sábado, 7 de junho de 2008

As caras da violência

Quando se fala em violência a imagem que vem à mente em primeiro lugar é aquela associada à agressão física de uma pessoa à outra, independente do motivo. O problema da violência virou tema prioritário nos debates, nas reportagens da mídia em geral, nas salas de aula e nas conversas informais, somente para citar alguns exemplos. A violência pesa sobre a população.
Se discutir sobre o assunto se torna necessário, resolvê-lo torna-se urgente e indispensável. Não podemos afirmar em que situação se chegará com o aumento da violência nessas proporções.
Esse mal é ainda pior, pois infelizmente a violência não se restringe somente ao fato de um ser humano agredir a outro, independente desse ato ocasionar a morte ou não. Atualmente convivemos com a violência em vários lugares, em várias situações e em variadas formas e talvez por ser tão corriqueira não nos damos conta dela.
Podemos encontrá-la em várias formas como num governo que nega ao contribuinte aquilo que por lei é seu direito; num órgão público ou privado que obriga o indivíduo a esperar horas numa fila e ainda ser mal atendido por um profissional que não é qualificado para a função ou sequer se comove como o problema alheio; num programa televisivo de baixíssima qualidade que coloca um personagem em uma condição inferior e por esse fato o ridiculariza e transforma-o em uma piada que vai ser repetida e passada adiante, tomando conta do vocabulário de crianças e adultos na vida real; num pai ou numa mãe que nega um carinho ao próprio filho; num patrão que explora e humilha seu funcionário; num comercial que esnoba luxo e mercarias exuberantes enquanto a maioria das pessoas não sabem o que vão comer no dia seguinte; numa pessoa que espera durante um longo tempo uma outra terminar de consumir um líquido para pegar a latina e juntá-la a tantas outras para fazer um trocado.
Desde os primeiros anos de vida o ser humano já vive em meio à violência; é fácil perceber prestando atenção nos desenhos que são exibidos às crianças que fazem da violência o lema principal, e passada a infância são os filmes que primam a brutalidade, o domínio de um ser pelo outro e na dualidade entre explorador e explorado que vão acompanhar a vida do indivíduo. De tanto conviver com a violência, ela tornou-se comum.
Pequenos detalhes que muitas vezes tornam-se imperceptíveis aos nossos olhos avolumam o problema e o deixa mais complexo; faz com que a saída torna-se mais distante. Se é urgente encontrar soluções para acabar com a violência, é igualmente urgente acabar com ela em todas suas as formas, só assim poderemos pensar em uma sociedade justa e que viva em plena paz.
Marcelo Augusto da Silva - 15/02/08

Feliz Ano Novo, de novo.

