Logo em seguida à comemoração do Dia Internacional da Mulher, foi divulgada ao mundo todo a notícia de que o governador de Nova York, Eliot Spitzer, conhecido pelo apelido de "Eliot Ness" por sua cruzada contra o crime, estava envolvido numa rede de prostituição; um episódio que vai na contramão do significado do dia 08 de março.
Mas afinal o que tem a ver esse fato como o Dia Internacional da Mulher? Pois bem, a institucionalização da data serve não só para lembrar que as mulheres existem, mas sim como um momento em que se deve parar e refletir sobre o seu papel e a sua importância como ser humano e como ser sociável; bem como comemorar as suas conquistas após anos de subjugação e mostrar que ainda há muito preconceito que deve ser rompido em relação às mulheres. Acontece que não é a primeira vez na história recente dos EUA que um homem público é apontado por estar envolvido em um escândalo sexual, e esse último, assim como os demais, levou a esposa ao seu pronunciamento de pedido de desculpas na televisão, ficando a cônjuge ao lado do marido acusado. Tal atitude transmitiu uma imagem passiva, conformista e submissa do sexo feminino, na qual a mulher deve aceitar essa condição com toda resignação, ou então que o papel dela é submeter-se aos “deslizes” masculinos ficando sempre com seu companheiro mesmo em situações extremas como essa. A cena mostrou uma posição incondizente da mulher atual. Esse certamente não é o modelo de comportamento que as mulheres do mundo esperam ver.
O envolvimento de políticos estadunidenses em escândalos sexuais já não é novidade. A esse último caso junta-se o do Senador republicano pelo Estado de Idaho, Larry Craig que renunciou ao cargo após ser acusado de ter assediado um policial à paisana no banheiro de um aeroporto dos Estados Unidos; o Senador republicano David Ritter, que confessou ter sido cliente de um serviço de acompanhantes na capital dos Estados Unidos; o Deputado republicano Mark Foley, que foi acusado de enviar e-mails de conteúdo sexual para menores de idade; o Deputado republicano pela Califórnia Randy “Duke” Cunningham, que foi encontrado acompanhado por prostitutas em um hotel de luxo no Havaí; e o mais popular que é o do Presidente democrata Bill Clinton, que chegou a passar por um processo de impeachment, depois de mentir sobre suas relações com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton perdoou o presidente, e atualmente é pré-candidata democrata à presidência do país.
Acobertando essa enxurrada de casos de má conduta estão os valores que formaram a nação dos EUA que sempre foi arraigado na doutrina religiosa do puritanismo, cuja essência é valorizar ao máximo o capital - expressa na teoria da predestinação absoluta - na propriedade privada e na família. Porém essa última é uma falsa moral divulgada pelo país, que é evidenciada constantemente em momentos como o da semana passada. Já não há mais como negar que essa característica nunca fez parte do povo norte-americano.
É justo que numa acusação se dê a oportunidade de retratação, tentativas de explicação ou até pedido de desculpas do envolvido, mas o que se viu com o governador de Nova York na verdade foi a velha tentativa de jogar a sujeira debaixo do tapete, usando a figura feminina para encobrir a falta de decência.
Não é de se estranhar todo esse machismo e conservadorismo estadunidense, pois o país sempre manteve uma posição contrária a movimentos sociais, principalmente aqueles promovidos pelas minorias excluídas. Foi assim com o movimento liderado por Martin Luther King que promoveu uma luta pelos direitos civis dos negros; foi contrária aos apelos de paz da juventude dos anos 60, e foi intolerante como Jonh Lennon, que protestou contra a intervenção norte-americana no Vietnã, que acabou culminando com uma tentativa de extradição do músico. Justamente num momento em que as mulheres, que não são uma minoria, estão conseguindo como muita luta e sofrimento conquistar a sua posição e o seu reconhecimento, essas cenas insistem em contradizer o ideal quase alcançado.
