quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Yes, nós temos preconceito

Era só mais uma dura, resquício de ditadura. Mostrando a mentalidade de quem se sente autoridade nesse tribunal de rua.
Tribunal de rua – O Rappa

Há alguns dias atrás houve um caso nos EUA em que um professor negro, ao tentar arrombar a porta de sua casa que estava com problemas, foi surpreendido pela polícia daquele país como sendo suspeito de estar roubando o imóvel. Depois foi preso sob a alegação de que ele teria desrespeitado e acusado os policiais de a girem com preconceito. Conforme afirmei nessa coluna a etnia do professor foi o fator decisivo para que uma suspeita sobre ele fosse levantada, reafirmando a tese de que o racismo é presente nas relações atuais.
No Brasil como muito é copiado do estrangeiro - principalmente o que não é positivo - tivemos na semana passada uma dessa triste experiência em que um negro foi abordado e tratado como ladrão devido a sua cor. O que difere o caso ocorrido aqui em relação ao dos EUA é que o brasileiro não só fez igual, fez pior.
Ao ver o vigilante Januário Alves de Santana de 39 anos abrindo a porta de seu EcoSport no estacionamento do Carrefour, cinco seguranças da rede de supermercados se aproximaram dele já o acusando de ladrão, sem dar ouvidos às suas explicações que se tratava de seu carro. A tragédia ainda continuou em um “quartinho” no supermercado o qual Santana assegura ter sido levado. Lá ele fora gravemente espancado e conforme afirmava que era seu o automóvel apanhava mais. Com a chegada de três policias que foram chamados para atender a ocorrência a situação se agravou ainda mais, pois os PM”s ironizavam dizendo que “com aquela cara ele deveria ter no mínimo três passagens pela polícia”. A violência só terminou quando os policiais se convenceram a ir até o carro de Januário para ele mostrar seus documentos que lá se encontravam.
Se nos aprofundarmos mais nesse acontecimento vemos que ele tem desdobramentos que o tornam ainda mais sério, pois nele há uma questão que preocupa tanto quanto o racismo e a violência prestada por essas pessoas. Pergunto quem são na realidade os profissionais contratados para oferecer esse tipo de serviço nos estabelecimentos, os quais estamos sujeitos a sermos abordados por eles a qualquer momento? Eles realmente têm o poder, mesmo atuando dentro de uma propriedade particular, de abordar pessoas? Eles têm o preparo necessário para lidar com essas situações, uma vez que mesmo na polícia onde o profissional passando por diversos testes e capacitações não age corretamente no exercício de sua função? Quem se responsabiliza se algum deles usar da força física contra o cidadão ou então da violência verbal?
Nada adianta o William Bonner, a marionete do clã Marinho, grupo capitalista estruturado em valores coloniais e racistas fazer uma expressão fingida de piedade e lamento em rede nacional ao findar a reportagem sobre esse caso, numa tentativa de solidarizar com os negros. Que esses fatos acontecem e são corriqueiros estamos cansados de saber, não adianta mais narrá-los, o que gostaríamos de ver é que isso venha a acabar.
Assim como a própria esposa da vítima concluiu, o presente nós sabemos como é, ele não difere muito daquele dos séculos passados; porém mais assustador do que ele é o futuro das pessoas que pertencem a uma minoria. Para se conquistar uma elevação no nível de relacionamento e sabedoria da população é necessário percorrer um longo caminho, onde os resultados serão colhidos no futuro; caminho que deveria ter se iniciado há muito tempo atrás, mas quer excepcionalmente se encontra em profundo atraso. Por isso quanto mais tarde começarmos a trilhá-lo, mais casos desses veremos acontecer.
O cenário atual nos mostra que infelizmente a concentração de renda, os valores arcaicos, o racismo e a ignorância ainda vão assombrar por muito tempo a vida dessas pessoas.

Marcelo augusto da Silva - 28/08/09


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Povo mostra a sua força!

Vem vamos embora que esperar não é saber.
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré

