quinta-feira, 20 de junho de 2013

Protesto para poder protestar (Sobre os acontecimentos do dia 13/06 e a sua repercussão)


É preciso pedir mais e oferecer menos

Zizo, personagem principal do filme “A febre do rato”



                        O bordão que afirma “que o brasileiro é um povo pacífico e, portanto, submisso” está sendo rebatido pela onda de protestos acontecidos nas últimas semanas; os protestos ocorridos em várias cidades não deixam que essa declaração se justifique. No entanto outro bordão veio com fúria, afirmando “que no Brasil os atos organizados não são protestos e sim somente atitudes de vandalismo”.

                        A dimensão desses protestos foi equivalente aos ocorridos na época da Ditadura Militar (1964-1985), o que dá a noção de que eles não podem ser tratados como casos isolados ou sem nenhum propósito. A nossa mídia gorda e alguns grupos elitistas aproveitaram o caso para externar sua posição conservadora e para acusar seus integrantes de serem membros de partidos de esquerda (tachados a revelia como radicais) vândalos, punks, anarcopunks, anarquistas, ou então gaiatos e arruaceiros que participavam sem saber do que estavam acontecendo. De fato não há uma homogeneidade dentre aqueles que participam dos protestos, mas jogar na vala comum todos que ali estavam é reducionista, simplista e unilateral.

                        Se a onda de manifestação se iniciou por causa do aumento dos preços das passagens de ônibus em São Paulo, hoje seu foco mudou, não devido ao desvio de conduta dos manifestantes como é ressaltado por muitos meios de comunicação, mas sim pelo tratamento que as autoridades ainda dão às multidões. Se essas manifestações atingiram o número de presos equivalente as da Ditadura Militar, possivelmente é pelo fato das autoridades ainda tratarem os jovens a cacetadas, convocando a Tropa de Choque para “limpar” as ruas das cidades, jogando assim a sujeira debaixo do tapete.            Alguns podem afirmar que R$ 0,20 a mais no valor da passagem não é motivo para protesto; possivelmente esses não dependem de transporte público, o qual compromete 14 minutos de trabalho do paulistano, e é oferecido de forma precária, com atrasos e superlotação, além de pontos que não atendem as necessidades básicas do usuário.

                        A atitude da polícia militar, comandada pelo governo peessedebista no caso de São Paulo, lógico, agiu contra os manifestantes com balas de borracha (que são menos letais, mas podem ser letais como alguns afirmam) bombas de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral, repetindo a mesma atitude covarde que sempre o Brasil tomou contra as manifestações, protestos ou  passeatas. Esse sim é um fato, um consenso no nosso país: onde haja uma multidão reunida, seja em vias ou praças públicas, que venha a Tropa de Choque para dispersá-la a cacetadas. Por conta desse procedimento e agravado pela falta de diálogo dos governos e pelo peso de tantos problemas reincidentes no Brasil, os atos tomaram proporção maior, não injusta ou tola como muitos afirmam, mais sim ganharam uma causa maior: o protesto pelo direito de protestar. Conclui-se que o aumento de RS,020 foi só um estopim para que muitas insatisfações dos brasileiros viessem à tona.

                        A liberdade de expressão e a organização é um dos direitos garantidos pela nossa Lei Máxima, mas, no entanto, esse direito sempre fica sonegado quando uma falha do poder público e da sua administração possa ser apontada. Longe de defender atos de depredação, e tendo a consciência de que muitos, mas não a totalidade, dos que ali estavam não tinham o propósito manifestante, é necessário reforçar que a manifestação, bem como o protesto, é um direito inalienável de todo ser humano e não pode em hipótese alguma ser suprimido.

                        Tudo isso nos dá a sensação de que ainda persiste em nossos dirigentes a mesma mentalidade que predominava no período da Ditadura, ou seja, de que “todo jovem é subversivo”, que “toda reunião de jovens virará bandalheira e arruaça” e que “em nome da ordem ela deva ser reprimida”, mesmo que inclua atos de violência.

                        Por enquanto o que temos visto é um alarde gerado pela mídia sensacionalista a respeito desses atos; ainda não foi ouvido nenhum pronunciamento a respeito de se olhar de frente para os problemas do país apontados pelos manifestantes e se abrir para um diálogo que vise sua resolução.