domingo, 15 de maio de 2011

Momentos de oba-oba

“A felicidade é uma perfeita forma de dominação totalitária”
Alfredo, personagem central do filme “Cronicamente Inviável”.

O transcorrer dos dias se faz, basicamente, em função das datas comemorativas ou dos eventos anuais. Mal se acabam as festas de final de ano e já se prepara para a chegada do Carnaval, que na quarta-feira de cinzas lembra que a Páscoa logo virá sucedida pelo dia das mães, que por sua vez, logo após dela virá outro dia a ser comemorado. Boa parte dessa sucessão de comemorações tem como responsável os interesses econômicos que propositalmente obrigam a vivenciá-las como forma de garantir uma lucratividade.
Juntamente com as datas festivas, a sociedade aguarda ansiosamente determinados eventos que se realizam periodicamente. É nessa época do ano em que estamos que vemos as festas populares – de inspiração estrangeira - tomarem conta de boa parte do território brasileiro, seja em grandes ou pequenas cidades, fazendo com que muitos, principalmente os jovens, dediquem seus os dias em função de sua realização. Assim como a mídia condiciona a presentear cada um em sua respectiva data, uma “consenso coletivo” leva muitos a participarem igualmente e contentemente dessas festas e eventos. A alegria passa a ser uma obrigação, um ritual que se deva passar, mesmo que não seja verdadeiro, tipo aquela felicidade extasiante e forçosa que todos têm que ter no verão ou no Carnaval. Embora esse sentimento não exista ou não faça parte naquele momento, a felicidade é como um compromisso a ser seguido. Uma felicidade a ser vivida mesmo que efêmera, falsa, pútrida e alucinante.
Envolvidos por esse clima de euforia a velha lógica do panis et circenses1 é colocada novamente em prática - acrescida atualmente da tática de gerar lucros para alguns – para assim se alcançar o objetivo de obter o controle geral, onde a população se converte naquela massa robotizada e alienada, que troca escassos momentos de alegria compulsória e imposta em detrimento da sua vida própria, deixando esquecido seu cotidiano, nem sempre satisfatório, pensando assim valer a pena “desfrutar bem” esses instantes.
Viver intensamente, superar limites, cometer exageros e desafiar a si mesmo são alguns dos ingredientes que movimentam multidões nessas ocasiões, que inocentemente e levados por essas sensações contagiantes e tidas como “essencialmente necessárias” são transformados em massa de manobra para o aproveitamento de alguns grupos pertencentes às elites ou àqueles responsáveis por nossa vida pública.
Que o lazer, e o consequente contentamento trazido por ele, são quesitos básicos para a nossa existência não há como contestar; o que não é tolerável é ver a sociedade ser manipulada e usada com peça fundamental de um jogo oportunista daqueles que se utilizam da felicidade alheia para o ganho ou para aproveitamento político.
Trocando em miúdos, a estratégia encoberta, e que vem aos olhos de quem está do lado de fora e não se deixa envolver, é ofertar diversão para dominar com mais facilidade. Os problemas do dia a dia são esquecidos nesses escassos momentos. Em troca se tem o controle da população no intuito de tirar algum benefício. Dê alegria a um povo e faça dele o que quiser.


1 Estratégia política utilizada pelo governo imperial romano em que se distribuía pão e se promovia a realização de espetáculos grandiosos e brutais para a enorme população pobre e desempregada, com o objetivo de desviar a sua atenção e assim conter revoltas



Marcelo Augusto da Silva - 12/05/2011

Um comentário:

Adriano D.D. do Nascimento disse...

É meu amigo, somos determinados, controlados por relações de poder que fogem ao senso comum. Penso que talvez esse comportamento das pessoas seria um meio “inconsciente” para se sentir mais vivas: quanto mais se vive, mais vivos se consideram. Não seria também uma fuga à constatação de desvalor a que as pessoas são, em sua maioria, submetidas pelas relações de dominação que imperam sobre nossa sociedade?