quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O lucro dos bancos

Qualquer pessoa que observa o resultado do balanço referente ao último trimestre divulgado pelos bancos privados Itaú e Bradesco, se admira ao ver o quanto essas instituições financeiras obtêm de ganho. O Itaú informou um lucro de R$ 1,8 bilhões nos três meses passados com um acúmulo de 5,9 bilhões de janeiro a setembro; e o Bradesco apresentou a cifra de R$ 1,9 bilhões totalizando um saldo de 6 bilhões no ano. De fato um lucro astronômico para essas instituições que fazem parte do setor financeiro, onde não sendo o único no país, não deveria concentrar tanto acúmulo dessa maneira, podendo existir então uma certa “distribuição de lucros, contando que haja outras atividades econômicas como indústria, comércio e agricultura.
Mas como um banco consegue lucrar tanto assim? Vale antes lembrar que o Brasil privilegia as empresas privadas, principalmente os bancos, desde os tempos da administração de FHC, que inclusive criou um programa de recuperação dos bancos que se encontravam em situação crítica, o PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), o qual o governo dava toda a ajuda necessária a eles com a justificativa que a preservação de seu funcionamento era necessário à estabilidade econômica do país. Interessante é ver o Estado dar ajuda somente a um setor da economia colocando-o como responsável pela saúde econômica do país. E os outros setores não representam nada então para o país? Não teriam eles o mesmo direito de receber ajuda do governo?
Na mesma época de FHC muitos bancos foram privatizados sob a alegação de estarem sendo um prejuízo aos cofres públicos e por isso o Estado deveria se livrar deles, além de que as vendas de empresas estatais é parte dos programas de governo das administrações tucanas. O interessante é que esses mesmos bancos que tanto oneravam o Estado, após serem entregues a preço de banana ao capital estrangeiro começaram a apresentar uma alta lucratividade, demonstrando que, ou não havia uma boa administração deles pelo governo ou seus prejuízos eram uma farsa, usada como estratégia para justificar a suas vendas.
Já lucros obtidos por eles vêm da cobrança de taxas aos correntistas das mais variadas possíveis como manutenção de contas, transferências, talões de cheques, emissão de extratos, renovação de contratos, etc. aproveitando-se principalmente daqueles que estão usando os “benefícios” oferecidos pelos bancos como empréstimos ou limites de cheque especial. Aliás, é nessas negociações que os bancos ganham muito dinheiro, pois aqueles que utilizam os créditos ou dos empréstimos oferecidos pelos bancos, vão pagar altas taxas de juros, como o limite do cheque especial que chega a ser de 8 a 15% ao mês, enquanto a taxa paga por eles a uma aplicação como a caderneta de poupança é bem inferior, ficando na casa dos 0,6% mensais.
Fica fácil entender então por que cada vez mais a rede bancária, principalmente a privada, no Brasil se expande e aumenta seus lucros. Ela tem todas as condições que lhe garanta bons resultados.
Marcelo Augusto da Silva - 31/10/08

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Novamente a comoção geral

O caso do seqüestro das adolescentes que terminou com a morte de uma delas na última semana leva à constatação que de tempos em tempos os mesmos atos se repetem em nosso país, mudando apenas os personagens e o cenário.
A grande mídia mais uma vez usufruiu do ocorrido e usou de todos os seus artifícios para tirar proveito do assunto ao máximo e com ele aumentar o IBOPE. Não que as vítimas não mereçam a atenção dispensada, mas o fato é que há o exagero, a superexploração de imagens, de comentários e do acompanhamento maçante desses casos de violência, causando a conhecida emersão de opiniões a respeito de assuntos relevantes como, por exemplo, a pena de morte.
A partir dessas reportagens aqueles apresentadores que defendem posições arcaicas e irresponsáveis como a pena capital e redução da maioridade criminal, abusam da liberdade expressão que possuem para esbravejar suas palavras de ordem à população, que alucinadas pelo que vêem , acabam se inclinando a favor desses pensamentos.
Não faz muito tempo o Brasil todo se fixou no caso da menina Isabela que fora atirada da janela de um apartamento. O episódio assim como tantos outros depois de todo o alarde criado pela mídia esfriou. Após um período foi por ela mesma substituído por outro, mais lucrativo, o que fez o povo se esquecer do passado.
Qual seria então o papel do meio de comunicação televisivo? Seria alvoroçar o lado sensível das pessoas durante um momento ou de informá-las sobre os problemas que enfrentamos e a partir disso abrir um debate para questões como violência, punição ou impunidade?
O que ela tem feito repetidas vezes é tão somente aflorar os ânimos do telespectador, viciá-los em acompanhar casos de brutalidades que só alienam e provocam uma discussão pífia, improdutiva e efêmera.
É necessário ir além das locuções exaltadas dos apresentadores de programas de quinta categoria e estimular o povo a mudar a sua relação perante a violência e a não ficar somente comovido e passivo diante de mais casos violentos, tal como foi o que aconteceu nessa semana.
Será que a mídia, principalmente a monopolizadora, se acostumou a tratar a vida como se fosse uma novela. Estamos lidando com seres humanos, com questões sociais não com ficção. Esses acontecimentos não podem ser vistos somente pelo sentimentalismo, eles, apesar de toda a dor causada, têm que servir de mote para que a população reivindique mudanças eficazes na estrutura do país.
Seria interessante que os meios de comunicação colaborassem para que as pessoas não se esqueçam do que acontece, mas sim a lembrá-las sempre para que exista motivação para estar sempre trilhando um caminho para melhorias.
Marcelo Augusto da Silva - 24/10/08

