quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nos tempos das caças às bruxas

Sempre comento a respeito das mudanças conquistadas pela sociedade de um modo geral e o resultado positivo que elas proporcionaram; recentemente falei sobre a alteração no comportamento dos jovens atuais e o seu progresso em relação às gerações passadas. Porém o tratamento dado à estudante de Turismo da Uniban abalou muitos e me levou a uma outra interpretação do que se passa na mentalidade das pessoas, principalmente dos jovens.
Vivíamos anteriormente uma época de repressão e preconceitos que finalmente vemos (ou víamos) ultrapassada, onde as liberdades são de certa forma respeitadas e a vontade própria prevalece. Mudaram-se as estruturas de acordo com a alteração do comportamento e dos costumes que numa linha evolutiva inevitavelmente acontece, embora uma mudança não implique numa inversão de valores. Se ontem o jovem era massacrado, excluído e recriminado pelo pouco que queria fazer, essa situação ocorrida na unidade da faculdade de São Bernardo do Campo mostrou que esse direito não está sendo respeitado. Olhando o caso mais profundamente podemos concluir que a ação demente daqueles alunos reflete a confusão em suas idéias e objetos parecendo que eles não sabem o que querem, o que seguir, para que lutar e o que combater.
Muito além de vandalismo, a covardia e a violência dos estudantes da Uniban demonstrou um ato de desrespeito ao ser humano e à sua liberdade; uma critica sem fundamento que pode ser explicada como uma critica à própria juventude que não sabe o que fazer com os direitos que ela possui. Julgar alguém pelo seu traje, independentemente de quem seja e do que ele representa, coloca a mentalidade jovem confinada ao atraso, se assemelhando à sociedade medieval, ou então às culturas islâmicas onde a mulher é subjugada e tratada como ser inferior, que pode ser condenada ao apedrejamento ou às chibatadas dependendo do que ela faça de “incorreto” aos olhos de uma comunidade machista, e retrógrada.
Um espaço como uma faculdade deveria ser e representar um lugar onde as diferenças fossem respeitas, sendo um ambiente de socialização e igualdade entre as pessoas. Deveria mostrar que os universitários são representantes de uma parcela da sociedade que se privilegia em poder aperfeiçoar o uso da razão e o desenvolvimento intelectual.
Chega a causar aflição ao ver centenas de alunos enfurecidos perseguindo e ofendendo uma colega dessa forma; dá a impressão de um julgamento de rua, típico das comunidades do passado, onde tudo era resolvido às pressas de uma forma arbitrária sob o clamor e apelos de um grupo que se julgava dominante e dono da verdade. No passado mulheres eram queimadas em praça pública, aqui uma foi humilhada e ofendida e quase agredida; parece que séculos de evolução não representou uma alteração significativa.
Dentre toda essa barbárie ocorrida a esperança que fica é que isso não espelhe o comportamento dos jovens como um todo e sim de um grupo isolado, que pode estar ter sua explicação ligada à sua origem e formação. Do contrário será uma grande frustração ver que depois de toda a luta pela conquista de direitos básicos que o jovem promoveu, resulte nessa atitude. Sendo assim nada adiantou todo o esforço dispensado.
Marcelo Augusto da Silva - 06/11/09