“A democracia fundada sobre a igualdade absoluta é a mais absoluta tirania”
Cesare Cantú
Desde que os EUA invadiram o Iraque em 2003 sob a justificativa mentirosa que a intervenção era necessária porque Saddam Hussein, o ditador que controlava o país, possuía armas de destruição em massa, o país e a sua população foram subjugados e colocados num nível de subserviência e total controle. Em outras palavras foi tirado um ditador e colocado outro em seu lugar, este travestido de bom moço, que camufladamente dá as cartas no país.
É bom lembrar que a presença estadunidense no Iraque acontece devido aos poços de petróleo iraquianos, importantíssimos para o país do Tio Sam, totalmente dependente dessa fonte de energia. Por conta disso os EUA passaram por cima da determinação da ONU, entraram no território estrangeiro e lá permanecem, impondo o seu modo de vida e barbarizando o país.
Hussein foi enforcado de acordo com a sentença de um tribunal especial no Iraque, acusado de crimes de guerra e genocídio contra os curdos, minoria étnica que habita o Iraque. Se um líder é condenado pela morte de várias pessoas, porque Bush não se enquadra então nessa mesma categoria e não é também julgado pelo Tribunal Penal Internacional, uma vez que só a invasão ao Iraque resultou até agora na morte de 90.000 civis iraquianos, além do fato dos soldados americanos promoverem uma carnificina contra a população cometendo assassinatos com os mais altos requintes de crueldade, torturas, estupros, violação e sodomização de adultos e crianças; sem contar nos órfãos e viúvas que padecem a cada dia, condenados assim como todos a minguarem numa situação de caos, miséria e insegurança.
A atitude do jornalista Al Zaidi no domingo dia 14 certamente entrou para a História - não aquela contada através de uma minoria como é o caso de certos figurões que sempre são lembrados e exaltados pelo quase nada que fizeram - mas sim pela maioria, não apenas de seus conterrâneos, mas por todo um conjunto de pessoas do mundo que penam com a dominação estadunidense. Domínio que penetra sorrateiro e disfarçado através das formas mais baixas e nojentas como a dependência econômica, a dominação cultural e a imposição de seu modo de vida fútil, insano, frustrado e frágil que se mostra agora refém de si próprio devido à crise que afeta o país.
Al Zaidi é o tipo de pessoa que honra a própria origem humana, que desafia as ordens impostas, que demonstra abertamente a sua posição e nela se fortalece; ergue sua própria bandeira e enfrenta destemidamente um grupo de pessoas que descende de uma espécie vil e rastejante acostumada a se julgar superior. Por menor que sua atitude possa parecer ela é digna de alguém com princípios morais que não se curva perante o autoritarismo e a exploração de um povo cujo líder não passa de um tirano arrogante, mesquinho e demente.
Pequena no gesto, mas grande no seu significado, a sapatada do jornalista contra Bush, que segundo a tradição local é a maior ofensa contra uma pessoa, mostra que nem todos se retraem diante dos estadunidenses. Ela acima de tudo simboliza o quanto insatisfeita e contrariada está boa parte da população mundial, e que com o tempo e de uma maneira decente e pacífica este estágio poderá se inverter. É a flor vencendo o canhão.
Marcelo Augusto da Silva - 26/12/08