segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que restou da Mata Atlântica

Quando os portugueses chegaram ao Brasil em 1500 encontraram uma vasta floresta tropical que cobria 15% do seu território, ocupando toda a costa brasileira, do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e regiões interioranas. Trata-se da Mata Atlântica, considerada patrimônio nacional pela Constituição Federal e pelo decreto 750/93 e que no ano de 1999 um outro decreto presidencial instituiu o dia 27 de maio como Dia da Mata Atlântica, comemorado na semana passada.
Hoje do total dessa vegetação sobrou apenas 7% de sua cobertura original. A devastação começou já no início da colonização com a extração do pau-brasil e veio se mantendo ao longo desses 508 anos, apresentando uma intensificação no século XX com a ocupação desordenada e a urbanização. Atualmente a maioria da área litorânea que era coberta pela Mata Atlântica é ocupada por grandes cidades, pastos e plantações. Porém, ainda restam pedaços da floresta na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira, localizadas no sudeste do Brasil.
Dentre as regiões brasileiras que compõem o Bioma Mata Atlântica, o Nordeste é, sem dúvida, a área mais ameaçada de extinção. Ao longo da colonização, vários fatores influenciaram direta ou indiretamente na drástica redução da Mata Atlântica Nordestina: o relevo litorâneo pouco acidentado, a extração e a comercialização indiscriminada de madeira, a monocultura da cana-de-açúcar, a especulação imobiliária e, especialmente, a falta de políticas públicas voltadas à conservação dos nossos recursos naturais, que convergiram na extinção quase que completa das nossas florestas costeiras.
Embora fragmentada, a Mata Atlântica assume um papel estratégico em nossas vidas, já que contribui de forma decisiva na regulação climática, interferindo diretamente nas variações de temperatura, umidade e regime de chuvas, na fertilidade e proteção dos solos, encostas e, especialmente, garantindo a perpetuação de mananciais que abastecem as populações humanas em sua área de abrangência.
Esse ecossistema apresenta a maior biodiversidade do mundo - maior que a encontrada na Amazônia pois é favorecida pela grande amplitude térmica que possui - abrigando em seu interior milhares de espécies de plantas, fungos e animais, que se constituem num banco genético de valor imensurável. Muitas destas espécies são endêmicas, ocorrendo exclusivamente em determinadas regiões.
Atualmente com a forte atuação de ONGs e a maior conscientização sobre a importância desses ecossistemas para a vida do planeta espera-se medidas governamentais mais decisivas e eficazes em respeito à preservação e ao combate à devastação, para que assim se possa manter o pouco que restou da Mata Atlântica.

Marcelo Augusto da Silva - 06/06/08

Dia 23 de maio – um ensaio para o 9 de julho

Um dia após o Corpus Christi, uma importante data, ao menos para os paulistas, passou com quase nenhuma citação pela imprensa. O dia de tão significativo que é, dá nome a uma das principais ruas do centro de São Paulo, justamente por ter ocorrido lá o episódio que irá marcar o início da Revolução Constitucionalista de 1932.
De 1894 a 1930 o Brasil viveu um período republicano chamado café-com-leite, onde os presidentes eram eleitos em alternância entre os governadores dos estados de São Paulo e Minas Gerais, os dois considerados os responsáveis pela economia nacional, um desenvolvendo a cultura cafeeira e outro a pecuária, respectivamente. Todo esse esquema de revezamento era sustentado pelo coronelismo, que através da fraude eleitoral, garantia o acordo e a vitória nas urnas dos mesmos.
Enquanto essa prática desleal e abusiva acontecia descaradamente vários movimentos sociais rurais e urbanos explodiam pelo país, e as elites de outros estados, que sentiam-se lesadas pela escolha de apenas esses dois estados, começam a se articular.
A intolerância chega ao seu limite em 1930, ano que Getúlio Vargas e o movimento tenentista nascido no Rio Grande do Sul, resolvem invadir a capital do Brasil e pôr fim a um sistema não condizente com a moral nem com o contexto social e político da época. Vargas que fora candidato à presidente naquele mesmo ano, mas não conseguiu a vitória devido às fraudes, não aceita o resultado das urnas que elegem Júlio Prestes (um paulista que quebra o rodízio entre os dois estados) e invade o Rio de Janeiro para depor pelas armas o presidente Washington Luís ainda no exercício do poder, que diante da ameaça não oferece resistência e renuncia ao cargo. Vargas instaura um governo provisório, cujo representante é ele mesmo, acabando com o Congresso, as Assembléias Legislativas e depondo os governadores de estados, substituindo-os por interventores federais que governariam até a promulgação de uma nova Constituição. No entanto essa Constituição não vinha nunca, dando ao governo provisório um caráter permanente.
A insatisfação paulista era grande, uma por ter um interventor de outro estado no comando, irritando a elite cafeeira que perderia privilégios, outra pela demora na aprovação da Constituição.
No dia 23 de maio de 1932 quatro estudantes, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo morreram em um confronto com as tropas getulistas ao tentar invadir o prédio da Liga Revolucionária - organização favorável ao regime - nas esquinas da Praça da República com a Barão de Itapetininga. Eles viraram mártires e suas iniciais batizaram o MMDC, entidade civil que se tornou símbolo da revolução e que alistava voluntários civis para a luta contra Vargas, e a data de suas mortes batizou a rua.
Pouco depois desse acontecimento, mais precisamente no dia 9 de julho de 1932, explode a Revolução Constitucionalista de 1932, onde paulistas enfrentam as forças federais de Getúlio Vargas.
Marcelo Augusto da Silva - 30/05/08

