domingo, 27 de setembro de 2009

Ai de ti, América Latina!

Se alguém chegou a pensar que somente nas décadas de 1960 e 1970 a América Latina era vista como um pedaço de continente onde grupos ultraconservadores e o furor capitalista dos EUA impunham, através de golpes de Estado, o seu modelo capitalista a favor deles mesmos, se enganou por completo.
Apesar de muitos avanços em várias áreas e setores e o repúdio de pessoas e da comunidade internacional a respeito dos golpes de Estado, eles continuam a acontecer, como foi o caso de Honduras, país pobre e exportador de produtos primários como a banana e o café da América Central, que no dia 28 de junho teve o seu presidente, Manuel Zelaya, deposto e exilado, sendo retirado da sua própria casa ainda de pijama pelas Forças Armadas daquele país. Lamentavelmente mais uma vergonha causada pela raça humana em nome da preservação de seus privilégios financeiros.
Como sempre os golpistas apresentaram um motivo “justo” para esse tipo de ação; nesse caso a justificativa é que o presidente em exercício havia marcado uma consulta à população onde os hondurenhos poderiam dizer se nas eleições gerais de novembro, além de elegerem o novo presidente, deputados e autoridades locais, pudessem optar também pela convocação ou não de uma Assembléia Constituinte, o que serviu de pretexto para acusá-lo de tentar violar a Constituição, uma vez que naquele país ela não pode sofrer nenhuma alteração. A falsidade se fez ao afirmarem que dessa forma Zelaya tentaria mudar a Constituição para poder se reeleger, mecanismo não permitido em Honduras.
Essa estratégia foi usada para mascarar os reais motivos do golpe que fora aplicado a Zelaya, presidente tipicamente representante da direita de Honduras, um latifundiário daquele bem característico que usa bigode e um grande chapéu branco e que vive da criação de gado e da exportação de madeira, mas que de repente inverteu o discurso e começou a tomar medidas voltadas a áreas sociais que fizeram os grupos dominantes como a Igreja Católica, empresários, latifundiários, executivos de empresas bananeiras e partido políticos a tremerem de medo do que seria possível ser feito contra eles nessa administração.
Zelaya afirmou que não vai se curvar diante dos golpistas; ele não aceita a deposição e assume que vai lutar com todas as forças para voltar a ocupar seu cargo. Nessa semana ele se encontra na embaixada brasileira em Honduras, já que Lula deu apoio ao presidente. Os golpistas por sua vez colocaram as Forças Armadas cercando o prédio e dizem não permitir a sua retomada por questões de garantirem dessa forma o bom funcionamento do país.
Se Zelaya abandonou o discurso conservador e mesquinho que a direita carrega e começou a tentar diminuir os efeitos nocivos do neoliberalismo que ele mesmo colaborou em ser implantado em Honduras, quem sabe ele mantendo-se firme na sua decisão consiga não recuar diante desse ato ilegal e, voltando à presidência ele possa silenciar aqueles que tentaram livrar-se dele.
O governo interino que assumiu após o golpe, mais aqueles que o apoiaram podem sim ser considerados uma ameaça à legitimidade e à legalidade do país; a volta de Zelaya ao poder seria um exemplo que muitos gostariam de ver acontecer.


Marcelo Augusto da Silva - 25/09/09

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Novos rumos, novos lucros.

