quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Morreu o sonhador, não o sonho

Oh! Nem o tempo amigo, nem a força bruta, pode um sonho apagar
Canção do Novo Mundo – Beto Guedes

Há vinte e nove anos atrás, no dia 08 de dezembro, uma tragédia deixou o mundo um pouco mais sem graça. Vítima de uma insanidade de um fã John Lennon não pôde continuar a trilhar o seu caminho em busca de um mundo de paz.
Se ele foi sonhador demais ou utópico demais ficou, na pior das hipóteses, o exemplo de que se todos fizerem a sua parte e juntos cantarem a mesma canção, há possibilidades de melhora.
É muito arriscado analisar a personalidade de John Lennon e também da sua carreira artística em poucas palavras, pois há uma quantidade imensa de acontecimentos que podem levar a diversas reflexões sobre ele. Com sua vida artística projetada com os Beatles o artista se destacou junto Paul McCartney nas composições do grupo que fizeram um sucesso até hoje inigualável. Certamente ele percebeu os rumos que a banda estava tomando e resolveu buscar aquilo que o satisfazia e não se deixando cair na trivialidade que muitas bandas atingem após uns anos de existência; a própria história dos Beatles mostra uma evolução em seu trabalho, passando das baladas de um rock melódico a um trabalho mais maduro e engajado concretizado em álbuns históricos no estilo psicodélico como o Revolver (1966), Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), Álbum Branco (1968) e Yellow Submarine (1969). Possivelmente essa evolução levou Lennon a se motivar a ir mais além, partindo para uma carreira solo e não ficar restrito a um grupo que pudesse lhe limitar ou então que não se sustentaria por muito tempo, independentemente da sua qualidade, e da coesão que sempre houve entre seus integrantes.
Polêmico por muitas vezes, como na ocasião em que afirmou que os Beatles eram mais populares que Jesus Cristo e ousado ao se tornar um ativista contra a Guerra do Vietnã, a qual os EUA estavam travando e sendo assim investigado pelo governo Nixon que tentou deportá-lo, procurou disseminar no mundo a paz em forma de música. Lennon incentivou a todos a sonharem, a lutarem por esse sonho e enfim a realizarem esse sonho. John Lennon se coloca hoje entre as grandes personalidades que se destacaram por não se acomodarem diante de uma realidade insuportável; faz parte daquele seleto grupo de pessoas que não se encaixam no que é imposto e conseguem achar o canal apropriado para colocar em prática aquilo que desejam.
É claro que sua morte prematura e em condições adversas como ocorreu o projetou ainda mais e lhe garantiu um número ainda maior de fãs, muitos deles sem a mínima noção de quem ele foi e do que ele propunha. Porém independente daqueles que idolatram quem já se foi e assim transformam a execução de suas composições num grande clichê, John Lennon deixou a sua mensagem, que continua inspirando as pessoas e as conduzindo a um nível em que se tenta atingir a harmonia. Embora ironicamente vítima da violência muito combatida por ele, seu sonho de paz ainda continua vivo num mundo bem mais caótico daquele que ele queria mudar nas décadas de 1960 e 1970.


Marcelo Augusto da Silva - 11/12/09

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entre estadunidenses, israelenses e iranianos

Nunca se vence uma guerra lutando sozinho, você sabe que a gente precisa entrar em contato
Por quem os sinos dobram – Raul Seixas

Penso que um chefe de Estado deva manter uma postura diplomática com os chefes de outros países, mas não que isso expresse que ele tenha curvar-se diante deles e deixar de lado sua opinião e conduta. Se nessa tivemos a visita de Mahmoud Ahmadinejad - presidente do Irã, antiga Pérsia, uma das grandes civilizações do passado – não significa que o Brasil concorde com a ideologia iraniana ou com a do seu representante. Porém não podemos esquecer que tivemos também no país a presença de George Bush, representante do imperialismo yankee, e o presidente de Israel, Shimon Peres, o que deveria dividir as críticas contra Ahmadinejad entre eles ou então tentar entendê-la como parte de uma relação cordial entre nações, sem que elas interfiram no nosso cotidiano nem que subjugue nosso povo.
Não se deve concordar nem muito menos apoiar e bajular quem não respeita outros grupos sociais e nações ou então quem viole e vai contra os direitos humanos. Se Mahmoud Ahmadinejad já afirmou que o Holocausto foi uma ilusão, e o mundo sabe que não foi, não há como deixar isso passar em branco, mas também não se pode esquecer que o povo palestino, de origem islâmica, vive um Holocausto desce a criação do Estado de Israel em 1948, onde a sua ilegitimidade é lógica devido ao fato de seu território ter sido delimitado pela ONU em terras ocupadas por palestinos, levando assim os israelenses a promoverem uma matança a esse povo das mesmas proporções da que foi feita a eles durante a Segunda Guerra Mundial.
Por outro lado se o Irã desenvolve um trabalho nuclear em seu país, mesmo afirmado que não seja para fins bélicos, o representante dos estadunidenses não tem o direito de opinar sobre essa questão, como ele fez enviando uma carta à Lula antes da sua chegada ao Brasil, nem muito menos tentar limitar ou coibir essa ação iraniana, uma vez que os EUA são os que mais investem no desenvolvimento de armas nucleares. É óbvio que os habitantes da América do Norte têm medo de outro país ter um potencial à sua altura, ainda mais sendo ele muçulmano, o que torna o pavor insuportável, onde se usa todos os argumentos para por fim ao seu prosseguimento, independente da sua finalidade.
Se no nosso dia a dia temos que conviver com pessoas as quais não aceitamos seus pensamentos, opiniões e atitudes, no cenário político esse prática se repete, porém num nível elevado e com consequencias diferentes. Se por muitas vezes fechamos os olhos e toleramos determinados indivíduos para mantermos um clima de harmonia ou então para que numa situação conflitante tenhamos como manter uma neutralidade ou não conquistemos um inimigo a mais; vejo que os representantes do povo também assim agem.
Num momento desses deve se ter o máximo de cautela, não cair no radicalismo nem no extremismo e também não fazer parte do jogo sujo que muitos dos que vêm até aqui estão inseridos; muito menos abrir mão de seus valores; apenas fazer a cena cordial, porém muitas vezes falsa, da relação amigável entre as pessoas.
Marcelo Augusto da Silva - 27/11/09

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A glória dos perseguidos

O novo filme de Quentin Tarantino, Bastardos Inglórios, tem lotado as salas de cinema do país e levantado várias discussões a seu respeito, dividindo opiniões onde se afirma em se tratar de um thriller de violência ou então algo muito mais profundo.
Estrelado pelo galã de Hollywood Brad Pitt, dirigido pela primeira vez por Tarantino, e que surpreendeu mais uma vez ao provar que ele não realiza somente papéis de playboy assim como é a sua imagem tida por muitos, o longa segue bem a linha do diretor com seus toques de extrema violência, embora em menor proporção comparado aos seus trabalhos anteriores, referências aos filmes de western e de lutas, que fizeram a sua cabeça quando criança, e também não esquecendo de deixar bem evidente o seu fetiche por pés femininos. Analisando essa peculiaridade no seu estilo de filmagem pode-se dizer que Quentin Tarantino e Woody Allen se encontram ao colocar suas próprias vidas em seus filmes.
O diretor também foi criterioso ao escolher o elenco, principalmente no que diz respeito aos que interpretam os oficiais ou membros de outra patente do nazismo, que encarnaram toda a personalidade arrogante, prepotente e nojenta daqueles que fizeram parte desse movimento.
Ambientado na França ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, o enredo gira em torno de um grupo de “caçadores de nazistas”, liderado por Aldo Raine, interpretado por Brad Pitt, que devolvem todo o terror e truculência àqueles que agiram contra os judeus. Não lembrando somente do massacre contra os judeus, a obra faz menção a outros grupos que sofreram duras perseguições por conta de outro povo dominador, como os índios da América do Norte, representados por Aldo Raine que tem descendência apache e exige um número de escalpo de nazistas de cada integrante de seu grupo e também aos negros que foram duramente perseguidos pela ideologia nazista durante o período em que ela vigorou.
Diferentemente de outros filmes que abordam a matança contra os judeus, Bastardos Inglórios mostra um final que muitos gostariam de ter visto acontecer para os representantes máximos do nazismo; explorando bem esse assunto o filme penetra no sentimento de ódio que se tem em relação aos que covardemente abusaram de grupos indefesos e que outros tantos teriam a vontade de externá-lo. A violência tarantinesca foi usada a favor de todos aqueles que queriam ver os nazistas sofrerem na pele aquilo que foi feito contra as minorias. A História verdadeira abre um precedente para dar espaço a um destino mais cruel, e por que não dizer mais justo, àqueles que proferiram uma ideologia racista e preconceituosa e a colocaram em pratica com toda naturalidade.
Como Arnaldo Jabor contou em um artigo recente em que ele na sua juventude buscava a ilusão no cinema, Tarantino usou desse recurso e fez uma pessoa se vingar em nome de todos daqueles que um dia foram desumanos.