O início de mais um ano deixa a impressão que o tempo passou depressa demais, que o ano que se encerrou parece ter passado mais rápido que os anteriores, ou então que foi outro dia que se realizaram as festas de final de ano e que chegou a hora de comemorá-las novamente.
Realmente essas sensações estão presentes em muitas pessoas, basta entrar no assunto que a opinião a favor dessa idéia é unânime. Houve um momento em que chegou a cogitar-se que esse fato era uma característica da vida adulta, pois quando criança a ansiedade para chegar a determinadas datas, como aniversário, férias ou o Natal fazia parecer que elas “não chegavam nunca”, transmitindo a impressão contrária à da maturidade. Porém essa tese caiu por terra, pois crianças e adolescentes hoje pensam como os adultos, ou seja, que o tempo está passando rápido demais.
Seria desnecessário dizer que a duração do tempo é a mesma, e seria risível acreditar que há uma explicação na física ou na astronomia para esse fato, assim como são levantadas hipóteses absurdas para explicar o assunto, como a de que os dias estão mais curtos devido ao tsunami que arrasou a costa asiática em dezembro de 2004, alterando dessa forma a rotação da Terra, causando uma aceleração no tempo.
Uma explicação mais plausível para o fato seria atribuí-lo à globalização. Há alguns anos as pessoas não precisavam trabalhar tantas horas ou até mesmo em dois empregos, pois não havia a necessidade de adquirir tantos produtos. Chegava-se mais cedo em casa e a preocupação como o horário se daria bem mais tarde, somente na manhã seguinte. Hoje, além de trabalhar até mais tarde, o indivíduo está sobrecarregado de tarefas como a ração do cachorro que está no fim e é urgente comprá-la, o dvd que deve ser entregue no horário senão acarretará multa, o conserto do portão eletrônico que tem que ser providenciado senão o carro novo passa a noite na rua sob o risco de ser roubado, o telefonema que já deveria ter sido recebido pelo celular, as infinitas contas a serem pagas como a natação e o inglês dos filhos – além da preocupação de pegá-los no final da aula a tempo – a conta da TV a cabo, do plano de saúde, do clube e etc. Enfim todos os compromissos que fomos obrigados a assumir tornam o dia curto pequeno demais a ponto de realizá-los no prazo, causando assim que impressão ele está mais curto.
O consumismo, e a sua decorrente ambição, mais a padronização dos costumes nos obrigou a mudar nosso comportamento, nos tirou valores preciosos, talhou nossa liberdade e o que vemos agora é mais um reflexo desse fenômeno, ou seja, o tempo que era um bem de cada ser humano está cada vez mais sendo tirado.
E assim passarão os dias daqui a diante, cada vez mais rápido, e o tempo cada vez mais curto.

Marcelo Augusto da Silva - 04/01/08

Neve no trópico

Mal havia acabado o mês de novembro as ruas e as lojas de muitas cidades já se cobriam de luzes e enfeites aguardando o dia do Natal. Nada melhor para o comércio do que essa data, já que há muito tempo o seu significado é quase completamente comercial.Esse é um fato que chama a atenção de muita gente em meio a agitação do final de ano. Pouco restou da tradição e do significado religioso do Natal.
Sendo dessa forma a festa do consumo, o modelo sem dúvida é dos norte-americanos, que fazem dela uma celebração ao consumo. Tratando-se de uma nação hegemônica ( aquela que impõe sua cultura sobre as outras como forma de domínio) os Estados Unidos através de vários meios impõe a sua , e o Brasil com toda a obediência esquece sua própria cultura e adota com todo o orgulho a alheia.
Numa primavera que mais se parece com o verão que se inicia nas vésperas do Natal, as prefeituras esbanjam dinheiro tentando ao máximo transformar as ruas da cidade idênticas as do hemisfério norte. O calor do dia, o suor daqueles que transitam pelo asfalto quente, contrasta com bota e a roupa de veludo do Papai Noel e de seus duendes ajudantes espalhados em cada esquina; o verde e a exuberância colorida das flores e árvores, característicos de nossa estação, são encobertos pela neve artificial.
Longe tentar afastar a festa, já que ela tem muito mérito como a economia que se aquece no período, como os postos de trabalho que são abertos, como o reencontro e a reaproximação de pessoas,e entre tantos outros benefícios que ela proporciona, além do seu sentido inicial que é o religioso para aquele que professam o cristianismo, por que não fazer do acontecimento uma festa que preserve tudo isso, mas não esqueça de honrar a cultura brasileira, respeitando nossa cultura e nossa situação geográfica.
Pouco se lembra das festas tradicionais brasileiras, pouco importância tem nossa cultura. Infelizmente o brasileiro tem a cultura de absorver a cultura do outro, julgando-a “melhor” ou “superior” que a sua. Estranha-se e despreza-se o que é seu; sente-se vergonha de si mesmo. De tudo se faz para copiar o modelo norte-americano, nenhum esforça é poupado. Assim perdemos em dobro: com gastos e com a nossa cultura que cada dia mais vai sendo esquecida
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Marcelo Augusto da Silva - 06/12/07