É interessante observar como as grandes empresas, bem como os investidores de uma maneira geral, sempre estão de olho em uma nova “tendência”– seja ela surgida espontaneamente ou por eles mesmos forjada - ou num segmento a ser explorado. Aliás, nossa vida de certa forma é pautada por aquilo que o sistema capitalista nos impõe, ditando o que devemos fazer, seguir, consumir, usar, etc.
Falo isso com base na constatação de vários casos como nas estratégias atuais do ramo da indústria de gêneros alimentícios e seus derivados que por muito tempo nos obrigam a consumir artigos que não são condizentes com as nossas necessidades, e que nem ao menos nos ofereçam algo saudável. Muito pelo contrário, essas empresas nos vendem produtos com a menor taxa de nutrientes, todos eles com grandes quantidades de calorias, conservantes, corantes e outros elementos químicos que só tem a contribuir com o desgaste de nosso organismo, tornando boa parte da população mundial em uma nação de obesos, viciados, com a saúde comprometida e insatisfeitos com sua vida e consigo mesmo.
No momento que essas empresas e as grandes redes de fast food se viram acuadas pela onda de conscientização que toma conta de grande parte da população, elas viraram seu foco e começaram a combater aquilo que elas próprias criaram. Vejam só o caso de redes como o McDonald’s que depois de enganar com seus lanches calóricos, gordurosos e com preços astronômicos, oferecem agora a seus clientes um cardápio variado com itens que vão desde os lanches naturais até as saladas. Até mesmo a Coca-Cola, com seus líquidos cheios de produtos tóxicos causadores de diversos males às pessoas, coloca agora em seus rótulos mensagens positivas estimulando os consumidores a deixarem o sedentarismo e levarem um dia-a-dia mais dinâmico e saudável. Empresas oferecem hoje alimentação “alternativa e saudável” - contraditoriamente industrializada - com uma promessa de emagrecimento rápido àqueles que não estão felizes com seus corpos devido ao que durante anos foi consumido indevidamente.
Uma bandeira foi erguida hoje também por outros setores que investem demasiadamente na questão ambiental e na preservação do planeta. A partir do início da industrialização até os dias atuais ela só veio a aumentar seus níveis de produção e de poluição, sendo que os envolvidos nesse sistema não pensaram na condição que a Terra estaria alguns anos à frente caso a humanidade consumisse nas quantidades que eles pretendiam para poder ganharem mais. É ridículo ver uma indústria ou empresa de produtos químicos, por exemplo, dizer que está pensando na saúde do planeta; pior ainda é vê-las passando a obrigação ainda aos consumidores para colaborarem com esse propósito. É como se fôssemos os únicos e exclusivos responsáveis pela degradação ambiental, sendo que na verdade nosso papel é apenas consumir um pouco daquilo que os grandes empresários criaram para enriquecerem.
Fazem isso não pensando, é claro, na saúde e no bem estar do mundo e daqueles que consomem suas produções, mas sim em não perderem seus lucros. Ou seja, ganharam com o veneno, ganham agora com o antídoto.
Marcelo Augusto da Silva - 11/09/09

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O legado da geração Woodstock

Muito se comentou sobre os 40 anos do Festival de Woodstock, mas pouco se disse sobre quem eram e o que queriam as pessoas que estavam presentes no evento.
Vistos por muitos como arruaceiros ou até mesmo vagabundos, os integrantes do movimento hippie tinham um propósito, um ideal de vida a ser difundido e, quem sabe, empregado. Contemporâneos de um momento histórico marcado por guerras, hostilidades entre nações e países e de muita opressão da sociedade e das gerações antecessoras, esses jovens protestaram à sua maneira contra as imposições que lhes eram outorgadas; mostraram a todos um novo estilo de vida e de comportamento, tentaram provar que a paz poderia existir e que um outro mundo, bem diferente daquele, era possível acontecer.
Se hoje um jovem adota um comportamento que ele julga ser-lhe adequado; se ele conquista sua liberdade sem muitos transtornos ou contratempos; é ouvido e respeitado dentro da sociedade, ele deve isso à juventude das décadas de 1960 e 1970 que foi contra tudo e todos, correndo todos os riscos para que todos esses direitos fossem desfrutado.
Embora a paz sonhada pelos hippies ainda não tenha se tornado uma realidade a situação do jovem progrediu muito comparada a outros momentos. Hoje o seu valor é reconhecido e seus direitos garantidos.
Cabelos compridos, vestuário feito de acordo com aquilo que sua personalidade determina, liberdade de ação e pensamento junto com outros tantos elementos que antes eram considerados um sacrilégio fazem parte da vida da juventude de hoje, sem que isso cause estranheza ou alarde.
Sempre alguém é sacrificado de uma forma ou outra quando uma luta para se conquistar um objetivo é iniciada, é uma condição natural que não deixa escapatórias. Seu objetivo é atingido, mas alguém paga o seu preço. Esse preço foi muito bem pago pela geração Woodstock, eles sentiram na pele a rejeição, o isolamento, a resistência de gerações conservadoras que não conseguiam ou não queriam entender o que na verdade eles estavam pedindo. Jovens e adolescentes da atualidade devem agradecimentos aos que hoje são considerados velhos e caretas. Seu engajamento, sua atitude e sua modernidade é um fruto da justa rebeldia de outros tempos.


Marcelo Augusto da Silva - 04/09/09