quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Brasil X Argentina além dos campos de futebol

O jogo entre a seleção brasileira e a seleção argentina ocorrido na última terça-feira nas Olimpíadas de Pequim despertou novamente a rivalidade entre os dois países. A derrota do Brasil acentuou ainda mais a rixa; muitos torcedores não quiseram aceitar o placar, outros com relutância o admitiram, alguns até que se conformariam com uma derrota desde que fosse para qualquer outra seleção, menos para a argentina.
Essa visível hostilidade no futebol entre os dois países remonta a décadas passadas, seja em Olimpíadas ou em Copas do Mundo; briga-se até para definir a quem pertence o melhor jogador do mundo.
De povos colonizados possuidores do mesmo “sangue latino” e que por isso atravessaram o mesmo processo de espoliação, tornaram-se inimigos de velhos tempos, já nos primórdios da colonização, em que os habitantes que aqui nasceram vieram a ser herdeiros da contenda entre o Império português e o Império espanhol na competição pela hegemonia nas terras do novo mundo.
No próprio período colonial a região fronteiriça entre as duas colônias – a região platina – era uma área de conflito entre as metrópoles portuguesa e espanhola. Após a independência do Brasil e da formação da Argentina as contestações continuaram em torno do rio da Prata, importante via de escoamento de mercadorias para os dois países. No pós-independência também acorrem disputas pelo controle de pequenos estados na bacia platina, que por muitas vezes alimentou a possibilidade de uma solução militar por parte da Argentina para resolver o atrito com o Brasil, mas que jamais chegou a tal ponto por saber que a capacidade estratégica argentina não era suficiente para enfrentar o Império brasileiro.
Findo os tempos das contendas, chegamos aos tempos atuais em que se verifica os resquícios das rivalidades territoriais, gerando um clima de desconfiança entre as duas nações e entre seus representantes, o que resulta em diversas crises diplomáticas.
Brasil e Argentina são hoje importantes países, detentores de um grande potencial desenvolvimentista na América do Sul; suas ambições são as mesmas, isso poderia talvez uni-los em torno de uma aliança comercial que os fortaleça, mas que também possa afastá-los devido à concorrência em chegar a condição de um país de primeiro mundo que venceu o prejuízo colonial e chegou a tal estágio.
Se ambos possuem ou possuíram motivos suficientes para entrarem nos campos de batalha, mas que por razões de bom senso nunca chegaram a se enfrentar, resta o duelo nos campos de futebol em que o maior dano que pode acontecer é o aumento da intolerância, o sentimento de revanche, o dissabor de ver um gol de seu adversário e o amargor de uma derrota.
Marcelo Augusto da Silva - 22/08/08