Hugo Chávez não errou

No mês de outubro passado - pouquíssimas pessoas tinham o conhecimento - mas vencia o contrato de concessão de transmissão da Rede Globo, que de modo escuso, foi concedido em 1965, não por coincidência no início da ditadura militar. Sendo uma concessão a emissora não tem o direito de usar uma freqüência à revelia, tampouco transmitir o que bem entende e expressar suas posições, ficando o Estado brasileiro, que deveria ser soberano, o responsável por tal licença e por que não pela fiscalização de seu conteúdo.
Atualmente a televisão é um aparelho de comunicação que está presente em quase a totalidade dos lares brasileiros, e a maioria deles está sintonizado no monopólio da família Marinho. O que impressiona é que a emissora, de uma forma sutil e hipócrita, consegue controlar o comportamento das pessoas, ditar modas, e inclusive manipular o eleitorado e a política brasileira, como fez tantas vezes em que assumiu posições mais extremistas possíveis em defesa de interesses próprios e de uma elite minoritária e dominante, como foi o caso da eleição de Collor, seu impeachment, o apoio a FHC, entre outros.
Como acontece no Brasil acontece também em outros países, como é o caso da vizinha Venezuela, em que uma emissora dos mesmos moldes da Globo, a RCTV, mantinha um mesmo estilo da brasileira, com uma grade de programação que veiculava produções estrangeiras na sua maioria, programas recheados de vulgaridades e baixarias, atores sem o menor talento que se transformavam em multimilionários do dia para a noite e que serviam de modelo de vida para a camada pobre, a qual vivia sonhando em um dia atingir tal nível. Enfim um canal idêntico ao brasileiro que só desinformava e alienava. O mais grave na Venezuela é que a RCTV, apoiada pela direita do país, e pensando em manter privilégios e o seu império televisivo, tentou articular um golpe para cassar o mandato de Hugo Chávez, que de acordo com um plebiscito, foi escolhido como presidente.
Assim como um presidente é soberano e uma emissora tem apenas uma concessão, e não um direito de transmissão, o venezuelano não renovou o contrato da RCTV, uma vez que, como foi escancaradamente mostrado, mas não foi notado, uma emissora de televisão tem for finalidade entreter e informar, não controlar a política de um país, se colocando acima do Estado e querendo escolher ao seu interesse quem deva administrá-lo. Com todos os seu poderes concedidos pelo povo e dentro da Constituição de seu país, Chávez nada mais fez do que sua função que no caso poderia ou não renovar o contrato. Decidiu pela segunda opção, não permitindo assim que uma emissora controle o país, o que o fez a ser tachado de ditador. Seria então arbitrariedade um chefe de Estado manter sua nação soberana e não submissa a uma empresa.
Infelizmente essa é a situação de muitos países em que empresas estão acima de tudo e, entre elas, encontram-se as empresas do entretenimento, que se aproveitam da inocência e desinformação das pessoas e as manipulam para o seu enriquecimento.
Fica sem resposta a pergunta sobre até quando iremos ver uma emissora controlando o Brasil. Até o momento não há perspectivas em relação a esse assunto. Soma-se a isso o fato da inocência da população que torna o debate sobre o poder da emissora e a má qualidade de sua programação cada vez mais extenso.
Sendo assim se torna essencial lutar pela construção de algo que controle o que é divulgado pela mídia, pois não são todos, que num domingo a tarde, desligam o aparelho e procuram algo que lhe dê bem estar a sua família e a si próprio.