Marcelo Augusto da Silva - 20/11/09

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Tiros na podridão

Já não é mais novidade nenhuma os casos em que algum estadunidense entra alucinado em algum prédio e dispara vários tiros contra aqueles que lá se encontram, como se seu ódio e insatisfação fossem também atingidos e mortos pelas balas. Há poucos dias atrás tivemos uma dobradinha em que ocorreram dois desses fatos, que embora tendo motivos diferentes, mostram claramente o desespero de uma nação.
A vida moderna e seu modelo capitalista praticamente obrigam todos a serem iguais, de maneira que o comportamento, o pensamento, a vida e principalmente o patrimônio seja o mesmo, e nessa tresloucada busca nem todos conseguem ser aquilo que a sociedade de consume exige.
Os atentados em escolas ou universidades são os exemplos mais comuns dessa crise, reforçada ainda pela idolatria que aquele povo tem em relação às armas de fogo e a facilidade em obtê-las. O jovem acuado, pressionado e obrigado a ser algo que ele não quer ou que ele não consegue, se frustra, e a sua mente não suporta isso. Como a cultura dos videogames e do cinema é explodir tudo e acabar com todos, isso é feito na vida real.
No atentado ao quartel no Texas o atirador possivelmente foi motivado pela questão religiosa e cultural, uma vez que ele sendo um integrante do islamismo e tendo sido convocado a lutar no Afeganistão, isso representou uma carga pesada demais para ele. Supostamente deve ser um conflito um muçulmano viver nos EUA e ter de conviver com a herança da Doutrina Bush que determina a intolerância aos islâmicos e a invasão ao Oriente Médio. Já o segundo atirador não suportou ver uma empresa lhe sugar anos de sua e depois virar-lhe as costas; resolveu o seu conflito, ao menos que interno, a balas. Não aceitando nem concordando com essas atitudes, ela passa a sensação de que é como se todos vivessem numa enorme panela de pressão cheia de cobranças, e em que determinada hora ela explode.
Como o modo de vida estadunidense é imposto às pessoas ou então é desejado e copiado por elas, na ilusão de que uma vida recheada de produtos, bens e mercadorias lhe garantam a felicidade plena, é perigoso esse comportamento se alastrar e tomar conta de populações que se encontram em outros países. Vemos hoje muitos buscarem desenfreadamente uma felicidade que não é nunca atingida, sendo que para alcançá-la o individuo tem que ter tudo e ser perfeito em tudo, não só profissionalmente e financeiramente, mas também fisicamente onde se ele não tiver os padrões de beleza a frustração e a depressão cairá como uma pedra de toneladas sobre sua cabeça, fazendo dele um ser extremante infeliz e desgostoso.
Hoje esse assunto é bem claro para muitas pessoas e é discutido por muitos profissionais de diversas áreas, num esforço e cuidado para que isso não atormente mais o ser humano e lhe dê condições de viver uma vida de qualidade e não de cobranças e metas a cumprir. Todos somos falíveis, temos nossas limitações e nossa própria personalidade, nos colocar num molde pré-fabricado e com a intenção de nos condicionarmos a ele é uma tarefa um tanto quanto complicada ao ser humano que ainda mal consegue conhecer e entender a si próprio.
Marcelo Augusto da Silva - 13/11/09

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Nos tempos das caças às bruxas

Sempre comento a respeito das mudanças conquistadas pela sociedade de um modo geral e o resultado positivo que elas proporcionaram; recentemente falei sobre a alteração no comportamento dos jovens atuais e o seu progresso em relação às gerações passadas. Porém o tratamento dado à estudante de Turismo da Uniban abalou muitos e me levou a uma outra interpretação do que se passa na mentalidade das pessoas, principalmente dos jovens.
Vivíamos anteriormente uma época de repressão e preconceitos que finalmente vemos (ou víamos) ultrapassada, onde as liberdades são de certa forma respeitadas e a vontade própria prevalece. Mudaram-se as estruturas de acordo com a alteração do comportamento e dos costumes que numa linha evolutiva inevitavelmente acontece, embora uma mudança não implique numa inversão de valores. Se ontem o jovem era massacrado, excluído e recriminado pelo pouco que queria fazer, essa situação ocorrida na unidade da faculdade de São Bernardo do Campo mostrou que esse direito não está sendo respeitado. Olhando o caso mais profundamente podemos concluir que a ação demente daqueles alunos reflete a confusão em suas idéias e objetos parecendo que eles não sabem o que querem, o que seguir, para que lutar e o que combater.
Muito além de vandalismo, a covardia e a violência dos estudantes da Uniban demonstrou um ato de desrespeito ao ser humano e à sua liberdade; uma critica sem fundamento que pode ser explicada como uma critica à própria juventude que não sabe o que fazer com os direitos que ela possui. Julgar alguém pelo seu traje, independentemente de quem seja e do que ele representa, coloca a mentalidade jovem confinada ao atraso, se assemelhando à sociedade medieval, ou então às culturas islâmicas onde a mulher é subjugada e tratada como ser inferior, que pode ser condenada ao apedrejamento ou às chibatadas dependendo do que ela faça de “incorreto” aos olhos de uma comunidade machista, e retrógrada.
Um espaço como uma faculdade deveria ser e representar um lugar onde as diferenças fossem respeitas, sendo um ambiente de socialização e igualdade entre as pessoas. Deveria mostrar que os universitários são representantes de uma parcela da sociedade que se privilegia em poder aperfeiçoar o uso da razão e o desenvolvimento intelectual.
Chega a causar aflição ao ver centenas de alunos enfurecidos perseguindo e ofendendo uma colega dessa forma; dá a impressão de um julgamento de rua, típico das comunidades do passado, onde tudo era resolvido às pressas de uma forma arbitrária sob o clamor e apelos de um grupo que se julgava dominante e dono da verdade. No passado mulheres eram queimadas em praça pública, aqui uma foi humilhada e ofendida e quase agredida; parece que séculos de evolução não representou uma alteração significativa.
Dentre toda essa barbárie ocorrida a esperança que fica é que isso não espelhe o comportamento dos jovens como um todo e sim de um grupo isolado, que pode estar ter sua explicação ligada à sua origem e formação. Do contrário será uma grande frustração ver que depois de toda a luta pela conquista de direitos básicos que o jovem promoveu, resulte nessa atitude. Sendo assim nada adiantou todo o esforço dispensado.
Marcelo Augusto da Silva - 06/11/09

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

De Roma para o Rio de Janeiro

Sempre que abro as páginas dos portais mais populares da internet como o UOL, IG ou Terra para ter contato com as mais recentes notícias, noto que vou encontrá-las bem abaixo das notícias esportivas. Isso demonstra que o maior interesse dos internautas e também de outros que não estão ligados na rede é sem dúvida o esporte já que boa parte dos telejornais e das programações televisivas também se dedicam ao assunto.
Essa minha observação se reforçou ainda mais essa semana com a atenção dispensada pela população na decisão do Rio de Janeiro sediar os Jogos Olímpicos de 2016, revelando que sem dúvida nenhuma que o mais importante para as pessoas é o esporte. Reconheço todos os benefícios trazidos por ele, tanto para quem o pratica, quanto para aqueles que se divertem ao acompanhá-lo, mas seria o momento do Brasil voltar sua atenção para o fato de ser sede de jogos?
A própria aglomeração de pessoas acompanhando a votação numa alta vibração é intrigante; só nesses casos vemos o brasileiro parar e se unir em torno de uma causa. Tanto se cogitou em fazer uma manifestação geral no dia 07 de setembro contra a corrupção no Senado e vimos que ela não saiu do plano das idéias; pelo jeito esse é mais um caso esquecido pelos brasileiros.
Vejo também tantos assuntos importantes a serem tratados no nosso país como a reforma política, a demarcação de terras indígenas, a reforma na educação, o problema do desmatamento da Amazônia, a reforma agrária, entre outros que se arrastam por anos e que nem nossos representantes nem nós mesmos oferecemos um esforço para que sejam resolvidos.
De onde virá o gasto necessário para adequar a cidade para abrigar tantas atletas de uma olimpíada? Nosso dinheiro será investido em algo para o uso de um esportista estrangeiro? E aquele contribuinte que deixa boa parte do seu mísero salário em tributos e impostos e não consegue ter uma creche para deixar seu filho, ou então um hospital que possa atendê-lo com dignidade num caso de emergência? Os moradores de rua, as favelas, a violência, a corrupção e a falta de atenção aos moradores cariocas serão escondidos para que as câmeras do mundo não flagrem nossa realidade?
Esse clima de euforia que vivemos esses dias e que só tende a aumentar daqui pra frente me lembra muito a fase republicana da Roma Antiga em que numa estratégia política se fornecia diversão e alimento à população para que essa esquecesse de seus graves problemas sociais e econômicos. Talvez a prática do pão e circo nunca tenha sido abandonada por aqueles que governam, apenas foi encoberta e seu nome abolido, colocando a sua verdadeira razão e propósito escondida, transformando-a em algo passado e esquecido.
O que diferencia nosso mundo daquele do passado romano é que hoje temos a consciência e podemos enxergar um pouco além daquilo que está diante de nossos olhos. No entanto ainda preferimos nos enganar e fingir que tudo vai bem mesmo estando mal enquanto nos divertimos com a glória o sucesso e a vitória alheia.


Marcelo Augusto da Silva - 09/10/09

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Lars Von Trier incomodou novamente

Nessa semana tive a oportunidade de assistir Anticristo, o mais recente filme do genial diretor dinamarquês Lars Von Trier. Envolvido numa atmosfera de expectativa e ânsia em vê-lo, o longa metragem superou muito aquilo do que eu esperava, principalmente ao comprovar que houve graves equívocos divulgados pela imprensa a respeito do filme.
Inicialmente o classificaram como sendo um filme de terror, o qual nem de longe ele chega a ter essa qualificação, trata-se de um drama pessoal ou, no máximo um suspense psicológico. O mais interessante é que o primeiro público que pôde assistir ao filme taxativamente o acusou de violento, sanguinário e “pornográfico”. Depois de assisti-lo cheguei à conclusão de que tudo o que foi dito inicialmente sobre ele partiu de pessoas desqualificadas para falar sobre tal assunto e que também não sabem apreciar um cinema de qualidade como esse, feito fora dos padrões convencionais e distantes dos moldes comerciais hollywoodianos; ou então as críticas negativas vieram pelo fato do diretor colocar o dedo na ferida ao trazer para a tela os mais obscuros sentimentos, medos e angústias do ser humano, atormentando quem o via.
Os próprios jornalistas numa coletiva após a sua exibição em Cannnes tiraram o diretor do sério ao fazerem perguntas estapafúrdias, chamando-o nas entrelinhas de insano; sem deixar se envolver pelo que estava sendo dito, ele respondeu às besteiras com o argumento de que ele não faz filmes pensando se as pessoas vão gostar ou não, mas sim pelo fato de realizá-lo como um prazer, e foi mais além afirmando que ele é o melhor diretor do mundo e isso lhe dá o direito de realizar qualquer tipo de obra. Se ele é o melhor diretor ou não é um ponto duvidoso, pois nas artes não há melhores nem piores, apenas aqueles que se destacam mais em determinados momentos ou obras, embora o filme tenha condições de colocá-lo nessa classificação.
Numa estética diferente de outras suas grandes obras como Dogville e Os idiotas, mas tão incômoda quanto elas, Lars Von Trier penetra dessa vez no universo perturbador de um casal cujo filho cai da janela do apartamento enquanto os pais praticam sexo num cômodo distante do quarto do bebê. A mãe, uma escritora que trabalha numa tese sobre a perseguição às mulheres na Idade Média, não suporta a perda e entra num estado de total desespero e depressão, o pai psicanalista tenta recuperar a esposa do trauma com o abandono da medição e fazendo-a embarcar na sua terapia numa cabana isolada localizada num lugar chamado, não coincidentemente, de Éden.
Cenas de sexo e de automutilações são presentes no filme, porém feitas com o maior grau de requinte e com um propósito, sem chegar ao nível da vulgaridade ou da apelação o que não dá o direto de alguém a ofender ao diretor e sua obra. Intrigante é que os filmes que temos nos cinemas e nas locadoras são recheados de trechos exibindo cenas como essas, contudo com um grande diferencial, pois elas estão ali para atrair a atenção do público, sendo que todos as assistem passivamente, sem nenhum questionamento, e não as encaram como algo fora do normal assim com foi feito em Anticristo. Entendo que as acusações feitas ao diretor nada mais foram do que uma reação do pânico causado pelo diretor que incomodou e abalou aqueles que se viram diante de uma realidade tão crua exposta na tela.
Quem aprecia penetrar no interior do indecifrável universo humano e assistir um filme recheado de simbolismo e questionamentos está aqui uma grande dica.


