Não sei se o “efeito
virada” (nome dado ao medo causado pelos arrastões e pela violência ocorrida na
Virada Cultural em São Paulo nos dias 18 e 19) afetou a versão interiorana do
evento, mas a sensação deixada pela Virada Cultural em São João da Boa Vista nesse
último fim de semana, é que ela perdeu um pouco de sua força. Com um público formado
por aproximadamente um terço das edições anteriores, cheguei a questionar para
quem esse evento estava sendo realizado, uma vez que muitos que ali estavam,
pareciam que tinham apenas como propósito “estar num local que tivesse bastante
gente”, não para prestigiar algumas das atrações.
Em parte, o evento
foi muito prejudicado pela organização técnica, cuja responsável foi a MS produções, uma empresa de sonorização
e iluminação que gerou uma sucessão de atrasos e realizou uma má regulagem de
som, a qual prejudicou o desempenho dos artistas e irritou o público.
O show da cantora Gal
Costa, que nos dias anteriores parecia ser o mais cotado e, portanto, o que
mais concentraria o público, já que muitos manifestavam interesse em vê-lo, não
atingiu as expectativas previstas em relação ao número de espectadores e à apresentação
em si. O show marcado para a 00h30 e que começou às 02h00, fez com que boa
parte dos presentes, aos poucos, fosse deixando o local; depois de tanta espera
a apresentação começou com um aspecto elitista e intimista; o show apresentado, Recanto, contém um acompanhamento
eletrônico nas composições novas que vão do funk ao rap e arranjos
diferenciados nas antigas, o que causou uma certa barreira entre a cantora e o
público que parecia estar esperando um outro tipo de apresentação; Gal não
chegou a ser arrogante, mas deu a impressão, em certos momentos, de estar posando
de estrela, comportamento que pode ser entendido pelo destaque que a mídia vem
dando a esse novo espetáculo e pela boa recepção que sua volta ao palcos teve.
Porém, sem a intenção
de enaltecer os estrangeiros em detrimento dos brasileiros, o evento foi recompensado
com o show de Shirley King, a qual encerrou a programação. Pouco conhecida no
Brasil, a cantora que veio acompanhada de uma banda integrada por músicos de
peso, esbanjou talento, competência e simpatia; os tropeços da sonorização
quase passaram despercebidos diante de seu talento e carisma.
Shirley, que carrega
consigo a responsa de ser filha do gênio dos blues B.B.King, trás no sangue a
força da musicalidade e da voz negra, tem a expressividade característica dos
artistas do sul dos EUA e a força do blues nas suas canções. Com uma
simplicidade e um comportamento que dava a sensação que ela cantava para um
grupo de velhos amigos, o espetáculo rolou envolvente e descontraído, junto com
a energia de sua voz e as investidas de seus músicos, cada qual explorando ao
máximo a sonoridade de seus instrumentos. Com toda a humildade, a cantora
desceu do palco e foi junto ao público cantar abraçada a ele, retribuindo dessa
maneira a consideração oferecida.
Se atrações foram
prejudicadas ou deixaram a desejar, a musicalidade da filha do astro do blues
apagou alguma má impressão que pairava no ar; despertou novamente o desejo de
estar novamente na próxima edição da Virada Cultural Paulista, procurando
“diversão e arte para qualquer parte”.
Marcelo Augusto da Silva - 30/05/2013