Marcelo Augusto da Silva - 30/11/07

A opulência das Igrejas

No final do ano de 2006 foi inaugurado numa das principais avenidas de São João da Boa Vista um grandioso templo da Igreja Universal do Reino de Deus, fato que causou perplexidade e admiração nas pessoas, justamente pelo tamanho da obra, reduzido tempo em que foi construída e pelo óbvio gasto que ela dispensou.
Recentemente num dos horários televisivos em que a Igreja utiliza para sua pregação, começou a ser veiculado uma reportagem a respeito do investimento da Igreja em São João da Boa Vista que, segundo o apresentador, todo o gasto com a construção foi necessário para poder realizar a sublime tarefa de levar aos fiéis a palavra de Deus, entre outros benefícios que eles dizem oferecer.
O que surpreendeu nessa reportagem foi a divulgação do gasto total da obra que ficou na casa dos oito milhões de reais. Desde então a construção do templo voltou a fazer parte das discussões.
Há muito tempo não só a Universal, mas todas as Igrejas Pentecostais e as Neopentecostais têm sido apedrejadas em todo as localidades por causa do luxo de suas construções, pela forma de conquistar novos adeptos e, principalmente, pelo apelo em que seus pastores e missionários utilizam para arrecadar a contribuição de seus fiéis. Se a cobrança e o destino de dinheiro é algo mais interno, onde somente os integrantes das Igrejas têm conhecimento, um templo é visível a todos, e assim, o espanto causado por sua magnitude é inevitável.
Uma Igreja assim como qualquer outra instituição é passível de críticas, construtivas ou não. O caso das evangélicas é um desses exemplos. Porém o foco do debate deveria se abrir e analisar outras Igrejas, como a Católica, que através de sua longa existência sempre demonstrou ter uma preocupação com finanças, bem diferente do seu fundador, que pregava o desapego aos bens materiais e uma vida de igualdade entre as pessoas.
Fala-se em tom de crítica sobre a riqueza das Igrejas e de seus membros, bem como a sua sede em receber ofertas e contribuições. Assim sendo seria correto criticar também o catolicismo; pois se um templo está orçado em torno de oito milhões de reais, em quantos estará orçado então, por exemplo, a igreja de Nossa Senhora do Pilar em Ouro Preto que possui 430 quilos em ouro, e que, além de tudo, foram extraídos por seres humanos transformados em escravos com o seu consentimento? E a Basílica de São Pedro? E a Capela Sistina que contém inclusive obras de artistas da Renascença? Se for para falar em arrecadação, porque não lembrarmos do dízimo que foi criado pela própria Igreja Católica, o qual é cobrado até hoje, porém com o subterfúgio de ser uma colaboração voluntária para um justo propósito? E a venda indulgências e de relíquias santas?
O bom senso nos diz que religião não está em nenhuma ocasião relacionada às questões financeiras. Como organização, dona de patrimônio, como no caso dos templos, é justificável alguma forma de contribuição com o fim de pagar despesas como energia, água ou então impostos ou folha de pagamento. Mas como se tem notado, as ofertas vão muito além de serem destinadas a cobrir gastos.
Nessa história não há quem tenha mais culpa que a outra. Se for para apontar erros, deve haver justiça e se apontar o de todas.
Marcelo Augusto da Silva - 23/11/07

O dia 20 de novembro

Mais um feriado está fazendo parte do calendário de muitos municípios e, como de praxe, a atenção se restringe somente ao fato do dia ser de descanso e não para a importância da data. Trata-se do dia 20 de novembro, em que se celebra o Dia da Consciência Negra, cujo significado é encarar o negro como um elemento formador do país e de seu povo, dotado de cultura e inserido em nossa sociedade.
Após séculos de escravidão, o Brasil o tardou a abolir o sistema e, da forma em que foi realizada, a abolição objetivava questões econômicas e não valores humanitários, ou seja, pensou no financeiro e não no sofrimento de um povo.
Assim, depois de liberto o negro passou a vagar pelo país afora, sofrendo a mesma humilhação e com um sério agravante, pois não tinha onde trabalhar, uma vez que em seu lugar havia um assalariado, tornando sua vida ainda pior, já que estava desprovido até de condições de se alimentar.
A abolição marcou então uma nova fase na vida do negro, cuja trajetória sempre foi marcada pelo preconceito sofrido, desvalorização e desprezo, nunca sendo respeitado como ser humano. Somado ao pensamento racista, preconceituoso e discriminatório o negro, sem nenhuma outra possibilidade, começou a habitar as periferias da cidade, e a se sujeitar a fazer qualquer atividade para garantir seu sustento. Não é de estranhar que hoje os negros sintam dificuldades em se encaixarem no mercado de trabalho e que haja a necessidade de cotas de vagas nas universidades para negros. A sociedade brasileira os colocou nessa condição e não se preocupou em nenhuma ocasião em deixar a mentalidade colonial.
Mas, felizmente as coisas se transformam, e nem sempre para pior. O comportamento das sociedades, mesmo que timidamente, vêm se alterando e o negro, com toda a dificuldade, vem conquistando seu espaço e seu respeito. Porém não podemos pensá-lo somente em uma data, devemos fazer isso todos os dias, todos os momentos. Do contrário ele é lembrado em um dia e esquecido os 364 restantes.
Feriado é importante, mas não é o suficiente. É apenas o início de uma mudança que deve ser grandiosa. É necessário reconhecer o negro em todos os aspectos, principalmente como um ser humano. É necessário mudanças no pensamento das pessoas, onde essas não fiquem presas ao pensamento do passado, onde não se julgue pela aparência ou pelas diferenças físicas.
Marcelo Augusto da Silva - 20/11/07