Para não mais esquecer do dia 13 de maio

“se você soubesse o valor que o preto tem tu tomava um banho de piche, branco e ficava preto também...
ile ayê - Paulinho Camafeu

No dia 13 de maio desse mês, poucas pessoas sabiam, mas comemorava-se 120 anos da assinatura da Lei Áurea, que deu a condição de liberdade aos escravos.
O fato ocorreu em 1888, um ano antes da Proclamação da República, mas a promulgação da lei não foi um ato tão democrático e tão humano com parece demonstrar ou como o ensino formal transmitiu durante muito tempo.
Anos antes à assinatura da lei já havia no Brasil um atuante movimento abolicionista, que inspirado nos franceses e ingleses, defendia as liberdades individuais e contava com a participação de jornalistas, políticos, poetas escritores e artistas. Junto a esse movimento uma série de leis, que aos poucos vão limitando a escravidão, começam a ser aprovadas, como a Lei Eusébio de Queirós de 1850 que proibia o tráfico negreiro; a Lei do Ventre Livre de 1871, que concedia a liberdade às crianças filhas de escravas nascidas daquela data em diante e a Lei dos Sexagenários de 1885 que declarava livres os negros acima de 60 anos, lei que beneficiou principalmente os donos de escravos pois estes se livravam dos custos de manter um cativo idoso e enfraquecido pela exaustão, favorecidos ainda pela expectativa de vida de um escravo chegava aos 40 anos de idade em média.
Mas porque de um momento para outro o país começa a pensar em leis que, gradativamente, vão contribuindo para a abolição? A grande questão na aprovação dessas leis, bem como a própria Lei Áurea, está na interferência maciça da Inglaterra que havia realizado a sua Revolução Industrial e, pensando unicamente em seus lucros, precisava cada vez mais de consumidores para seus produtos, e como escravo não recebe salário, era urgente transformá-los em assalariados. Além do mais fazia parte da mentalidade européia e de boa parte dos proprietários de terras no Brasil que a mão-de-obra assalariada é muito mais rentável que a escrava, uma vez que não se investe capital na aquisição de um empregado, nem se compromete em alimentá-lo, vesti-lo ou garantir sua saúde e moradia.
Analisando esse aspecto constata-se que a Lei Áurea foi mais um mecanismo de proteção à camada privilegiada do Brasil e também do estrangeiro. No momento de sua promulgação não se pensou numa política de inclusão dos negros recém-libertos, muito menos em dar garantia ao trabalho, à renda e aos direitos de cidadão; isso é bem claro na aprovação da Lei de Terras de 1850, que proibia a aquisição de lotes de terras no país sem qualquer aviso prévio ou mesmo pagamento à Coroa, e como a abolição era iminente, era mais do que necessário limitar o acesso dos negros à principal fonte de renda do país naquele momento, condenando-os assim a viverem nos subúrbios das vilas e cidades brasileiras sem as mínimas condições dignas de existência.
Anos de espoliação, preconceito e humilhação não conseguem ser apagados com um documento, tal como foi a Lei áurea, onde sua assinatura serviu mais como um subterfúgio que inocentava e perdoava o Estado português e o brasileiro pelo massacre cometido aos negros. Mais de um século após a sua assinatura não representou a liberdade do negro, tampouco o seu reconhecimento e o seu valor.
Mais do que lembrar dessa data é preciso mudar o pensamento da humanidade e entender que, antes e acima de tudo, o negro é muito mais que uma força de trabalho que se entregou na construção do país; é muito mais do que uma etnia que formou o povo brasileiro. É na verdade, além disso, tudo um povo digno, possuidor de uma riqueza cultural infinita, dono uma sagacidade inigualável de se manter vivo - no sentido mais amplo da palavra - diante das atrocidades cometidas contra ele e que iniciou o século 21 mostrando ao mundo que diferenças entre pessoas estão somente nas mentes pequenas de quem acredita que elas existem.

