quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Morreu o sonhador, não o sonho

Oh! Nem o tempo amigo, nem a força bruta, pode um sonho apagar
Canção do Novo Mundo – Beto Guedes

Há vinte e nove anos atrás, no dia 08 de dezembro, uma tragédia deixou o mundo um pouco mais sem graça. Vítima de uma insanidade de um fã John Lennon não pôde continuar a trilhar o seu caminho em busca de um mundo de paz.
Se ele foi sonhador demais ou utópico demais ficou, na pior das hipóteses, o exemplo de que se todos fizerem a sua parte e juntos cantarem a mesma canção, há possibilidades de melhora.
É muito arriscado analisar a personalidade de John Lennon e também da sua carreira artística em poucas palavras, pois há uma quantidade imensa de acontecimentos que podem levar a diversas reflexões sobre ele. Com sua vida artística projetada com os Beatles o artista se destacou junto Paul McCartney nas composições do grupo que fizeram um sucesso até hoje inigualável. Certamente ele percebeu os rumos que a banda estava tomando e resolveu buscar aquilo que o satisfazia e não se deixando cair na trivialidade que muitas bandas atingem após uns anos de existência; a própria história dos Beatles mostra uma evolução em seu trabalho, passando das baladas de um rock melódico a um trabalho mais maduro e engajado concretizado em álbuns históricos no estilo psicodélico como o Revolver (1966), Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), Álbum Branco (1968) e Yellow Submarine (1969). Possivelmente essa evolução levou Lennon a se motivar a ir mais além, partindo para uma carreira solo e não ficar restrito a um grupo que pudesse lhe limitar ou então que não se sustentaria por muito tempo, independentemente da sua qualidade, e da coesão que sempre houve entre seus integrantes.
Polêmico por muitas vezes, como na ocasião em que afirmou que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo e ousado ao se tornar um ativista contra a Guerra do Vietnã, a qual os EUA estavam travando e sendo assim investigado pelo governo Nixon que tentou deportá-lo, procurou disseminar no mundo a paz em forma de música. Lennon incentivou a todos a sonharem, a lutarem por esse sonho e enfim a realizarem esse sonho. John Lennon se coloca hoje entre as grandes personalidades que se destacaram por não se acomodarem diante de uma realidade insuportável; faz parte daquele seleto grupo de pessoas que não se encaixam no que é imposto e conseguem achar o canal apropriado para colocar em prática aquilo que desejam.
É claro que sua morte prematura e em condições adversas como ocorreu o projetou ainda mais e lhe garantiu um número ainda maior de fãs, muitos deles sem a mínima noção de quem ele foi e do que ele propunha. Porém independente daqueles que idolatram quem já se foi e assim transformam a execução de suas composições num grande clichê, John Lennon deixou a sua mensagem, que continua inspirando as pessoas e as conduzindo a um nível em que se tenta atingir a harmonia. Embora ironicamente vítima da violência muito combatida por ele, seu sonho de paz ainda continua vivo num mundo bem mais caótico daquele que ele queria mudar nas décadas de 1960 e 1970.


Marcelo Augusto da Silva - 11/12/09