(Cuidado! Este artigo, dependendo do ponto de vista, pode
conter Spoiler[1])
Assistir ao cinema europeu já é uma
experiência única, pois, de acordo com o estilo característico de suas
produções, sua apreciação tem a singular capacidade de transportar o
telespectador ao universo emocional de cada personagem, ou em alguns casos, à
situação coletiva vivida por alguns grupos ou povos. À primeira vista, o estilo
europeu pode ser entendido de uma forma em que a sua realização é feita de uma forma
simplista, pois uma das marcas desse cinema é ser realizado, geralmente, com
cenas longas e com pouco diálogo; mas no fundo o que elas trazem consigo é um
requinte ao conseguir transmitir sensações relativas a sentimentalismo e
emoções basicamente a partir de imagens.
Colocando a tietagem do Oscar de lado, assisti ao filme Amor, vencedor da Palma de Ouro e do Globo
de Ouro, do austríaco Michael Haneke, diretor genial conhecido por obras-primas
como Caché de 2005; A professora de piano de 2001 e A fita branca de 2009.
O diretor austríaco Michael Haneke |
A habilidade de demonstrar sensações
e situações com o máximo de realismo é uma das competências do diretor. Com um
tom narrativo solto, o filme Amor,
vai apresentando os personagens e evoluindo na trama ao mesmo tempo, dando a clara
noção ao telespectador de cada circunstância e período retratado. Com um enredo aparentemente
ingênuo, o qual se transformaria numa pieguice nas mãos de qualquer outro diretor,
principalmente os hollywoodianos, o
filme narra a relação cúmplice e amorosa de um casal octogenário que enfrenta a
delicada e difícil fase de saúde e todos os outros problemas decorrentes dela.
Filmado em um só ambiente, o que em nenhum momento contribui para a monotonia, Haneke
consegue revelar toda a dificuldade, incerteza, sofrimento e solidão inerente
àquele que viveu unido a alguém durante toda uma vida e que num determinado
momento tem que lidar com uma realidade dramática de ver seu companheiro vítima
de uma doença a qual está os afastando.
Pôster do filme Amor de 2012 |
A experiência e o autoconhecimento, o
qual se conquista ao longo de uma vida, e que de certa forma deveriam ser plenos
na idade avançada dos personagens, não foram suficientes para que eles enfrentassem
tal situação. Talvez seja esse o grande debate que o diretor sugere: depois de
toda uma vivência e uma experiência acumulada, se deparar com uma situação a
qual não tem condições de enfrentá-la.
Com ou sem Oscar, a obra e o diretor são únicos, ambos têm a capacidade de
levar o telespectador à reflexão, e porque não dizer à uma auto avaliação,
sobre aquilo que as pessoas representam para nós e sobre aquilo que
representamos para as outras pessoas. Para os admiradores dessa temática e do
cinema europeu, Amor é filmografia
básica.
[1] Spoiler é um
trecho de artigo que revela fatos a respeito do conteúdo de determinado livro,
filme, série ou jogo. O termo de origem inglesa é derivado do verbo “To Spoil”, que significa estragar. Numa
tradução livre, spoiler faz
referência ao famoso termo “estraga-prazeres”.