Marcelo Augusto da Silva - 23/05/08

Hollywood está ressuscitando defuntos

Já faz algum tempo em que heróis estão sendo resgatados pelo cinema americano. Junto deles se vê também filmes que fizeram sucesso em outros tempos voltarem às telas com uma nova roupagem. Tivemos Batmam, Homem-Aranha, Incrível Hulk, Quarteto fantástico para exemplificar alguns heróis e também Poseidon, Os Infiltrados, Cidade dos Anjos, Halloween, Um Beijo a Mais, Alfie, O Sedutor, como exemplo de filmes refilmados.
Não é novidade para ninguém que o cinema estadunidense não passa de uma indústria do entretenimento com a finalidade de lucrar vendendo diversão. Mesmo sabendo dessa mentalidade é perfeitamente normal todo o tipo de pessoa assistir a essas produções como o intuito de se divertir apenas.
Hollywood sempre apresentou novidades no mercado cinematográfico, criando ídolos e modismos. Mas quem prestar atenção nos filmes em cartaz no momento e nos que ainda vão estrear vai ver uma grande quantidade de heróis a serem exibidos na tela grande, todos eles com aquelas grandes campanhas de divulgação, lançamento e tudo mais. No entanto nenhum deles são criações novas, todos são sucessos do passado que voltam a dar suas caras nos cinemas. Dentre aqueles que vão estrear temos Homem de ferro, Agente 86, Speed Racer, Indiana Jones.
Para quem viveu sua adolescência em outras décadas esses personagens são o que há de melhor no gênero. Sem dúvida que eles fizeram parte de uma geração e possuíam toda justificativa de existência dentro do contexto daquele período como, por exemplo, o Super-Homem, que na condição de defensor da América não escapou aos apelos do patriotismo onde na Segunda Guerra Mundial o super-herói formou junto com os soldados as fileiras contra o império nazista, a pedido do então presidente Roosevelt, as histórias deste período mostravam um Super-Homem no campo de batalha contra o inimigo nº1 - Hitler.
Mas por que será que não são criados novos personagens e heróis ultimamente? Os criadores perderam a inspiração ou é mais fácil pegar algo pronto no fundo da gaveta?
Toda essa onda nostálgica também pode ter sido impulsionada pelo sucesso de um filme como foi, por exemplo, o Homem-Aranha que bateu recordes de bilheteria e que possivelmente pode ter incentivado os estúdios a pegarem carona em personagens já existentes.
Se outrora havia uma ideologia a ser defendida ou divulgada, mesmo que fosse a exaustiva peleja entre o capitalismo (divulgada como o bem pelos estadunidenses) e o socialismo (associado por eles como uma personificação do mal), hoje também há algo a ser defendido pelos estúdios de Hollywood como a luta entre o ocidente e o terrorismo do oriente médio. Nesse ponto pode estar a explicação da não criação de heróis que vencem a luta contra os muçulmanos, já que a Cruzada organizada por Bush no Iraque tem causado tanta impopularidade a ele e a seu país que nem o cinema com todos os seus efeitos, recursos e atrativos vai conseguir mudar a opinião pública. Tendo essa teoria como princípio pode-se compreender então que é melhor o cinema recriar mitos do que tentar criar um que não vai convencer nem mesmo as crianças.
Marcelo Augusto da Silva - 16/05/08

Os biocombustíveis e o preço dos alimentos

O forte investimento em biocombústíveis vem causando uma grande polêmica a respeito do assunto. A produção do etanol é uma alternativa ao uso de combustíveis fósseis, é renovável e também diminui consideravelmente os problemas do aquecimento global, além de ser uma opção econômica para os países pobres da África e da América Central.
De acordo com essa afirmação a investida no setor teria todas as justificativas necessárias. Porém a elevação nos preços dos alimentos nos últimos meses vem resultando em várias críticas no cultivo de matérias-primas para a produção do etanol, e o Brasil foi um dos países a sofrer acusações, pois a produção de cana-de-açúcar brasileira vem a cada ano batendo recordes de produção onde o álcool, e também o açúcar, é exportado em grandes quantidades.
Organismos internacionais afirmam que a produção do etanol é a principal responsável pela o aumento nos preços dos alimentos e conseqüentemente pela fome mundial, que atinge 100 milhões de pessoas nos países mais pobres do mundo. A relação entre etanol e a alta dos preços é que a plantação de alimentos é substituída pela cana-de-açúcar para a produção do biocombustível.
No dia 02 de maio o novo relator das Nações Unidas para o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, pediu a suspensão imediata dos investimentos em biocombustíveis, que segundo ele é a única responsável pelo aumento nos preços, afirmando que as metas para a produção do etanol pelos EUA e União Européia são ambiciosas.
É claro que não se pode atribuir somente uma causa para o problema, se bem que a plantação da cana gera o plantio de um só produto e um desestímulo a outras culturas, pois muitos produtores arrendam suas terras para usineiros. Porém há também outros fatores que contribuem para esse cenário de elevação de preços.
Algo importante que vem acontecendo é que muitos países vêm reduzindo o número de pessoas pobres que até pouco tempo não tinham acesso a uma alimentação de qualidade; essa camada agora pode adquirir uma maior quantidade alimentos, e a produção mundial não acompanhou o aumento desses consumidores. Esse grupo de pessoas que por muito tempo não se alimentavam adequadamente vem consumindo cada vez mais a carne vermelha - que gasta uma enorme quantidade de cereais na sua produção - além de outros produtos como o arroz e o trigo. Há também o problema das alterações climáticas que interferem no plantio gerando muitas perdas, diminuindo assim a oferta de produtos e causando um aumento nos preços.
Se por um lado a produção de cana no Brasil pode gerar lucro para o país, ela pode gerar também sérios problemas como esse do aumento dos preços, além de outros como a monocultura, as queimadas, o trabalho exaustivo dos bóias-frias, e o fim das pequenas propriedades.
Pelo que se pode perceber o debate vai se estender por muito tempo e as acusações com certeza não vão parar de vir. Muitas delas são justas, outras são meras retaliações, pois o Brasil começa a se destacar como um grande “salvador” na questão energética mundial, o que causa certo incômodo aos países ricos. E como disse o comentarista econômico Vicente Golfeto “não se chuta cachorro morto”.