Marcelo Augusto da Silva - 02/10/09

domingo, 27 de setembro de 2009

Ai de ti, América Latina!

Se alguém chegou a pensar que somente nas décadas de 1960 e 1970 a América Latina era vista como um pedaço de continente onde grupos ultraconservadores e o furor capitalista dos EUA impunham, através de golpes de Estado, o seu modelo capitalista a favor deles mesmos, se enganou por completo.
Apesar de muitos avanços em várias áreas e setores e o repúdio de pessoas e da comunidade internacional a respeito dos golpes de Estado, eles continuam a acontecer, como foi o caso de Honduras, país pobre e exportador de produtos primários como a banana e o café da América Central, que no dia 28 de junho teve o seu presidente, Manuel Zelaya, deposto e exilado, sendo retirado da sua própria casa ainda de pijama pelas Forças Armadas daquele país. Lamentavelmente mais uma vergonha causada pela raça humana em nome da preservação de seus privilégios financeiros.
Como sempre os golpistas apresentaram um motivo “justo” para esse tipo de ação; nesse caso a justificativa é que o presidente em exercício havia marcado uma consulta à população onde os hondurenhos poderiam dizer se nas eleições gerais de novembro, além de elegerem o novo presidente, deputados e autoridades locais, pudessem optar também pela convocação ou não de uma Assembléia Constituinte, o que serviu de pretexto para acusá-lo de tentar violar a Constituição, uma vez que naquele país ela não pode sofrer nenhuma alteração. A falsidade se fez ao afirmarem que dessa forma Zelaya tentaria mudar a Constituição para poder se reeleger, mecanismo não permitido em Honduras.
Essa estratégia foi usada para mascarar os reais motivos do golpe que fora aplicado a Zelaya, presidente tipicamente representante da direita de Honduras, um latifundiário daquele bem característico que usa bigode e um grande chapéu branco e que vive da criação de gado e da exportação de madeira, mas que de repente inverteu o discurso e começou a tomar medidas voltadas a áreas sociais que fizeram os grupos dominantes como a Igreja Católica, empresários, latifundiários, executivos de empresas bananeiras e partido políticos a tremerem de medo do que seria possível ser feito contra eles nessa administração.
Zelaya afirmou que não vai se curvar diante dos golpistas; ele não aceita a deposição e assume que vai lutar com todas as forças para voltar a ocupar seu cargo. Nessa semana ele se encontra na embaixada brasileira em Honduras, já que Lula deu apoio ao presidente. Os golpistas por sua vez colocaram as Forças Armadas cercando o prédio e dizem não permitir a sua retomada por questões de garantirem dessa forma o bom funcionamento do país.
Se Zelaya abandonou o discurso conservador e mesquinho que a direita carrega e começou a tentar diminuir os efeitos nocivos do neoliberalismo que ele mesmo colaborou em ser implantado em Honduras, quem sabe ele mantendo-se firme na sua decisão consiga não recuar diante desse ato ilegal e, voltando à presidência ele possa silenciar aqueles que tentaram livrar-se dele.
O governo interino que assumiu após o golpe, mais aqueles que o apoiaram podem sim ser considerados uma ameaça à legitimidade e à legalidade do país; a volta de Zelaya ao poder seria um exemplo que muitos gostariam de ver acontecer.


Marcelo Augusto da Silva - 25/09/09

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Novos rumos, novos lucros.

É interessante observar como as grandes empresas, bem como os investidores de uma maneira geral, sempre estão de olho em uma nova “tendência”– seja ela surgida espontaneamente ou por eles mesmos forjada - ou num segmento a ser explorado. Aliás, nossa vida de certa forma é pautada por aquilo que o sistema capitalista nos impõe, ditando o que devemos fazer, seguir, consumir, usar, etc.
Falo isso com base na constatação de vários casos como nas estratégias atuais do ramo da indústria de gêneros alimentícios e seus derivados que por muito tempo nos obrigam a consumir artigos que não são condizentes com as nossas necessidades, e que nem ao menos nos ofereçam algo saudável. Muito pelo contrário, essas empresas nos vendem produtos com a menor taxa de nutrientes, todos eles com grandes quantidades de calorias, conservantes, corantes e outros elementos químicos que só tem a contribuir com o desgaste de nosso organismo, tornando boa parte da população mundial em uma nação de obesos, viciados, com a saúde comprometida e insatisfeitos com sua vida e consigo mesmo.
No momento que essas empresas e as grandes redes de fast food se viram acuadas pela onda de conscientização que toma conta de grande parte da população, elas viraram seu foco e começaram a combater aquilo que elas próprias criaram. Vejam só o caso de redes como o McDonald’s que depois de enganar com seus lanches calóricos, gordurosos e com preços astronômicos, oferecem agora a seus clientes um cardápio variado com itens que vão desde os lanches naturais até as saladas. Até mesmo a Coca-Cola, com seus líquidos cheios de produtos tóxicos causadores de diversos males às pessoas, coloca agora em seus rótulos mensagens positivas estimulando os consumidores a deixarem o sedentarismo e levarem um dia-a-dia mais dinâmico e saudável. Empresas oferecem hoje alimentação “alternativa e saudável” - contraditoriamente industrializada - com uma promessa de emagrecimento rápido àqueles que não estão felizes com seus corpos devido ao que durante anos foi consumido indevidamente.
Uma bandeira foi erguida hoje também por outros setores que investem demasiadamente na questão ambiental e na preservação do planeta. A partir do início da industrialização até os dias atuais ela só veio a aumentar seus níveis de produção e de poluição, sendo que os envolvidos nesse sistema não pensaram na condição que a Terra estaria alguns anos à frente caso a humanidade consumisse nas quantidades que eles pretendiam para poder ganharem mais. É ridículo ver uma indústria ou empresa de produtos químicos, por exemplo, dizer que está pensando na saúde do planeta; pior ainda é vê-las passando a obrigação ainda aos consumidores para colaborarem com esse propósito. É como se fôssemos os únicos e exclusivos responsáveis pela degradação ambiental, sendo que na verdade nosso papel é apenas consumir um pouco daquilo que os grandes empresários criaram para enriquecerem.
Fazem isso não pensando, é claro, na saúde e no bem estar do mundo e daqueles que consomem suas produções, mas sim em não perderem seus lucros. Ou seja, ganharam com o veneno, ganham agora com o antídoto.
Marcelo Augusto da Silva - 11/09/09

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O legado da geração Woodstock

Muito se comentou sobre os 40 anos do Festival de Woodstock, mas pouco se disse sobre quem eram e o que queriam as pessoas que estavam presentes no evento.
Vistos por muitos como arruaceiros ou até mesmo vagabundos, os integrantes do movimento hippie tinham um propósito, um ideal de vida a ser difundido e, quem sabe, empregado. Contemporâneos de um momento histórico marcado por guerras, hostilidades entre nações e países e de muita opressão da sociedade e das gerações antecessoras, esses jovens protestaram à sua maneira contra as imposições que lhes eram outorgadas; mostraram a todos um novo estilo de vida e de comportamento, tentaram provar que a paz poderia existir e que um outro mundo, bem diferente daquele, era possível acontecer.
Se hoje um jovem adota um comportamento que ele julga ser-lhe adequado; se ele conquista sua liberdade sem muitos transtornos ou contratempos; é ouvido e respeitado dentro da sociedade, ele deve isso à juventude das décadas de 1960 e 1970 que foi contra tudo e todos, correndo todos os riscos para que todos esses direitos fossem desfrutado.
Embora a paz sonhada pelos hippies ainda não tenha se tornado uma realidade a situação do jovem progrediu muito comparada a outros momentos. Hoje o seu valor é reconhecido e seus direitos garantidos.
Cabelos compridos, vestuário feito de acordo com aquilo que sua personalidade determina, liberdade de ação e pensamento junto com outros tantos elementos que antes eram considerados um sacrilégio fazem parte da vida da juventude de hoje, sem que isso cause estranheza ou alarde.
Sempre alguém é sacrificado de uma forma ou outra quando uma luta para se conquistar um objetivo é iniciada, é uma condição natural que não deixa escapatórias. Seu objetivo é atingido, mas alguém paga o seu preço. Esse preço foi muito bem pago pela geração Woodstock, eles sentiram na pele a rejeição, o isolamento, a resistência de gerações conservadoras que não conseguiam ou não queriam entender o que na verdade eles estavam pedindo. Jovens e adolescentes da atualidade devem agradecimentos aos que hoje são considerados velhos e caretas. Seu engajamento, sua atitude e sua modernidade é um fruto da justa rebeldia de outros tempos.


