quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sobre Cabral e Tiradentes

“Naquele Brasil antigo, perdido no desengano / Seu Cabral chegou nadando, e não se preocupou com nada / Deu ordem à rapaziada, mandou varrer o terreiro / ‘Me chame o pai do chiqueiro, que hoje eu quero forró, que eu já virei brasileiro’"
Fuá na casa de Cabral – Mestre Ambrósio
Durante essa curta semana muitos alunos e amigos me questionaram o porquê de se comemorar somente o Dia de Tiradentes no dia 21 e não o Descobrimento do Brasil no dia 22. Antes de responder a essa questão queria lembrar que os equívocos cometidos pela Historiografia (que significa, a grosso modo, a história da História) estão aos poucos sendo suprimidos por um novo enfoque dado aos acontecimentos. A comemoração dessas datas, ainda bem, não veio a ser um equivoco, já de início foi dado o devido valor a cada uma delas.
Sobre o 22 de abril o erro já começa pelo nome do fato. Sabe-se que o Brasil não foi descoberto, pois aqui havia milhares de pessoas habitando esse território, porém o que aconteceu foi uma invasão dos portugueses que, com sua arrogância e brutalidade roubaram, pilharam, mataram, mutilaram, escravizaram, estupraram, sodomizaram e se apossaram daquilo que não era seu.
Pior do que classificar os portugueses como descobridores, é considerar o 22 de abril como a sua chegada aqui, pois na verdade ela só existe para oficializar o controle de Portugal sobre nosso país, já que é certo que a Coroa sabia que desse lado do Atlântico havia terras, e naquele momento elas eram extremamente essenciais para abastecer o reino com ouro e impulsionar o mercantilismo, a prática comercial da época.
Era tão clara a existência das Américas para a Europa antes de 1500, que em 1494 –seis anos antes dos portugueses terem chegado aqui – as terras do novo mundo foram dividas entre Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas, cabendo a Portugal a porção leste e a oeste à Espanha. Do contrário será que os portugueses então aceitariam um acordo se não tivessem a certeza de que aqui havia algo que lhes interessasse?
Então o dia 22 e a história fantástica em que Cabral, ao enfrentar uma tormenta nas proximidades do litoral africano na ocasião em que navegava em direção às Índias, teve sua frota “acidentalmente” desviada e sem nenhuma intenção aportou no nosso litoral só serviu para mascarar aquilo que já era sabido por muitos na época.
Devido a todos esses fatos é que certamente não se deve lembrar do dia 22 de abril como um dia glorioso e marcante, mas sim apenas como uma alusão ou até mesmo uma simbologia do momento da chegada oficial dos portugueses, o que para nós não foi glória ou privilégio algum.
No entanto o Dia de Tiradentes já se trata de uma data significativa pois nela se comemora a Inconfidência Mineira, ou seja, um movimento de libertação do Brasil da condição de colônia de Portugal, a partir do estado de Minas Gerais.
Inspirados nos ideais do Iluminismo, mas embora sendo um levante elitista, a conspiração mostrou a insatisfação da colônia perante a exploração e arbitrariedade do governo português em relação à extração do ouro na região, a principal economia do período. Sufocado com violência pelas tropas metropolitanas, a tentativa de rompimento de dependência culminou com o confisco de bens dos envolvidos, exílios e o enforcamento de Tiradentes no dia 21 de abril de 1792, o único executado.
No que diz respeito à importância de datas históricas, esta sim merece o reconhecimento e um feriado em sua homenagem, pois se uma marca a dominação de um povo sobre o outro, obviamente não merece ser reconhecida; mas a que marca a tentativa do fim desse domínio merece sim ser lembrada. Ou melhor dizendo deve servir de referência para que o Brasil hoje não continue sendo uma colônia dos paises dominantes atuais, onde estes, mesmo que não se apoderem de nossas terras, fazem isso de uma outra forma, sutil mais igualmente perigosa, nos trazendo uma dominação econômica e cultural, as quais infelizmente estamos vulneráveis.
Marcelo Augusto da Silva - 24/04/09