domingo, 8 de junho de 2008

Salvem o Cine Colombo

Mesmo antes da notícia ser divulgada oficialmente já era evidente que algo havia de errado com o Cine Colombo, pois a sua freqüência era cada vez menor. Mesmo em exibições de filmes com grande poder de atração do público em geral o número de expectadores era muito reduzido e sessões como matinês, por exemplo, chegaram a ser exibidas para públicos de oito, quatro e até mesmo duas pessoas.
Há alguns anos o prédio onde funciona o cinema, o qual pertence ao Centro Cultural Ítalo-Brasileiro, passou por uma enorme reforma, que igualou a sala à das grandes cidades, sob o preço de descaracterizar um patrimônio histórico e arquitetônico, assim como era a construção do início do século passado erguida pela comunidade italiana rio-pardense. Depois da sua reinauguração as pessoas voltaram a freqüentar o cinema, porém várias mudanças aconteceram nesses últimos anos e gradativamente o público foi se afastando do Cine Colombo.
As causas da falência do cinema são as mesmas enfrentadas por tantos outros, como o fato dos filmes que estréiam logo terem seu lançamento em DVD e a pirataria que tira cada vez mais o público das salas de exibição, pois assim que um filme estréia, horas depois já é possível baixar uma cópia pirata pela internet em qualquer parte do mundo ou então porque se compra muito barato um DVD pirata nos camelôs. Apesar desses problemas serem sérios e comprometerem a situação financeira do cinema, é lamentável a população assistir o Colombo fechar suas portas definitivamente. Lamentável por que muito se perde com o encerramento de suas atividades, perde-se uma fonte de cultura; a cidade perde uma opção de lazer; a movimentação das noites rio-pardenses perde um pouco do seu brilho – considerando que municípios com um número de habitantes como é São José do Rio Pardo sempre deixam a desejar na questão de opções de lazer e entretenimento. Se o DVD e os serviços de entrega de alimentos incentivam as pessoas a ficarem dentro de suas casas, a falta de um lugar para ir sem dúvida deixará nossas noites menos movimentadas.
Seria interessante a todos que algo fosse feito para salvar a existência do Cine Colombo. Muitos cinemas enfrentam situações semelhantes e tentam contornar a situação fazendo promoções, inclusive nos finais de semanas, ou então reduzindo o valor de seus ingressos. Se estas não forem viáveis para resolver o problema pode-se investir na idéia já proposta, como uma parceira com empresas privadas ou então o investimento por parte da Prefeitura Municipal.
Todos ganhariam como isso. A cidade mostraria que valoriza e incentiva a arte; manteria-se ativo um prédio que tem uma estrutura que proporciona a possibilidade de ser utilizado para várias formas apresentações artísticas e culturais e as pessoas continuariam com a garantia de poder contar com um espaço de lazer, encontro, emoção e divertimento.
Marcelo Augusto da Silva - 29/02/08

Quando o Estado torna-se violento

A escalada da violência que o mundo assiste há alguns anos tem despertado na sociedade inúmeras soluções para a resolução desse grande problema.
Fruto de uma sociedade de consumo, que privilegia um restritíssimo grupo em detrimento do restante da população, e que coloca o ter acima de tudo e de todos, a criminalidade torna-se a solução para a grande parcela da comunidade que vive na miséria ou então como uma maneira de se igualar ao padrão de vida daqueles que ostentam o luxo de uma vida de esbanjo e regalias. Evidentemente que esse fato não justifica em nenhuma hipótese a violência; apenas tenta encontrar as origens desse mal.
Especialmente no Brasil encontramos hoje em dia várias pessoas que defendem fervorosamente a implantação da pena de morte como uma maneira única de sanar esse problema.
Se qualquer ato violento - seja ele numas das suas mais variadas formas ou qualquer que seja a sua intensidade é condenável pela sociedade - como explicar então a institucionalização da barbárie como forma de livrarmos da violência. Devolveríamos a morte no momento que clamamos pelo seu fim? Como aplaudir uma cena que causa tanto mal estar e aflição, assim como é uma execução, somente pelo fato dela ser considerada um suposto remédio para uma doença. Se a comunidade não suporta mais ver pessoas morrendo, matar mais e mais indivíduos seria então a solução final?
Num país corrupto como o Brasil, onde sequer processos cíveis e simples se arrastam por anos nos tribunais, amontoar criminosos em mais celas a esperar pela condenação e uma provável execução seria tão eficaz assim? Não seria de se imaginar que alguns sairiam impunes de seus julgamentos enquanto outros poderiam ser condenados mesmo sendo inocentes pelo simples fato da cor de sua pele ser diferente ou por não ter o bastante para pagar um suborno?
Se a violência é algo que queremos ver extinto do nosso meio, se ela é algo que não queremos para nossos filhos, dando-a a outras pessoas e autorizando o Estado - uma instituição suscetível a vícios e a erros - a ser o responsável pela sua aplicação estaríamos resolvendo de uma forma simples assim uma questão tão grave e complexa?
Qualquer assunto que seja discutido em um momento de forte emoção tende a ter uma solução insuficiente ou inadequada. É preciso cautela nessas horas em que vemos mais e mais pessoas inocentes pagarem com a sua própria vida por uma responsabilidade que é de competência do Estado, uma vez que este é quem tem o dever de manter a ordem e a segurança.
O Estado deve ser justo, moralmente íntegro e protetor da sociedade, não um carrasco de seus filhos. Ao invés de se pensar em medidas punitivas, por que não se pensar em medidas preventivas como investimento em geração de empregos, infra-estrutura, educação de qualidade, saúde, moradia e igualdade, para que enfim todos tenham as mesmas oportunidades?
É preciso que haja uma conscientização nas pessoas para que se possa cobrar das autoridades competentes soluções eficazes no combate à violência, não medidas paliativas que possam somente agravar o problema.
Marcelo Augusto da Silva - 22/02/08