Marcelo Augusto da Silva - 04/09/09

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Yes, nós temos preconceito

Era só mais uma dura, resquício de ditadura. Mostrando a mentalidade de quem se sente autoridade nesse tribunal de rua.
Tribunal de rua – O Rappa

Há alguns dias atrás houve um caso nos EUA em que um professor negro, ao tentar arrombar a porta de sua casa que estava com problemas, foi surpreendido pela polícia daquele país como sendo suspeito de estar roubando o imóvel. Depois foi preso sob a alegação de que ele teria desrespeitado e acusado os policiais de a girem com preconceito. Conforme afirmei nessa coluna a etnia do professor foi o fator decisivo para que uma suspeita sobre ele fosse levantada, reafirmando a tese de que o racismo é presente nas relações atuais.
No Brasil como muito é copiado do estrangeiro - principalmente o que não é positivo - tivemos na semana passada uma dessa triste experiência em que um negro foi abordado e tratado como ladrão devido a sua cor. O que difere o caso ocorrido aqui em relação ao dos EUA é que o brasileiro não só fez igual, fez pior.
Ao ver o vigilante Januário Alves de Santana de 39 anos abrindo a porta de seu EcoSport no estacionamento do Carrefour, cinco seguranças da rede de supermercados se aproximaram dele já o acusando de ladrão, sem dar ouvidos às suas explicações que se tratava de seu carro. A tragédia ainda continuou em um “quartinho” no supermercado o qual Santana assegura ter sido levado. Lá ele fora gravemente espancado e conforme afirmava que era seu o automóvel apanhava mais. Com a chegada de três policias que foram chamados para atender a ocorrência a situação se agravou ainda mais, pois os PM”s ironizavam dizendo que “com aquela cara ele deveria ter no mínimo três passagens pela polícia”. A violência só terminou quando os policiais se convenceram a ir até o carro de Januário para ele mostrar seus documentos que lá se encontravam.
Se nos aprofundarmos mais nesse acontecimento vemos que ele tem desdobramentos que o tornam ainda mais sério, pois nele há uma questão que preocupa tanto quanto o racismo e a violência prestada por essas pessoas. Pergunto quem são na realidade os profissionais contratados para oferecer esse tipo de serviço nos estabelecimentos, os quais estamos sujeitos a sermos abordados por eles a qualquer momento? Eles realmente têm o poder, mesmo atuando dentro de uma propriedade particular, de abordar pessoas? Eles têm o preparo necessário para lidar com essas situações, uma vez que mesmo na polícia onde o profissional passando por diversos testes e capacitações não age corretamente no exercício de sua função? Quem se responsabiliza se algum deles usar da força física contra o cidadão ou então da violência verbal?
Nada adianta o William Bonner, a marionete do clã Marinho, grupo capitalista estruturado em valores coloniais e racistas fazer uma expressão fingida de piedade e lamento em rede nacional ao findar a reportagem sobre esse caso, numa tentativa de solidarizar com os negros. Que esses fatos acontecem e são corriqueiros estamos cansados de saber, não adianta mais narrá-los, o que gostaríamos de ver é que isso venha a acabar.
Assim como a própria esposa da vítima concluiu, o presente nós sabemos como é, ele não difere muito daquele dos séculos passados; porém mais assustador do que ele é o futuro das pessoas que pertencem a uma minoria. Para se conquistar uma elevação no nível de relacionamento e sabedoria da população é necessário percorrer um longo caminho, onde os resultados serão colhidos no futuro; caminho que deveria ter se iniciado há muito tempo atrás, mas quer excepcionalmente se encontra em profundo atraso. Por isso quanto mais tarde começarmos a trilhá-lo, mais casos desses veremos acontecer.
O cenário atual nos mostra que infelizmente a concentração de renda, os valores arcaicos, o racismo e a ignorância ainda vão assombrar por muito tempo a vida dessas pessoas.

Marcelo augusto da Silva - 28/08/09


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Povo mostra a sua força!

Vem vamos embora que esperar não é saber.
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré

Iniciei meu artigo da semana passada dizendo que vivia um momento de desesperança. Após alguns dias esse meu sentimento ainda permanecia, porém sua origem, como já havia dito, era por causa de nossos políticos, felizmente ele é um efeito gerado somente por esse grupo, não por todos os brasileiros. Explico: Sarney afrontou o bom senso do brasileiro com as suas recentes tramóias, fazendo com que a indignação saísse do individualismo, passasse pela internet e chegasse às ruas em forma de protesto.
É raro, mas não impossível, encontrarmos na História ações que contaram com a participação popular e que atingiram o seu objetivo. Temos clássicos exemplos como a Revolução cubana que foi um movimento onde o povo foi extremamente participativo e importante e a Independência do Haiti, que embora hoje não esteja numa situação estável, alcançou a conquista de sua liberdade através da luta dos negros contra a exploração francesa, servindo de modelo para movimentos em outros países.
No Brasil tivemos um caso recente com o Fora Collor, formado na sua maioria por jovens estudantes, que foram às ruas exigir o impeachment do então presidente. Mesmo conseguindo aquilo que ele queria, o protesto, ao menos a meu ver, não teve tanto mérito, pois ele não foi autônomo, mais sim forjado pela Globo - a mesma emissora que fez a cabeça do eleitor para votar em Collor e que naquele momento não via mais interesses no seu governo - que conclamava a juventude a manifestar publicamente seu descontentamento.
Bem diferente do Fora Collor, o Fora Sarney é um movimento independente e na semana passada manifestou-se em diversos locais do país. No próprio Senado houve uma tentativa de protesto por parte dos estudantes, que da mesma maneira que ocorria nos tempos de ditadura, foram reprimidos com a truculência da polícia, dessa vez a legislativa, a qual sem nenhum escrúpulo ligava para o celular do Sarney no momento da detenção dos manifestantes dizendo que iriam agir rigidamente para moralizar a situação. Será que alguém em Brasília é digno para usar a palavra moral?
Se não podemos esperar a decência dos políticos, em nem o cumprimento das normas, que no caso deveria ser a investigação das denúncias contra o senador, coube à população a tentativa de ser a aplicadora da justiça e dessa forma exigir que seja feito o necessário.
O país é do povo que nele habita, não dos que o governam; os políticos, a grosso modo, nada mais são do que funcionários do Estado, com a função de trabalhar para a coletividade, ou seja, a sua incumbência é servir o povo, não o contrário. Se é dessa forma, assim como o povo o escolheu – e se em determinados momentos como esse que vivemos a opinião popular decidir - ele tem todo o direito de destituí-lo do cargo.
Esse é um exemplo da força popular; mesmo não tendo o tamanho que deveria ter, o Fora Sarney causou repercussão e incomodou. Pode muito a população, basta ela querer e saber usar esse poder.
Mesmo ainda havendo a descrença, esse movimento trouxe de certa forma uma luz na escuridão em que nos encontramos. Se ele vai tomar proporções maiores e atingir a sua meta, somente o tempo irá mostrar. Queria vê-lo crescer, tomar conta de todo o país e mostrar aos “senhores de Brasília” que o Brasil não é deles, tal como eles imaginam.
Marcelo Augusto da Silva - 21/08/09

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Moro num triste país tropical

Parabéns, coronéis, vocês venceram outra vez, o Congresso continua a serviço de vocês.
Papai, quando eu crescer, eu quero ser anão pra roubar, renunciar voltar na próxima eleição.

Luís Inácio (300 deputados) – As Paralamas do Sucesso


O tom com que redijo o artigo dessa semana é de desânimo, aliado a um sentimento de revolta, diante de mais uma barbárie que vemos novamente acontecer, dentre inúmeras outras, cometida por nossos representantes.
São tantos os casos de corrupção que se torna impossível lembrar quais foram os anteriores, eles se misturam uns aos outros formando a massa de lama que cobre nosso país. A revolta se faz ainda mais aguçada por saber que os infames que nos representam estão lá com a permissão de nós mesmos, os eleitores, não todos eles, mas a maioria de cabeças vazias e desmemoriados que vendem o seu voto ou votam sem nenhuma consciência ou responsabilidade.
Digo isso respaldado por fortes e evidentes acontecimentos, como o caso atual do ex-presidente - que conquistou esse posto sendo um vice que cobriu a vacância do cargo - que esgotou todas as receitas de seu estado, o Maranhão, fazendo dele seu bordel particular; um legítimo representante de uma velha oligarquia que usa o poder público para seu benefício e da sua família; que condenou os maranhenses a um estado de miséria; que arruinou o país quando o governou e ainda se mantém ocupando um cargo tão importante quanto o executivo, fazendo dele, assim como sempre fez em toda a sua vida política, o instrumento de manutenção da suas regalias.
Infeliz destino da política brasileira que ao se livrar de um ditador caiu nas mãos de um senhor de engenho o qual nem tinha legitimidade para assumir o controle do Brasil, pois ele, bem como o falecido presidente eleito, não tinham tomado posse do cargo. Ainda temos que ouvir que o fato dele ter sido presidente é um forte argumento para não cassá-lo, sendo que na verdade isso só serve para mascarar o banditismo de sua vida pública.
Soma-se a essa baixaria um outro ex-presidente, representante da oligarquia alagoana, que também pilhou o país e se envolveu em sórdidos escândalos, que usa agora o plenário do Senado não para aprovar leis favoráveis à nação, mas sim para declamar injúrias, insultos e usar palavras de baixo calão para esconder seu passado condenável.
Dói fundo na alma saber mais uma vez que a panelinha de patifes foi armada, que a situação foi ajeitada fazendo com que mais um gatuno continue impune e a nos comandar. Sobrou a nós a somente a opção de pintar o nariz de vermelho e sentir o cheiro do orégano.
Estou num momento onde não consigo ver mais saídas para o caos que chegamos, estou por perder as esperanças em que chegue o dia que aqueles poucos políticos sérios e honestos ocupem altos cargos e consigam desenvolver um trabalho digno sem se atrelar com a bandidagem. Chega a dar náuseas todas as notícias que vejo vir de Brasília.
Às vezes tenho o desejo de ver todas as estruturas e instituições desaparecerem da Terra, que tudo se queime e que o homem volte aos estágios primitivos do desenvolvimento, pondo um fim em toda essa ganância, essa mesquinharia, essa falta de caráter e nessa indecência que a raça humana atingiu. Penso que assim tudo renasça, vindo novo e diferente. Um novo começo, uma nova oportunidade das coisas pegarem outro rumo que não seja mais o nível dessa realidade moribunda, fajuta, medíocre e falsa a qual estamos submetidos.
Marcelo Augusto da Silva - 17/08/09

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O professor, o policial e o presidente.

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos.
Ou quase pretos, ou quase brancos, quase pretos de tão pobres...

