quinta-feira, 23 de julho de 2009

Paulínia: um portal para nosso cinema

De uma cidade pequena no interior do estado não se pode esperar que ela ofereça algum incentivo ou espaço à cultura; mas para Paulínia isso é uma realidade. Fundada em 1964 e contando hoje com sessenta mil habitantes, ela é um exemplo de que há como investir nesse setor e atingir bons resultados.
Independente de ser politicagem ou não esse município merece reconhecimento, pois de alguns anos para cá muito se tem feito para impulsionar o cinema nacional. Hoje a cidade conta com um estúdio, uma escola de cinema, cursos gratuitos na área cinematográfica e afins que estão dando oportunidades a muitos jovens e um mega teatro equipado com todos os recursos tecnológicos do momento com uma capacidade para mil e trezentas pessoas. Tudo isso – cujo investimento passa dos cem milhões de reais – transformou atualmente o município num pólo cinematográfico, capaz de dar suporte para realização de grandes produções.
Provavelmente esse investimento teve apoio das empresas ali instaladas, principalmente a Petrobrás que sempre apoiou o cinema nacional, já que a cidade abriga grandes refinarias de petróleo e a arrecadação do município com isso atinge altos níveis. Nada mais coerente do que devolver esse dinheiro à população.
Na semana do dia 09 a 16 desse mês a cidade realizou o II Festival Paulínia de Cinema que apresentou gratuitamente grandes filmes ao público que variavam entre longas e curtas-metragens e também documentários. O evento concentrou várias pessoas da área, as quais puderam discutir sobre as obras, deu espaço a novos talentos do cinema e também a oportunidade de muitos filmes serem divulgados e de disputarem um prêmio; além disso, o festival ofereceu uma mostra paralela com a exibição de outros longas-metragens, antes das apresentações dos concorrentes, também com entrada franca à população.
No dia da premiação, onde o vencedor foi o longa “Olhos Azuis” de José Joffily, houve um show de encerramento exclusivo para os convidados com os Paralamas do Sucesso, cujo vocalista teve um documentário sobre sua vida disputando o festival, “Hebert de Perto” de Roberto Beliner e Pedro Bronz, que acabou levando o prêmio de melhor direção de documentário. No dia seguinte ao término do festival os Paralamas realizaram outra apresentação, também gratuita, desta vez para toda a população no sambódromo da cidade para um público de mais de seis mil pessoas.
Certamente no futuro a cidade deverá cada vez mais investir no cinema que terá grande possibilidade de ver nascer ali grandes produções, além do que cada vez mais o festival e a atividade cinematográfica só terão a crescer. Esse é um exemplo do bom emprego do dinheiro público, mesmo para aqueles desinformados que acham que lazer e cultura não são essenciais para uma vida de qualidade ou então que só se deva aplicar os recursos naquilo em que se obtenha um resultado financeiro; contrariando essa idéia equivocada o cinema em Paulínia está também a gerando renda e emprego.
Marcelo Augusto da Silva - 24/07/09

Consumismo: o aliado da degradação ambiental

O assunto em pauta atualmente é questão ambiental que, alertada por pessoas ligadas ao assunto desde a década de 70, mostra sua cara.
Alertada também há muitos anos, a população se depara agora com alterações climáticas e o aquecimento global, seguidos por seus graves transtornos. Aterrorizados, nos vemos de sobreaviso por toda parte e com eles todos querendo dar sua contribuição para a salvação do planeta, inclusive aqueles que aparentemente não se incomodavam com o problema, como é o caso da comunidade católica, organismos internacionais, o Fórum de Davos, países altamente industrializados e desenvolvidos e até mesmo os Estados Unidos que, mesmo recusando a assinar o Protocolo de Kyoto, articulam uma iniciativa internacional para o problema do clima.
A razão da degradação ambiental, bem como as maneiras de evitar maiores catástrofes, é de conhecimento de todos, o que torna desnecessário qualquer aprofundamento na questão. Porém a causa principal está ligada a um único vilão - responsável não exclusivamente pela deterioração do planeta, mas também por outras mazelas do mundo – que ninguém parece percebê-lo ou importar-se com ele, deixando-o esquecido. Trata-se do consumismo, esse mal enraizado na nossa cultura que contamina seres de todas as partes, e que nos impeliu a passar como um rolo compressor por cima dos valores e da natureza em nome do verbo possuir.
Em nome também do lucro imediato de alguns grupos e povos, a população de todos os países foi submetida à escravidão do consumo, foi instigada a buscar no materialismo a realização pessoal que deveria vir de dentro de si, foi forçada a adotar a “lógica do use e depois jogue fora”, da praticidade e comodismo do descartável, da angústia e insatisfação do “já foi superado”, a qual tudo se torna obsoleto e passível de substituição onde “o novo já nasce velho”.O alto preço a ser pago é o lixo acumulado, florestas devastadas, aquecimento global, ar poluído, geleiras derretidas, climas alternados entre tantos outros. Enquanto discussões se arrastam, organismos e Ongs se mostram, e a sociedade pasma, exige solução. Solução que contraditoriamente não parte da origem do problema e pega caminho errado e assim fica patinando, andando em círculos, e o planeta se desfazendo enquanto o consumismo continua a devorar aquilo que não é substituído por um outro novo encontrado em uma vitrine ou numa prateleira.
Marcelo Augusto da Silva - 30/04/07