Marcelo Augusto da Silva - 09/05/08

As comemorações do 1º de maio

No dia 1° de maio comemora-se o Dia Mundial do Trabalho. O feriado tem o significado de relembrar e homenagear a classe trabalhadora e a sua luta diária. A data é celebrada em diversas partes do mundo, algumas com protestos e manifestações contra as más condições de trabalho; outras com festas e shows, assim como é no Brasil, em que os sindicatos organizam esse tipo de evento fazendo com que o trabalhador de divirta nesse dia e não reflita nem questione sua situação. Mas quando surgiu o Dia do Trabalho?
Depois de mais de 100 anos da Revolução Industrial (processo em que houve o emprego de máquinas na produção de mercadorias) o proletariado, ou seja, a classe trabalhadora ainda estava desorganizada, fato que contribuía com os patrões para explorarem ainda mais os seus empregados, pagando-lhes salários irrisórios com longas jornadas de trabalho e sem as mínimas condições de saúde ou segurança. No entanto, com o passar do tempo, a classe operária começa a se articular e a exigir seus direitos, o que conduz os países europeus como a Inglaterra (a precursora da Revolução Industrial), França e Alemanha a reconhecerem vários direitos trabalhistas, processo que não ocorria nos Estados Unidos.
A intransigência dos industriais estadunidense leva o proletariado a promover vários protestos e greves pelo país com o intuito de conquistarem seus direitos. No dia 1º de maio de 1886 acontece em Chicago - o principal centro industrial dos EUA naquela época - uma greve geral em que houve um confronto entre manifestantes e a polícia resultando na explosão de uma bomba que deixou quatro manifestantes e três policiais mortos. Oito líderes do movimento foram presos, sete condenados à morte e um à prisão perpétua. Em 1889 um Congresso Socialista em Paris escolheu a data em homenagem a estes trabalhadores, institucionalizando assim o Dia Mundial do Trabalho.
Hoje passado mais de 250 anos da Revolução Industrial e mais de 120 anos desse episódio nos EUA a relação entre patrão e empregado teve uma significativa melhoria. No entanto a baixa oferta de empregos da atualidade faz que muitos trabalhadores abram mão de seus direitos para preservarem-se no trabalho, condição que é ainda mais desfavorável em países como Filipinas, Vietnã, Indonésia, Tailândia, que se industrializaram como o capital estrangeiro, uma vez que grandes empresas multinacionais e transnacionais se instalaram nessas regiões, pois são considerados como áreas “economicamente viáveis”, já que o desemprego é para elas a condição favorável para se conseguir maior lucratividade, livrando-se do pagamento de direitos ou indenizações trabalhistas. Em alguns desses países o salário mínimo não chega a 1,80 dólar por dia; as jornadas de trabalho são de 15 a 16 horas por dia; mulheres são separadas de suas famílias e obrigadas a viverem em alojamentos tornado-se escravas virtuais, proibidas de deixarem as instalações das fábricas sem um passe especial; adolescentes trabalham sem nenhuma garantia ou amparo da lei; e os sindicatos sequer existem nesses países.
Do século XIX até os nossos dias muita coisa melhorou em relação às condições de trabalho, mas não a ponto de se comemorar uma grande vitória, ainda há muito a ser feito a favor da classe proletária.

Marcelo Augusto da Silva - 02/05/08

Onde estão nossos verdadeiros heróis?