Haiti – Gilberto Gil / Caetano Veloso

Obama caracterizou a ação da polícia de estúpida ao deter o professor negro Henry Louis Gates que fora surpreendido ao tentar arrombar a porta de sua própria casa que estava com problemas para ser aberta. Através de uma denúncia os policiais chegaram ao local e prenderam o professor, depois dele ter apresentado seus documentos, sob a acusação de desrespeito e por ter alegado que os policiais o trataram com discriminação.
Há várias questões a serem refletidas sobre esse incidente. Primeiro uma pessoa ligou para a polícia para resolver algo que provavelmente lhe levantou suspeita, pois o “suposto” arrombador era negro; se ele fosse branco alguém da vizinhança teria essa mesma desconfiança? Segundo: será que procede a alegação do policial de que o professor foi preso por ter o desrespeitado e o acusado de racismo; se na verdade foi isso que aconteceu não seria essa uma atitude coerente já que uma pessoa foi abordada na sua própria casa? Será que realmente os policiais pediram os documentos do professor para depois realizarem o seu trabalho?
Sabemos muito bem que nos países em que ocorreu a escravidão até hoje se vive as suas marcas, esse é um exemplo que mostra claramente isso, pois mesmo passado o tempo do cativeiro o negro carrega o estigma de ser visto com maus olhos. Nesse caso específico mesmo sendo dono da sua casa e sendo um renomado professor, esse indivíduo foi visto com preconceito. Além da ação discriminatória dos policias o professor também foi vítima de quem o denunciou, pois possivelmente a etnia da vítima foi um fator decisivo nessa hora.
Embora não sabendo como o fato realmente aconteceu é prudente de se afirmar que tudo isso pesou contra o professor, mostrando que a velha barreira do preconceito e do racismo ainda não foi em nada superada.
Ainda resta a terceira colocação sobre esse acontecido: o presidente do país, o primeiro negro na História daquela nação, que carrega consigo todos o sofrimento da exclusão que alguém de sua cor possui, inicialmente mostrou-se solidário e independente sendo favorável ao professor, como se ele fosse um representante de toda a comunidade negra que constantemente sofre esse tipo de ação, porém dias depois voltou atrás no seu pronunciamento e disse que deveria ter medidos as suas palavras e que houve exageros tanto da parte dos policias quanto do professor.
Certamente ele com sendo o chefe de governo deva ter cuidado com o que diz e agir então com diplomacia - considerando que a palavra “estúpida” é um tanto quanto inadequada, o que coloca aquele que a usa no mesmo nível daquele a quem foi dirigida - mas esse era um momento de manter o assunto na pauta, principalmente nesse momento em que muitos, principalmente os negros, acreditam nesse novo governo.
Há incontáveis casos, e muitos deles com provas inquestionáveis, que os atos de discriminação da polícia dos Estados Unidos, bem como a de outros países, acontecem com freqüência. Julgo que seria a ocasião dele reafirmar o que foi dito, amenizando o tom do termo empregado, e levar o caso adiante para quem sabe trazer a partir do seu posicionamento resultados positivos nesse sentido. Na década de 1960 o discurso a favor dos negros era direto e irrevogável. Que falta faz Martin Luther King.
Marcelo Augusto da Silva - 07/08/09

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Paulínia: um portal para nosso cinema

De uma cidade pequena no interior do estado não se pode esperar que ela ofereça algum incentivo ou espaço à cultura; mas para Paulínia isso é uma realidade. Fundada em 1964 e contando hoje com sessenta mil habitantes, ela é um exemplo de que há como investir nesse setor e atingir bons resultados.
Independente de ser politicagem ou não esse município merece reconhecimento, pois de alguns anos para cá muito se tem feito para impulsionar o cinema nacional. Hoje a cidade conta com um estúdio, uma escola de cinema, cursos gratuitos na área cinematográfica e afins que estão dando oportunidades a muitos jovens e um mega teatro equipado com todos os recursos tecnológicos do momento com uma capacidade para mil e trezentas pessoas. Tudo isso – cujo investimento passa dos cem milhões de reais – transformou atualmente o município num pólo cinematográfico, capaz de dar suporte para realização de grandes produções.
Provavelmente esse investimento teve apoio das empresas ali instaladas, principalmente a Petrobrás que sempre apoiou o cinema nacional, já que a cidade abriga grandes refinarias de petróleo e a arrecadação do município com isso atinge altos níveis. Nada mais coerente do que devolver esse dinheiro à população.
Na semana do dia 09 a 16 desse mês a cidade realizou o II Festival Paulínia de Cinema que apresentou gratuitamente grandes filmes ao público que variavam entre longas e curtas-metragens e também documentários. O evento concentrou várias pessoas da área, as quais puderam discutir sobre as obras, deu espaço a novos talentos do cinema e também a oportunidade de muitos filmes serem divulgados e de disputarem um prêmio; além disso, o festival ofereceu uma mostra paralela com a exibição de outros longas-metragens, antes das apresentações dos concorrentes, também com entrada franca à população.
No dia da premiação, onde o vencedor foi o longa “Olhos Azuis” de José Joffily, houve um show de encerramento exclusivo para os convidados com os Paralamas do Sucesso, cujo vocalista teve um documentário sobre sua vida disputando o festival, “Hebert de Perto” de Roberto Beliner e Pedro Bronz, que acabou levando o prêmio de melhor direção de documentário. No dia seguinte ao término do festival os Paralamas realizaram outra apresentação, também gratuita, desta vez para toda a população no sambódromo da cidade para um público de mais de seis mil pessoas.
Certamente no futuro a cidade deverá cada vez mais investir no cinema que terá grande possibilidade de ver nascer ali grandes produções, além do que cada vez mais o festival e a atividade cinematográfica só terão a crescer. Esse é um exemplo do bom emprego do dinheiro público, mesmo para aqueles desinformados que acham que lazer e cultura não são essenciais para uma vida de qualidade ou então que só se deva aplicar os recursos naquilo em que se obtenha um resultado financeiro; contrariando essa idéia equivocada o cinema em Paulínia está também a gerando renda e emprego.
Marcelo Augusto da Silva - 24/07/09

Consumismo: o aliado da degradação ambiental

O assunto em pauta atualmente é questão ambiental que, alertada por pessoas ligadas ao assunto desde a década de 70, mostra sua cara.
Alertada também há muitos anos, a população se depara agora com alterações climáticas e o aquecimento global, seguidos por seus graves transtornos. Aterrorizados, nos vemos de sobreaviso por toda parte e com eles todos querendo dar sua contribuição para a salvação do planeta, inclusive aqueles que aparentemente não se incomodavam com o problema, como é o caso da comunidade católica, organismos internacionais, o Fórum de Davos, países altamente industrializados e desenvolvidos e até mesmo os Estados Unidos que, mesmo recusando a assinar o Protocolo de Kyoto, articulam uma iniciativa internacional para o problema do clima.
A razão da degradação ambiental, bem como as maneiras de evitar maiores catástrofes, é de conhecimento de todos, o que torna desnecessário qualquer aprofundamento na questão. Porém a causa principal está ligada a um único vilão - responsável não exclusivamente pela deterioração do planeta, mas também por outras mazelas do mundo – que ninguém parece percebê-lo ou importar-se com ele, deixando-o esquecido. Trata-se do consumismo, esse mal enraizado na nossa cultura que contamina seres de todas as partes, e que nos impeliu a passar como um rolo compressor por cima dos valores e da natureza em nome do verbo possuir.
Em nome também do lucro imediato de alguns grupos e povos, a população de todos os países foi submetida à escravidão do consumo, foi instigada a buscar no materialismo a realização pessoal que deveria vir de dentro de si, foi forçada a adotar a “lógica do use e depois jogue fora”, da praticidade e comodismo do descartável, da angústia e insatisfação do “já foi superado”, a qual tudo se torna obsoleto e passível de substituição onde “o novo já nasce velho”.O alto preço a ser pago é o lixo acumulado, florestas devastadas, aquecimento global, ar poluído, geleiras derretidas, climas alternados entre tantos outros. Enquanto discussões se arrastam, organismos e Ongs se mostram, e a sociedade pasma, exige solução. Solução que contraditoriamente não parte da origem do problema e pega caminho errado e assim fica patinando, andando em círculos, e o planeta se desfazendo enquanto o consumismo continua a devorar aquilo que não é substituído por um outro novo encontrado em uma vitrine ou numa prateleira.
Marcelo Augusto da Silva - 30/04/07

domingo, 19 de julho de 2009

A Semana Universitária Mocoquense

Durante essa época do ano as importadas festas de peão tomam contam dos calendários dos eventos de muitas cidades brasileiras, nossa região não é uma exceção. Até pequenos municípios já investem nesse entretenimento, pois sem dúvida, ele é muito rentável. Freqüentado por pessoas de diferentes níveis sociais e de faixa etária, mas atraindo principalmente os mais jovens (tanto é que o estilo musical fabricado no momento é denominado de sertanejo universitário, justamente para agradar esse público), esses eventos arrastam multidões.
Porém quem não se sente agradado por esse segmento musical bem como a sua festa e prefere ficar longe dos gritos de um narrador de rodeio ou de uma dupla sertaneja ao microfone, nossa cidade vizinha de Mococa, como faz há várias décadas, não se intimida com a concorrência e apresenta todo mês de julho a sua tradicional SUM (Semana Universitária Mocoquense).
Na sua 42ª edição o acontecimento cultural mostra que é possível disponibilizar à população uma programação que não fica presa a modismos ou imposições da cultura de massa. A própria trajetória do evento já o reveste de mérito, pois ele nasceu como algo feito pelos universitários e destinado a eles, ainda mais onde a sua primeira edição data o ano de 1967, período em que o Brasil era governado pela ditadura militar, institucionalizada naquele mesmo ano por uma Constituição elaborada pelos militares, e um ano antes do AI-5 (Ato Institucional nº5) que determinou o fechamento do Congresso e a censura no país. Só para lembrar os jovens e principalmente os estudantes eram alvos da ditadura, justamente pela sua postura consciente e contestadora.
Após isso o evento atravessou a redemocratização política, enfrentou vários estilos de moda e de música que fizeram a cabeça de muitos; passou por várias mudanças de comportamento da juventude que já não tem mais a ideologia de outros tempos, e mesmo assim ele se mantém forte, provando que é possível fazer algo original e que muitos não são dominados pela moda.
Quem teve a oportunidade de participar do evento pôde ter o privilégio de assistir o magnífico show do pernambucano Otto (ex-Mundo Livre S/A) que acompanhado de sete excelentes músicos, entre eles Bactéria (também ex-Mundo Livre S/A), presenteou um público seleto com toda a sua originalidade musical com suas canções que misturam vários ritmos. Humilde e grato o artista certamente agradou a todos os presentes.
Outros espetáculos e atividades foram realizados durante a semana como oficinas, exibição de filme, palestras, entre outros. Àqueles que por algum motivo não puderam prestigiá-los e que quiserem fazer parte dessa semana cultural ainda há tempo de ver alguém de talento e com alta capacidade musical pois no sábado tem o músico maranhense Zeca Baleiro com seu show autenticamente brasileiro, apresentando sua composições que passam da embolada até chegar às baladas. É uma dica e uma oportunidade imperdível para quem aprecia um estilo musical diferenciado e de qualidade.

