quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O melhor do cinema latino-americano

Há algumas semanas resolvi investigar sobre o que está sendo produzido no cinema latino-americano. Pesquisei muitos filmes antes de selecionar alguns para assistir, e através dessa amostragem puder sentir como estão nossos vizinhos em relação à arte cinematográfica.
O interessante dessa pesquisa foi a constatação de que os filmes que mais chamaram a minha atenção foram os argentinos, o que não parece ser nenhuma novidade, pois há algum tempo o cinema desse país já tem ganhado notoriedade. Dessa forma decidi conferir o trabalho da argentina Lucrécia Martel que em seus dois primeiros filmes impressiona com a qualidade e a competência de sua direção. No seu primeiro longa, “O Pântano” (La Ciénaga, Argentina, 2001) pouco audacioso, porém inteligente, explora através de metáforas e simbolismo o lado lodoso e degenerativo do ser humano, contado por meio de uma direção solta aonde a vida dos personagens vai rolando diante da câmera e envolvendo o espectador. Provocativo, ele expõe o ponto em que cada pessoa pode chegar quando se deixa envolver por problemas externos. Alcoolismo, traição, desejo, frustrações, inveja e abandono são vistos a todo tempo nessa trama.
Seu segundo trabalho, "A Menina Santa" (La Niña Santa, Argentina, 2004) a diretora se arrisca a tratar de uma forma direta sobre dois assuntos polêmicos e não corriqueiros que são a religiosidade e a sexualidade. A trama retrata um período da vida de uma adolescente que tem que lutar dentro de si mesma com uma vocação religiosa que lhe é manipulada e incutida por uma educação cega e o desejo por um médico que a molesta.
Há também outro argentino, "Chuva" (Lluvia, Argentina,2008) da diretora Paula Hernández que igualmente existencialista como os filmes citados acima, e de uma forma densa, explora o âmago das relações humanas ao mostrar o encontro entre um espanhol que vem à Argentina para o enterro do pai que ele não conhecia e uma mulher que há dias mora no seu carro para fugir do marido, o qual ela não o reconhece mais como alguém íntimo.
E finalizando essa sessão latina pude apreciar uma produção colombiana do diretor Carlos Manuel, ”Cão come cão”, (Pierro come Pierro, Colômbia, 2008) filme de excelente direção que retrata bem as relações criminosas existentes naquele país. Em uma primeira observação a produção poderia, aparentemente, não trazer nenhuma novidade em seu conteúdo, no entanto, o que na verdade se vê na tela é a dura realidade de um país, que apesar de sua proximidade territorial com o Brasil, é pouco conhecido por nós. Rodado num tom de sépia e com uma retratação fiel ao submundo do crime organizado, ele transmite o que realmente ocorre em países subdesenvolvidos, como impunidade, pobreza, corrupção, ineficiência das autoridades, entre outros problemas sociais.
De qualquer maneira o resultado dessa aventura cinematográfica mostrou que há muita qualidade no cinema latino-americano. Assim como os brasileiros possuem um cinema de alto nível no qual há profundidade e exploração de questões não superficiais e mundanas – o que é consenso no cinema alienante dos estadunidenses - os nossos hermanos são tão capazes e qualificados como quaisquer outros produtores e diretores. Vale a pena garimpar a disponibilidade desses filmes para a locação e apreciar o que temos de melhor ao nosso redor.

Marcelo Augusto da Silva - 24/02/2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Egito em destaque

É sempre fascinante falar ou ouvir algo sobre o Egito. Formadores de uma das primeiras civilizações da História, os egípcios se desenvolveram às margens do grandioso Rio Nilo, onde aproveitaram suas águas, que transbordavam periodicamente, para fertilizar o solo e desenvolver assim a agricultura.
Além disso, foram pioneiros em muitos setores como por exemplo na medicina, que no desenvolver da técnica da mumificação se aprofundaram na anatomia humana; foram responsáveis por construções de dimensões extraordinárias como as pirâmides que até hoje despertam a curiosidade em muitos e semeiam explicações das mais variadas para entender a capacidade de erguer tais obras; foram igualmente magníficos ao desenvolverem um Estado centralizado para controlar a crescente população, a produção agrícola e as construções de diques e canais de irrigação necessários no aproveitamento das águas do Nilo.
Porém não foram tão perfeitos em tudo que fizeram; assim como acontece com qualquer outro povo os vícios e os erros também acometeram os egípcios. Sua sociedade era estratificada, ou seja, rigorosamente dividida em camadas que colocava outras em níveis subjugados, sem a possibilidade de mudança social. Também invadiram e dominaram outros povos em guerras deploráveis e escravizaram outros tantos; seu Estado forte tornou-se autoritário suficiente para suprimir a vontade da população e se tornar perpétuo e tirano em algumas fases.
Nos últimos dias o Egito volta a ser evidência novamente, dessa vez nos dando um ensinamento ao mostrar ao mundo milhares de pessoas tomando a praça pública e exigindo a renúncia de um governo que havia se instalado há três décadas no país, governo que lembra a teocracia da antiguidade egípcia – forma de governo em que o representante é chefe político e religioso ao mesmo tempo, sendo considerando um representante divino na Terra.
A manifestação pública forçou a queda do ditador, porém não garantiu a democracia no país, palavra pouco conhecida e consequentemente um sistema político pouco usado em países de tradição islâmica assim como é o Egito. A expectativa atual é não ver o exército, que ocupa o governo provisoriamente, se manter nele durante anos e instalar uma nova ditadura.
O ideal é ver construído no Egito um governo que respeite as liberdades e as diferenças, que mantenha em todos os seus níveis a democracia e que acate principalmente o princípio das eleições livres e periódicas. No entanto num país em que prevalece a tradição religiosa esses ideais parecem serem utópicos no momento.

Marcelo Augusto da Silva - 17/02/2011