No dia 21 passado o Brasil comemorou o Dia de Tiradentes. Nada melhor para o povo que um feriado, ainda assim como esse na segunda-feira. É dia de descanso, passeio, viagem, enfim, uma oportunidade de quebrar a rotina do trabalho.
Porém muitas pessoas, inclusive os estudantes, não sabem, e nem tem interesse em saber porque nesse dia é feriado, apenas desejam desfrutar a data.
Elevado à categoria de herói da nação, Tiradentes foi um dos integrantes dos inconfidentes mineiros, grupo que no final do século XVIII, impulsionados pela cobrança exagerada de impostos e pelas restrições que Portugal impunha à colônia, organizaram um movimento de independência. A malograda revolta resultou na prisão e no exílio dos envolvidos, cabendo à Tiradentes a pena capital, que serviu como exemplo a outros possíveis movimentos emancipacionistas.
Contudo só depois de muito tempo, já na República, é que o alferes foi consagrado a tal categoria. Sem dúvida a Inconfidência Mineira e sua participação foram notáveis, embora seus integrantes mesmo aspirando os ideais da Revolução Francesa e a independência, defendiam interesses próprios. O título de herói da República também lhe cai bem, uma vez que ao tentar se libertar de Portugal certamente o Brasil passaria a adotar um sistema republicano.
Mas será que Tiradentes foi o único brasileiro a lutar pelo país ou a tentar promover alguma modificação nas estruturas econômicas, sociais e políticas do país? E os tantos outros que perderam suas vidas também buscando um ideal coletivo.
Todos precisam de um herói, seja ele real ou fictício. É na figura heróica que o ser humano busca apoio, inspiração, motivação. Heróis nascem, não são criados; eles surgem a partir do imaginário popular e vão tomando dimensão até se transformarem em mito, em figura lendária. Se Tiradentes foi criado como herói e o país passou a reservar um dia à sua memória por outro lado essa iniciativa parece hoje ter perdido ainda mais o seu sentido. Por outro lado atualmente ninguém tem como herói alguém que lutou corajosamente para conquistar a liberdade do seu país. Hoje os heróis, as figuras que povoam a mente dos brasileiros, são meras pessoas comuns e vulgares que conquistam a notoriedade por causa da mídia. São pilotos de corrida, jogadores de futebol, atores e atrizes, emergentes que se envolvem em causas sociais para ganhar destaque e toda a corja egoísta e individualista que ganha vulto graças à televisão. Se Tiradentes tinha um ideal a buscar o que buscam os “heróis” de hoje?
Se é para lembrar de heróis, que nenhum fique esquecido. Salve Lamarca, Chico Mendes, Antonio Conselheiro, João Maria, Marighela, Vladimir Herzog, e todos aqueles que morreram no anonimato em prol do bem da nação, os nossos verdadeiros heróis.

Marcelo Augusto da Silva - 26/04/08

Da diversão à dependência

A sociedade mundial passa por diversas transformações, muito rápidas e muito significativas, em um curto espaço de tempo. Na mesma rapidez que o tempo parece passar a tecnologia cria inovações a cada momento e o comportamento humano inevitavelmente, ou por que não dizer lamentavelmente, acompanha essa transformação.
É comum vermos muitas pessoas dependentes de várias substâncias, ou de várias coisas; não é raro também ver muitas pessoas angustiadas e aflitas, parecendo não se encontrar em qualquer lugar ou situação. O mais preocupante é que uma parcela jovem da sociedade compõe esse grupo.
É obvio que a tecnologia trás muitos benefícios e conforto ao indivíduo e à sociedade, mas também ela tem seu lado maléfico e muitas vezes destrutivo. Um exemplo desse malefício já pode ser constatado em alguns países como Alemanha, Coréia do Sul, Holanda e EUA em que está em pleno funcionamento clínicas especializadas no tratamento da dependência de jogos eletrônicos.
Se num passado não muito distante as crianças e os adolescentes mal tinham a preocupação em saber o horário do dia, e o quintal ou a rua era a parte principal de seu mundo, hoje eles estão cada vez mais aprisionados diante da televisão ou do computador, seja assistindo algum programa, ou entretido em algum jogo muitas vezes violento.
Se podemos apontar como algum exemplo de benefícios da tecnologia a invenção de aparelhos médicos que salvam muitas vidas ou na integração entre as pessoas que a comunicação atual possibilita, o vício das crianças e dos jovens pelo computador e pelo vídeo game é um dos seus grandes malefícios.
Atrás dele vem muitos outros problemas relacionados como a falta de estudo, o isolamento, o mau uso da língua, a violência etc. Cada vez mais as crianças estão se fechando dentro de seus quartos e mergulhando no mundo da fantasia proporcionado pela indústria eletrônica, deixando assim de se relacionar, viver outras emoções, descobrir o mundo ao seu redor. Uma situação em que um divertimento vira um vício e um transtorno para a pessoa e para a família deve ser encarado como algo muito sério.
No Brasil essas tais clínicas ainda são novidades e como o país não investe em pesquisas, não se sabe o número exato de crianças e jovens que estão apresentando um quadro de dependência dos jogos eletrônicos, mas observando o comportamento das pessoas dessa faixa etária é suficiente para concluir que por aqui a situação também é séria.