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Crise dos EUA, crise do capitalismo.

A crise econômica que ataca a maior potência econômica mundial pode, no entanto, amedrontar o mundo, mas não surpreender.
Com suas origens no setor imobiliário, como uma crise no pagamento de hipotecas, as quebras e os problemas enfrentados por bancos até então considerados importantes e sólidos geraram o que se chama de "crise de confiança". Num mundo de incertezas, o dinheiro pára de circular, quem possui recursos sobrando não empresta, quem precisa de dinheiro para cobrir falta de caixa não encontra quem forneça. Isso fez cair e encarecer o crédito disponível e limita o desenvolvimento de outros setores da economia, que dependentes de crédito, têm suas atividades estagnadas e, consequentemente a de toda economia.
Como o capitalismo é um sistema que necessita de uma rede de setores, grupos ou pessoas dependentes entre si, onde uma maioria deve ser desprovida de capital para assim sustentar os que estão na situação oposta; no caso de um desses elementos se retrair, irá ocorrer uma crise geral no qual um leva todos os outros para o mesmo caminho, como numa espécie de efeito dominó, onde uma única peça que cai, tem o poder levar milhares à queda.
Hoje com a economia globalizada em que acontece uma constante troca de mercadorias, serviços, capital e moeda em grande escala, se alguém entrar em colapso, outros mesmo que geograficamente ou até mesmo economicamente distantes, também sofrerão suas conseqüências, como é o caso que vivenciamos atualmente.
Desde a formação do capitalismo após o fim do feudalismo na Europa, e principalmente com a Revolução Industrial na Inglaterra em quem ele afirmou-se, esse sistema econômico passou por diversas crises, na maioria delas não por motivo de escassez de capitais ou de mercadorias, mas sim pelo excesso de produtividade, tal como foi a Crise de 29, cujas exportações dos EUA reduziram-se drasticamente, pois a Europa já não era mais sua principal consumidora, o que ocasionou a quebra da Bolsa de Valores de Nova York.
Que todos sentem e sofrem com uma crise dessas proporções é totalmente indiscutível. Por outro lado sabe-se que se chega a determinados períodos em que ela torna-se praticamente inevitável devido ao inchaço econômico atingido. Uma crise porém é momentânea e o mundo, apesar dos seus efeitos, tem condições de superá-la. Através dela toda a economia, agora global, pode se reorganizar e se reestruturar.
Ela pode representar um momento em que alguns possam ter a oportunidade de ocuparem um espaço antes inatingível e de outros curvarem-se e aceitarem-se como falíveis e passageiros. Quem sabe não seja esse os EUA que veremos em breve.
Marcelo Augusto da Silva - 17/10/08

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tucano: uma espécie ameaçada de extinção