Iniciei meu artigo da semana passada dizendo que vivia um momento de desesperança. Após alguns dias esse meu sentimento ainda permanecia, porém sua origem, como já havia dito, era por causa de nossos políticos, felizmente ele é um efeito gerado somente por esse grupo, não por todos os brasileiros. Explico: Sarney afrontou o bom senso do brasileiro com as suas recentes tramóias, fazendo com que a indignação saísse do individualismo, passasse pela internet e chegasse às ruas em forma de protesto.
É raro, mas não impossível, encontrarmos na História ações que contaram com a participação popular e que atingiram o seu objetivo. Temos clássicos exemplos como a Revolução cubana que foi um movimento onde o povo foi extremamente participativo e importante e a Independência do Haiti, que embora hoje não esteja numa situação estável, alcançou a conquista de sua liberdade através da luta dos negros contra a exploração francesa, servindo de modelo para movimentos em outros países.
No Brasil tivemos um caso recente com o Fora Collor, formado na sua maioria por jovens estudantes, que foram às ruas exigir o impeachment do então presidente. Mesmo conseguindo aquilo que ele queria, o protesto, ao menos a meu ver, não teve tanto mérito, pois ele não foi autônomo, mais sim forjado pela Globo - a mesma emissora que fez a cabeça do eleitor para votar em Collor e que naquele momento não via mais interesses no seu governo - que conclamava a juventude a manifestar publicamente seu descontentamento.
Bem diferente do Fora Collor, o Fora Sarney é um movimento independente e na semana passada manifestou-se em diversos locais do país. No próprio Senado houve uma tentativa de protesto por parte dos estudantes, que da mesma maneira que ocorria nos tempos de ditadura, foram reprimidos com a truculência da polícia, dessa vez a legislativa, a qual sem nenhum escrúpulo ligava para o celular do Sarney no momento da detenção dos manifestantes dizendo que iriam agir rigidamente para moralizar a situação. Será que alguém em Brasília é digno para usar a palavra moral?
Se não podemos esperar a decência dos políticos, em nem o cumprimento das normas, que no caso deveria ser a investigação das denúncias contra o senador, coube à população a tentativa de ser a aplicadora da justiça e dessa forma exigir que seja feito o necessário.
O país é do povo que nele habita, não dos que o governam; os políticos, a grosso modo, nada mais são do que funcionários do Estado, com a função de trabalhar para a coletividade, ou seja, a sua incumbência é servir o povo, não o contrário. Se é dessa forma, assim como o povo o escolheu – e se em determinados momentos como esse que vivemos a opinião popular decidir - ele tem todo o direito de destituí-lo do cargo.
Esse é um exemplo da força popular; mesmo não tendo o tamanho que deveria ter, o Fora Sarney causou repercussão e incomodou. Pode muito a população, basta ela querer e saber usar esse poder.
Mesmo ainda havendo a descrença, esse movimento trouxe de certa forma uma luz na escuridão em que nos encontramos. Se ele vai tomar proporções maiores e atingir a sua meta, somente o tempo irá mostrar. Queria vê-lo crescer, tomar conta de todo o país e mostrar aos “senhores de Brasília” que o Brasil não é deles, tal como eles imaginam.
Marcelo Augusto da Silva - 21/08/09

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Moro num triste país tropical

Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez, o Congresso continua a serviço de vocês.
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão pra roubar, renunciar voltar na próxima eleição.

Luís Inácio (300 deputados) – As Paralamas do Sucesso


O tom com que redijo o artigo dessa semana é de desânimo, aliado a um sentimento de revolta, diante de mais uma barbárie que vemos novamente acontecer, dentre inúmeras outras, cometida por nossos representantes.
São tantos os casos de corrupção que se torna impossível lembrar quais foram os anteriores, eles se misturam uns aos outros formando a massa de lama que cobre nosso país. A revolta se faz ainda mais aguçada por saber que os infames que nos representam estão lá com a permissão de nós mesmos, os eleitores, não todos eles, mas a maioria de cabeças vazias e desmemoriados que vendem o seu voto ou votam sem nenhuma consciência ou responsabilidade.
Digo isso respaldado por fortes e evidentes acontecimentos, como o caso atual do ex-presidente - que conquistou esse posto sendo um vice que cobriu a vacância do cargo - que esgotou todas as receitas de seu estado, o Maranhão, fazendo dele seu bordel particular; um legítimo representante de uma velha oligarquia que usa o poder público para seu benefício e da sua família; que condenou os maranhenses a um estado de miséria; que arruinou o país quando o governou e ainda se mantém ocupando um cargo tão importante quanto o executivo, fazendo dele, assim como sempre fez em toda a sua vida política, o instrumento de manutenção da suas regalias.
Infeliz destino da política brasileira que ao se livrar de um ditador caiu nas mãos de um senhor de engenho o qual nem tinha legitimidade para assumir o controle do Brasil, pois ele, bem como o falecido presidente eleito, não tinham tomado posse do cargo. Ainda temos que ouvir que o fato dele ter sido presidente é um forte argumento para não cassá-lo, sendo que na verdade isso só serve para mascarar o banditismo de sua vida pública.
Soma-se a essa baixaria um outro ex-presidente, representante da oligarquia alagoana, que também pilhou o país e se envolveu em sórdidos escândalos, que usa agora o plenário do Senado não para aprovar leis favoráveis à nação, mas sim para declamar injúrias, insultos e usar palavras de baixo calão para esconder seu passado condenável.
Dói fundo na alma saber mais uma vez que a panelinha de patifes foi armada, que a situação foi ajeitada fazendo com que mais um gatuno continue impune e a nos comandar. Sobrou a nós a somente a opção de pintar o nariz de vermelho e sentir o cheiro do orégano.
Estou num momento onde não consigo ver mais saídas para o caos que chegamos, estou por perder as esperanças em que chegue o dia que aqueles poucos políticos sérios e honestos ocupem altos cargos e consigam desenvolver um trabalho digno sem se atrelar com a bandidagem. Chega a dar náuseas todas as notícias que vejo vir de Brasília.
Às vezes tenho o desejo de ver todas as estruturas e instituições desaparecerem da Terra, que tudo se queime e que o homem volte aos estágios primitivos do desenvolvimento, pondo um fim em toda essa ganância, essa mesquinharia, essa falta de caráter e nessa indecência que a raça humana atingiu. Penso que assim tudo renasça, vindo novo e diferente. Um novo começo, uma nova oportunidade das coisas pegarem outro rumo que não seja mais o nível dessa realidade moribunda, fajuta, medíocre e falsa a qual estamos submetidos.
Marcelo Augusto da Silva - 17/08/09