A invasão da pirataria

A quantidade de pessoas que já assistiram ao filme Tropa de elite, cuja estréia nos cinemas ocorreu no dia 12 de outubro, acirrou o debate que envolve o comércio de produtos piratas. Antes mesmo de ser lançado oficialmente, o filme já foi visto por milhares de pessoas, que graças à pirataria, pode ser assistido inclusive na internet. Alguns defendem essa atitude alegando que, mesmo de forma ilegal, estão tendo acesso a uma produção nacional e tendo contato com uma realidade do Brasil atual, pois um filme brasileiro exibido somente nas salas de cinemas provavelmente não atingiria um público desses.
O comércio de produtos piratas já não é uma novidade, principalmente no segmento do entretenimento, em que CD’s e DVD’s são vendidos às pencas escancaradamente por camelôs e até em estabelecimentos comerciais.
Vale lembrar que a pirataria além de ser crime, sonega impostos, tira empregos e de certa forma é uma concorrência desleal. No entanto por outro lado a carga tributária excessiva e o lucro exorbitante de gravadoras de CD’s e distribuidoras de DVD’s elevam o preço final desses itens tornado-o acessível a uma pequena parcela da população, o que explica, mas não justifica, a venda dos produtos piratas em grande proporção.
A prática da pirataria se espalhou em todos os setores, atingindo até os fármacos e os medicinais, onde próteses também são falsificadas. Os CD’s e DVD’s são, equivocadamente, considerados como mercadorias. No entanto eles vão muito além dessa classificação, pois tratam-se de produções artísticas, intelectuais e culturais, que têm por finalidade não satisfazer os consumidores nos momentos de sua aquisição, mas sim descontrair, informar, proporcionar momentos de prazer , não podendo ser confundidos ou comparados com meras marcas registradas que visam unicamente o lucro. Sendo assim deveriam ser considerados como patrimônios culturais de acesso geral e não exclusivo, nem mesmo serem de propriedade de gravadoras ou de distribuidoras, pois quem produz uma obra, não produz exclusivamente para si, e sim para quem dela quiser ter contato. Artistas, autores, atores, produtores, lojistas e todos envolvidos numa produção artística obviamente te que ter seu ganho, ou seja, deveriam ter um preço que garantisse isso, não um valor exageradamente alto.
Se houvesse um entendimento entre governo e empresas responsáveis pela produção e comercialização desses artigos para que os preços dos produtos originais tivessem uma redução significativa, certamente a venda dos piratas iria reduzir muito, o país iria aumentar a sua arrecadação e postos de trabalho iriam abrir, pois certamente os consumidores iriam preferir pagar um pouco mais por um produto original, tendo a certeza adquiriram qualidade e garantia.
Marcelo Augusto da Silva - 19/10/07