Marcelo Augusto da Silva - 19/04/08

Eternos sucessos, novos hits

As pessoas que apreciam um estilo musical diferenciado daquele difundido pelas rádios comerciais ou daqueles que estouram como um grande sucesso efêmero, sabem que o lugar indicado para encontrar suas músicas sendo executadas não é na televisão, pois a idéia das emissoras é conquistar o público para assim atrair os anunciantes, e obviamente, a grande massa não tem muita proximidade como uma MPB ou mesmo uma Bossa Nova.
Mas um fato curioso acontece com os temas de abertura das novelas da Rede Globo, pois muitos deles não são canções passageiras compostas e interpretadas por músicos ou bandas medíocres, criadas somente para o momento pela industria cultural para lucrar enquanto o sucesso dure, muito pelo contrario, grandiosos compositores brasileiros desfilam pelos horários em que as novelas são exibidas, trazendo uma luz nas trevas da imbecilidade.
Muitas dessas músicas não são obras recentes, mas sim composições que foram gravados a alguns anos e que voltam a serem executadas, o que leva muitos pensarem que trata-se de uma nova canção. Tais músicas rapidamente conquistam o gosto de várias pessoas, fazendo com que elas se propaguem com facilidade, tornando se um novo hit.
Na página
www.teledramaturgia.com.br encontra-se disponível todas as trilhas de todas as novelas da Rede Globo. Lá é possível conferir todo o repertório das novelas e pode-se observar que excelentes canções e interpretações fazem parte não só da abertura, mas também de temas de alguns de seus personagens.
Só para citar alguns exemplos já participaram – somente da abertura das novelas das oito – magníficas composições como Corcovado e Pela luz dos olhos teus de Tom Jobim, Encontros e Despedidas de Milton Nascimento, Wave de João Gilberto (que fez parte da trilha de duas novelas), Você é linda de Caetano Veloso, E vamos à luta de Gonzaguinha, Sábado em Copacabana de Milton Nascimento, entre outras.
Algo interessante que se nota é que alguns compositores e intérpretes se incluem em várias trilhas, podendo-se supor que suas gravadoras devem ter uma espécie de “acordo” com a Globo, tornando constante a sua participação nas trilhas sonoras. Isso é bem provável, pois quando um artista assina um contrato com determinada gravadora a sua obra deixa de ser sua e passa a ser de propriedade da gravadora, dando a ela a autoridade de vendê-la a novelas, filmes e exigir que o artista se apresente em determinados programas televisivos, mesmo que ele não concorde com isso ou mesmo que ele não aceite o local em que sua obra seja veiculada.
Incoerente é ouvir tão refinadas composições musicais em produções televisivas tocas e pobres assim como são as novelas, porém há um lado positivo, pois dessa forma trazem a muitas pessoas grandes obras musicais que possivelmente elas não teriam a oportunidade de ouvir.

Marcelo Augusto da Silva - 12/04/08

O trânsito problemático de nossa cidade

A partir da década de 90 as cidades do interior do país assistiram uma mudança muito grande em relação à sua organização e à sua expansão. O que era algo pertencente aos grandes centros urbanos passou a fazer parte também de pequenas cidades como a violência, desemprego em massa, tráfico de drogas, aumento nos níveis de poluição, trânsito caótico, prostituição, etc. A globalização e o progresso acelerado tomou conta de nivelar muitos municípios num mesmo patamar, mudando apenas os níveis de ocorrência desses fatores.
São José do Rio Pardo não foi uma exceção nesse rápido desenvolvimento urbano; a cidade pode ser não ter se tornado grande em número de habitantes nem em ofertas de oportunidades de lazer, entretenimento ou empregos, mas apresenta um grande problema quanto ao número de veículos e um complicado trânsito.
O comportamento social atual está estritamente ligado à posse e ao uso de um automóvel; pessoas que se deslocam para lugares próximos utilizam o veículo; em boa parte das residências o número de carros é praticamente o mesmo do número de moradores. A facilidade de crédito, a ânsia das indústrias em ganhar mercado e a ostentação da posse de um bem móvel, determinou um número muito grande de carros trafegando pelas ruas que, obviamente, são as mesmas e do mesmo tamanho. São José deixou há muito tempo de ter a característica de cidade do interior, ao menos na questão do trânsito, e passou a ter um típico de cidades grandes, com um número de carros absurdamente alto, lentidão, aborrecimento dos motoristas e lentidão na locomoção.
Diante desse quadro deveria se mobilizar ao máximo para criar soluções que possam amenizar o problema. Se o número de carros vêm aumentado consideravelmente nos últimos anos, o mínimo que deveria ser feito era adequar o trânsito (sinalizações, rotatórias, estacionamentos) ao números de carros correspondente, mas pelo que se vê as propostas de solução caminham tão lentas quantos os veículos nas ruas do centro num sábado de manhã.
A criação da zona azul como forma de aumentar as vagas não foi suficiente, agora o motorista continua rodando os quarteirões em busca de uma vaga e quando finalmente a encontra tem que pagar pelo seu uso; o local do ponto de circular atrás da Matriz pode ter sido uma boa escolha há 20 anos atrás, mas hoje é problemático para os motoristas de carros e circulares e também para os usuários, e quando de cogitou em transferi-lo para outro local logo a solução foi boicotada (possivelmente por alguém ou grupo com interesses próprios); a colocação de vários semáforos também mostrou-se ineficaz, pois nos dias de grande fluxo os mesmos se abrem, mas os carros continuam parados; a sinalização também deixa a desejar, só para citar alguns exemplos temos a entrada do Hospital, o encontro da Av. Euclides da Cunha com a Perimetral e a Dr. João Gabriel Ribeiro, a rotatória de entrada da cidade que continua com as obras paradas e numa situação pior que estava antes, a rotatória entre a Av, dos Lírios e a Perimetral, sem contar as bicicletas - que são considerados pelo Código de Brasileiro de Trânsito como meio de transporte não motorizado - que fazem das calçadas, exclusivas dos pedestres, a sua vias de tráfego colocando em risco a vida de quem delas utiliza, principalmente de crianças e idosos.
Apontar as falhas do sistema e cobrar as mudanças logicamente não bastam para amenizar a situação, além disso, é preciso que junto a elas os motoristas tenham mais respeito com o trânsito e com os pedestres, respeitando a sinalização, as faixas, dirigindo com atenção e dentro dos limites de velocidade.
Se não há como fugir do progresso ao menos deve-se fazer o possível para que ele não seja tão incômodo quanto tem sido.