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O professor, o policial e o presidente.

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos.
Ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres...

Haiti – Gilberto Gil / Caetano Veloso

Obama caracterizou a ação da polícia de estúpida ao deter o professor negro Henry Louis Gates que fora surpreendido ao tentar arrombar a porta de sua própria casa que estava com problemas para ser aberta. Através de uma denúncia os policiais chegaram ao local e prenderam o professor, depois dele ter apresentado seus documentos, sob a acusação de desrespeito e por ter alegado que os policiais o trataram com discriminação.
Há várias questões a serem refletidas sobre esse incidente. Primeiro uma pessoa ligou para a polícia para resolver algo que provavelmente lhe levantou suspeita, pois o “suposto” arrombador era negro; se ele fosse branco alguém da vizinhança teria essa mesma desconfiança? Segundo: será que procede a alegação do policial de que o professor foi preso por ter o desrespeitado e o acusado de racismo; se na verdade foi isso que aconteceu não seria essa uma atitude coerente já que uma pessoa foi abordada na sua própria casa? Será que realmente os policiais pediram os documentos do professor para depois realizarem o seu trabalho?
Sabemos muito bem que nos países em que ocorreu a escravidão até hoje se vive as suas marcas, esse é um exemplo que mostra claramente isso, pois mesmo passado o tempo do cativeiro o negro carrega o estigma de ser visto com maus olhos. Nesse caso específico mesmo sendo dono da sua casa e sendo um renomado professor, esse indivíduo foi visto com preconceito. Além da ação discriminatória dos policias o professor também foi vítima de quem o denunciou, pois possivelmente a etnia da vítima foi um fator decisivo nessa hora.
Embora não sabendo como o fato realmente aconteceu é prudente de se afirmar que tudo isso pesou contra o professor, mostrando que a velha barreira do preconceito e do racismo ainda não foi em nada superada.
Ainda resta a terceira colocação sobre esse acontecido: o presidente do país, o primeiro negro na História daquela nação, que carrega consigo todos o sofrimento da exclusão que alguém de sua cor possui, inicialmente mostrou-se solidário e independente sendo favorável ao professor, como se ele fosse um representante de toda a comunidade negra que constantemente sofre esse tipo de ação, porém dias depois voltou atrás no seu pronunciamento e disse que deveria ter medidos as suas palavras e que houve exageros tanto da parte dos policias quanto do professor.
Certamente ele com sendo o chefe de governo deva ter cuidado com o que diz e agir então com diplomacia - considerando que a palavra “estúpida” é um tanto quanto inadequada, o que coloca aquele que a usa no mesmo nível daquele a quem foi dirigida - mas esse era um momento de manter o assunto na pauta, principalmente nesse momento em que muitos, principalmente os negros, acreditam nesse novo governo.
Há incontáveis casos, e muitos deles com provas inquestionáveis, que os atos de discriminação da polícia dos Estados Unidos, bem como a de outros países, acontecem com freqüência. Julgo que seria a ocasião dele reafirmar o que foi dito, amenizando o tom do termo empregado, e levar o caso adiante para quem sabe trazer a partir do seu posicionamento resultados positivos nesse sentido. Na década de 1960 o discurso a favor dos negros era direto e irrevogável. Que falta faz Martin Luther King.
Marcelo Augusto da Silva - 07/08/09