quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entre estadunidenses, israelenses e iranianos

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, você sabe que a gente precisa entrar em contato
Por quem os sinos dobram – Raul Seixas

Penso que um chefe de Estado deva manter uma postura diplomática com os chefes de outros países, mas não que isso expresse que ele tenha curvar-se diante deles e deixar de lado sua opinião e conduta. Se nessa tivemos a visita de Mahmoud Ahmadinejad - presidente do Irã, antiga Pérsia, uma das grandes civilizações do passado – não significa que o Brasil concorde com a ideologia iraniana ou com a do seu representante. Porém não podemos esquecer que tivemos também no país a presença de George Bush, representante do imperialismo yankee, e o presidente de Israel, Shimon Peres, o que deveria dividir as críticas contra Ahmadinejad entre eles ou então tentar entendê-la como parte de uma relação cordial entre nações, sem que elas interfiram no nosso cotidiano nem que subjugue nosso povo.
Não se deve concordar nem muito menos apoiar e bajular quem não respeita outros grupos sociais e nações ou então quem viole e vai contra os direitos humanos. Se Mahmoud Ahmadinejad já afirmou que o Holocausto foi uma ilusão, e o mundo sabe que não foi, não há como deixar isso passar em branco, mas também não se pode esquecer que o povo palestino, de origem islâmica, vive um Holocausto desce a criação do Estado de Israel em 1948, onde a sua ilegitimidade é lógica devido ao fato de seu território ter sido delimitado pela ONU em terras ocupadas por palestinos, levando assim os israelenses a promoverem uma matança a esse povo das mesmas proporções da que foi feita a eles durante a Segunda Guerra Mundial.
Por outro lado se o Irã desenvolve um trabalho nuclear em seu país, mesmo afirmado que não seja para fins bélicos, o representante dos estadunidenses não tem o direito de opinar sobre essa questão, como ele fez enviando uma carta à Lula antes da sua chegada ao Brasil, nem muito menos tentar limitar ou coibir essa ação iraniana, uma vez que os EUA são os que mais investem no desenvolvimento de armas nucleares. É óbvio que os habitantes da América do Norte têm medo de outro país ter um potencial à sua altura, ainda mais sendo ele muçulmano, o que torna o pavor insuportável, onde se usa todos os argumentos para por fim ao seu prosseguimento, independente da sua finalidade.
Se no nosso dia a dia temos que conviver com pessoas as quais não aceitamos seus pensamentos, opiniões e atitudes, no cenário político esse prática se repete, porém num nível elevado e com consequencias diferentes. Se por muitas vezes fechamos os olhos e toleramos determinados indivíduos para mantermos um clima de harmonia ou então para que numa situação conflitante tenhamos como manter uma neutralidade ou não conquistemos um inimigo a mais; vejo que os representantes do povo também assim agem.
Num momento desses deve se ter o máximo de cautela, não cair no radicalismo nem no extremismo e também não fazer parte do jogo sujo que muitos dos que vêm até aqui estão inseridos; muito menos abrir mão de seus valores; apenas fazer a cena cordial, porém muitas vezes falsa, da relação amigável entre as pessoas.
Marcelo Augusto da Silva - 27/11/09