De tanto ver imperar a incompetência e o descompromisso dos governos do PSDB, o brasileiro reafirmou sua consciência e assim como nas eleições de 2004, deu um outro basta às suas administrações. Os resultados da última eleição municipal provaram novamente que o eleitor não é tão cativo quanto a extrema direita brasileira o julgava ser, já que como mostraram as urnas a maioria das prefeituras vão ser administradas por outros partidos.
A política neoliberal, o estado mínimo, o desrespeito com o cidadão e a soberba daqueles tucanos que ocupam os cargos públicos, pelo que vimos, já estava sufocando os que dependem dos serviços públicos e os pertencentes às chamadas classes média e baixa. Na conjuntura da situação em que chegamos não dava mais pra se suportar os representantes desse partido.
São José do Rio Pardo felizmente não foi uma exceção. Embora não tenha elegido um partido de ideologia social como o PT, apesar do número de votos expressivos que o candidato petista alcançou mesmo com todas as dificuldades enfrentadas em sua campanha, principalmente numa cidade como a nossa em que muitos ainda mantém um pensamento preconceituoso, a vida pública de São José já não é mais de exclusividade de alguns. Sendo assim o futuro rio-pardense foi salvo uma vez que o eleitorado provou que os tucanos não têm cadeira permanente na prefeitura, que a cidade não lhes pertence, e que dinheiro não se compra a opinião nem o pensamento de ninguém.
Após anos de governo peessedebista e todo o atraso a qual foi submetida a nossa cidade, podemos agora sonhar com uma possibilidade de mudança. Espera-se com essa eleição a renovação em todos os seus sentidos, a aproximação entre o executivo e a população e medidas que coloque São José, uma cidade com grande potencial, no caminho do desenvolvimento.
A vitória esmagadora do candidato eleito demonstrou que há possibilidade de mudança, embora essa não represente, de fato, uma ruptura devido às coligações formadas – ao contrário do petista que com a sua determinação optou por disputar o pleito com a pureza de seu partido e de sua ideologia. Ela representa sim o fim de todo domínio de um grupo ao qual São José do Rio Pardo estava sujeito há décadas, tendo em vista que quando certos figurões não estavam efetivamente no cargo, estavam comandando nos bastidores com todo aquele jogo que bem conhecemos.
A partir de agora viveremos, enfim, um momento de prosperidade, de novos ares a serem respirados, e de uma sensação de alívio ao nos vermos livres do coronelismo. Também será um tempo de exigirmos aquilo que foi prometido para que de novo não caiamos na armadilha a qual durante muito tempo estivemos presos.
Marcelo Augusto da Silva - 10/10/08

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Morte à memória rio-pardense

Nessa semana foi anunciada a demolição do antigo casarão do Artese, uma construção que compunha junto com o prédio do Mercado uma referência histórica do nosso município. A notícia foi lamentada por muitos, inclusive por aqueles que não são muito ligados a assuntos como preservação, história ou urbanismo. Sendo assim o velho prédio da família Artese tem seus dias contados.
Depois de muita polêmica e muita discussão acerca de seu destino e sobre a sua resistência, foi decidido enfim a solução final - embora ele será substituído por outro prédio que preservará suas dimensões e sua fachada original. Uma construção que causava fascínio a inúmeros rio-pardenses e visitantes terá o mesmo destino de outras tantas na nossa cidade, ou seja, a demolição.
É inegável o valor histórico do casarão do Artese. Os mais leigos no assunto de longe notam o valor que a obra tem para a memória da cidade, fato que dispensa qualquer avaliação ou certificação técnica.
Por outro lado, tendo em vista os tantos outros prédios e casas que foram transformados em entulho, não é de se estranhar que nada foi feito durante todos esses anos de abandono do casarão para que suas estruturas não sofressem avarias ou para que ele tivesse sido preservado. Quando os órgãos competentes foram criados ou quando eles agiram já havia algo comprometido na obra. O mesmo aconteceu com várias obras que em nome do progresso e da especulação foram desaparecendo da nossa cidade, dando lugar a prédios de linhas retas e fachadas transparentes como o único propósito de expandir a atividade econômica.
É possível adequar-se aos tempos sem soterrar o passado. É possível unir desenvolvimento e história. Porém é impossível aceitar que não se discuta soluções que não priorize somente alguns grupos. O espaço deixado pelo casarão do Artese jamais será preenchido.
É inaceitável não se pensar em deixar o passado vivo para os que aqui viverão e construirão as suas vidas; passado que presenciou momentos marcantes como a Proclamação da República antecipada, o nascimento de Os Sertões, a Revolução de 1932, além do período glorioso da produção cafeeira que fez nossa cidade germinar e que por mais que alguns lutem para manter esse passado presente, outros tantos conseguem que ele se perca.
Ambigüidade é o termo correto para classificar a postura de nossa cidade já que ao mesmo tempo em que se tenta transformá-la em um pólo turístico, não se preserva a sua memória.
Quem sabe a partir desse ocorrido se ponha um fim na onda de devastação que nossa arquitetura vem sofrendo há décadas, embora seja tarde demais, pois o que sobrou foi uma construção ou outra. Ou quem sabe então isso aos poucos vá mudando o pensamento de boa parte dos rio-pardenses e que eles passem a valorizar aquilo que vai muito além do material.
Se assim for as obras hoje construídas possam ser mantidas num futuro e aqueles que lá viverem terão a oportunidade de saber como eram os nossos dias.
Marcelo Augusto da Silva - 02/10/08