sábado, 12 de março de 2016

1964: o ano que não acabou

Acordei nessa manhã do dia 12/03 com uma sensação pesada; sentia uma atmosfera tensa, um clima ruim, algo negativo rondava.
Ao ler as redes sociais esse mal-estar se tornava mais presente. Perseguição à partidários; ataques à reuniões e à instituições e as ofensas de sempre  vinham de todos os lados, cada qual impondo sua razão de pensar sobre o outros, sem que ambos sinalizassem para algo que trouxesse o bem coletivo.
Lembrei de minhas aulas sobre a Guerra Fria e sobre a Ditadura Militar no Brasil e como muitos alunos pasmavam ao me ouvir dizendo das liberdades que não eram resguardadas ou de como as ideologias pesavam sobre a vida de algumas pessoas e de alguns grupos, sendo usadas para legitimar atos arbitrários e violentos. Era esse clima que pairava nessa manhã: o de que o ano 1964 ainda não havia acabado.
A minha geração que viveu o fim desse período, que se mostrou e lutou na década de 1980 para que existisse liberdade e igualdade social, assiste tristemente um retrocesso, o qual chega no seu auge em que o Estado de Direito para ser uma utopia.
Aquilo que víamos de horizonte no começo desse século - embora nossa Democracia carecesse muito de aperfeiçoamentos – como governos populares na América Latina e a ascensão de várias camadas da sociedade é vista agora ruindo de maneira fulminante, sendo trucidada pela farsa de justiça, moral e combate à corrupção.
Com a mesma estratégia maquiavélica da década de 1960, a mesma elite conservadora, retrógrada, pseudo ética e mantenedora de seus privilégios conquistados por meios escusos, se arma novamente e arrebanha massas robotizadas a marchar por seus ideias particulares.
O atentado contra os direitos que vemos por todos esses dias, sejam eles em todas suas variantes, mostra bem claro que o ódio conservador apenas se manteve silencioso por algum tempo. Agora ele se manifesta com a mesma voracidade de outrora; se traveste de justiça, moral e resguardador de verdades; verdades que dizem ser para o bem de todos.
De repente a sensação passa a ser de medo; pois há pouco, esse pesadelo que paira no dia de hoje era apenas uma hipótese que estava bem longe de acontecer. Agora a cada momento ou acontecimento ele vai se tornando real; clamar por direitos, liberdades, igualdade passa ser visto novamente como subversivo; vemos emergir do pântano do conservadorismo a sombra que encobriu e amordaçou nossa sociedade.

Marcelo Augusto da Silva - 12/03/2016

Um comentário:

Adriano do Nascimento disse...

Como você mesmo afirma, meu caro, paira no ar um clima de golpismo travestido das mais "dignas atitudes de justiça". Essa representação teatral dos golpistas enoja os conhecedores da luta de governos populares por uma democracia justa e, ao mesmo tempo, soa como o canto da sereia a ouvidos desatentos e ordinários de um povo eminentemente desprovido de senso moral ou crítico. Belo texto!