quinta-feira, 4 de abril de 2013

Outono


As cores de abril / Os ares de anil / O mundo se abriu em flor
 E pássaros mil / Nas flores de abril / Voando e fazendo amor
As cores de abril – Vinícius de Moraes

           
            No dia 20 de março ele chegou, mas para os despercebidos não foi notada nenhuma diferença; o calor sufocante das tardes daqueles dias encobria a entrada da estação das frutas. As chuvas que vieram em seguida ocultavam ainda mais a estação recém-chegada; eram “as águas de março fechando o verão”, verão que castigava as pessoas.
            A interferência do homem na natureza provoca essas situações adversas: calor fora de época, chuva no início do período da estiagem. A sabedoria popular das gerações passadas já não tem mais tanta eficiência; impossível prever atualmente as condições climáticas baseando-se na rigidez de um calendário ou em fenômenos naturais.
            Mas, independentemente dessa variação climática ser um fato comum nos nossos dias, na quinta-feira dia 28 - a quinta-feira santa para os que professam o catolicismo - o outono se apresentou oficialmente com todas as suas peculiaridades. Depois da neblina que cobria a manhã, o dia surgiu com as características próprias da meia-estação; o céu praticamente sem nenhuma nuvem escancarava o azul profundo típico dessa época do ano; a luz e a temperatura mais amena do Sol - o qual atinge o hemisfério sul com menos intensidade - dava às paisagens uma cor singular; o poente, que trazia consigo a sensação de um clima que vai cair gradativamente, deu um espetáculo à parte, colorindo o horizonte com nuances que variavam entre o amarelo, o laranja e o vermelho; a noite, com o mesmo céu aberto, agora estrelado, foi ilustrado com o clarão da Lua cheia que marca a celebração desses dias santos; Lua cheia que, embora poucos saibam, determina nosso calendário festivo e consequentemente nossos dias.

      Num país de clima predominantemente tropical como o nosso, talvez sejam poucas as pessoas que apreciem o outono, e menos ainda o inverno que o segue, pois, de certa forma, muitos já estão habituados a passar a maior parte do ano expostos a temperaturas elevadas. No entanto era mais do que necessário que a fervura dos últimos meses desse uma trégua e amenizasse a exaustão que ela nos provoca ao final de um dia; além de que já era preciso afastar um pouco o comportamento festivo do verão e a obrigatoriedade de ser feliz e se divertir que ele implica para ceder espaço a um tempo mais frio o qual nos impele a ficar mais reclusos e que nos induza a contemplar uma introspecção.
            Enfim, observando as estações de um modo mais racional, e de certa forma mais distante da beleza e das sensações causadas por elas em cada um de nós, podemos pensar que a ordem do Universo e da natureza, com sua sabedoria, condicionam os dias de todos os seres, nos submetendo a períodos de euforia nas estações mais quentes e a outros de certo retraimento nas estações mais frias, dando assim a oportunidade da vida se reorganizar, se refazer e ir seguindo adiante.

Marcelo Augusto da Silva - 04/04/2013