Em nome da preservação do poder e de valores arcaicos, questões muito mais relevantes estão sendo sufocadas para a manutenção da aparência de uma sociedade que desde a sua formação foi podre no seu interior.
Marcelo Augusto da Silva - 22/03/08
Mas afinal o que tem a ver esse fato como o Dia Internacional da Mulher? Pois bem, a institucionalização da data serve não só para lembrar que as mulheres existem, mas sim como um momento em que se deve parar e refletir sobre o seu papel e a sua importância como ser humano e como ser sociável; bem como comemorar as suas conquistas após anos de subjugação e mostrar que ainda há muito preconceito que deve ser rompido em relação às mulheres. Acontece que não é a primeira vez na história recente dos EUA que um homem público é apontado por estar envolvido em um escândalo sexual, e esse último, assim como os demais, levou a esposa ao seu pronunciamento de pedido de desculpas na televisão, ficando a cônjuge ao lado do marido acusado. Tal atitude transmitiu uma imagem passiva, conformista e submissa do sexo feminino, na qual a mulher deve aceitar essa condição com toda resignação, ou então que o papel dela é submeter-se aos “deslizes” masculinos ficando sempre com seu companheiro mesmo em situações extremas como essa. A cena mostrou uma posição incondizente da mulher atual. Esse certamente não é o modelo de comportamento que as mulheres do mundo esperam ver.
O envolvimento de políticos estadunidenses em escândalos sexuais já não é novidade. A esse último caso junta-se o do Senador republicano pelo Estado de Idaho, Larry Craig que renunciou ao cargo após ser acusado de ter assediado um policial à paisana no banheiro de um aeroporto dos Estados Unidos; o Senador republicano David Ritter, que confessou ter sido cliente de um serviço de acompanhantes na capital dos Estados Unidos; o Deputado republicano Mark Foley, que foi acusado de enviar e-mails de conteúdo sexual para menores de idade; o Deputado republicano pela Califórnia Randy “Duke” Cunningham, que foi encontrado acompanhado por prostitutas em um hotel de luxo no Havaí; e o mais popular que é o do Presidente democrata Bill Clinton, que chegou a passar por um processo de impeachment, depois de mentir sobre suas relações com a ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, a primeira-dama Hillary Clinton perdoou o presidente, e atualmente é pré-candidata democrata à presidência do país.
Acobertando essa enxurrada de casos de má conduta estão os valores que formaram a nação dos EUA que sempre foi arraigado na doutrina religiosa do puritanismo, cuja essência é valorizar ao máximo o capital - expressa na teoria da predestinação absoluta - na propriedade privada e na família. Porém essa última é uma falsa moral divulgada pelo país, que é evidenciada constantemente em momentos como o da semana passada. Já não há mais como negar que essa característica nunca fez parte do povo norte-americano.
É justo que numa acusação se dê a oportunidade de retratação, tentativas de explicação ou até pedido de desculpas do envolvido, mas o que se viu com o governador de Nova York na verdade foi a velha tentativa de jogar a sujeira debaixo do tapete, usando a figura feminina para encobrir a falta de decência.
Não é de se estranhar todo esse machismo e conservadorismo estadunidense, pois o país sempre manteve uma posição contrária a movimentos sociais, principalmente aqueles promovidos pelas minorias excluídas. Foi assim com o movimento liderado por Martin Luther King que promoveu uma luta pelos direitos civis dos negros; foi contrária aos apelos de paz da juventude dos anos 60, e foi intolerante como Jonh Lennon, que protestou contra a intervenção norte-americana no Vietnã, que acabou culminando com uma tentativa de extradição do músico. Justamente num momento em que as mulheres, que não são uma minoria, estão conseguindo como muita luta e sofrimento conquistar a sua posição e o seu reconhecimento, essas cenas insistem em contradizer o ideal quase alcançado.
Em nome da preservação do poder e de valores arcaicos, questões muito mais relevantes estão sendo sufocadas para a manutenção da aparência de uma sociedade que desde a sua formação foi podre no seu interior.
Marcelo Augusto da Silva - 22/03/08
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