Zona Azul: prós e contras

São José do Rio Pardo cresceu, e com ela sua frota de veículos e o número de estabelecimentos comerciais, num processo natural e irreversível, pois como disse Euclides da Cunha, “não há como conter o progresso”. Nesse contexto foi criada há alguns anos a Zona Azul – sistema de estacionamento tributado e rotativo - para resolver o problema da falta de vagas nas vias públicas do centro da cidade. Desde essa época ela vem sendo uma divisora de opiniões.
Se um município cresce devemos acompanhar sua expansão ou no mínimo nos adequarmos a ela, o que justifica assim a criação do estacionamento propriamente dito. Porém vale ressaltar que por envolver vias púbicas e o seu respectivo pagamento, sua instalação e manutenção devem ser realizadas com muita cautela, tentando assim satisfazer a maioria dos usuários.
Inicialmente o parqueamento solucionou o velho problema de motoristas e comerciantes onde os motoristas não precisam mais procurar vagas por diversas ruas, pois o sistema não permite que um automóvel permaneça horas estacionado num mesmo local, e no caso dos comerciantes, o benefício de fez possibilitando um maior fluxo de pessoas nos estabelecimentos, uma vez que, as vagas são desocupadas constantemente. Além do mais a Zona Azul permitiu a criação de várias oportunidades para os jovens ingressarem no mercado de trabalho, proporcionando a eles uma ocupação e uma remuneração.
Todavia, como tudo aquilo que envolve a “coisa pública” tem seus problemas, a começar pelo número excessivos de ruas que fazem parte da Zona Azul, ficando muito além daquelas centrais nas quais as edificações são praticamente todas ocupadas por comércios ou prestadoras de serviços.
Na ocasião de sua implantação, o projeto, aprovado em Assembléia Municipal, determinava que as ruas que fariam parte do sistema eram aquelas de maior concentração comercial, mas conforme os motoristas ou os empregados do comércio estacionavam seus carros nas vias que não estavam fazendo parte do estacionamento, a Zona Azul foi se ampliando, alcançando hoje ruas distantes das comerciais. Há ruas onde não existe comércio, mas a Zona Azul está presente, para que o motorista que não queira pagar a taxa seja impossibilitado de estacionar seu veículo e deslocar-se a pé até o seu destino. Um estacionamento pago deveria ser feito para resolver o problema do trânsito não para punir motoristas. Isso porque, embora seja feita para garantir a rotatividade das vagas, tal cobrança fere o direito fundamental de ir, vir e permanecer, garantido pelo artigo 5º, inciso XV da Constituição Federal.
Outro fator que causa desconforto aos usuários é o preço cobrado pelo serviço, que não oferece mais a tarifa de 30 minutos de permanência, obrigando o motorista a pagar por um serviço mesmo que não vá usá-lo.
À equipe responsável pela manutenção da Zona Azul, todo o respeito pela competência na realização do serviço, mas é preciso pensar detalhadamente em cada questão que envolva o seu funcionamento, para que assim se possa garantir a satisfação dos rio-pardenses - que vivem transtornados com o trânsito intenso que a cidade passou a ter - e também o desenvolvimento do município.
Marcelo Augusto da Silva - 06/10/07

