasil não teve em nenhuma ocasião um presidente admirável na sua totalidade, mas procuro dizer que dentre aqueles que nos comandaram alguns fizeram algo de bom para o país e isso deve ser lembrado, e esses seus acertos servem para mostrar que não se deve desacreditar nem abandonar a política, para que assim um dia, quem sabe, teremos um excelente presidente.
Marcelo Augusto da Silva - 14/11/08

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Direitos Humanos: sessenta anos de que?

O ano de 2008 comemorou muitas datas importantes. Dentre elas podemos destacar os duzentos anos da vinda da família real para o Brasil, os cento e vinte anos da “abolição” da escravidão e os quarenta anos do ano de 1968 que foi marcado por protestos e manifestações contra a ordem mundial vigente na época. Porém um aniversário pouco foi lembrado, talvez por poucos saberem da sua existência ou então pelo fato de não darem o valor a ele merecido. Trata-se dos sessenta anos da criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Inspirado na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, criado durante a Revolução Francesa, a ONU (Organização das Nações Unidas) adota o documento como forma de garantir a todos os seres humanos direitos inerentes à sua própria existência, que até então não haviam sido respeitados como a liberdade e o direito à vida. Por conta de arbitrariedades estatais e governos despóticos não havia restrições ou mesmo limites para o uso da violência, da tortura, da intolerância religiosa e de prisões e condenações arbitrárias.
O ano do decreto dos Direitos Humanos, 1948, coincide com o pós-guerra e a ONU como sendo um organismo mundial o abraça para colocar um basta em todas as formas de desrespeito contra a humanidade e também para evitar que não ocorra novamente o acontecido durante a Segunda Guerra Mundial em que o mundo assistiu a crueldade e o assassinato de mais de seis milhões de judeus em campos de extermínio e concentração comandados pela Alemanha nazista.
Passado seis décadas após a sua decretação vemos que hoje ele faz parte de mais um montante de belas leis, precisas e bem elaboradas, que não passam do plano escrito.
Se no nível internacional vemos o seu fracasso tal como é o caso do massacre promovido a milhares de civis pelas tropas estadunidenses e inglesas no Iraque, e do uso da tortura, evidenciada em casos de denúncias em Abu Graib, onde fotos reveladas à imprensa mostram os americanos aplicando seus mais novos métodos dessa prática abominável, nos estados e municípios brasileiros ocorre também o desrespeito às leis básicas, com casos de torturas, extorsões, agressões, humilhações, amontoamento de prisioneiros, diferença no tratamento e julgamento de acusados.
Embora muitos questionem os Direitos Humanos, eles prezam primeiramente pela vida, independente de quem for e procura não devolver o desprezo e a violência àqueles que não respeitaram o seu semelhante.
A Declaração dos Direitos Humanos deveria ser acima de tudo um acordo de convivência harmoniosa entre a comunidade internacional, que independesse de uma escritura ou de uma legislação; deveria ser um consenso natural, espontâneo e ser simplesmente seguido e respeitado.
Marcelo Augusto da Silva - 07/11/08