quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O professor, o policial e o presidente.

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos.
Ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres...

Haiti – Gilberto Gil / Caetano Veloso

Obama caracterizou a ação da polícia de estúpida ao deter o professor negro Henry Louis Gates que fora surpreendido ao tentar arrombar a porta de sua própria casa que estava com problemas para ser aberta. Através de uma denúncia os policiais chegaram ao local e prenderam o professor, depois dele ter apresentado seus documentos, sob a acusação de desrespeito e por ter alegado que os policiais o trataram com discriminação.
Há várias questões a serem refletidas sobre esse incidente. Primeiro uma pessoa ligou para a polícia para resolver algo que provavelmente lhe levantou suspeita, pois o “suposto” arrombador era negro; se ele fosse branco alguém da vizinhança teria essa mesma desconfiança? Segundo: será que procede a alegação do policial de que o professor foi preso por ter o desrespeitado e o acusado de racismo; se na verdade foi isso que aconteceu não seria essa uma atitude coerente já que uma pessoa foi abordada na sua própria casa? Será que realmente os policiais pediram os documentos do professor para depois realizarem o seu trabalho?
Sabemos muito bem que nos países em que ocorreu a escravidão até hoje se vive as suas marcas, esse é um exemplo que mostra claramente isso, pois mesmo passado o tempo do cativeiro o negro carrega o estigma de ser visto com maus olhos. Nesse caso específico mesmo sendo dono da sua casa e sendo um renomado professor, esse indivíduo foi visto com preconceito. Além da ação discriminatória dos policias o professor também foi vítima de quem o denunciou, pois possivelmente a etnia da vítima foi um fator decisivo nessa hora.
Embora não sabendo como o fato realmente aconteceu é prudente de se afirmar que tudo isso pesou contra o professor, mostrando que a velha barreira do preconceito e do racismo ainda não foi em nada superada.
Ainda resta a terceira colocação sobre esse acontecido: o presidente do país, o primeiro negro na História daquela nação, que carrega consigo todos o sofrimento da exclusão que alguém de sua cor possui, inicialmente mostrou-se solidário e independente sendo favorável ao professor, como se ele fosse um representante de toda a comunidade negra que constantemente sofre esse tipo de ação, porém dias depois voltou atrás no seu pronunciamento e disse que deveria ter medidos as suas palavras e que houve exageros tanto da parte dos policias quanto do professor.
Certamente ele com sendo o chefe de governo deva ter cuidado com o que diz e agir então com diplomacia - considerando que a palavra “estúpida” é um tanto quanto inadequada, o que coloca aquele que a usa no mesmo nível daquele a quem foi dirigida - mas esse era um momento de manter o assunto na pauta, principalmente nesse momento em que muitos, principalmente os negros, acreditam nesse novo governo.
Há incontáveis casos, e muitos deles com provas inquestionáveis, que os atos de discriminação da polícia dos Estados Unidos, bem como a de outros países, acontecem com freqüência. Julgo que seria a ocasião dele reafirmar o que foi dito, amenizando o tom do termo empregado, e levar o caso adiante para quem sabe trazer a partir do seu posicionamento resultados positivos nesse sentido. Na década de 1960 o discurso a favor dos negros era direto e irrevogável. Que falta faz Martin Luther King.
Marcelo Augusto da Silva - 07/08/09