Marcelo Augusto da Silva - 17/07/09

domingo, 12 de julho de 2009

Falta sermos verdadeiramente brasileiros

Não temos identidade própria / Copiamos tudo em nossa volta / Do que adianta vocês viverem assim? / Ser prisioneiros dentro do seu próprio jardim / Pra que tudo isso na região Tupiniquim? / Eu não sei, eu não sei.

Nunca fomos tão brasileiros – Plebe Rude
Ao assistir as comemorações da independência dos EUA no dia 04 de julho, a qual todo ano trás a mesma pompa que é transmitida por muitos canais de televisão, comecei a analisar novamente a velha diferença que existe na festividade desse dia nosso país e no estrangeiro. Essa distinção é perceptível a qualquer pessoa, já que aqui a data quase não é lembrada, ou muitos nem sabem que ela existe, bem ao contrário dos estadunidenses que comemoraram a sua emancipação com muito ufanismo tal como fazem desde 1776. Não que isso os coloque acima dos demais, ou então que os tornem melhores, pelo contrário, a História mostrou o quanto aquela nação é nociva ao planeta e aos que nele vivem. No Brasil infelizmente não encontramos um patriotismo parecido.
Esse comportamento tão desigual das duas nações de um mesmo continente tem sua origem nos primórdios da colonização de cada uma delas. Aqui já de cara o Brasil foi assaltado pelos portugueses, que viam nessas terras somente um meio de enriquecer, atitude que da mesma forma é repetida hoje por muitos, principalmente por nossos representantes que usurpam o país para o bem próprio. Esse legado de descaso manteve-se por todos esses séculos, chegando enfim aos nossos dias; se no início ninguém teve a preocupação com o que viria a ser esse território e o cuidado momentâneo era unicamente explorar, hoje não é de se estranhar que aqueles que descendem dessa estirpe danosa ainda se comportem à mesma maneira. Curioso é ver isso fazer parte da imensa camada popular que, apesar de viver lutando para sobreviver, age com o mesmo desprezo ao seu país.
No caso da nação do norte os antepassados daquele povo não pensaram somente no momento em que ali chegaram, mas sim no seu futuro e no daqueles que um dia iriam ali habitar. Daí tem-se a característica de valorizar e enaltecer o que é seu, cuja intenção é atingir cada vez mais o bem geral. Esse desejo de construir algo duradouro e sólido esculpiu uma personalidade em que se honra a si mesmo, porém em detrimento ao alheio. Em partes isso pode até ser compreensível, o que não justifica é ver que em nome desse sentimento é eles assumirem um caráter pedante, dominante, exploratório e acima de tudo destrutivo.
O que falta nos brasileiros é dar a devida importância àquilo que é seu; não há como cobrar das autoridades a decência, o decoro e o compromisso se nós mesmos não exercemos essas qualidades. Se outros em cada comemoração cívica se cobrem com as cores de seu país e se orgulham de nele viver, o que esperar de um lugar onde o povo desconhece ou desmerece sua própria História e se curva diante do outro numa ação em que sente envergonhado do que é seu.
Se a avacalhação no Congresso e também nas esferas estaduais e municipais não tem fim; se a baixaria se mantém enquanto nosso dinheiro jorra para dentro dos bolsos daqueles que deveriam trabalhar para nosso bem estar, é hora de repensar sobre o que temos sido nesse tempo todo e assumirmos de vez que somos brasileiros. Certamente é assim que teremos a possibilidade de vivermos de forma mais justa, caso contrário os infames que nos comandam verão e terão sempre a possibilidade de agir tranquilamente.
Marcelo Augusto da Silva - 10/07/09

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mitos póstumos

Se o Lennon morreu, eu amo ele / Se o Marley se foi, eu me flagelo /
Elvis não morreu mas não vivo sem ele / Kurt Cobain se foi e eu o venero.

A necrofilia da arte – Gilberto Gil

É inquestionável a influência que os ídolos – sejam eles uma única pessoa ou um grupo - exercem sobre seus fãs. Muitos deles conseguem ultrapassar os limites regionais e se tornam personalidades universais, atingindo milhares de pessoas em toda a parte do mundo, onde a adoração a ele é praticamente a mesma que ocorre em todos os outros lugares.
Em vida um ídolo possui um carisma descomunal (uns durante um curto espaço de tempo, outros não) o qual arrasta multidões, dita comportamentos, costumes, lança modas, vocabulários e estilos. Depois de morto esse fascínio é potencializado, tornado o ídolo mais ídolo ainda.
Foi assim em inúmeros casos e agora se repete mais uma vez com o rei dos gritinhos e do rebolado, que mesmo negando sua própria origem, se colocando como uma divindade e se envolvendo nos mais sórdidos escândalos, conseguia manter um grupo imenso de fiéis seguidores. Nesse momento, certamente muitos outros já se tornaram seu fã inconscientemente pelo motivo dele ter morrido.
Provavelmente em vida não haveria tantas homenagens e dedicações a ele, mesmo que fosse no auge de sua fama. No entanto esse caso não é um fato isolado, pois é comum muitos tornarem-se devotos somente após a morte de um artista e aqui entra o papel da mídia instigando a adoração pois logo após o anúncio da morte do cantor houve na imprensa, em todos os seus formatos, uma avalanche de publicações, reportagens, noticiários e afins sobre o falecimento da estrela da música pop, onde as empresas divulgaram o acontecimento não somente para informar, mais sim exploraram a sua morte para lucrar mais..
Um exemplo dessa ocorrência é encontrado no caso clássico de Raul Seixas, em que até hoje suas músicas são pedidos obrigatórios a qualquer um empunhe um violão, seu rosto está sempre estampado na camiseta de alguém ou então outros interpretes estão sempre brigando para gravar suas músicas; em vida ele era tido (não para seus admiradores leais) como lunático, viciado e subversivo.
Nos casos em que a morte da personalidade acontece digamos num momento precoce e inesperado em que acaba interrompendo a vida do astro ela vai favorecer ainda mais a comoção de seus fãs, ou então a conquista de outros que possivelmente não viam nele nada de extraodinário. Uma relação de um fã para com o ídolo morto é sempre pautada por esse sentimento de devoção exagerada, fanática, carregada e histérica.
Para quem não quer ficar próximo à tietagem, e à rasgação de seda, principalmente a quem não mereça tanto, esse é um momento de se afastar dos meios de comunicação, pois vai levar um bom tempo para essa onda passar, a menos que outro caso aconteça para desviar a atenção geral.

Marcelo Augusto da Silva - 03/07/09

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Boas novas no mundo digital

A revolução tecnológica iniciada a partir da década de 1980 trouxe inúmeras transformações para uma grande parte da população mundial. Com a tecnologia as distâncias se encurtaram, pessoas se aproximaram ou se reaproximaram, esforços e transtornos foram superados a informação foi popularizada, e como sempre há um lado negativo, surgiram com ela novas modalidades de crimes.
Na questão do entretenimento citando especificamente o setor que abrange a sua indústria, este sofreu um grande abalo com essa popularização da informática, já que atualmente muitos dos consumidores não compram mais CDs e DVDs, mais sim fazem downloads de músicas e filmes na internet , ou se utilizam de softwares onde se trocam arquivos de áudio e vídeo (além de outros formatos) entre seus usuários. Não era sem tempo, pois a indústria cultural há muito tempo transforma arte em mercadoria, explorando o seus apreciadores, tornando os que detém o direito autoral sobre alguma produção em multimilionários.
A condenação na Justiça do popular site de downloads Pirate Bay, pode trazer uma nova ordem no mercado do entretenimento e mudar a realidade dos downloads ilegais, favorecendo os admiradores de músicas e filmes, que até então são muitas vezes impossibilitados de apreciar suas obras artísticas preferidas devido às limitações econômicas. Com essa decisão judicial o site (que não saiu do ar e seus donos recorrem da decisão em liberdade) teve um aumento de acessos, além do partido político do grupo, o Partido Pirata, está sendo cada vez mais popular, onde a chances de eleger um representante para o Parlamento europeu são grandes.
Como não há como mudar essa conduta vários organismos relacionados à industria do entretenimento estão pensando em possibilidades de se liberar os downloads, livrando aqueles que têm o habito de baixar músicas e filmes - segundo a legislação - da categoria de contraventores e assim continuarem ganhando, o que vai favorecer os apreciadores do gênero. Dentre as alternativas para a solução desse caso as mais interessantes são as da Google que vai disponibilizar numa parceria com as gravadoras - inicialmente e em breve na China - uma extensa lista com milhares de músicas de graça, onde a empresa irá pagar a conta em troca de patrocínio e venda de propagandas; e da Warner que tem um projeto em que todos os assinantes de banda larga pagariam uma taxa, que provavelmente seria repassada às gravadoras, onde os usuários poderiam baixar os arquivos gratuitamente.
Se a tecnologia provocou várias mudanças de comportamento e as pessoas e a sociedade, concordando ou não com ela, tiveram que se adequar, já é passada a hora dos gângsteres da diversão pararem de abusar do deleite e da diversão alheia para enriquecer. Há meios em que todos envolvidos numa produção cultural (autores, atores, interpretes, músicos, distribuidores, etc.) possam ganhar o justo e que essa quantia seja a mesma para todos que dela fizeram parte.
Marcelo Augusto da Silva - 26/06/09