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A glória dos perseguidos

O novo filme de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios, tem lotado as salas de cinema do país e levantado várias discussões a seu respeito, dividindo opiniões onde se afirma em se tratar de um thriller de violência ou então algo muito mais profundo.
Estrelado pelo galã de Hollywood Brad Pitt, dirigido pela primeira vez por Tarantino, e que surpreendeu mais uma vez ao provar que ele não realiza somente papéis de playboy assim como é a sua imagem tida por muitos, o longa segue bem a linha do diretor com seus toques de extrema violência, embora em menor proporção comparado aos seus trabalhos anteriores, referências aos filmes de western e de lutas, que fizeram a sua cabeça quando criança, e também não esquecendo de deixar bem evidente o seu fetiche por pés femininos. Analisando essa peculiaridade no seu estilo de filmagem pode-se dizer que Quentin Tarantino e Woody Allen se encontram ao colocar suas próprias vidas em seus filmes.
O diretor também foi criterioso ao escolher o elenco, principalmente no que diz respeito aos que interpretam os oficiais ou membros de outra patente do nazismo, que encarnaram toda a personalidade arrogante, prepotente e nojenta daqueles que fizeram parte desse movimento.
Ambientado na França ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, o enredo gira em torno de um grupo de “caçadores de nazistas”, liderado por Aldo Raine, interpretado por Brad Pitt, que devolvem todo o terror e truculência àqueles que agiram contra os judeus. Não lembrando somente do massacre contra os judeus, a obra faz menção a outros grupos que sofreram duras perseguições por conta de outro povo dominador, como os índios da América do Norte, representados por Aldo Raine que tem descendência apache e exige um número de escalpo de nazistas de cada integrante de seu grupo e também aos negros que foram duramente perseguidos pela ideologia nazista durante o período em que ela vigorou.
Diferentemente de outros filmes que abordam a matança contra os judeus, Bastardos Inglórios mostra um final que muitos gostariam de ter visto acontecer para os representantes máximos do nazismo; explorando bem esse assunto o filme penetra no sentimento de ódio que se tem em relação aos que covardemente abusaram de grupos indefesos e que outros tantos teriam a vontade de externá-lo. A violência tarantinesca foi usada a favor de todos aqueles que queriam ver os nazistas sofrerem na pele aquilo que foi feito contra as minorias. A História verdadeira abre um precedente para dar espaço a um destino mais cruel, e por que não dizer mais justo, àqueles que proferiram uma ideologia racista e preconceituosa e a colocaram em pratica com toda naturalidade.
Como Arnaldo Jabor contou em um artigo recente em que ele na sua juventude buscava a ilusão no cinema, Tarantino usou desse recurso e fez uma pessoa se vingar em nome de todos daqueles que um dia foram desumanos.


Marcelo Augusto da Silva - 20/11/09

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Tiros na podridão

Já não é mais novidade nenhuma os casos em que algum estadunidense entra alucinado em algum prédio e dispara vários tiros contra aqueles que lá se encontram, como se seu ódio e insatisfação fossem também atingidos e mortos pelas balas. Há poucos dias atrás tivemos uma dobradinha em que ocorreram dois desses fatos, que embora tendo motivos diferentes, mostram claramente o desespero de uma nação.
A vida moderna e seu modelo capitalista praticamente obrigam todos a serem iguais, de maneira que o comportamento, o pensamento, a vida e principalmente o patrimônio seja o mesmo, e nessa tresloucada busca nem todos conseguem ser aquilo que a sociedade de consume exige.
Os atentados em escolas ou universidades são os exemplos mais comuns dessa crise, reforçada ainda pela idolatria que aquele povo tem em relação às armas de fogo e a facilidade em obtê-las. O jovem acuado, pressionado e obrigado a ser algo que ele não quer ou que ele não consegue, se frustra, e a sua mente não suporta isso. Como a cultura dos videogames e do cinema é explodir tudo e acabar com todos, isso é feito na vida real.
No atentado ao quartel no Texas o atirador possivelmente foi motivado pela questão religiosa e cultural, uma vez que ele sendo um integrante do islamismo e tendo sido convocado a lutar no Afeganistão, isso representou uma carga pesada demais para ele. Supostamente deve ser um conflito um muçulmano viver nos EUA e ter de conviver com a herança da Doutrina Bush que determina a intolerância aos islâmicos e a invasão ao Oriente Médio. Já o segundo atirador não suportou ver uma empresa lhe sugar anos de sua e depois virar-lhe as costas; resolveu o seu conflito, ao menos que interno, a balas. Não aceitando nem concordando com essas atitudes, ela passa a sensação de que é como se todos vivessem numa enorme panela de pressão cheia de cobranças, e em que determinada hora ela explode.
Como o modo de vida estadunidense é imposto às pessoas ou então é desejado e copiado por elas, na ilusão de que uma vida recheada de produtos, bens e mercadorias lhe garantam a felicidade plena, é perigoso esse comportamento se alastrar e tomar conta de populações que se encontram em outros países. Vemos hoje muitos buscarem desenfreadamente uma felicidade que não é nunca atingida, sendo que para alcançá-la o individuo tem que ter tudo e ser perfeito em tudo, não só profissionalmente e financeiramente, mas também fisicamente onde se ele não tiver os padrões de beleza a frustração e a depressão cairá como uma pedra de toneladas sobre sua cabeça, fazendo dele um ser extremante infeliz e desgostoso.
Hoje esse assunto é bem claro para muitas pessoas e é discutido por muitos profissionais de diversas áreas, num esforço e cuidado para que isso não atormente mais o ser humano e lhe dê condições de viver uma vida de qualidade e não de cobranças e metas a cumprir. Todos somos falíveis, temos nossas limitações e nossa própria personalidade, nos colocar num molde pré-fabricado e com a intenção de nos condicionarmos a ele é uma tarefa um tanto quanto complicada ao ser humano que ainda mal consegue conhecer e entender a si próprio.
Marcelo Augusto da Silva - 13/11/09

