sábado, 23 de março de 2013

A recuperação da indústria fonográfica?


“A pirataria move o mundo da música”

Roberta Forster


            Semanas atrás foi divulgada na imprensa escrita uma notícia sobre a recuperação econômica da indústria fonográfica no ano de 2012. Um crescimento pequeno, apenas 0,3%, mas que foi bem recebido pelo setor, o qual foi muito prejudicado nos últimos anos pela pirataria.
            Com o advento da internet banda larga e a popularização da tecnologia, houve uma mudança drástica no acesso às músicas, o que levou a indústria fonográfica a enfrentar uma crise. Os downloads, sejam eles feitos em sites, blogs ou em programas específicos como o Ares e Torrent, bem como a facilidade de troca de arquivos feito pelo recurso Bluetooth entre os usuários de aparelhos portáteis, decretaram o fim das vendas dos CDs.  Aquele que hoje deseja ouvir uma música basta apenas dar um clique para que haja uma reprodução instantânea.
            A referida notícia afirma que os responsáveis por esses números foram o aumento nas vendas digitais e a expansão de mercados como o da Índia e do Brasil. A divulgação desse resultado e a sua justificativa significa, na realidade, que a era digital que destruiu o mercado musical há alguns anos, paradoxalmente, hoje é responsável pela sua recuperação, através da popularização do uso de smartphones, tablets e similares, os quais deram a oportunidade dos consumidores terem um acesso maior a seus artistas, além de que, o próprio serviço na nuvem[1] também amplia possibilidades para quem quer consumir música na internet. De acordo com a reportagem, “o serviço na nuvem dá um acesso contínuo às bibliotecas de música, geram confiança no arquivo disponibilizado e colocam o consumidor dentro do mercado legal, livrando-o da culpa da pirataria”.
            O argumento dos artistas contra a pirataria é que a sua única forma de sobrevivência financeira é a venda de seu trabalho (na época através dos CDs), a qual foi tirada pela pirataria. No entanto, essa afirmação merece considerações e reflexões sobre a venda legal de obras e a ilegalidade dos downloads. Deve-se entender, que dentro do sistema capitalista, o dinheiro é necessário, porém o que observávamos no período da venda de CDs era uma exploração feita por empresários, gravadoras e artistas gananciosos, que viam esse mercado somente como uma alta fonte de renda, cobrando assim um valor acima do normal pela venda de suas obras, impedindo que muitos tivessem momentos de prazer ao ouvir uma música, tornando os grupos privilegiados economicamente, também privilegiados por terem um acesso, praticamente restrito, à cultura. É relevante destacar também que cultura não é mercadoria, e sendo assim não poderia em hipótese alguma servir como meio de enriquecimento e privilégio.
Essa notícia também abre um espaço para o debate sobre a possibilidade da venda do arquivo musical trazer o fim da pirataria e a recuperação da indústria fonográfica. Diante dessa questão penso que, de acordo com a situação que vivenciamos, uma retomada seria duvidosa, pois a aquisição de arquivos musicais por downloads (em todos os meios citados acima) já é uma prática institucionalizada, principalmente pela geração atual, a qual nasceu em meio a tecnologia, além de que não há como barrar o avanço tecnológico e seus efeitos, como a facilidade e a comodidade que ele trouxe ao hábito de ouvir música, sem querer entrar aqui na questão da legalidade. Essa afirmação tem veracidade na observação do fato de que não há como a indústria fonográfica recuperar seus índices de vendas do passado, pois mesmo que alguns comprem o arquivo legalmente, ele será rapidamente transferido e espalhado devido à abrangência tecnológica. 
Vejo que, de certa forma, a tecnologia trouxe benefícios nessa questão, pois levou a indústria fonográfica a repensar e a tentar reverter a exploração na venda de obras musicais, além de que ninguém fica privado de ouvir suas músicas devido à falta de dinheiro. Por outro lado, a facilidade ao acesso às músicas não gerou uma valorização a elas, nem uma apreciação mais apurada, pois o ato de baixar uma música com a mesma facilidade de excluí-la, tornou-as fugazes e voláteis, comportamento que não existia na fase dos vinis, cassetes e até mesmo dos CDs, onde a dificuldade de acesso levava a um zelo e a uma atenção maior por parte do consumidor às mídias e às obras. 



[1] Serviço na nuvem ou cloud service, é uma maneira de hospedar sites, aplicativos, documentos e programas na web, em um espaço intangível, ou seja, os arquivos ficam armazenados e disponíveis fora do computador (ou similar) do usuário, podendo ser acessado de qualquer local a qualquer momento.