quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Neve no trópico

Mal havia acabado o mês de novembro e as ruas e lojas de muitas cidades já se cobriam de luzes e enfeites aguardando o dia do Natal. Nada melhor para o comércio do que essa data, já que há muito tempo o seu significado é quase puramente comercial. Esse é um fato que chama a atenção em meio à agitação do final de ano, isto é, pouco restou da tradição e do significado religioso do Natal.
Sendo dessa forma o Natal a festa do consumo, o modelo empregado a ele é sem dúvida dos estadunidenses, que fazem desse dia uma celebração às compras. Tratando-se de uma nação hegemônica (aquela que impõe sua cultura sobre as outras como forma de domínio) os Estados Unidos através de vários meios impõe a sua, e o Brasil com toda a subserviência esquece seus próprios modelos e adota com todo o orgulho o alheio.
Numa primavera que mais se parece com o verão que se inicia nas vésperas do Natal, as prefeituras esbanjam dinheiro tentando ao máximo deixar as ruas da cidade idênticas as do hemisfério norte. O calor do dia, o suor daqueles que transitam pelo asfalto quente, contrasta com a bota e a roupa de veludo do Papai Noel e de seus ajudantes duendes espalhados em cada esquina; o verde e a exuberância colorida das flores e árvores, característicos de nossa estação, são encobertos pela neve artificial.
Longe de tentar desmerecer o Natal, mesmo porque ele tem muitos aspectos positivos como a economia que se aquece no período, como os postos de trabalho que são abertos, como o reencontro e a reaproximação de pessoas, além do seu sentido inicial que é o religioso para aqueles que professam o cristianismo, por que não fazer do acontecimento uma festa que preserve tudo isso, mas que não fuja de nossas tradições e que respeite nossos costumes e nossa situação geográfica.
Pouco se lembra das festas tradicionais brasileiras, pouca importância tem o que é nosso. Infelizmente o brasileiro tem a cultura de absorver a cultura do outro, julgando-a “melhor” ou “superior” que a sua. Estranha-se e despreza-se o que é seu; sente-se vergonha de si mesmo. De tudo se faz para copiar o modelo norte-americano, nenhum esforça é poupado. Assim perdemos em dobro: com gastos e com a nossa cultura que cada dia vai sendo mais esquecida.
Marcelo Augusto da Silva - 12/12/08