“Sempre colhem algo os pescadores de águas turvas...”
Wolfgang Leo Maar – Professor de ética e filosofia
política da UFSCAR
O Brasil sem dúvida vive um momento
inédito em sua História. Como havia afirmado na semana passada, a suposta natureza
pacata do cidadão brasileiro foi contestada, mostrando assim a sua força através
dos manifestos espalhados em todo o país, inclusive em cidades pequenas. Todas
as insatisfações em relação aos mais variados setores como saúde, educação, e
administrações públicas foram gritadas; assim o povo deixou que as frases de repúdio
ficassem somente nas rodas de conversas ou então disseminadas apenas nas redes
sociais e as proclamaram para que chegassem aos ouvidos de possíveis
responsáveis. Comparando as duas semanas, podemos pensar que a resposta
violenta da polícia no dia 13 foi um tiro no pé das autoridades; a conjuntura atual
leva a conclusão de que, para a população, não há mais espaço para tolerância.
Se no início da semana passada nenhum
representante político ainda tinha declarado algo em relação a tais reivindicações,
os protestos da quinta-feira dia 20, deram outro rumo à condução dos manifestos,
fazendo com que a presidente se pronunciasse a respeito, propondo um diálogo
com os líderes do MPL (Movimento Passe Livre) e anunciando tentativas de
fechamento de um pacote de medidas em saúde, educação, mobilidade urbana e transparência.
Quanto à nossa mídia fascista
(leia-se Globo e Veja) a qual usou os manifestos do dia 13 para professar seu
discurso conservador e intolerante, viu-se, a partir do dia 17, obrigada a
mudar de posição, uma vez que a própria Globo
é hoje alvo dos manifestantes; a Veja,
diante da pressão do povo nas ruas, mudou a referência que fez aos integrantes,
deixando de classificá-los como “rebeldes sem causa” ou, no pior caso, de “anarquistas”,
para algo parecido com “salvadores da pátria”. No entanto, esses meios de
comunicação não deixaram de aproveitar as frases proferidas nas passeatas para
inflamar seu clamor direitista e atacar à esquerda e alguns partidos políticos.
Diante da força das massas nas ruas, passou a tratar os manifestos como símbolos
de democracia e de engajamento político da juventude, mas não deixou de desviar
o foco da questão, dando destaque a todo momento aos pequenos grupos que agiam
com essas depredações, fazendo assim que o espectador mais se concentrasse
nesses casos e deixasse de tomar dimensão daquilo que estava acontecendo.
É preciso alertar para que a mídia
não se aposse desse discurso para transformá-lo em plataforma de campanha da
direita, nem que ela use os casos isolados de distúrbio – os quais certamente
acontecem em episódios de concentração de milhares de pessoas - para aos poucos
minar o objetivo dos protestos. Da mesma maneira isso não deve acontecer com os
políticos aproveitadores, o quais numa atitude oportunista, possam usar esses
acontecimentos para imporem suas opiniões e atacarem seus opositores, caindo na
mesma baixaria a qual estamos habituados.
É necessário lembrar que as críticas foram
gerais, o que pode isentar qualquer representante de se defender ou tomar
alguma iniciativa, uma vez que diretamente a ele nada foi acusado. Talvez o que
deva estar faltando às esses protestos é dar nomes aos bois, ou seja, apontar
nomes de políticos envolvidos em casos corrupção ou cobrar atitudes políticas de
determinados ocupantes de cargos públicos, para que dessa forma muitos não usem
esses episódios em benefício próprio ou para atacar seus adversários. Caso
contrário, como nenhum nome foi dito, ninguém terá exatamente sobre si uma
pressão que o force a tomar alguma atitude.
O único receio em relação ao que tem
acontecido, é que como os temas protestados estão difusos, variados e
generalizados, sem uma diretriz e uma liderança, é que ele acabe esfriando, tornando-se
inexpressivo e caia no esquecimento e tudo, aos poucos, volte à normalidade.
Penso que essa seja a hora desses
protestos terem uma direção e um interlocutor para que ele aponte o dedo a
alguém em específico e esse mesmo dedo toque na ferida para valer, caso
contrário aqueles que devam ser atingidos na realidade, irão afirmar que a eles
nada foi impetrado ou então que a partir dessas insatisfações surja alguém que
tome posse desse discurso e o use como propaganda e cresça em cima desse descontentamento
generalizado, porém sem uma direção específica.
Marcelo Augusto da Silva - 25/06/2013
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