quinta-feira, 13 de maio de 2010

Entre gregos e brasileiros

Tenho acompanhado de perto os acontecimentos ocorridos na Grécia - país nascido de uma das mais importantes civilizações da antiguidade clássica - gerados pela forte crise financeira global iniciada partir da recessão dos EUA do final de 2008 e começo de 2009, e que acabou levando os gregos a entrarem também na bancarrota financeira, já que eles são extremamente dependentes da atividade turística que fora abalada fazendo os turistas desaparecerem do país. Com isso a atividade econômica sofreu uma estagnação brusca, gerando um alto índice de desemprego.
As tentativas do governo surgiram, porém não foram suficientes para sanar a situação, pelo contrário, acabaram por causar maiores transtornos ao país, pois foi feito um acordo entre a União Européia e o FMI que concedeu ao país um pacote de ajuda de 110 bilhões de euros além do governo determinar o congelamento de salários dos funcionários públicos, o corte dos fundos de pensão e o aumento de impostos . Esse ponto merece atenção, pois esse acordo fez despertar nos gregos uma revolta contra o governo, não aceitando as medidas tomadas por ele.
Há especialistas em economia que afirmam que o brasileiro tiraria de letra uma crise como essa; já os gregos, não acostumados com esse tipo de situação, tiveram uma reação de protesto que acabou gerando um tumulto no país. Aí pergunto se o brasileiro se vira bem com as crises e más decisões dos governos ou se ele já está acostumado a ser usado assim como é feito desde a época colonial e o descaso e o desrespeito com o povo é algo que não o atinge? Vemos o Brasil se vestir com as cores da nação nas vésperas de uma Copa do Mundo, mas nunca vemos o brasileiro se enrolar numa bandeira e lutar pelo seu país; vemos o brasileiro se reunir para formar uma massa única e dançar o rebolation, mas nunca vemos o povo se unir para protestar e exigir algo das autoridades. Até os hermanos da Argentina nós vemos sair às ruas batendo panelas para chamar a atenção do governo e mostrar sua insatisfação.
Vejo o caso das manifestações gregas como uma atitude digna de um povo que não aceita as medidas arbitrárias do governo e assim batalha para garantir a sua honra e o seu sustento. É claro que depredação não é uma ação digna e justificável, ainda mais que esses atos renderam a morte de pessoas, mas considero nobre aquela gente se une e assim se fortalece na luta para se conquistar um objetivo que está ligado diretamente à sua sobrevivência.
Se há milênios esse povo já mostrou o caminho para se administrar de uma forma em que o povo pudesse dar a sua opinião no governo – embora a democracia criada e exercida por eles não abrangia a todos – hoje eles continuam a dar um bom exemplo de comportamento, mostrando que não se deve calar diante de um governo que pode causar um mal a todos.


Marcelo Augusto da Silva - 14/05/10