Marcelo Augusto da Silva - 29/03/08

Aquilo que não é favorável às mulheres

Logo em seguida à comemoração do Dia Internacional da Mulher, foi divulgada ao mundo todo a notícia de que o governador de Nova York, Eliot Spitzer, conhecido pelo apelido de "Eliot Ness" por sua cruzada contra o crime, estava envolvido numa rede de prostituição; um episódio que vai na contramão do significado do dia 08 de março.
Mas afinal o que tem a ver esse fato como o Dia Internacional da Mulher? Pois bem, a institucionalização da data serve não só para lembrar que as mulheres existem, mas sim como um momento em que se deve parar e refletir sobre o seu papel e a sua importância como ser humano e como ser sociável; bem como comemorar as suas conquistas após anos de subjugação e mostrar que ainda há muito preconceito que deve ser rompido em relação às mulheres. Acontece que não é a primeira vez na história recente dos EUA que um homem público é apontado por estar envolvido em um escândalo sexual, e esse último, assim como os demais, levou a esposa ao seu pronunciamento de pedido de desculpas na televisão, ficando a cônjuge ao lado do marido acusado. Tal atitude transmitiu uma imagem passiva, conformista e submissa do sexo feminino, na qual a mulher deve aceitar essa condição com toda resignação, ou então que o papel dela é submeter-se aos “deslizes” masculinos ficando sempre com seu companheiro mesmo em situações extremas como essa. A cena mostrou uma posição incondizente da mulher atual. Esse certamente não é o modelo de comportamento que as mulheres do mundo esperam ver.
O envolvimento de políticos estadunidenses em escândalos sexuais já não é novidade. A esse último caso junta-se o do Senador republicano pelo Estado de Idaho, Larry Craig que renunciou ao cargo após ser acusado de ter assediado um policial à paisana no banheiro de um aeroporto dos Estados Unidos; o Senador republicano David Ritter, que confessou ter sido cliente de um serviço de acompanhantes na capital dos Estados Unidos; o Deputado republicano Mark Foley, que foi acusado de enviar e-mails de conteúdo sexual para menores de idade; o Deputado republicano pela Califórnia Randy “Duke” Cunningham, que foi encontrado acompanhado por prostitutas em um hotel de luxo no Havaí; e o mais popular que é o do Presidente democrata Bill Clinton, que chegou a passar por um processo de impeachment, depois de mentir sobre suas relações com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton perdoou o presidente, e atualmente é pré-candidata democrata à presidência do país.
Acobertando essa enxurrada de casos de má conduta estão os valores que formaram a nação dos EUA que sempre foi arraigado na doutrina religiosa do puritanismo, cuja essência é valorizar ao máximo o capital - expressa na teoria da predestinação absoluta - na propriedade privada e na família. Porém essa última é uma falsa moral divulgada pelo país, que é evidenciada constantemente em momentos como o da semana passada. Já não há mais como negar que essa característica nunca fez parte do povo norte-americano.
É justo que numa acusação se dê a oportunidade de retratação, tentativas de explicação ou até pedido de desculpas do envolvido, mas o que se viu com o governador de Nova York na verdade foi a velha tentativa de jogar a sujeira debaixo do tapete, usando a figura feminina para encobrir a falta de decência.
Não é de se estranhar todo esse machismo e conservadorismo estadunidense, pois o país sempre manteve uma posição contrária a movimentos sociais, principalmente aqueles promovidos pelas minorias excluídas. Foi assim com o movimento liderado por Martin Luther King que promoveu uma luta pelos direitos civis dos negros; foi contrária aos apelos de paz da juventude dos anos 60, e foi intolerante como Jonh Lennon, que protestou contra a intervenção norte-americana no Vietnã, que acabou culminando com uma tentativa de extradição do músico. Justamente num momento em que as mulheres, que não são uma minoria, estão conseguindo como muita luta e sofrimento conquistar a sua posição e o seu reconhecimento, essas cenas insistem em contradizer o ideal quase alcançado.
Em nome da preservação do poder e de valores arcaicos, questões muito mais relevantes estão sendo sufocadas para a manutenção da aparência de uma sociedade que desde a sua formação foi podre no seu interior.
Marcelo Augusto da Silva - 22/03/08

