1964: o ano que não acabou
Acordei
nessa manhã do dia 12/03 com uma sensação pesada; sentia uma atmosfera tensa,
um clima ruim, algo negativo rondava.
Ao
ler as redes sociais esse mal-estar se tornava mais presente. Perseguição à
partidários; ataques à reuniões e à instituições e as ofensas de sempre vinham de todos os lados, cada qual impondo
sua razão de pensar sobre o outros, sem que ambos sinalizassem para algo que
trouxesse o bem coletivo.
Lembrei
de minhas aulas sobre a Guerra Fria e sobre a Ditadura Militar no Brasil e como
muitos alunos pasmavam ao me ouvir dizendo das liberdades que não eram resguardadas
ou de como as ideologias pesavam sobre a vida de algumas pessoas e de alguns
grupos, sendo usadas para legitimar atos arbitrários e violentos. Era esse
clima que pairava nessa manhã: o de que o ano 1964 ainda não havia acabado.
A
minha geração que viveu o fim desse período, que se mostrou e lutou na década
de 1980 para que existisse liberdade e igualdade social, assiste tristemente um
retrocesso, o qual chega no seu auge em que o Estado de Direito para ser uma
utopia.
Aquilo que víamos de
horizonte no começo desse século - embora nossa Democracia carecesse muito de
aperfeiçoamentos – como governos populares na América Latina e a ascensão de
várias camadas da sociedade é vista agora ruindo de maneira fulminante, sendo
trucidada pela farsa de justiça, moral e combate à corrupção.
Com
a mesma estratégia maquiavélica da década de 1960, a mesma elite conservadora,
retrógrada, pseudo ética e mantenedora de seus privilégios conquistados
por meios escusos, se arma novamente e arrebanha massas robotizadas a marchar
por seus ideias particulares.
O
atentado contra os direitos que vemos por todos esses dias, sejam eles em todas
suas variantes, mostra bem claro que o ódio conservador apenas se manteve
silencioso por algum tempo. Agora ele se manifesta com a mesma voracidade de outrora;
se traveste de justiça, moral e resguardador de verdades; verdades que dizem
ser para o bem de todos.
De
repente a sensação passa a ser de medo; pois há pouco, esse pesadelo que paira
no dia de hoje era apenas uma hipótese que estava bem longe de acontecer. Agora
a cada momento ou acontecimento ele vai se tornando real; clamar por direitos,
liberdades, igualdade passa ser visto novamente como subversivo; vemos emergir
do pântano do conservadorismo a sombra que encobriu e amordaçou nossa
sociedade.
Marcelo Augusto da Silva - 12/03/2016