quinta-feira, 26 de maio de 2011

Violência pela paz


“Na virada do século, alvorada voraz
Nos aguardam exércitos, que nos guardam da paz. Que Paz?”
Alvorada Voraz - RPM

Talvez seja um pouco tarde pra dizer algo sobre o assassinato do líder da Al Qaeda, Bin Laden, ou então o assunto já tenha sido esgotado pelas várias formas de imprensa. Porém não há como deixar de tocar no que aconteceu, mesmo porque daqui pra frente as circinstâncias mostram que a situação irá tomar outros rumos, sempre numa relação de piora.
Ler a respeito do comportamento dos estadunidenses após a notícia da morte do terrorista foi pertubador, embora não se possa esperar muito daqueles que moram no norte do continente americano. No Ground Zero, local em que havia as Torres Gêmeas, filhos de uma vítima do atentado de 11/09/01 fizeram uma homenagem póstuma ao pai oferencendo flores com a preocupante frase “ A vingança foi feita”. Infâmia que Obama soube evitar substituindo por “A justiça foi feita”.
O ódio entre o Oriente Médio e o Ocidente não é um sentimento recente, nem por isso a atribuição de culpa sobre ataque recíprocos deva incidir sobre uma das partes. Se a Expansão Islâmica foi responsável por impor sua religião e matar muitos, as Cruzadas também se mostraram tão prepotentes e violentas quanto a ação muçulmana, abrindo um precedente para a rivalidade atual, não deixando bem definido quem foi o responsável por essa situação inimiga infindável.
Dentre todos os ataque de ambos os lados, o atentado às Torres Gêmeas foi o mais repercutivo. O fato é que a grande imprensa nunca divulga as intervenções estadunidenses em território oposto, nem muito menos mostra relações escusas entre ocidente e oriente, passando assim somente uma visão de que os EUA são vítimas. Pensar que daqui pra frente as condições irão se normalizar é um tanto quanto inocente; pensar que a justiça foi feita é não entender bem o significado da palavra. A revidação certamente virá.
Invadir para matar, mesmo com toda a culpa que carrega aquele que foi morto, não pode ser um exemplo de justiça, partindo do ponto em que a morte em nenhum caso é justificável. A ação mostrou uma ira estadunidense contida e agora resolvida nessa desforra.
Para os extremistas islamicos, o corpo do líder de uma das maiores organizações fundamentalistas estar em algum lugar do Mar Arábico, pode significar mais do que um extermínio, pode ser o aval para que mais ataques sejam executados contra alvos ocidentais, ou como pensam os seguidores da religião de Maomé, contra “os infiéis”.
Se o candidato à reelição pensou estar fazendo justiça, sua atitude não demonstra outra coisa além de retaliação. Se um país foi invadido e a operação foi tão bem realizada, por que não pensar na hipótese de capturar o terrorista e julgá-lo antes de uma execução? Obama e seus conterrâneos vivem querendo fazer apelos à paz e se passarem por quem se preocupa com ela. No entanto matar, segundo a ideologia deles, não é uma ação execrável e sim um ato de nobreza e a violência, desde que seja para impor a paz deles, é aprovada.


Marcelo Augusto da Silva - 27/05/2011

domingo, 15 de maio de 2011

Momentos de oba-oba

“A felicidade é uma perfeita forma de dominação totalitária”
Alfredo, personagem central do filme “Cronicamente Inviável”.

O transcorrer dos dias se faz, basicamente, em função das datas comemorativas ou dos eventos anuais. Mal se acabam as festas de final de ano e já se prepara para a chegada do Carnaval, que na quarta-feira de cinzas lembra que a Páscoa logo virá sucedida pelo dia das mães, que por sua vez, logo após dela virá outro dia a ser comemorado. Boa parte dessa sucessão de comemorações tem como responsável os interesses econômicos que propositalmente obrigam a vivenciá-las como forma de garantir uma lucratividade.
Juntamente com as datas festivas, a sociedade aguarda ansiosamente determinados eventos que se realizam periodicamente. É nessa época do ano em que estamos que vemos as festas populares – de inspiração estrangeira - tomarem conta de boa parte do território brasileiro, seja em grandes ou pequenas cidades, fazendo com que muitos, principalmente os jovens, dediquem seus os dias em função de sua realização. Assim como a mídia condiciona a presentear cada um em sua respectiva data, uma “consenso coletivo” leva muitos a participarem igualmente e contentemente dessas festas e eventos. A alegria passa a ser uma obrigação, um ritual que se deva passar, mesmo que não seja verdadeiro, tipo aquela felicidade extasiante e forçosa que todos têm que ter no verão ou no Carnaval. Embora esse sentimento não exista ou não faça parte naquele momento, a felicidade é como um compromisso a ser seguido. Uma felicidade a ser vivida mesmo que efêmera, falsa, pútrida e alucinante.
Envolvidos por esse clima de euforia a velha lógica do panis et circenses1 é colocada novamente em prática - acrescida atualmente da tática de gerar lucros para alguns – para assim se alcançar o objetivo de obter o controle geral, onde a população se converte naquela massa robotizada e alienada, que troca escassos momentos de alegria compulsória e imposta em detrimento da sua vida própria, deixando esquecido seu cotidiano, nem sempre satisfatório, pensando assim valer a pena “desfrutar bem” esses instantes.
Viver intensamente, superar limites, cometer exageros e desafiar a si mesmo são alguns dos ingredientes que movimentam multidões nessas ocasiões, que inocentemente e levados por essas sensações contagiantes e tidas como “essencialmente necessárias” são transformados em massa de manobra para o aproveitamento de alguns grupos pertencentes às elites ou àqueles responsáveis por nossa vida pública.
Que o lazer, e o consequente contentamento trazido por ele, são quesitos básicos para a nossa existência não há como contestar; o que não é tolerável é ver a sociedade ser manipulada e usada com peça fundamental de um jogo oportunista daqueles que se utilizam da felicidade alheia para o ganho ou para aproveitamento político.
Trocando em miúdos, a estratégia encoberta, e que vem aos olhos de quem está do lado de fora e não se deixa envolver, é ofertar diversão para dominar com mais facilidade. Os problemas do dia a dia são esquecidos nesses escassos momentos. Em troca se tem o controle da população no intuito de tirar algum benefício. Dê alegria a um povo e faça dele o que quiser.


1 Estratégia política utilizada pelo governo imperial romano em que se distribuía pão e se promovia a realização de espetáculos grandiosos e brutais para a enorme população pobre e desempregada, com o objetivo de desviar a sua atenção e assim conter revoltas



Marcelo Augusto da Silva - 12/05/2011