O passado e o presente de Cuba

Depois de 49 anos no poder, Fidel Castro renunciou ao governo de Cuba no qual Raúl Castro, seu irmão, foi nomeado como presidente interino.
Alguns anos após a Revolução Cubana de 1959 em que Fidel toma o poder e expulsa Fulgêncio Batista - um governante corrupto e violento aliado aos EUA e que juntos tornam o país num cassino e num bordel mantido para exploração e divertimento de pessoas e grupos capitalistas estadunidenses – é implantado pelo líder revolucionário o modelo econômico socialista no país, alinhado à extinta União Soviética, que no período era uma grande potência bélica e econômica.
O fato da implantação do socialismo resultou numa paranóia na vida dos países capitalistas americanos, e até de outras localizações, que viam em Cuba um modelo a ser seguido por outros países do mesmo continente. Os EUA começaram a agir logo em seguida, manipulando meios de sufocar a Revolução Cubana, decretando um embargo econômico ao país, que dura até hoje, e iniciando o apoio a golpes militares em vários países da América do Sul, inclusive o Brasil.
Passados vários anos, o antagonismo e a rivalidade entre capitalismo e socialismo se findam com a queda do Muro de Berlim, e a posterior abertura econômica soviética juntamente com sua transição para o capitalismo. Mesmo diante desse quadro de insegurança e incerteza Cuba continua adotando o socialismo e, que apesar das contradições e dos boicotes de seus opositores, mantém hoje o país com um extraordinário IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), pois apresenta um dos menores níveis de analfabetismo, mortalidade infantil e maiores índices de expectativa de vida, provando que a ilha é um exemplo de autonomia e qualidade de vida frente à dominação capitalista, mostrando também que o socialismo é uma sistema econômico que pode dar certo.
Mesmo com uma política de embargo econômico e várias dificuldades enfrentadas pelo país, inclusive a forte oposição, Fidel continuou com a sua Revolução, apesar de adotar critérios não muito convencionais, justos e aceitáveis como censura, expurgos e execuções.
Se “toda revolução leva a uma ditadura”, Cuba representa uma expressão viva desse pensamento, que se justifica na necessidade de haver um rigor interno para que a mesma se mantenha, e nem que haja interferências externas e oposicionistas que venham a minar o seu ideal.
Agora como o afastamento de Fidel a situação continua imprevisível no país, a começar pela substituição definitiva do governo, e a difícil execução desse cargo, já que há dúvidas se Raúl Castro terá a mesma eficiência que Fidel tinha no comando e também se não é uma oportunidade de outros grupos ou mesmo de outros países interferiem no processo e acabar com um dos poucos paises que adotam o sistema socialista no mundo.
Muitos viam na debilitação de Fidel um momento de vê-lo longe do governo; outros temiam por esse dia pois pode ser o fim da Revolução. Até agora, pelo que se sabe, tudo permanece incerto como sempre esteve. Somente o futuro é certo, ou seja, não se sabe o que ele reserva.
Marcelo Augusto da Silva - 15/03/08

Todos os prêmios ao Cinema Nacional

Todo o começo de ano existe uma expectativa muito grande na mídia e entre os apreciadores de cinema aguardando a notícia sobre a participação do Brasil no Oscar na categoria “melhor filme estrangeiro”.
A premiação americana foi criada somente para a participação de suas próprias produções e também como uma forma de divulgação de seus filmes, que há muito tempo deixaram de ser uma arte e se transformaram em produtos comerciais industrializados, com o objetivo de aumentarem seus lucros e dominar outras nações através da venda da sua imagem e da sua cultura.
Como os EUA exercem forte influência sobre outras nações, facilmente seus filmes são espalhados e vistos pelo mundo, encontrando pouquíssimas produções de outros países nas salas de cinema e nas locadoras.
O cinema do Brasil, que é escrachado por muitos, e teve sua imagem comprometida pelo período entre as décadas de 70 e 80 devido às pornochanchadas (produções cinematográficas feita às pressas e com poucos recursos, cujo foco principal era o erotismo ou a pornografia), se encontra numa posição muito inferior se comparado às produções americanas, pois os filmes lançados não tem espaço nas salas de exibição e as locações tem um número insignificante.
As produções cinematográficas brasileiras de uns anos para cá têm revelado grandes diretores e grandes obras com roteiros criativos, sensíveis, críticos e inteligentes - além de contar com ótimos atores - bem superiores à mesmice violenta e tola americana, onde de tão repetidas as tramas que basta assistir os minutos iniciais dos filmes que já se sabe o final.
Mesmo com todo esse avanço e talento do cinema nacional ele patina quando o assunto é abrangência de público. A influência americana é tão forte que o seu Oscar serve como julgamento ou parâmetro para nossos filmes. Certamente não é necessário um estrangeiro dar o aval para nossas produções e determinar se o filme é bom ou não devido ao fato dele ter sido escolhido para participar de sua premiação.
Por que não ter mais independência e nacionalismo e buscar valorizar filmes que são nossos e que possuem a mesma qualidade dos americanos? Por que não assistir nossos próprios roteiros que mostram uma temática cujo conteúdo tem um nível muito mais elevado do que os “enlatados de USA?” Por que ter vergonha ou preconceito do que é nosso?
Somente nos últimos anos o Brasil brilhou com várias produções como O ano em que meus pais saíram de férias, O amor maior do mundo, O magnata, Não por acaso, Saneamento básico, o filme, Árido movie, O homem que desafiou o diabo, Brasília 18%, Meu nome não é Johnny, entre tantos outros. Por que não trocar os filmes americanos e conferirmos o que temos de bom. Fica a dica a quem deseje comprovar.

Marcelo Augusto da Silva - 08/03/08