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Relíquias e relicários

Aqueles que acompanham as publicações deste jornal puderam ler na sua edição passada a notícia de que a Igreja de Santo Antônio estará expondo, neste mês de comemoração ao santo, uma relíquia sua. Creio que muitos, assim como eu, acharam o fato curioso pela razão de tomar contato com algo até então não muito comum ao nosso cotidiano.
O termo relíquia (do Latim reliquiae), o qual é utilizado com mais freqüência, refere-se a objetos pessoais, que possuem um valor sentimental ou mesmo financeiro. No caso específico a reportagem trata de uma relíquia sagrada, ou seja, parte do corpo (ossos, unhas, cabelos) ou objetos que pertenceram a algum santo e que assim servem como elemento de culto e veneração para os que acreditam em sua santidade. Essas peças são devidamente guardadas em uma urna denominada relicário.
A origem da adoração às relíquias remonta há muitos séculos, possivelmente tendo a sua primeira ocorrência no budismo, onde após a morte de Buda, seu corpo foi cremado e suas cinzas divididas entre seus discípulos. Outras religiões adotaram a veneração de relíquias, como o catolicismo que teve seu primeiro caso de culto em 156, na atual Turquia, a propósito do martírio de São Policarpo, que depois de ter sido queimado na fogueira, teve seus seus ossos calcinados recuperados pelos seus seguidores que acolheram-nos como objetos sagrados. Mais tarde diversos milagres foram atribuídos a esta relíquia e a partir desse acontecimento a busca por objetos semelhantes tornou-se cada vez mais frequente.
A adoração às relíquias atingiu seu ápice na Idade Média, período em que a Igreja Católica era a soberana na Europa, e a construção de seus templos, bem como a sua manutenção, dependiam da visitação constante e maciça dos fiéis a esses objetos, que no caso em si depositam contribuições para poderem apreciá-las. Nesse momento há uma total desmoralização à adoração a esses objetos e também da própria instituição religiosa, pois muitas relíquias vão surgir por toda parte no intuito de se aumentar a arrecadação, onde a maioria delas levantaria suspeita sobre a sua autenticidade no mais fiel dos fiéis, como por exemplo os corpos dos três reis magos, o manto de Cristo - o qual os legionários romanos jogaram dados no momento de seu suplício na cruz – e o manto da Virgem Maria.
Várias outras relíquias foram apresentadas à população, desta vez ainda mais duvidosas; outras passaram a ser comercializadas, fato que leva a uma movimentação de grandes montantes de dinheiro nos mercados e feiras da Europa, como saquinhos de pó que teriam originado Adão, garrafinhas de água do rio em que Jesus foi batizado, e até 700 pregos, espalhados por várias partes dos territórios católicos, que teriam sido empregados na crucificação de Jesus Cristo.
Com o advento da ciência e uma nova forma de pensar por parte das pessoas, muitas dessas relíquias foram desmistificadas e o seu culto perdeu muito de sua força, justamente pelo fato da população ter agora a possibilidade de discenir e avaliar aquilo que realmente é um objeto de veneração daquilo que possa ser confundido com algo para outra finalidade. Verdadeiros ou não cabe ao indivíduo, dentro de sua fé, dar o devido valor que esses objetos possam ter, ficando cada um dentro dos limites de sua opção religiosa e de seu exercício.
Hoje o o ser humano tem a plena liberdade e a total capacidade de escolher aquilo que lhe melhor convém. Basta usar essas faculdades com sabedoria e moderação.
Marcelo Augusto da Silva - 18/06/09

domingo, 14 de junho de 2009

O que acontece na Península Coreana (Parte I)

O final da Segunda Guerra Mundial em 1945 determinou o início de uma nova era em que a bipolaridade entre EUA e URSS ficou ainda mais marcante, uma vez que ambos vitoriosos no conflito, esses países passaram a ser os únicos a dominar o mundo no que se refere aos setores econômico e militar. Isso resultou em várias mudanças na geografia mundial: quem nunca ouviu falar do Muro de Berlim erguido em 1961 que dividiu, além de uma cidade, amigos e parentes e passou a ser o símbolo da divisão entre capitalismo e socialismo; a separação entre Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, muito lembrada por uma guerra que duraram longos dezesseis anos, e a própria Alemanha também fragmentada em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental.
Esse processo de divisão de países foi uma das consequências do fim do conflito, onde tanto estadunidenses quanto soviéticos ocuparam esses territórios que estavam envolvidos na guerra ou eram colônias de países que dela participaram. A tão comentada Coreia, que voltou a ser notícia dos principais jornais atualmente, também é um caso dessa disputa mesquinha dos dois países já citados, que durou toda a Guerra Fria e hoje ainda carrega seus resquícios.
O território coreano teve sua amargura aumentada na Guerra Fria, pois a região foi palco de invasões desde o início do século XX devido principalmente à sua posição estratégica, entre o Japão e a China. Em 1910 foi anexada oficialmente pelo Japão e em 1945, devido à derrota japonesa na Segunda Guerra foi ocupada pelos EUA e URSS resultando na sua divisão em 1948 pelas duas superpotências, ficando em Coréia do Norte, cuja capital é Pyongyang, com uma economia socialista e Coréia do Sul, capital Seul, com uma economia capitalista. O limite territorial entre os dois países ficou estabelecido pelo paralelo 38. A parte norte teve o apoio dos soviéticos e a parte sul dos estadunidenses.
Em 1950 a Coreia do Norte invadiu a Coreia do Sul numa tentativa de unificar os dois lados em um só país socialista, o que deu início a uma guerra que só terminaria três anos mais tarde. Nesse conflito EUA e URSS deram apoio aos seus respectivos países de influência, além da China colaborar com a porção do norte, e puderam se enfrentar de uma forma indireta. No seu final em 1953 a ONU (Organização das Nações Unidas) conseguiu estabelecer uma trégua onde a península voltou a ser novamente dividida em dois países antagônicos.
A partir dessa data a Coreia do Norte aprofundou seu regime socialista, se fechou totalmente e só se aproximou da China, que também mantém o mesmo regime econômico, apesar de estar mudando de rumo de uns anos pra cá. Hoje a Coreia do Norte é um país rural, de economia planificada e com uma ditadura fortíssima, que construiu seu regime socialista sob o dogma da isolacionismo, o juche, que significa auto-suficiência em coreano.
O resultado desse regime foi a fome e a pobreza que já vitimou mais de 2 milhões de pessoas nos últimos anos. As indústrias, todas estatais, estão falidas. No país não se pode ir de uma cidade para outra sem a aprovação do governo. O correio é controlado pelo Estado; rádio e televisão estão ao alcance de poucos. Energia elétrica, alimentos e remédios são objetos de luxo. Cada família só pode ter uma lâmpada em casa. Com toda essa miséria, a Coreia do Norte tem um dos maiores arsenais nucleares do mundo. O governo por sua vez afirma que apesar dos problemas econômicos o país apresenta um dos melhores índices de saúde e educação.
Marcelo Augusto da Silva - 05/06/09

O que acontece na Península Coreana (Parte II)

O final da Guerra da Coreia não se deu como a maioria dos conflitos onde foi assinado um armistício, o que afirmaria a paz entre os envolvidos, nesse caso pode-se dizer que os dois países, embora não mais se enfrentaram diretamente, ainda vivem em estado de guerra.
Muitas tentativas de negociação de paz foram realizadas nesses longos anos, principalmente no início desse século, onde houve uma aproximação dos dois líderes e um “acordo” internacional sobre a usina nuclear norte-coreana de Yongbyon. Acordo o qual foi rompido, pois a tal usina teria sido reativada em abril desse ano com o objetivo de se extrair plutônio. Segundo o próprio governo da Coreia do Norte o país teria começado a extrair plutônio do combustível nuclear que armazena nessa usina, a fim de impulsionar seu poder atômico perante as "forças hostis” que no caso seria a Coreia do Sul, acusada pelos norte-coreanos de ameaçá-los constantemente, juntos com seus outros aliados, principalmente os EUA.
No final do mês de maio houve a confirmação de que a Coreia do Norte efetuou seu segundo teste nuclear e lançou pelo menos cinco mísseis de curto alcance (o primeiro ocorreu a quase três anos, em outubro de 2006), fazendo caso omisso às advertências dos EUA, Japão, Coreia do Sul e da própria ONU. Essas advertências fazem parte de uma série de decisões tomadas após a ocorrência desses testes nucleares fazendo parte de um pacote onde Japão e Coréia do Sul formaram uma equipe de gerenciamento da crise iniciada com esses testes, além do governo de Seul de aderir à iniciativa americana contra o tráfico de armas de destruição em massa (PSI, na sigla em inglês), que permite a abordagem de navios suspeitos.
Hoje a península coreana é uma das áreas mais militarizadas do mundo, com um milhão de soldados da Coreia do Norte, 655 mil da Coreia do Sul e outros 28,5 mil militares americanos assentados em território de seu aliado sul-coreano desde o final da Guerra da Coreia.
Se caso ocorrer algum enfrentamento entre os dois lados certamente teremos um sério conflito e com grandes proporções. Num momento em que o mundo todo pugna pela paz e para que os erros do passado não voltem a acontecer, essa situação de desentendimento e de ameaça reflete uma mentalidade ultrapassada e um contexto bizarro, principalmente se for verdadeiro o motivo o qual os norte-coreanos dizem viver – segundo eles mesmos – em constante ameaça. Ao que parece a bestialidade de uma disputa bélica fundada na questão econômica e reafirmada na velha rivalidade entre socialismo e capitalismo parece ainda ameaçar o mundo. Não se contentam os paises capitalistas de terem o seu sistema implantado praticamente no mundo todo, de dominar todo o planeta e torná-lo cada vez mais degradado devido ao esgotamento de seus recursos naturais, ocorrência fatalmente exigida pela voracidade consumista e sua economia de mercado. É claro que o que há de mais racional é evitar ao máximo o conflito e partir para uma negociação esquecendo os rancores passados e abrir o caminho para o entendimento entre as duas Coreias, embora se saiba o quanto os norte-coreanos são resistentes ao diálogo. O que torna a situação ainda mais trágica ou até mesmo cômica é ver os EUA se posicionarem como os benfeitores e acusar a Coréia do Norte de ameaçadora, escondendo o seu imenso poder bélico, inclusive nuclear também, e escamoteando as vezes onde ele próprio passou por cima da ONU e invadiu e aterrorizou outros países para manter suas opiniões e sua doutrina.
Marcelo Augusto da Silva - 12/06/09

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Precariedade no serviço público

