quinta-feira, 2 de maio de 2013

E na telona... a violência continua.



“A violência travestida faz seu trottoir.”
Muros e grades – Engenheiros do Hawaii

Na década de 1980 a diversão dos jovens e adolescentes era ir ao cinema - uma das poucas opções do período - assistir a filmes cujo tema principal era a perseguição e a ação, as quais protagonizavam grandes astros da época como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Chuck Norris, Dolph Lundgren e Jean Claude Van Damme. Tais astros do momento e suas tramas, as quais eram muito bem recebidas pelo público, realizavam uma verdadeira odisseia contra inimigos dos mais variados tipos como alienígenas, terroristas ou criminosos, sempre com um tom de total violência, onde os rostos desses “heróis” traduziam uma fúria e a suas atuações truculentas não poupavam balas ou golpes .
É importante analisar esses filmes e seu público dentro de um contexto passado, ou seja, de uma fase onde a juventude, na maioria das vezes, não tinha consciência sobre os riscos que esses filmes poderiam acarretar. Na realidade, essa juventude, ingênua e insensível comparada à atual, procurava assistir a esses espetáculos de pancadas; os atores citados acima eram na maioria seus ídolos, onde muitos os tinham como referência e ideal a ser alcançado. Essas afirmações podem ser comprovadas pelas bilheterias que o nosso Cine Colombo conseguia na época, onde as filas, por muitas vezes, chegaram até a esquina do atual Banco do Brasil  nas sextas-feiras de estreia de filmes como “Cobra”, “O predador”, “Rambo, a missão”, “O exterminador do futuro, “O grande dragão branco”, entre tantos outros.
No entanto, muito mais do que fazer uma critica ao comportamento passado, é preciso ressaltar a influência da mídia e dos personagens na mente dos jovens e adolescentes da época, os quais, contando com pouco acesso à informação, eram iludidos pela força da indústria do entretenimento, que conseguia exercer nesse grupo uma forte influência, além de que se explorava a “rebeldia” dessa faixa etária, atraindo-os para os cinemas.
Com a evolução do comportamento social que temos (ou buscamos ter) era de se imaginar que essa conduta fez parte de uma época, e que aqueles que a vivenciaram também evoluíram e hoje enxergam o mundo de outra forma, dedicando seu tempo a outros hábitos; mas ao ver o pôster de divulgação do filme “Alvo duplo”, constatei que o passado ainda se faz presente. Depois de quase três décadas é decepcionante, e até mesmo revoltante, se deparar com o rosto decrépito de Sylvester Stallone esboçando a mesma feição forçada de homem mau e exibindo uma arma de uma forma gloriosa como se o mesmo fosse uma referência. O mesmo modelo de filme do passado e o mesmo tipinho de ator canastrão, burro e superado ainda encontra espaço hoje na mídia, e possivelmente consegue fazer parte do imaginário das pessoas que ainda vibram com um besteirol carregado de chavões e recheado da mais pura violência.
Era de se esperar, no mínimo, que com a consciência atual e o nível de informação a que quase todos têm acesso, esses figurões e seus filmes baseados em tiros, socos e explosões ficassem esquecidos e dessem a possibilidade de divulgação de valores supremos; da mesma forma que os galãs do cinema das décadas passadas, que com seus cigarros buscavam passar uma imagem de elegância, caíram no ostracismo e viraram sinônimo de demência, deveria acontecer o mesmo com a pancadaria hollywoodiana e as suas toscas estrelas.
Opções a esse tipo de diversão e acesso à informação não faltam. Falta outra visão, falta dizer não àquilo que vem pronto e procurar preencher espaços com outras opções de diversão. Pensar que o combate à violência seja apenas uma função das autoridades é assumir uma posição um tanto quanto insensata; os exemplos são tão influentes e nocivos quanto a inércia governamental. Porém, o que se pode concluir é que a fórmula alienante dos clichês ainda está em pleno funcionamento. 

Marcelo Augusto da Silva - 04/05/2013