quinta-feira, 14 de abril de 2011

O Rio continua o mesmo

Nessa semana fui assistir “Rio”, a nova animação dos estúdios da 20th Century Fox, que estreou no dia 08, e que nosso cinema nos deu a oportunidade de ver a obra simultaneamente com todo o Brasil, já que sua estreia nacional foi nessa data. Dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, que foi o responsável pelo sucesso “A Era do Gelo”, o filme conta a história de uma arara-azul, que capturada quando filhote numa mata brasileira, é vendida para o exterior e volta ao país depois de uma década e meia. O diretor afirmou em várias entrevistas que há tempos tinha o sonho de fazer uma animação em homenagem ao seu país e retratar nele o cotidiano de sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Normalmente surge nas produções afora uma ou outra que menciona o Brasil, mostrando ele a partir de uma visão estereotipada da nossa realidade. Nada de se estranhar, já que esse olhar vem do outro, mas confesso que no caso de “Rio” julguei que a narração seria sob outro foco, partindo da idéia de quem está por trás de sua realização aqui nasceu e se diz orgulhoso disso. No entanto a trama mantém aquele velho padrão “preconceituoso” de ver o Brasil; aquele cuja essência é resultado da fórmula “favela, carnaval, futebol e bandidagem”. Embora dessa vez nenhum ser humano foi retratado como ladrão, esse papel desprezível coube a um bando de macacos que assaltam turistas no Cristo Redentor, junto com eles se somam os traficantes de animais que aqui vivem e abastecem o mercado negro desse segmento no exterior (que muito lembraram os traficantes de drogas), menores carentes que caem na marginalidade, e a feiúra da favela se mesclando à beleza colorida do carnaval carioca. Mesmo com alguns personagens bem engraçados e com aquela aventura típica já conhecida, creio que “Rio” poderia ter mostrado um Brasil pouco menos padrasto do diretor que hoje brilha no mundo, mas sim ter se revelado como a ‘’mãe gentil” de muitos. Em certas cenas tive a impressão de estar vendo o mesmo Brasil pintado pejorativamente em outras obras, como foi o caso de um episódio da série “Os Simpsons” em que a família veio para cá - cuja ocasião de sua exibição foi tão comentada e tão polemizada – e mostrava o país carnavalesco de sempre e como um antro lascivo, irresponsável e criminoso. Não querendo que a realidade seja mascarada, nem muito menos jogar a sujeira debaixo do tapete, penso que a retratação brasileira poderia ser de outro jeito, e que contasse ao mundo que aqui há sim praia, carnaval e problemas sociais, mas ao mesmo tempo mostrasse as qualidades e as virtudes naturais do país e de seu povo.


Marcelo Augusto da Silva - 14/04/2011