domingo, 19 de julho de 2009

A Semana Universitária Mocoquense

Durante essa época do ano as importadas festas de peão tomam contam dos calendários dos eventos de muitas cidades brasileiras, nossa região não é uma exceção. Até pequenos municípios já investem nesse entretenimento, pois sem dúvida, ele é muito rentável. Freqüentado por pessoas de diferentes níveis sociais e de faixa etária, mas atraindo principalmente os mais jovens (tanto é que o estilo musical fabricado no momento é denominado de sertanejo universitário, justamente para agradar esse público), esses eventos arrastam multidões.
Porém quem não se sente agradado por esse segmento musical bem como a sua festa e prefere ficar longe dos gritos de um narrador de rodeio ou de uma dupla sertaneja ao microfone, nossa cidade vizinha de Mococa, como faz há várias décadas, não se intimida com a concorrência e apresenta todo mês de julho a sua tradicional SUM (Semana Universitária Mocoquense).
Na sua 42ª edição o acontecimento cultural mostra que é possível disponibilizar à população uma programação que não fica presa a modismos ou imposições da cultura de massa. A própria trajetória do evento já o reveste de mérito, pois ele nasceu como algo feito pelos universitários e destinado a eles, ainda mais onde a sua primeira edição data o ano de 1967, período em que o Brasil era governado pela ditadura militar, institucionalizada naquele mesmo ano por uma Constituição elaborada pelos militares, e um ano antes do AI-5 (Ato Institucional nº5) que determinou o fechamento do Congresso e a censura no país. Só para lembrar os jovens e principalmente os estudantes eram alvos da ditadura, justamente pela sua postura consciente e contestadora.
Após isso o evento atravessou a redemocratização política, enfrentou vários estilos de moda e de música que fizeram a cabeça de muitos; passou por várias mudanças de comportamento da juventude que já não tem mais a ideologia de outros tempos, e mesmo assim ele se mantém forte, provando que é possível fazer algo original e que muitos não são dominados pela moda.
Quem teve a oportunidade de participar do evento pôde ter o privilégio de assistir o magnífico show do pernambucano Otto (ex-Mundo Livre S/A) que acompanhado de sete excelentes músicos, entre eles Bactéria (também ex-Mundo Livre S/A), presenteou um público seleto com toda a sua originalidade musical com suas canções que misturam vários ritmos. Humilde e grato o artista certamente agradou a todos os presentes.
Outros espetáculos e atividades foram realizados durante a semana como oficinas, exibição de filme, palestras, entre outros. Àqueles que por algum motivo não puderam prestigiá-los e que quiserem fazer parte dessa semana cultural ainda há tempo de ver alguém de talento e com alta capacidade musical pois no sábado tem o músico maranhense Zeca Baleiro com seu show autenticamente brasileiro, apresentando sua composições que passam da embolada até chegar às baladas. É uma dica e uma oportunidade imperdível para quem aprecia um estilo musical diferenciado e de qualidade.

Marcelo Augusto da Silva - 17/07/09

domingo, 12 de julho de 2009

Falta sermos verdadeiramente brasileiros

Não temos identidade própria / Copiamos tudo em nossa volta / Do que adianta vocês viverem assim? / Ser prisioneiros dentro do seu próprio jardim / Pra que tudo isso na região Tupiniquim? / Eu não sei, eu não sei.