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nos tempos das caças às bruxas

Sempre comento a respeito das mudanças conquistadas pela sociedade de um modo geral e o resultado positivo que elas proporcionaram; recentemente falei sobre a alteração no comportamento dos jovens atuais e o seu progresso em relação às gerações passadas. Porém o tratamento dado à estudante de Turismo da Uniban abalou muitos e me levou a uma outra interpretação do que se passa na mentalidade das pessoas, principalmente dos jovens.
Vivíamos anteriormente uma época de repressão e preconceitos que finalmente vemos (ou víamos) ultrapassada, onde as liberdades são de certa forma respeitadas e a vontade própria prevalece. Mudaram-se as estruturas de acordo com a alteração do comportamento e dos costumes que numa linha evolutiva inevitavelmente acontece, embora uma mudança não implique numa inversão de valores. Se ontem o jovem era massacrado, excluído e recriminado pelo pouco que queria fazer, essa situação ocorrida na unidade da faculdade de São Bernardo do Campo mostrou que esse direito não está sendo respeitado. Olhando o caso mais profundamente podemos concluir que a ação demente daqueles alunos reflete a confusão em suas idéias e objetos parecendo que eles não sabem o que querem, o que seguir, para que lutar e o que combater.
Muito além de vandalismo, a covardia e a violência dos estudantes da Uniban demonstrou um ato de desrespeito ao ser humano e à sua liberdade; uma critica sem fundamento que pode ser explicada como uma critica à própria juventude que não sabe o que fazer com os direitos que ela possui. Julgar alguém pelo seu traje, independentemente de quem seja e do que ele representa, coloca a mentalidade jovem confinada ao atraso, se assemelhando à sociedade medieval, ou então às culturas islâmicas onde a mulher é subjugada e tratada como ser inferior, que pode ser condenada ao apedrejamento ou às chibatadas dependendo do que ela faça de “incorreto” aos olhos de uma comunidade machista, e retrógrada.
Um espaço como uma faculdade deveria ser e representar um lugar onde as diferenças fossem respeitas, sendo um ambiente de socialização e igualdade entre as pessoas. Deveria mostrar que os universitários são representantes de uma parcela da sociedade que se privilegia em poder aperfeiçoar o uso da razão e o desenvolvimento intelectual.
Chega a causar aflição ao ver centenas de alunos enfurecidos perseguindo e ofendendo uma colega dessa forma; dá a impressão de um julgamento de rua, típico das comunidades do passado, onde tudo era resolvido às pressas de uma forma arbitrária sob o clamor e apelos de um grupo que se julgava dominante e dono da verdade. No passado mulheres eram queimadas em praça pública, aqui uma foi humilhada e ofendida e quase agredida; parece que séculos de evolução não representou uma alteração significativa.
Dentre toda essa barbárie ocorrida a esperança que fica é que isso não espelhe o comportamento dos jovens como um todo e sim de um grupo isolado, que pode estar ter sua explicação ligada à sua origem e formação. Do contrário será uma grande frustração ver que depois de toda a luta pela conquista de direitos básicos que o jovem promoveu, resulte nessa atitude. Sendo assim nada adiantou todo o esforço dispensado.
Marcelo Augusto da Silva - 06/11/09