Ao me encontrar utilizando um serviço público comecei a refletir novamente sobre o descaso com esse setor, a sua ineficiência e o porquê do mau atendimento o qual está submetido os que deles dependem.
A mentalidade brasileira ainda insiste em pensar que ele é feito de graça, com se fosse um ato de caridade do Estado e sendo assim é justificável a sua desestruturação; só que não sabe essa desinformada e alienada grande parcela da população é que pagamos um alto preço por eles na forma de taxas, tributos e impostos, que se fossem empregados da sua maneira correta e não fossem surrupiados para os bolsos dos “nobres” representantes do povo, teríamos um serviço público de altíssima qualidade com um atendimento universal em vários setores como na saúde, educação, transporte coletivo, segurança, etc.
Há um consenso de que o que é público, portanto “gratuito”, não é bem feito por questões naturais e imutáveis e assim o brasileiro que dele necessita vai deixando sempre como está, onde o máximo que se pode fazer é lamentar.
Desde o período colonial o Brasil fortalece essa característica de não dar a devida atenção ao setor público e de usá-lo em seu próprio proveito; tampouco se importa com o que é relativo ao seu funcionamento, ao desenvolvimento do país e com a satisfação das pessoas – fato explicado pelo modelo colonial exploratório aqui implantado e agravado pela distância entre colônia e metrópole. Levado através dos tempos, essa particularidade ainda persiste. Para prejudicar ainda mais a situação soma-se a isso a falta de atenção dispensada ao funcionalismo público que não reconhecido nem remunerado de acordo com sua função, acentuando ainda mais o abismo que existe entre o público e o privado.
A política implantada no país há alguns anos, que reforçou essa diferença, levou uma grande massa de contribuintes a abandonarem de vez os órgãos públicos, só usando-os em casos de necessidade ou por não haver outra opção. No entanto essa camada é aquela que no momento tem condições para custear os serviços privados, enquanto uma maioria continua dependente do público. Esse grupo – privilegiado de certa forma - é o que paga em dobro por um serviço recebido, como por exemplo, desembolsando uma quantia significante para a mensalidade de um plano de saúde e ao mesmo tempo custeando-o na forma de impostos que vão, ou ao menos deveriam ir, para o mesmo fim. Um gasto ainda maior para o brasileiro.
É preferível abandonar de vez então o que o Estado fornece. Uma redução significativa de impostos e o não oferecimento definitivo de nenhum serviço iniciaria uma moralização no tão desacreditado setor púbico brasileiro. A sua principal função é servir de plataforma de campanha para que políticos sem escrúpulos explorem a ingenuidade de muitos eleitores prometendo serviços de qualidade e que funcionem. Seria o fim de uma mentira que vemos acontecer a muito tempo.
Marcelo Augusto da Silva - 27/05/09

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um final de semana cultural

Como sempre venho afirmando os governos pouco investem na área social e muito menos ainda na área cultural, deixando as pessoas, principalmente das pequenas cidades, carentes de eventos e consequentemente descontentes.
Nesse final de semana porém algumas cidades do interior do estado de São Paulo deixaram o marasmo de lado e puderam desfrutar 24 horas de uma programação cultural de qualidade e gratuita, recheada de atividades dos mais variados estilos como música, cinema, teatro e dança.
Nossa região que já tinha sido presenteada com a realização do I Fórum Social da Mogiana teve como complemento a esse evento a chamada Virada Cultural Paulista, projeto o qual proporcionou as tais apresentações. Beneficiada pela estreita ligação entre o governo estadual e um certo munícipe – ocupante de cargo político, membro do mesmo partido da situação e que, é claro, tinha lá seus interesses – a cidade vizinha de São João da Boa Vista pôde contar com essa festividade, onde os shows aconteceram em três pontos distintos do município, alguns deles simultaneamente, dando oportunidade ao povo de assistir algo de um nível indiscutivelmente superior, bem diferente das tão enfadonhas atrações populares.
Com um público pequeno e tímido durante a parte diurna do evento, mas com uma grande participação na programação noturna, e também em determinados shows, a Virada Cultural em São João atendeu a todos os gostos, passando do popular ao erudito, do infantil ao adulto e do comercial ao alternativo. Nomes como Arrigo Barnabé, referência na música paulistana da década de 1980; Violeta de Outono, também um ícone da música brasileira do mesma período no estilo rock progressivo; Trio Virgulino que trouxe o autêntico forró; Ultraje a Rigor, que com mais de vinte anos de carreira ainda cultiva fãs de todas as idades; Almir Sater, com um show mais popular que levou às ruas uma maior quantidade de pessoas e outros do cenário underground que esbanjaram talento, originalidade e criatividade, fizeram com que a população pudesse ter uma overdose cultural e também entrar em contato com o fino da música e de outras manifestações artísticas.
Bom seria se outras cidades pudessem também receber esse circuito cultural; ao todo foram vinte municípios participantes e São João foi um dosa raros que tinha menos que cem mil habitantes. Se menos verba fosse gasta inutilmente, desviada, ou subtraída dos cofres públicos ou então se os órgãos competentes dessem oportunidades aos grandes talentos que temos, mas que infelizmente ficam condenados ao anonimato por causa da ganância e do domínio das gravadoras e emissoras que só querem alienar as pessoas e faturar com o besteirol e a pobreza de muitos “músicos” que vemos por aí, poderíamos ver mais desses eventos acontecendo.
Seria também uma ocasião de mostrar a todos que não existe somente um segmento artístico ou um estilo musical. Não há como querer que as pessoas apreciem ou valorizem o diferente se elas não têm chances verem o que acontece longe das rádios, televisões e rodeios.
Marcelo Augusto da Silva - 22/05/09

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Fórum social: do mundo para a nossa região

Depois do fim da Guerra Fria o mundo deixou a bipolaridade (domínio econômico dos EUA capitalista e da URSS socialista) e passou a viver a multipolaridade (vários países ou blocos econômicos dominando a economia). Para os países subdesenvolvidos ou aqueles que estão em desenvolvimento isso não significou nenhuma melhoria, pelo contrário, com essa mudança os serviços sociais foram sucateados não havendo mais investimento neles ou em casos mais extremos foram totalmente abandonados.
A própria política da chamada “nova ordem mundial” denominada de neoliberal prioriza a iniciativa privada em detrimento do serviço público, determinando que os Estados não invistam mais na área social, para que dessa forma o capital privado tenha largas oportunidades de explorá-la. É dessa maneira que funciona quando não somos atendidos com um serviço público de qualidade na saúde, na educação ou na segurança, onde aquele que quiser qualidade deve pagar um alto preço por ela. Assim também sobram mais verbas oriundas de impostos a serem destinados aos organismos financeiros internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, por exemplo, além de selar o pacto entre o governo e o setor empresarial, os quais obtêm vantagens nesse sistema.
Por conta desse descaso estatal sobrou para a sociedade se organizar e buscar alternativas perante a esse modelo capitalista selvagem, maneira a qual ela pode conseguir algo que por direito é seu.
Em partes distintas do mundo, ocorre anualmente o Fórum Social Mundial, evento que procura através do debate, da informação, da conscientização e da troca de experiência encontrar soluções para que o fim das desigualdades seja conquistado e para que as camadas populares e as minorias não sejam massacradas nem muito menos se transformem meras marionetes dos donos do poder e do capital.
A nossa cidade – que faz parte de uma região rica em recursos a serem explorados, porém esquecida pelas políticas públicas – tem o privilégio de sediar o I Fórum Social da Mogiana, que a exemplo do Fórum Social Mundial tem a finalidade de buscar as diretrizes que elevem o nível de vida da população, o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento econômico regional.
Com um grupo de participantes onde a maioria está engajada e atuante nos movimentos sociais, o acontecimento promete mobilizar e envolver todos em torno de uma mesma causa, objetivando a progressão do nível de vida coletivo.
O Fórum será enfim uma oportunidade única de poder iniciar um movimento reverso de uma grave situação política, social e econômica institucionalizada, além de permitir que cada um olhe a realidade ao seu redor sem as máscaras colocadas pela mídia, para que assim podemos ter no futuro um mundo bem diferente desse que conhecemos.
Marcelo Augusto da Silva - 13/05/09

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Outra vez os skinheads

Há pouco tempo comentei em artigo nesse tablóide sobre o caso de agressão a uma brasileira na Suíça por um grupo de neonazistas. Depois do fechamento da edição a vítima confessou não ter sofrido a violência pelo bando, mas sim forjado o ataque para tentar receber indenização do Estado. Mesmo esse acontecimento não tenha ocorrido de fato o movimento neonazista é real, e apesar das críticas à brasileira, há a todo o momento ocorrência de casos de espancamento ou então outro tipo de ação cometida por esse grupo.
Nessa semana um episódio desse tipo foi registrado no Brasil, contrariando aqueles que ridicularizaram os que afirmam sobre a veracidade desses episódios e que acham que a existência dessas pessoas seria delírio de algum lunático, como foi em vários casos onde assisti pessoas afirmando não haver mais nazistas no mundo. No sul do país, região tida por muitos como a “mais desenvolvida de todas” houve além da comprovação da existência de skinheads, o assassinato de um casal integrante de uma dessas corporações pelos seus próprios membros..
O caso chamou a atenção pelo fato da organização em torno da causa nazista e o fanatismo em que os integrantes estão imersos. Assim como na década de 1930-1940 os alemães reverenciavam a personalidade de Hitler, tendo-o como ídolo e exemplo a ser seguido, estes sulistas também assim agem, pois na investigação sobre o crime foi encontrado um vídeo de uma festa de aniversário onde o aniversariante - por mais insensato que pareça - era o próprio ditador alemão. Aí verifica-se toda a cegueira em que estão envolvidas essas pessoas – não querendo condenar a admiração à alguma pessoa, desde que não seja um assassino – mas é ridículo comemorar o aniversário de alguém que já faleceu, ainda mais de um ser desprezível como este.
De tão aparelhada e doente que era essa célula do movimento que seus integrantes tinham projetos elaborados para a formação de um país composto somente por neonazistas, com direto a constituição e tudo que um Estado possui; é tenebroso pensar como seria a vivência em um local como esse.O crime acontecido reflete a frieza dessas pessoas e o pensamento desumano que eles preservam em relação ao próximo, a vida alheia para eles não significa nada, tudo se reduz à uma ideologia racista. Por conta de disputas internas pelo controle do grupo o casal foi assassinado friamente. Se isso foi feito a um membro deles, o que pode ser feito a alguém que está de fora, ainda mais se ele for negro, homossexual ou estrangeiro.
É claro que em um assassinato não há nada de positivo, mas este serviu para calar aqueles que insistem em não enxergar uma realidade que está bem diante de seus olhos. Repercutindo em toda a mídia o caso provou aos ingênuos de pensamento que o movimento existe inclusive aqui, está em pleno vigor e todos nós podemos ser uma vítima dele. O caso da brasileira pode ter desmoralizado nosso país e afetado as relações internacionais, posto que o Brasil se prontificou de imediato a tomar as atitudes cabíveis, mas esse creio que irá fazer muitos a repensarem sobre suas convicções.
Se o tempo não apagou as tristes marcas criadas pelo nazismo, a experiência e o bom senso tinham quase que obrigação colocar essa pessoa bem como a sua ideologia no rol dos ignóbeis e jogar uma pá de cal em tudo que lembre a doutrina nazista.
Marcelo Augusto da Silva - 08/05/09