Nunca fomos tão brasileiros – Plebe Rude
Ao assistir as comemorações da independência dos EUA no dia 04 de julho, a qual todo ano trás a mesma pompa que é transmitida por muitos canais de televisão, comecei a analisar novamente a velha diferença que existe na festividade desse dia nosso país e no estrangeiro. Essa distinção é perceptível a qualquer pessoa, já que aqui a data quase não é lembrada, ou muitos nem sabem que ela existe, bem ao contrário dos estadunidenses que comemoraram a sua emancipação com muito ufanismo tal como fazem desde 1776. Não que isso os coloque acima dos demais, ou então que os tornem melhores, pelo contrário, a História mostrou o quanto aquela nação é nociva ao planeta e aos que nele vivem. No Brasil infelizmente não encontramos um patriotismo parecido.
Esse comportamento tão desigual das duas nações de um mesmo continente tem sua origem nos primórdios da colonização de cada uma delas. Aqui já de cara o Brasil foi assaltado pelos portugueses, que viam nessas terras somente um meio de enriquecer, atitude que da mesma forma é repetida hoje por muitos, principalmente por nossos representantes que usurpam o país para o bem próprio. Esse legado de descaso manteve-se por todos esses séculos, chegando enfim aos nossos dias; se no início ninguém teve a preocupação com o que viria a ser esse território e o cuidado momentâneo era unicamente explorar, hoje não é de se estranhar que aqueles que descendem dessa estirpe danosa ainda se comportem à mesma maneira. Curioso é ver isso fazer parte da imensa camada popular que, apesar de viver lutando para sobreviver, age com o mesmo desprezo ao seu país.
No caso da nação do norte os antepassados daquele povo não pensaram somente no momento em que ali chegaram, mas sim no seu futuro e no daqueles que um dia iriam ali habitar. Daí tem-se a característica de valorizar e enaltecer o que é seu, cuja intenção é atingir cada vez mais o bem geral. Esse desejo de construir algo duradouro e sólido esculpiu uma personalidade em que se honra a si mesmo, porém em detrimento ao alheio. Em partes isso pode até ser compreensível, o que não justifica é ver que em nome desse sentimento é eles assumirem um caráter pedante, dominante, exploratório e acima de tudo destrutivo.
O que falta nos brasileiros é dar a devida importância àquilo que é seu; não há como cobrar das autoridades a decência, o decoro e o compromisso se nós mesmos não exercemos essas qualidades. Se outros em cada comemoração cívica se cobrem com as cores de seu país e se orgulham de nele viver, o que esperar de um lugar onde o povo desconhece ou desmerece sua própria História e se curva diante do outro numa ação em que sente envergonhado do que é seu.
Se a avacalhação no Congresso e também nas esferas estaduais e municipais não tem fim; se a baixaria se mantém enquanto nosso dinheiro jorra para dentro dos bolsos daqueles que deveriam trabalhar para nosso bem estar, é hora de repensar sobre o que temos sido nesse tempo todo e assumirmos de vez que somos brasileiros. Certamente é assim que teremos a possibilidade de vivermos de forma mais justa, caso contrário os infames que nos comandam verão e terão sempre a possibilidade de agir tranquilamente.
Marcelo Augusto da Silva - 10/07/09

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mitos póstumos

Se o Lennon morreu, eu amo ele / Se o Marley se foi, eu me flagelo /
Elvis não morreu mas não vivo sem ele / Kurt Cobain se foi e eu o venero.

A necrofilia da arte – Gilberto Gil

É inquestionável a influência que os ídolos – sejam eles uma única pessoa ou um grupo - exercem sobre seus fãs. Muitos deles conseguem ultrapassar os limites regionais e se tornam personalidades universais, atingindo milhares de pessoas em toda a parte do mundo, onde a adoração a ele é praticamente a mesma que ocorre em todos os outros lugares.
Em vida um ídolo possui um carisma descomunal (uns durante um curto espaço de tempo, outros não) o qual arrasta multidões, dita comportamentos, costumes, lança modas, vocabulários e estilos. Depois de morto esse fascínio é potencializado, tornado o ídolo mais ídolo ainda.
Foi assim em inúmeros casos e agora se repete mais uma vez com o rei dos gritinhos e do rebolado, que mesmo negando sua própria origem, se colocando como uma divindade e se envolvendo nos mais sórdidos escândalos, conseguia manter um grupo imenso de fiéis seguidores. Nesse momento, certamente muitos outros já se tornaram seu fã inconscientemente pelo motivo dele ter morrido.
Provavelmente em vida não haveria tantas homenagens e dedicações a ele, mesmo que fosse no auge de sua fama. No entanto esse caso não é um fato isolado, pois é comum muitos tornarem-se devotos somente após a morte de um artista e aqui entra o papel da mídia instigando a adoração pois logo após o anúncio da morte do cantor houve na imprensa, em todos os seus formatos, uma avalanche de publicações, reportagens, noticiários e afins sobre o falecimento da estrela da música pop, onde as empresas divulgaram o acontecimento não somente para informar, mais sim exploraram a sua morte para lucrar mais..
Um exemplo dessa ocorrência é encontrado no caso clássico de Raul Seixas, em que até hoje suas músicas são pedidos obrigatórios a qualquer um empunhe um violão, seu rosto está sempre estampado na camiseta de alguém ou então outros interpretes estão sempre brigando para gravar suas músicas; em vida ele era tido (não para seus admiradores leais) como lunático, viciado e subversivo.
Nos casos em que a morte da personalidade acontece digamos num momento precoce e inesperado em que acaba interrompendo a vida do astro ela vai favorecer ainda mais a comoção de seus fãs, ou então a conquista de outros que possivelmente não viam nele nada de extraodinário. Uma relação de um fã para com o ídolo morto é sempre pautada por esse sentimento de devoção exagerada, fanática, carregada e histérica.
Para quem não quer ficar próximo à tietagem, e à rasgação de seda, principalmente a quem não mereça tanto, esse é um momento de se afastar dos meios de comunicação, pois vai levar um bom tempo para essa onda passar, a menos que outro caso aconteça para desviar a atenção geral.

Marcelo Augusto da Silva - 03/07/09