quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Tiros na podridão

Já não é mais novidade nenhuma os casos em que algum estadunidense entra alucinado em algum prédio e dispara vários tiros contra aqueles que lá se encontram, como se seu ódio e insatisfação fossem também atingidos e mortos pelas balas. Há poucos dias atrás tivemos uma dobradinha em que ocorreram dois desses fatos, que embora tendo motivos diferentes, mostram claramente o desespero de uma nação.
A vida moderna e seu modelo capitalista praticamente obrigam todos a serem iguais, de maneira que o comportamento, o pensamento, a vida e principalmente o patrimônio seja o mesmo, e nessa tresloucada busca nem todos conseguem ser aquilo que a sociedade de consume exige.
Os atentados em escolas ou universidades são os exemplos mais comuns dessa crise, reforçada ainda pela idolatria que aquele povo tem em relação às armas de fogo e a facilidade em obtê-las. O jovem acuado, pressionado e obrigado a ser algo que ele não quer ou que ele não consegue, se frustra, e a sua mente não suporta isso. Como a cultura dos videogames e do cinema é explodir tudo e acabar com todos, isso é feito na vida real.
No atentado ao quartel no Texas o atirador possivelmente foi motivado pela questão religiosa e cultural, uma vez que ele sendo um integrante do islamismo e tendo sido convocado a lutar no Afeganistão, isso representou uma carga pesada demais para ele. Supostamente deve ser um conflito um muçulmano viver nos EUA e ter de conviver com a herança da Doutrina Bush que determina a intolerância aos islâmicos e a invasão ao Oriente Médio. Já o segundo atirador não suportou ver uma empresa lhe sugar anos de sua e depois virar-lhe as costas; resolveu o seu conflito, ao menos que interno, a balas. Não aceitando nem concordando com essas atitudes, ela passa a sensação de que é como se todos vivessem numa enorme panela de pressão cheia de cobranças, e em que determinada hora ela explode.
Como o modo de vida estadunidense é imposto às pessoas ou então é desejado e copiado por elas, na ilusão de que uma vida recheada de produtos, bens e mercadorias lhe garantam a felicidade plena, é perigoso esse comportamento se alastrar e tomar conta de populações que se encontram em outros países. Vemos hoje muitos buscarem desenfreadamente uma felicidade que não é nunca atingida, sendo que para alcançá-la o individuo tem que ter tudo e ser perfeito em tudo, não só profissionalmente e financeiramente, mas também fisicamente onde se ele não tiver os padrões de beleza a frustração e a depressão cairá como uma pedra de toneladas sobre sua cabeça, fazendo dele um ser extremante infeliz e desgostoso.
Hoje esse assunto é bem claro para muitas pessoas e é discutido por muitos profissionais de diversas áreas, num esforço e cuidado para que isso não atormente mais o ser humano e lhe dê condições de viver uma vida de qualidade e não de cobranças e metas a cumprir. Todos somos falíveis, temos nossas limitações e nossa própria personalidade, nos colocar num molde pré-fabricado e com a intenção de nos condicionarmos a ele é uma tarefa um tanto quanto complicada ao ser humano que ainda mal consegue conhecer e entender a si próprio.
Marcelo Augusto da Silva - 13/11/09