O senador e o lavrador

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa
O Brasil é conhecido por todos como o país do contraste, do paradoxo e da discrepância. Poucos ganham muito e muitos ganham pouco; uns comem com colher de prata, outros comem com a mão e uns outros tanto nem comem. Assim como o país é a sua capital, erguida no nada do planalto central, ostenta o luxo sobre uma nação que padece de pagar impostos, de ser humilhada, despojada e abandonada à própria sorte. Local onde pouco se trabalha e muito se ganha, e a sujeira que ali brota é sempre jogada debaixo do tapete.
O jogo de interesses, a falcatrua e o descaramento já fazem parte não só da capital em si, mas também da índole de muitos que de lá nos comandam. A riqueza da cidade mais parece ser um troféu erguido à exploração e à impunidade.
Um fato que exemplifica bem a situação é o recente caso do senador Renan Calheiros que, em meio a uma montanha de acusações pesadíssimas sobre seu governo e a sua conduta política, teve um julgamento às escusas, realizado a portas fechadas à imprensa e a qualquer outro tipo de pessoa que não fosse da casa, sem a mínima consideração com o povo e com os eleitores que confiaram no referido político, investindo-o de direitos para ser seu legítimo representante. No Brasil o sentido de democracia ou de transparência é outro, pois o fato só confirma que alguns são mais iguais que os outros ou então que a lei não é a mesma para todos. Enquanto o país acompanhava perplexo e do lado de fora o “julgamento” lá corria solta a maracutaia e a troca de favores. Ao término sai o dito “réu”, impune, ileso, como se zombasse do brasileiro com seu ar dissimulado, seu sorriso falso e suas palavras ensaiadas.
Para aumentar ainda mais o pesar dos fatos esdrúxulos de Brasília, na quinta-feira, dia 20, um lavrador que há quatro dias não comia, tentou, numa atitude impensada e desesperada, furar a segurança e ir pessoalmente apelar ao presidente. É claro que como sede do governo federal há a necessidade de se manter uma segurança mais rígida possível, mas o episódio é no mínimo revoltante devido ao tratamento que um trabalhador faminto teve em comparação a um político envolvido até o pescoço de denúncias gravíssimas.
A mesma segurança que dias antes usou a força para barrar deputados que queriam usar seus direitos e participarem do julgamento, usaram agora dos mesmos poderes para imobilizar e levar para bem longe um contribuinte que, mesmo com a miséria que recebe, colabora com o sustento da capital do país, seus habitantes e suas sanguessugas. Por que então um tratamento à altura não foi dado a um homem que até o momento não honrou seu cargo, e por que o trabalhador não foi ao menos tratado com o mínimo de dignidade, ao invés de ser humilhado, jogado ao chão e imobilizado como se faz a um contraventor? È necessária tanta rigidez com uma pessoa e tanto cortejo à outra?
No Brasil parece que em nenhuma situação a justiça é feita.

Marcelo Augusto da Silva - 29/09/07

Cultura para todos

“A gente não quer só bebida a gente quer bebida, diversão, balé, a gente não quer só comida a gente quer a vida como a vida quer”.
Comida, Titãs

Apesar de ser aplicado erroneamente com freqüência, o termo cultura - que de acordo com o Aurélio, significa o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das manifestações artísticas e intelectuais, típicos de uma sociedade - ele, mesmo inadequadamente usado, expressa de uma forma geral os eventos e manifestações artísticas.
Não importa qual seja a manifestação, ela sempre trás bem estar, contentamento, satisfação e muito mais, como reflexão, exemplo, aprendizado.
As cidades do interior parecem estar fadadas ao abandono cultural. Com raras exceções que cumprem fielmente seu papel e com toda a competência a população vive à margem dos eventos culturais. É necessário investir em cultura de todos os gêneros e para todos. É preciso urgentemente oferecer mais peças teatrais, apresentações musicais, danças, exposições, enfim tudo que desperte em cada um de nós as sensações descritas.
Quem tem esse hábito prazeroso de freqüentar tais eventos cada dia sente mais o desprezo com que eles são tratados, e conseqüentemente, sente mais sua falta. Além do fato de conviver sem essas manifestações culturais, as pessoas sem elas se fecham, se isolam cada uma dentro de si e dentro de suas casas, ficando assim condenadas a verem somente a mesmice televisiva e os seus dias se sucederam com a mais cruel rotina, não por simples acomodação, mas sim por falta de oportunidade.
Alguém que vai ao teatro quebra o monótono de seu cotidiano, quebra a alternância desgastante de casa e trabalho; volta revigorado. Uma família que prestigia uma apresentação musical de qualidade volta para sua casa mais alegre. Quem troca a poltrona de sua sala pela a de uma sala de cinema tem grandes chances de despertar renovado no dia seguinte.
Entretanto não basta só reclamar da falta de opções, é necessário que haja um esforço coletivo entre as administrações, no sentido de investirem mais no setor, e também por parte das pessoas em dar o primeiro passo e começar a mudar um pouco sua direção e ver que há, ainda que raras, outras formas de entretenimento que farão bem a ela e a quem estiver ao seu redor.

Marcelo Augusto da Silva - 22/09/07